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Capítulo 10 - Próximo Ao Solo Marciano

Planeta Marte. Há 225 Milhões De Quilômetros de Distância Do Planeta Terra. Palácio de Xylaris.

O quarto de Meera era um testemunho de sua realeza, mas também de sua prisão. As paredes arredondadas de pedra vermelha eram suavizadas por tapeçarias intricadas, que retratavam cenas do passado glorioso de Marte. No centro, a banheira de mármore polido dominava o espaço, esculpida diretamente de uma rocha marciana que refletia tons de rubi sob a luz difusa do Pulsar Vermelho. A água quente emanava vapores aromáticos, impregnados com especiarias raras e óleos de pétalas de Zaryna, uma flor nativa conhecida por suas propriedades calmantes. As ondas suaves da água envolviam Meera como um abraço acolhedor, enquanto sua pele reluzia sob os brilhos delicados das gotas.

Ao lado da banheira, Laris, sua ama e confidente, observava atentamente. Era uma marciana de meia-idade com traços marcantes e fortes. Seus cabelos curtos, grisalhos e bem penteados, davam-lhe uma aura de autoridade. Sua pele verde - Azulada, refletia a luz natural da janela. Suas mãos eram calejadas, prova dos anos dedicados ao serviço da realeza, mas sua expressão exalava uma bondade teimosa. Vestia uma túnica simples, adornada apenas com um broche discreto que simbolizava sua posição no palácio.

- Graças aos deuses que você ganhou a prisão domiciliar! Não aguentava mais lhe ver definhando naquela prisão - Laris comentou, soltando um suspiro de alívio, embora sua voz ainda carregasse a indignação pelo sofrimento de Meera. —  Deve gratidão a Safira Mortanis!

Meera manteve os olhos fechados, afundando um pouco mais na água quente.

- Hum... Eu já havia me esquecido como isso é bom... - murmurou, com a voz soando quase como um ronronar satisfeito.

Laris, apesar de aliviada, não conseguiu conter seu tom de prudência.

- Espero que esses cinco meses no Abismo de Caldaros tenham lhe ensinado alguma coisa, princesa!

Meera abriu um meio sorriso amargo, ainda sem olhar para Laris.

- Me ensinaram, sim... Me ensinaram a odiar ainda mais o meu pai.

O tom de raiva na voz de Meera fez Laris arquear uma sobrancelha. Ela cruzou os braços, olhando para a princesa com um misto de reprovação e preocupação.

- Meera, você vai tomar jeito quando for banida para sempre do reino?! É isso que quer?! - Laris perguntou, com a bronca carregada de um carinho severo.

Meera abriu os olhos, e a raiva que queimava em suas íris era quase tão ardente quanto o próprio Pulsar.

- Só tomarei jeito quando o Pulsar Vermelho for destruído ou retirado do nosso planeta.

As palavras caíram como um trovão no quarto. Laris deu um salto de sua cadeira, os olhos arregalados de pânico, correndo até a janela lateral. Espiou os guardas lá fora, que permaneciam imóveis como estátuas, mas sua respiração estava ofegante quando voltou para Meera.

- Não diga besteiras, menina! Quer que os guardas escutem?! Você quer destruir o nosso planeta junto com o Pulsar?!

Meera se levantou lentamente da banheira, com a água escorrendo por sua pele pálida perolada, como uma cascata de cristais líquidos. Ela pegou o roupão de tecido dourado, mas não antes de encarar Laris, que rapidamente cobriu os olhos com a mão.

- O que foi, Laris? Sou fêmea, assim como você!

Laris resmungou, virando-se de costas.

- Eu sei... Mas você é diferente.

Meera soltou uma risada curta, enrolando-se no roupão.

- Diferente? Como assim, diferente? Não estou entendendo, Laris!

A ama balançou a cabeça, com o rosto levemente corado.

- Deixa pra lá. Isso é coisa da minha cabeça.

Meera arqueou uma sobrancelha, mas decidiu não insistir. Caminhou até a mesa redonda, pequena, mas cuidadosamente adornada com uma toalha bordada. Ela destampou a vasilha de cerâmica e um aroma delicioso invadiu o quarto.

- Estou faminta. O que temos aqui?

Laris aproximou-se, ajeitando a toalha de forma instintiva.

- Fiz especialmente para você, princesa. Temos um ensopado de Tarkar, aquele peixe dos lagos subterrâneos, com ervas de Lunanor, e um creme de raízes Kaelyth. Para acompanhar, pão fresco de areia doce, e uma compota de frutinhas azuis do Jardim de Solene. É o que você merece depois de tudo.

Meera pegou o pão, rasgando um pedaço e mergulhando-o no ensopado. O sabor era rico, uma explosão de especiarias e texturas que preenchia sua boca. Fechou os olhos por um momento, saboreando cada nuance.

- Está perfeito, Laris. Como sempre.

Mas, enquanto ela comia, o peso de suas palavras anteriores ainda pairava no ar. A ama suspirou, sentando-se na cadeira ao lado.

- Princesa, só espero que você saiba o que está fazendo. Esse ódio... ele pode consumir você, assim como consumiu seu pai.

Meera engoliu lentamente, colocando o pão de lado e encarando Laris.

- Não é ódio, Laris. É esperança. Espero que, um dia, Marte seja livre do Pulsar. Livre do que ele fez ao meu pai... e ao nosso povo.

O silêncio entre as duas foi interrompido apenas pelo som dos guardas marchando lá fora. O destino de Meera ainda estava incerto, mas, em seu coração, ela sabia que sua luta estava apenas começando.

Em Um Dos Pavilhões Do Palácio...

A sala de reuniões do Palácio de Xylaris era um espaço grandioso, com uma atmosfera pesada, onde decisões que moldavam o destino de Marte eram tomadas. No centro, uma mesa oval imensa dominava o ambiente, esculpida em uma única peça de obsidiana negra, com veios naturais que reluziam sob a luz vermelha filtrada pelas janelas de cristal. O brilho do Pulsar Vermelho parecia impregnar tudo ao redor, incluindo as expressões tensas dos presentes.

Na ponta da mesa, Sharaak, o regente do Reino de Marte, estava sentado com as mãos cruzadas sobre a superfície lisa e fria da mesa. Seu semblante era de uma impaciência calculada, mas o olhar firme deixava claro que ele tolerava pouco desvio de foco. Ao seu lado direito, Valoon, sua Mão," aquele que confiscou o meio de transporte de Alex e de Kimberly nas montanhas. " Ele Mantinha-se rígido, quase uma extensão da própria autoridade de Sharaak. Valoon era um Marciano corpulento, com cicatrizes que atravessavam sua pele bronzeada e olhos penetrantes que pareciam enxergar através de mentiras.

À esquerda de Sharaak estava sua esposa, Zafira Mortanis, "aquela que provocou uma tempestade pelo desgosto de ver Meera sendo presa."

Ela estava envolta em um manto prateado que refletia a luz com um brilho quase etéreo. Seus traços eram tão belos quanto perigosos, e havia algo de gélido em seu olhar, como se calculasse cada palavra e gesto ao milímetro.

O restante do conselho era composto por marcianos e marcianas de idade avançada, marcados pelo tempo e pelas responsabilidades de governar. As rugas profundas em seus rostos contavam histórias de batalhas passadas e decisões difíceis. Entre eles estava Edhalor, o conselheiro de economia, magro e de olhos afundados, que discutia com fervor os recursos escassos do reino.

- Precisamos aumentar as taxas sobre os mercadores de Zyron! - ele dizia, batendo uma mão frágil na mesa. - As exportações de minério estão em queda, e sem isso não teremos como sustentar a frota!

- E alienar os mercadores, Edhalor? - rebateu Valara, a conselheira de comércio, uma marciana de cabelo grisalho preso em um coque firme. - Se aumentarmos os impostos, eles se voltarão contra nós e abrirão caminho para o mercado clandestino.

- O mercado clandestino já está florescendo! - interveio Kaldros, o conselheiro militar, um marciano robusto com uma voz que parecia um trovão. - Precisamos de mais soldados patrulhando as fronteiras.

Zafira Mortanis, que até então havia permanecido em silêncio, inclinou-se levemente, com sua voz suave cortando o ar como uma lâmina.

- Talvez devêssemos investir em acordos diplomáticos, não apenas na força. O Pulsar nos dá poder, mas também nos isola.

Sharaak soltou um suspiro pesado, interrompendo a discussão antes que ela escalasse.

- Diplomacia é para tempos de paz, e não temos esse luxo agora. Precisamos de soluções práticas, não idealismos.

De repente, a porta da sala se abriu com um estrondo. Um soldado entrou apressado, com o rosto marcado pela urgência e a respiração ofegante.

- Majestade! - ele disse, parando na entrada e batendo continência.
- Detectamos uma nave não identificada se aproximando do espaço aéreo marciano.

A sala mergulhou em um silêncio tenso. Todos os olhos se voltaram para Sharaak, cuja expressão endureceu instantaneamente. Ele se levantou com um movimento rápido e preciso, com sua figura imponente projetando uma sombra longa sobre a mesa.

- Vamos abatê-la antes que alcancem o solo marciano! - ele declarou com firmeza, com a sua voz carregada de fervor e determinação.

Zafira levantou uma sobrancelha, sua voz soou calma, mas com um tom de desafio velado.

- Mas, majestade, não vamos lhes dar nem a chance de se apresentarem? Talvez não sejam hostis.

Sharaak virou-se para ela, com os olhos brilhando com um misto de irritação e convicção.

- Não vamos correr riscos, Zafira. O Pulsar precisa ser protegido acima de tudo, e com prudência. Não podemos nos dar ao luxo de esperar para descobrir as intenções deles.

Ele se virou para o soldado.

- Prepare minha nave. Vamos para o espaço imediatamente!

Os conselheiros murmuravam entre si, claramente divididos, mas ninguém ousou contrariar a decisão do regente. Valoon levantou-se também, pronto para seguir Sharaak.

- Não se preocupe, majestade - ele disse com um tom que soava quase ameaçador. - Se essa nave ousar cruzar nossos céus, faremos dela um exemplo!

Zafira cruzou os braços, observando Sharaak sair da sala com passos firmes. Seus olhos faiscaram, cheios de pensamentos que não ousava revelar.

Enquanto o regente e sua Mão marchavam para enfrentar a nova ameaça, a tensão na sala de reuniões permanecia palpável. O destino de Marte e do Pulsar estava novamente em jogo, e cada decisão parecia trazer consequências irreversíveis.

________________________________________

De volta ao quarto de Meera.

O quarto estava mergulhado em uma penumbra dourada, iluminado apenas pela luz trêmula que vazava pelas enormes janelas arqueadas.

Meera segurava  um pequeno broche dourado entre os dedos, o peso do metal era frio  contra sua pele morna. Seus olhos, fixos no objeto, carregavam uma melancolia espessa, um luto antigo que nunca havia sido devidamente vivido.

— Então isso era da minha mãe... — murmurou, mais para si mesma do que para Laris.

O broche refletia um brilho suave à luz do entardecer, como se carregasse resquícios da mulher que um dia o usou.

— Sim — respondeu Laris, com um sorriso breve nos lábios, mas o olhar fugidio. — Era a joia que ela mais adorava usar!

Meera ergueu os olhos lentamente, estudando Laris. A serva falava pouco sobre sua mãe, sempre se esquivando, sempre se atendo ao básico. Meera nunca a pressionara antes, mas agora... agora parecia vital saber mais.

— Você fala pouco sobre ela. — disse, estreitando os olhos.

Laris desviou o olhar por um instante, ajeitando a saia do vestido.

— Falo o suficiente. O que mais quer que eu fale?

Havia algo ali. Algo na pressa da resposta, na maneira como os dedos de Laris se apertaram ao tecido, na hesitação que flutuava no ar.

Meera se inclinou um pouco à frente, com sua voz saindo em um pedido quase sussurrado.

— Apenas fale dela, Laris... fale sobre minha mãe...

Laris hesitou.

O silêncio entre as duas se estendeu, carregado, denso como uma tempestade prestes a desabar.

— Você já ouviu tudo... — Laris começou, com a voz mais suave agora. — Ela era gentil, bonita, piedosa... sentia um amor grandioso por seu pai. Gostava de cantar, ler... dançar... e... — Ela deu uma pausa exitante antes de terminar. — E...  morreu, no dia em que você chocou-se.

Meera ia perguntar mais, quando o som de uma chave girando no trinco cortou o ambiente como uma lâmina afiada.

As duas se viraram ao mesmo tempo.

As portas se abriram, revelando a figura de Safira Mortanis.

Ela estava imponente como sempre, envolta em seu vestido de veludo negro que parecia beber a luz ao redor. Mas o que chamava atenção eram as flores em suas mãos, um pequeno buquê de pétalas vibrantes, quase luminescentes, colhidas das raras flores marcianas que floresciam apenas sob a luz vermelha do Pulsar.

— Princesa... — Safira sorriu, e a palavra deslizou de seus lábios como mel e veneno ao mesmo tempo.

Laris deu um passo para trás, inclinando a cabeça em uma reverência discreta, e Meera se levantou devagar.

O abraço veio antes que ela pudesse reagir.

Safira a envolveu em um aperto firme, com os braços frios contra sua pele quente. O perfume de especiarias e algo metálico preencheu o ar entre as duas.

— Posso imaginar o que passou naquele lugar... — a voz dela saiu quase num sussurro pesaroso.

Meera fechou os olhos por um instante. A lembrança da prisão ainda estava cravada em sua carne como garras afiadas.

— É um verdadeiro inferno!  — confessou, sentindo o peso daquelas palavras no próprio peito.

Quando os corpos se afastaram, Safira lhe entregou o buquê.

Meera pegou as flores com delicadeza.

— Obrigada... são lindas!

Ela as observou por um instante, deslizando os dedos pelas pétalas quase translúcidas. Um perfume delicado subiu no ar, algo entre jasmim e cinzas, um aroma agridoce, hipnótico.

Houve uma pausa.

— E obrigada também por ter conseguido minha prisão domiciliar. — acrescentou Meera, se voltando para o rosto de Safira.

— Não queria que tivesse ficado tanto tempo lá. Todos os dias implorava e insistia com seu pai para que voltasse atrás, até que um dia ele amoleceu. — Safira disse, e havia um tom de exaustão em sua voz, como se carregasse o peso daquela luta nos ombros.

Meera riu, mas não havia humor ali.

— Um resquício de humanidade naquele coração de pedra? — Meera ironizou. Safira esbolçou um sorriso amargo, e seu olhar se perdeu no ambiente por um tempo.

Um dia antes...

A mesa de metal frio gemeu sob o peso de Safira. Sua respiração saía entrecortada, e os dedos de Sharaak se enredavam em seus cabelos, puxando sua cabeça para trás como se domasse um animal selvagem. O corpo dele se movia contra o dela em um ritmo metódico, brutal. Cada estocada parecia cravar uma nova cicatriz invisível em sua pele, um lembrete do preço que pagava.

Momentos depois, quando tudo terminou, o silêncio foi o primeiro a se acomodar no quarto. A poeira suspensa no ar parecia ter mais direito àquele espaço do que ela.

Sharaak estava nu, encostado na cabeceira dourada da cama, girando um cálice de bebida entre os dedos. O líquido escuro oscilava preguiçosamente dentro do vidro. Seu olhar estava perdido, mas Safira sabia que ele nunca se perdia de verdade.

Ela, por outro lado, vestia-se às pressas.

Os músculos ainda estavam tensos, os dedos tremiam ao prender os fechos do vestido. O cheiro da pele dele ainda grudava nela como um selo. Um nó crescia em sua garganta, mas engoliu seco. Não choraria. Não ali.

— O que foi que eu fiz...? — A pergunta escapou de seus lábios como um sopro, baixa, trêmula.

Sharaak desviou os olhos do cálice para ela e riu, divertido.

— Poderia ter conseguido o indulto de Meera há muito mais tempo, se tivesse parado de se fazer de difícil.

Aquela frase queimou dentro dela. Safira ergueu o olhar e viu o brilho de triunfo no rosto dele. O olhar prepotente de quem sabia que tinha vencido.

— Eu... eu só não queria trair Valoon. — As palavras saíram quase num sussurro. Ela apertou os dedos contra o tecido do vestido, como se isso pudesse conter o tremor. — Meu marido... meu Deus, ele não pode nem imaginar isso...

— Ele não saberá. E, se souber, não deixarei que coloque as mãos em você. — Sharaak falou com a tranquilidade de um rei que decide o destino dos outros como se fossem peças de um jogo.

Mas Safira não se sentia protegida. Sentia-se possuída.

Respirou fundo, tentando resgatar algum resquício de dignidade dentro de si.

— O que me conforta é saber que foi por uma boa causa. Meera poderá sair daquele lugar.

Por um segundo, ela quase acreditou que tinha poder sobre algo.

Sharaak deu um longo gole em sua bebida antes de responder:

— Apenas por um mês. E dentro de seu quarto.

O mundo ao redor pareceu congelar.

— O quê...?!

Ele se levantou lentamente. Seus passos eram calculados, felinos.

— Más... más você deu sua palavra de regente de que ela seria libertada!

A distância entre eles desapareceu em segundos. Antes que ela pudesse reagir, Sharaak a virou abruptamente contra a parede. O impacto a fez soltar um arquejo.

Ele deslizou as mãos por sua cintura, subindo pelos seus braços. Seu toque era lento, preguiçoso, mas Safira sabia que aquilo era apenas o prelúdio do domínio. O hálito quente roçou sua nuca quando ele murmurou:

— Venha me encontrar aqui toda vez que quiser renovar o indulto.

O choque explodiu dentro dela como vidro se partindo.

Seus olhos se arregalaram.

A dor no peito não era apenas do corpo, mas da alma.

Ela havia pensado que tinha vencido.

Mas estava apenas jogando um jogo cujas regras nunca estiveram em suas mãos.

De Volta ao presente...

Safira suspirou e por fim respondeu:

— Sim... mas o que importa é que você está aqui! — Sorriu sem mostrar os dentes.

Meera levantou o broche, girando-o levemente entre os dedos antes de prendê-lo ao vestido azul-escuro.

— Olha, Safira... — ela ergueu o rosto. — Laris me deu isso. Era da minha mãe e ela adorava usar. Então... vou usá-lo também!

Safira ficou imóvel por um instante.

A hesitação foi mínima, mas estava lá, no jeito como suas mãos se crisparam sobre a saia, no instante a mais que levou para responder.

— Ele é... ele é realmente lindo, Meera! — disse, sorrindo, mas sem mostrar os dentes.

Meera pegou o buquê e o colocou sobre a penteadeira com leveza... leveza demais.

As flores deslizaram pela superfície polida, tombando para o chão em uma explosão silenciosa de pétalas e poeira dourada.

O ar pareceu congelar.

Safira arregalou os olhos, fixando o olhar nas flores espalhadas no tapete.

O silêncio foi brutal.

Meera sentiu um nó formar-se na garganta.

— Ai, meu Deus! Desculpa, Safira! Não foi... não foi minha intenção...

Ela se abaixou rápido, com os dedos trêmulos recolhendo as pétalas despedaçadas.

Mas enquanto Meera tentava consertar seu erro, Safira ergueu os olhos, e por um instante, seu olhar cruzou o de Laris.

A serva desviou depressa, como se aquele momento não devesse ter acontecido.

Mas aconteceu.

E Meera sentiu o arrepio subir por sua espinha sem nem entender o porquê.

O silêncio agora não era apenas um silêncio.

Era algo mais.

Algo que se infiltrava no ar, rastejando invisível entre as palavras não ditas. Tão misterioso quanto a dança das sombras em um buraco negro.


Enquanto Isso No Espaço, e próximo ao planeta Marte...

Ethan havia sido descoberto, e seus planos podiam estar ameaçados.

O som metálico do contêiner ressoava como um tambor abafado, ecoando por entre as paredes da nave. O astronauta olhou para Ethan com olhos atentos.

- Me dê sua mão... saia logo dessa lata de atum.

Ethan hesitou, mas algo no tom descompromissado do homem o fez ceder. Estendeu a mão com relutância, com os dedos sujos da poeira metálica que impregnava o ar. O contato com o astronauta foi firme, mas gentil, puxando-o para fora daquela prisão improvisada.

- Você não deveria estar aqui. - disse o homem, com seus olhos esquadrinhando o rapaz com curiosidade.

- Sim, eu sei... mas as estrelas me chamaram, não pude resistir. - Ethan esboçou um sorriso tímido, uma desculpa esfarrapada, mas honesta.

O astronauta repetiu, zombando:

- "As estrelas me chamaram"... - Riu baixo, com uma descrença divertida. - E o que diabos você quer em Marte?

Ethan franziu o cenho, sentindo o peso da pergunta. Ele sabia bem a resposta, mas por cautela achou por bem, não revelar.

- Quero algo que ainda não sei o que é, mas sei que está lá.

O homem riu mais alto desta vez, uma risada rouca que ecoou pelas paredes da nave.

- Eu sei bem o que quero: o ouro. Todo o ouro de Marte! - Ele se endireitou, orgulhoso, como se revelasse um segredo muito bem guardado. - Me chamo Dante, Dante Korvin. E você?

Ethan apertou a mão estendida com firmeza, sentindo a pele áspera e calejada através da luva de Dante.

- Ethan Carter.

- Prazer em conhecê-lo, Ethan Carter. - Dante deu uma piscadela. - Bem, trancaram a porta deste pavilhão, estamos presos agora. Vão colocar as mãos em você assim que aterrissarmos. Temos que agir rápido.

Ethan o observava, intrigado. Havia algo de perigoso no sorriso de Dante Corvin, algo que o fazia duvidar se deveria confiar completamente nele. O ambiente ao redor parecia vibrar com a tensão crescente.

- O que você fez para ser preso? - perguntou Ethan, cruzando os braços, cauteloso.

Dante deu de ombros, sua expressão tornou-se séria por um breve instante antes de ser substituída por um sorriso fácil.

- Ah, uma coisa boba... desacatei ordens. Trouse suprimentos que não devia... nada demais... mas não gosto de seguir regras idiotas.

Dante Corvin falava com naturalidade, mas Ethan sentia que havia mais por trás da história. As palavras pareciam ensaiadas, cuidadosamente calculadas. Um subtexto de desconfiança pairava entre eles, como uma sombra que Ethan não conseguia dissipar.

Dante encostou-se na parede, olhando para o teto da nave enquanto continuava:

- Estamos nos aproximando do planeta vermelho. Como já disse, vão nos pegar assim que aterrissarmos e dar um jeito em nós dois. Temos que agir antes.

Ethan olhou ao redor, e os olhos correram pelas paredes frias e metálicas na nave.

- E o que podemos fazer, se estamos presos aqui? - Ele perguntou com uma ponta de desânimo e os braços cruzados.

Dante sorriu, com seus olhos brilhando de um jeito quase predatório.

- Esse é o único lugar com grades... e eu sabia que mais cedo ou mais tarde me colocariam aqui.

Com um gesto rápido, Dante puxou uma cortina metálica improvisada, revelando um pequeno compartimento. Lá estavam ferramentas, mantimentos, equipamentos de exploração... As luzes que piscavam no fundo escuro lançavam sombras longas e distorcidas nas superfícies prateadas dos trajes.

- Trouxe isso para cá ontem! - disse ele com um sorriso orgulhoso, batendo no peito como se fosse um prêmio.

Ethan franziu o cenho, desiludido.

- Não vejo tanta vantagem nessas bugigangas.

O sorriso de Dante desapareceu, substituído por uma expressão de reprovação.

- Você é um cara boa pinta, alto estiloso... só está um pouco abaixo do peso... o que foi, não anda se alimentando direito? - Dante pegou uma barra de cereal entre as coisas que escondeu e a lançou para Ethan que a aparou automaticamente. - Coma, precisa se alimentar.

- Não estou com fome. - Falou desanimado.

- Lhe falta um pouco de inspiração, Ethan Carter!

- E você é um sem noção, Dante Corvin. - Rebateu

Dante, com um sorriso travesso, pegou dentre suas coisas um vidro de ketchup. Ele abriu a tampa com um estalo e, sem hesitar, espremeu um pouco do molho diretamente na boca. Os olhos se fecharam momentaneamente, como se estivesse saboreando algo verdadeiramente delicioso.

- Hum... delícia! - Ele murmurou, com um brilho de satisfação no olhar.

Ethan, que observava com certa descrença, arqueou uma sobrancelha, esperando pelo que viria a seguir. Dante, com um gesto teatral, levantou a garrafinha de ketchup em direção a Ethan, como se estivesse revelando um grande segredo.

- Está vendo aqui? O plano é simples... Vamos simular feridas com o molho e fingir que estamos mortos. Quando o astronauta encarregado vier nos trazer comida... - Dante fez uma pausa, com seu olhar se tornando ainda mais intenso. - Aí, é a nossa chance. Eu o agarro por trás e você...

Dante pegou uma chave inglesa que estava escondida em um canto e a entregou a Ethan, que pegou o objeto com relutância. O peso da ferramenta era considerável, e Ethan sentiu um calafrio ao segurar a chave com as duas mãos, sem saber se era pela gravidade da situação ou pelo peso real do objeto.

- ...Você acerta a cabeça dele com toda a sua força! - Dante disse, estalando os dedos e fazendo um gesto brusco com a mão, como se estivesse simulando o som da pancada.

Ethan olhou para a chave, com a expressão de desgosto tomando conta de seu rosto. Ele sentiu o estômago embrulhar ao pensar em tal ato.

- Você tá maluco?! Não vim para o espaço para me tornar um assassino! - Ele jogou a chave no chão com impaciência. O som metálico ressoou na pequena sala. O ar estava pesado com a tensão, e sua voz, carregada de incredulidade, ecoava.

Dante permaneceu em silêncio por um momento, observando Ethan com um olhar fixo, quase desafiador. Lentamente, Dante se inclinou para frente, com seus dedos se movendo em uma sequência rápida, como se estivesse calculando os próximos passos.

- Tudo bem, a gente inverte os papéis... - Dante sugeriu com um tom sarcástico, seu sorriso ficou mais largo. - Você segura o cara e eu acerto a cabeça dele.

Dante estalou os dedos novamente, o som agudo reverberou no espaço apertado da prisão, enquanto seus olhos brilhavam com uma excitação inquietante.

Ethan deu um passo atrás, com a respiração acelerada, e cruzou os braços, balançando a cabeça. Seu rosto estava pálido, e a mandíbula tensa. Ele olhou para Dante com um olhar exasperado, como se tentasse entender como alguém poderia sugerir algo tão frio e calculista.

- E o que isso mudaria? Eu continuaria sendo o seu cúmplice. Não sou um assassino, senhor Dante. - A voz de Ethan se elevou, com o tom carregado de indignação. Ele se afastou mais, a chave inglesa ainda no chão, como se estivesse se distanciando da ideia de matar.

Dante observou a reação de Ethan, com um pequeno sorriso de canto surgindo nos lábios, como se estivesse se divertindo com o desconforto do outro. Ele deu um passo à frente, com as mãos agora na cintura, e seus olhos brilharam com uma intensidade perigosa.

- Nem eu... mas devemos ver isso como uma questão de sobrevivência, Senhor Caeter. Ou eles ou nós... qual é que vai ser?! - Dante fixou os olhos em Ethan, seu tom desafiador agora mais incisivo, como se estivesse colocando o amigo contra a parede.

Ethan sentiu uma onda de raiva e desespero crescer dentro de si. Ele fechou os punhos, os dedos apertando-se, mas sua voz ainda tremia com a luta interna.

- Acho que podemos pensar em algo mais criativo... - Ele disse, com a voz mais baixa agora, quase como se estivesse tentando encontrar uma saída mais digna, mais humana.

Dante o observou por um longo momento, com seu sorriso diminuindo um pouco, mas ainda assim mantendo um olhar penetrante. Ele sabia que Ethan não seria facilmente convencido, mas a ideia de uma solução mais criativa parecia finalmente entrar na mente de Dante, embora relutante.

O silêncio que se seguiu estava carregado de possibilidades, e ambos sabiam que o tempo estava se esgotando.



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