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Capítulo 17


O vento gelado vindo do leste há dias não dava descanso. O que amenizava aquele clima frio era ausência de chuva. Manoela dava graças a isso.

Amava de todo o coração a Europa, porém sentia saudades do calor de sua terra e pensando nela e da proximidade com o Natal sentiu desejo de decorar a casa de Stephen. Era dezembro e nada do homem se inclinar para isso, apenas ficava lá sentado em frente a sua velha máquina de escrever ou enganchado entre as suas pernas.

— O que é isso? — Stephen questionava o que eram todas aquelas sacolas na mão de Manoela.

— Que bom que saiu de frente daquela máquina barulhenta. Me ajuda aqui no carro? — Manoela acomodou as sacolas perto do armário do hall e desceu as escadas indo em direção à rua. — Jesus! Como está frio! — esfregou uma mão na outra e logo em seguida abraçou os braços.

— Foi para isso que pediu emprestado meu carro? — Stephen chegou ao seu lado perto do carro e viu a embalagem de uma árvore de natal.

— Não ia conseguir carregar na minha lambreta, a propósito, obrigada por confiar essa beleza em minhas mãos. — Manoela divertidamente acariciou a lataria do sedan prata.

— Teria motivos para não faz isso? — Stephen não entendeu a ironia daquele comentário e carregou a caixa com a árvore para dentro de sua casa.

— Normalmente os homens não gostam que nós mulheres dirigimos seus carros. Renato detestava. — Manoela fez uma careta lembrando-se das implicâncias do seu ex.

— Eu não ligo para isso, quando precisar é só pedir. Até porque com esse tempo não é bom andar com a sua lambreta. — de fato Stephen não tinha esse apego sentimental ao seu carro como tinha com seus livros. Aqueles sim eram objetos sagrados para ele.

— Nem me fale! O vento está me cortando. — Manoela solta um suspiro e fechando a porta deixando o vento inoportuno longe do seu corpo.

— Não queremos que isso aconteça.

Manoela animada lhe deu um beijo rápido e seguiu com algumas sacolas para a sala de Stephen aquecida tanto pelo aquecedor central, quanto pela lareira.

— Coloque aqui. — Manoela apontou para o canto da sala que imaginou ser o lugar ideal para árvore ser montada.

— Não sabia que fazia questão desse tipo de tradição, podia ter lhe comprado uma de verdade. Normalmente é assim que fazemos. — disse Stephen avaliando aquela caixa e a foto da árvore que a mesma guardava, não lhe agradou.

— Não! Essa aqui lembra as da minha casa. Lá não usamos essas de verdade. Na verdade eu nem lhe consultei se podia fazer isso aqui. — Manoela o encarou com ressalvas, realmente não questionou se ele queria, apenas foi tomando a decisão. — Quer saber? Melhor levar tudo isso para o meu apartamento...

— Por favor, não! Monte aqui. Eu vou te ajudar.

Depois que tudo aconteceu entre ele e Elizabeth, Stephen nunca mais teve clima para se dedicar a tal ação, até porque todos os natais eram passados no casarão do seu primo. Não tinha sentido montar uma árvore ou mesmo decorar a casa. Se ao menos os filhos fossem ficar com ele, mas não era isso que acontecia. E agora ali ajudando Manoela a colocar os enfeites natalinos naquela árvore feia o coração de Stephen apertou e não gostou daquele sentimento.

— O que houve? — Manoela percebeu a mudança em seu humor.

— Recordações. — Stephen fixou o olhar no horizonte — Na verdade, são desejos.

— Me conte, quem sabe posso realizar.

— Acho que não. — Stephen sorriu de forma forçada.

— Seus filhos? Queria que estivessem aqui? — Stephen assentiu com a cabeça — Ligue para eles. Convide.

— Já fiz isso outras vezes, não é tão simples...

— Como não? Você é pai...

— Mas ela é a mãe. Manoela é tudo muito complicado. — respondeu com a voz um pouco exaltada.

— Como é a guarda? — Manoela ainda não tinha se dado por vencida e continuou tentando entender como funcionava aquela dinâmica familiar.

— Compartilhada. O que você quer jantar? — Stephen colocando um dos enfeites na árvore virou as costas para Manoela indo em direção ao o outro lado daquela sala indicando que aquele assunto havia morrido.

— O que você desejar. — Manoela teve de se dar por vencida e não insistiu, não era seu desejo encarar uma discussão ou mesmo intromissão naquele arranjo que ele mantinha com a ex-mulher.

— Volto logo.

Manoela o viu se afastando com os ombros encolhidos não era a primeira vez que isso acontecia quando o assunto filhos entrava em pauta. Tudo nele mudava. Entonação de voz, postura, semblante. Parecia uma criança acuada e tristonha.

Quando retornou com uma caixa de pizza nas mãos e completamente sem fome sua sala estava decorada com os artigos que Manoela havia comprado. Havia ficado bonita. Parecia um lar e não apenas uma habitação. E novamente aquela sensação de culpa invadiu seu peito.

Essa sensação de desconforto continuou por dias. O ápice se deu quando o telefonema mais odiado por ele aconteceu. Todos os anos aquela voz sarcástica dançavam em seus tímpanos lhe informando que a sua presença era bem-vinda na ceia de Natal.

— Vai levar Manoela? — Michael tentava acompanhar as passadas de Stephen pelo campus da universidade.

— Gostaria, mas acho que não serão tão receptivos como meus colegas de profissão foram no evento. A propósito, obrigado. — Stephen ajeitou a alça de sua bolsa e logo em seguida os seus óculos olhando amigavelmente para Michael que tentava manter-se ao seu lado.

— Não precisa agradecer.

— De toda forma não posso deixa-la aqui sozinha. — Stephen seguiu. — Nem a senhora que lhe aluga o apartamento ficará na cidade e pelo que Manoela me disse sobre os natais em sua família não posso deixa-la sozinha.

— Chame os garotos para cá então. — Michael dizia aquilo como se fosse à coisa mais óbvia a ser feita, o que de fato era, exceto para Stephen.

— Manoela sugeriu a mesma coisa, Elizabeth não deixa.

Logo quando se mudou para essa cidadezinha Stephen tentou essa abordagem. Estavam os três no carro quando Timothy começou a chorar compulsivamente querendo voltar para perto de sua mãe. Foi quando percebeu que aquele tempo perdido escrevendo o livro contou para que seu filho não sentisse confortável ou mesmo seguro ao seu lado. Fez o retorno. E assim todos os natais seguintes foram realizados dentro dos domínios de Christopher.

— É amigo não gostaria de estar na sua pele. — Michael deu um tapa de leve no braço do amigo mostrando que entendia a sua dor.

— Reconfortante saber disso.

— Apenas me mande uma foto de todos quando avistarem Manoela. — então aquele olhar de diversão e desafio atingiu Stephen.

O professor sabia muito bem como a sua família elitista e preconceituosa receberia sua bela Manoela. E por conta disso desejava mantê-la o mais longe daquele covil de bestas. E tinha seus filhos e aquele evento era um dos poucos momentos em que podia estar perto, mesmo que essa presença fosse superficial.

Estava em um impasse. E encarando o telefone em sua sala na universidade refez a ligação para seu primo.

— Christopher!

— Stephen? Aconteceu alguma coisa?

— Não. Apenas gostaria de saber se tem algum problema para você e Elizabeth se eu levar uma pessoa comigo?

— De forma alguma. Serão ambos bem vindos.

— Espero que isso não aborreça Elizabeth.

— Deixe-a comigo. Te esperamos no Natal.

Agora olhando para o teto do seu quarto pensava na melhor maneira de fazer o convite para a mulher por quem estava apaixonado. O puxão de orelha no evento em sua homenagem havia surtido efeito e Stephen convidaria Manoela para sair mais vezes. Incluindo alguns colegas mais chegados nesse processo. Manoela não lhe decepcionou em nenhuma dessas ocasiões, sendo diversas vezes parabenizado pela a sua escolha. A garota do café conquistou a todos a sua volta. Será que seria assim com a sua família? Stephen tinha certeza que não.

— Tenho um convite para te fazer. — acariciava os cabelos de Manoela espalhados pelo seu peito.

— Hum! Isso está ficando interessante. Vai ser igual aquele da semana passada? — os olhos redondos dela encaravam os deles livre dos óculos.

— Acredito que não. Talvez você não sinta tão confortável. Meus familiares não são tão agradáveis como meus colegas de trabalho. — a abraçou apertando como se já a protegesse daquelas pessoas.

— Espera! — Manoela sentou diante dele na cama ainda nua. Os cabelos caíram para frente, porém ainda não tinha o cumprimento suficiente para encobrir seus seios. Stephen naquele momento não sabia para onde olhar. Para o rosto angelical ou aqueles seios miúdos. — Entendi direito? Está cogitando me levar para passar o natal com a sua família? — havia um misto de animação e entusiasmo naquelas palavras. — Eu vou conhecer seus filhos?

— E meu pai, minha mãe, irmãos, sobrinhos... — Stephen foi diminuindo a voz e abaixando o olhar — Elizabeth... Christopher. Ou seja o pacote completo.

— Vou adorar conhece-los. — deitou de frente sobre seu peito bem próxima ao seu rosto, um sentia a respiração do outro.

— Gostaria de responder que eles também...

— Não tem como responder isso.

Manoela sentia pelas atitudes de Stephen que sua chegada poderia não ser assim tão bem aceita, de certa forma já esperava por isso, porém não podia negar a felicidade que crescia em seu peito por ele estar disposto que ela esteja ao seu lado no espaço mais íntimo de sua vida.

— Desculpa. — Stephen segurou com suas duas mãos, o rosto de Manoela.

— Não precisa se desculpar.

Stephen colocou a garota de volta acomodada em seu peito e acariciou seus cabelos. Sentia protegido ali naquele emaranhado de fios. Ela dormiu em questão de minutos, ele levaria boa parte daquela madrugada preso em seus pensamentos até que se entregasse ao sono.

***

A viagem toda se deu de forma animada. O casarão que Christopher herdou ficava nos arredores de Londres, ou seja, totalmente no sentido oposto em que estavam. A cidade em que Stephen se refugiou ficava quase na divisa com a Escócia.

Saíram com o raiar do dia depois de um café da manhã generoso feito por Manoela. Não muito longe de chegarem ao seu destino resolveram parar em uma vila já conhecida pelo professor. Sempre que fazia essa viagem de volta a sua cidade de origem parava nesse lugar para almoçar e admirar as construções em pedra calcária, o riacho e um moinho antigo. E lá se transportava para dentro de suas histórias favoritas em que tinha esses cenários descritos. Manoela entendeu aquela escolha e ficou feliz dele ter compartilhado.

De todas as mulheres que teve em sua companhia Manoela fora a única que lhe entendia. Jamais o recriminou ou mesmo zombou, ela se deixava ser envolvida e escutava com interesse tudo que ele lhe dizia. E ao olhá-la indo em direção ao seu carro teve a certeza de que a amava.

Sorriu. Michael estava com a razão. Aquela garota já havia lhe modificado e da melhor forma possível.

— No que está pensando professor? — Manoela viu um brilho diferente no olhar de Stephen.

— Em fazer amor com você. — ele respondeu olhando direto naqueles olhos negros e redondos.

— Stephen...

— Falei algo errado não é? — Stephen terminou de se ajeitar na poltrona do seu carro ainda a encarando.

— Não sei... Talvez. — Manoela ficou confusa — Porque acha isso?

— Me chamou pelo meu nome.

Manoela gargalhou alto. Stephen seguiu rindo mais contido e recebeu um beijo em sua bochecha. O carro foi ligado e o amor que ele tanto ansiava naquele momento teria de ser adiado.

As músicas escolhidas por Manoela voltaram a tomar conta. Manoela tinha um gosto mais eclético que o dele e também mais animado. Em um determinado momento teve de encarar a animação de Manoela ao refrão de Wannabe das Spice Girls.

— Que isso professor! Elas são inglesas!

Manoela ria e cantava mais alto perto do seu ouvido. Ele gostou quando por uma boa parte ela ficou acariciando displicentemente os cabelos em sua nuca. Novamente puxou em sua memória algo semelhante com aquilo e não encontrou. Sentiu inveja do homem com ela dividiu a vida no Brasil e não conseguia entender como ele pode tê-la deixado partir. Talvez não aguentou a pressão do trauma, afinal, não estava lá quando aconteceu para entender o que se passou com Manoela. O que tinha agora era uma mulher que já havia passado pelo processo de cura e que o deixava mais forte. Ela o estava curando de algo que ele nem sabia dizer o que de fato era. Apenas sentia que sempre foi daquilo que precisava para ser uma pessoa melhor.

Perguntava se seu pai notaria essa diferença. Só tinha uma maneira de saber: encarando-o.

Estava ansioso também em apresentar aquela mulher incrível para os seus filhos. Então quando avançou pelos portões de ferro abertos em direção ao casarão de pedras escuras ao fundo sentiu medo.

O antigo Stephen estava teimando em voltar. O submisso e covarde Stephen Weber queria emergir das águas escuras que Manoela aprisionou para o novo Stephen seguro, decidido e forte emergir.

— Meu Deus! — Manoela lhe tirou do transe. — Como isso aqui é lindo! — os olhos dela iam para todas as direções. — Parece o cenário daquele filme... — Manoela estalou os dedos encarando Stephen que não imaginava o que se passava na mente da mulher. — Desejo e Reparação. Veja! — apontou para um ponto assim que o carro passou — Tem até uma fonte similar aquela em que Cecillia Tallis mergulha e Robbie Turner a fica observando.

— Nunca tinha pensado nisso. — Stephen se lembrava do livro, mas do filme não tinha ideia do que Manoela dizia.

— Assistiu ao filme? — Manoela sacou na expressão do seu rosto que o professor não conhecia aquele filme.

— Acho que não. — Stephen respondeu com sinceridade.

— Então não tem mesmo como fazer essa associação. Vou achar o filme para vermos juntos. — Manoela voltou novamente sua atenção para aquela propriedade imponente.

— Sabe que prefiro os livros...

— Não seja chato! — lhe encarou mostrando a língua.

— Tudo bem. Irei tentar.

— Voltando ao assunto, isso aqui é lindo demais. Era aqui que você ficava em todos os verões?

— Ficávamos aqui em quase todas as ocasiões. No verão é muito mais bonito, quem sabe um dia te traga aqui. — não havia muita firmeza em sua voz ao dizer aquilo, ainda sentia que havia se precipitado em trazê-la para conhecer seus familiares, uma vez em que todos estariam juntos.

— Não precisa, sei como é difícil para você. — Manoela gentilmente acariciou seu braço como se quisesse confortá-lo e dizer que tudo ficaria bem que ele não precisava se preocupar.

— Difícil, porém não impossível.

Estacionou o carro mais ao fundo perto de onde os outros carros estavam. Ali ficaria evidente para Manoela que Stephen não era assim tão privilegiado como ela supunha. Seu carro era o mais "comum" dentro daquele antigo estábulo.

Pegaram as pequenas maletas do porta malas. Manoela fechou o zíper do seu casaco de couro marrom forrado com lã de carneiro acrescentando um cachecol amarelo no seu pescoço.

Stephen se divertia com aquela cena. Aquele frio em demasia que ela sentia, porém ele teve concordar, o vento estava forte e gelado. E a previsão do tempo prometeu neve. Também passou seu cachecol cinza de forma mais frouxa em seu pescoço e a guiou até a entrada principal.

— Um momento. — Manoela parou alguns degraus próximos da entrada.

— O que aconteceu? Esqueceu algo no carro? — Stephen apontou na direção onde havia deixado seu carro.

— Você avisou que eu viria? Fiquei tão animada com isso que me esqueci de te perguntar. Como sua ex-mulher reagiu? — se Stephen estivesse segurando em suas mãos a sentira suadas diante do nervosismo que apossou do seu frágil corpo.

— Sério isso agora? — Stephen a encarou desconfiado, Manoela não agia dessa forma.

— Como isso agora? — Manoela detestou aquela pergunta, se sentiu desafiada.

— Esse momento de insegurança. Não combina com você. E sim eles sabem que você viria.

O que Manoela não sabia e ninguém daquela casa sabia que a acompanhante de Stephen não fosse alguém como eles. Stephen apenas informou que viria acompanhado e não forneceu detalhes e estes também não foram solicitados, afinal, todos ali sabiam do envolvimento dele com Campbell. Dessa forma a professora era esperada e não atendente de cafeteria.

Foram recebidos pelos empregados e encaminhados para os aposentos. Os jovens estavam em alguma parte daquele casarão fazendo coisas próprias de sua idade. Fumando algum baseado, escutando alguma banda indie, trocando confidências ou disputando o que quer que fosse.

Os homens saíram para vila. Não estavam fazendo nada de diferente daqueles jovens, apenas acrescentando alguma bebida mais cara. E as mulheres enfurnadas em seus aposentos e se entupindo de calmantes.

— O que foi? — Stephen percebeu o desconforto no rosto de Manoela assim que entraram no quarto que sempre lhe era destinado quando vinha até a casa do primo.

— Sei lá. Muito grande e impessoal. — Manoela deu de ombros acomodando sua mala em um canto.

— Detestou?

— Ainda não posso te dizer isso, mas é esquisito não ter ninguém para nos receber. Na minha casa minha mãe estaria igual uma louca. Teria feito café umas trinta vezes só para se certificar de que não estaria frio quando a visita chegasse e jamais deixaria de recebê-la na porta.

— Pensa pelo lado positivo. Temos tempo para... — Stephen lhe lançou uma piscadela maliciosa.

— Peste! Anda saidinho.

— Você que provoca isso em mim. — a puxou para perto do seu corpo acomodando entre suas pernas sentado na cama.

— Não sei, Stephen. — Manoela acariciou seus cabelos, colocado a franja para trás.

— O que aconteceu com Professor? — ele fez uma careta de triste.

— Até parece que gosta que te chame assim.

— Nunca disse o contrário. Mas pensando bem, não seria apropriado me chamar dessa forma na frente...

— Dos seus filhos? Relaxa. Eu sei me comportar, professor. — Manoela pressionou seu indicador na ponta do nariz de Stephen.

— Eu sei que sabe. Nunca mais diga isso. — o semblante de Stephen se fechou com aquele comentário.

Batidas na porta interrompeu aquele preludio de discussão.

— Stephen! — a voz veio firme e muito audível do outro lado da porta. De certa forma o dono dela manteve cauteloso para invadir a intimidade de Stephen dentro daquele quarto.

O professor ouviu seu nome ser dito por uma voz que não gostaria de escutar naquele momento. Fechou seus olhos como se aquilo fizesse com que ela parasse.

— Não vai responder? — Manoela lhe trouxe de volta a realidade.

— Não queria. — suspirou — Elizabeth... já estou indo.

— É ela? — Manoela conseguiria um feito que Stephen julgava ser impossível. Seus olhos ficariam maiores do que já eram quando soube que a pessoa do outro lado da porta era a ex-mulher do seu professor.

— Sim. É ela. Fica à vontade. Tome um banho, descanse. Eu já volto.

Com relutância removeu Manoela do seu contato lhe dando um beijo morno nos lábios e seguiu em direção ao seu calvário.

— Nossa quanta demora! Precisamos conversar... — Elizabeth começaria a falar assim que Stephen passou pela porta do quarto a fechando logo em seguida.

Manoela ouvia as vozes se afastando. Na verdade ela ouvia uma única voz, a da mulher que um dia fora esposa do seu professor e o traiu com o seu primo. Ao lembrar daquilo sentiu pela primeira vez repulsa por uma pessoa sem antes conhecer.

Encarou aquele quarto sem saber o que fazer. Uma sensação de aprisionamento lhe dominou. Até o ar chegou a lhe faltar. Correu até a janela e achou muito complicado abri-la. Sentia calor. Removeu o cachecol e casaco pesado ficando apenas com o suéter preto de gola alta. Também estava com sede. Boca seca. Muito seca por conta do nervosismo.

Avaliou e decidiu sair dali e achar a cozinha. Tinha que saciar sua sede e ao entrar no corredor olhos muito azuis lhe encaravam no topo da escada. Era uma garota. Um pouco mais alta que ela. Os cabelos eram longos e loiros. Jogados displicentes para um lado. Usava meias de lã grossas na cor vinho, por cima dela um camisão preto com um cinto demarcando sua cintura. Era bem magra, quase cadavérica. Manoela sabia disso pela circunferência daquela cintura.

— Quem é você? Porque está saindo do quarto do meu pai? — a garota questionou.

— Charlotte! — Manoela respondeu animada.

— Sabe quem eu sou? — havia muita surpresa na expressão do rosto de Charlotte.

— Sou Manoela. A namo... — Manoela hesitou, não sabia ainda como Stephen havia abordado a situação deles com os filhos — amiga do seu pai.

— Cadê Kate? Achei que ele viria com ela. — a garota estava mesmo surpresa com a mulher a sua frente. Não que ela conhece Kate direito, havia visto apenas uma vez, o que sabia apenas de olhar para Manoela é que não havia sintonia entre ela e seu pai.

— Ah! Entendo. — Manoela estava decepcionada e seguiu em direção à menina — Quer saber, eu não entendo. Sabe aonde ele foi?

— Deve estar no escritório brigando com minha mãe. — a menina baixou sua guarda e abraçou seu próprio corpo. — É só que eles fazem: brigar. Na verdade quem briga e insulta é ela, ele fica lá parado igual um idiota.

— Charlie... — Manoela sorriu e hesitou — Posso te chamar assim?

A menina deu de ombros.

— Estou morrendo de sede, teria como me mostrar como faço para conseguir um copo de água.

— Tenho um frigobar no meu quarto e tenho água lá se você quiser. — Charlotte apontou para o final do corredor em que estavam.

— Quero sim. Obrigada.

— Você é bonita. Minha mãe vai odiar você.

Charlotte passou apressada por Manoela pegando em sua mão a guiando até seu quarto. Manoela não havia conseguido processar o que a menina havia lhe dito quando foi jogada para dentro daquele quarto escuro e bagunçado.

Manoela percebeu apenas de entrar naquele ambiente que a menina precisava de ajuda. O emocional devia estar em frangalhos e aquilo era refletido nas cores das roupas que estavam espalhadas por toda a parte. Todas pretas. Ausência de qualquer símbolo, enfeite, algo que a conectasse com a vida. Era apenas uma cama, escrivaninha com o notebook, o frigobar e livros acumulados no canto.

— Vejo que gosta de ler. — Manoela apontou para os livros. — Poe?

— Tome. — Charlotte lhe estendeu uma garrafa de água. — É o meu autor favorito, não conte isso para meu pai, por favor.

— Tudo bem, será nosso segredo.

— Pelo menos eu gosto de ler, Timothy detesta. Ele é como minha mãe, falante e irritante.

— Meu irmão também é diferente de mim.

— Sério? Posso te fazer uma pergunta? — Charlotte sentaria na beirada de sua cama olhando Manoela profundamente.

— Claro.

— Como conheceu meu pai? Desculpa, mas não acho que seja uma professora. Pelo menos não se parece com uma e acho que você é nova demais para isso.

— Obrigada pela nova, mas não sou tanto assim, já tenho 33 anos. — Manoela respondeu com ar divertido e bebeu da água.

— O que? Tá brincando né! Definitivamente minha mãe vai te odiar. — a voz de Charlotte finalmente veio como o esperado para meninas de sua idade.

— Porque diz isso? — Manoela se aproximou e sentou ao seu lado na cama.

— Porque ela detesta todo mundo, exceto Christopher. E porque você é bonita e tem aparência de jovem. Você passaria fácil por algumas amigas minhas.

— Não vamos exagerar.

— Não estou, é verdade. Minha mãe tá com a mente distorcida. Tem medo de envelhecer sabe. Vive fazendo microcirurgias, sabe esse tipo de coisa, tudo para agradar aquele homem...

A porta do quarto de Charlotte foi aperta sem que pedissem licença interrompendo aquela confidência.

— Charlotte... Ah! Não sabia que você ia trazer uma amiga. — Elizabeth olhou de relance para Manoela, não esperava mais ninguém para aquele feriado em família, já tinha que aguentar essa novidade de Stephen trazer Kate – assim presumia.

— Mãe, ela não é minha amiga. Não ainda. — disse baixinho essa parte, apenas Manoela escutaria. — É a amiga do papai.

— Como assim amiga do seu pai... — Elizabeth a encarou direito e então percebeu que a mulher ali não era uma adolescente, apesar de estar vestida como uma em sua opinião. Aquela calça jeans apertada e aquele tênis lhe diziam isso. — Acho que estou confusa. Desculpa, pensei que fosse...

— A professora Kate. — Manoela interrompeu ficando em pé diante de Elizabeth consideravelmente muito mais alta que ela e muito mais elegante na escolha de suas vestimentas. — O que fazemos com Stephen? Se me permite meu nome é Manoela.

Manoela lhe estendeu à mão. Charlotte observava com receio sobre o que a mãe faria e Elizabeth media a mulher a sua frente e então as mãos se tocaram.

— Presumo que já saiba meu nome.

— Sim. Isso ele me falou. Falando nisso acho que vou voltar até o quarto e esperar que ele...

— Já está lá.

Manoela a encarou com firmeza. A outra lhe devolveu o mesmo olhar. Charlotte mal respirava. Manoela sorriu carinhosamente para menina e deixou aquele quarto carregado. À medida que avançava de volta para o início daquele corredor o mesmo parecia que ficava mais estreito e novamente aquela sensação de boca seca dominou fora a raiva que estava sentindo de Stephen. Mal esperava para colocar seus olhos nele. Mal esperava.

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