Capítulo 2: O Coelho e a Esperança (Continuação)

Os animais, seus amigos silenciosos e companheiros de longa data, haviam lhe dito. Eles sempre sabiam quando alguém se aproximava, especialmente se essa pessoa tivesse um destino que se entrelaçava com o dele.

"Ele está vindo, Jimin", disse uma coruja com olhos grandes, como se fosse uma antiga amiga. "O príncipe fugido, o que busca liberdade. Ele encontrará algo além do que espera."

O vento sussurrava entre as folhas, e as flores ao redor da torre pareciam se abrir um pouco mais, como se estivessem oferecendo uma saudação ao príncipe que estava prestes a chegar. Mas o mais importante era que Jimin sentia uma mudança. Não era apenas o cheiro doce no ar, algo que ele só sentia quando Jungkook estava perto. Era uma sensação mais profunda, mais antiga. Algo dentro de si o dizia que, talvez, o amor verdadeiro fosse a chave para quebrar sua maldição.

Ele não sabia o que seria necessário para que alguém o amasse verdadeiramente. A maldição que o prendia era cruel, uma prisão de pele e alma que o fazia acreditar que nunca seria digno de amor, mas os animais... os animais sempre estavam lá, confiando nele, amando-o de uma forma pura. Talvez fosse isso que ele precisasse. Um amor genuíno, algo que fosse mais do que a atração que ele sentia por Jungkook. Algo profundo, que quebrasse as correntes invisíveis que o prendiam à sua forma de lobo.

Quando Jungkook finalmente apareceu na entrada da torre, Jimin sentiu o choque, a expectativa, mas também a ternura que crescia dentro de si. Algo em Jungkook, algo em sua busca desesperada por liberdade, parecia tocar Jimin de uma forma que ele não podia ignorar. Mas, ao invés de falar, Jimin apenas observou, se aproximando devagar, como se estivesse testando se aquilo era real ou se ele apenas estava sonhando.

Jungkook estava perdido em seus pensamentos, mas ao perceber Jimin, seus olhos brilharam. Ele estava tão perto, mas ainda havia uma distância invisível entre eles, como se o passado e as expectativas de Jungkook o mantivessem à margem de algo que poderia ser mais.

"Você realmente... sabe que eu estou aqui?" Jungkook perguntou, sem saber como processar o fato de que alguém, naquela torre isolada, parecia ter antecipado sua chegada.

Jimin sorriu, suave, mas com um toque de melancolia. "Eu sou ligado a essa torre. Os animais falam comigo. Eles disseram que você viria."

Jungkook franziu a testa. "Animais...?"

"Sim." Jimin assentiu, com um brilho leve nos olhos. "Eles falam de forma estranha, às vezes. Não como vocês falam, mas eu sei o que querem dizer."

Mas a conversa logo se desfez quando o pequeno coelho de estimação de Jimin, que estava aconchegado no canto de uma das poltronas de pelúcia, pulou para fora, seus pequenos pés fazendo um som leve no chão de pedra. Era um coelho minúsculo, com o pelo macio e branco como a neve, mas com manchas cor de rosa nas orelhas e uma cauda fofa que balançava com cada movimento desajeitado.

Jungkook observou, encantado, enquanto o coelho pulava em direção a Jimin. "Ele é... seu amigo?"

Jimin sorriu com algo mais genuíno no rosto, uma expressão que nunca havia mostrado com tanta clareza. "Sim. Ele é meu amigo. E tem um nome muito especial." Jimin fez uma pausa, antes de olhar para o coelho e chamar: "Aqui, Pompom!"

O coelho, como se tivesse ouvido sua chamada, pulou até Jimin e parou em seus pés, como se esperasse uma recompensa. Jimin pegou o coelhinho no colo, acariciando-o suavemente. "Ele se chama Pompom", disse, com um brilho travesso nos olhos. "Porque ele é fofinho e pula para todos os lados. Ele foi o único a me fazer rir durante meus dias mais solitários."

Jungkook não pôde deixar de sorrir. O coelho, com sua aparência engraçada e suas pequenas travessuras, trazia uma leveza ao ambiente, algo que era raro naquela torre sombria e cheia de segredos. Ele se agachou um pouco para olhar melhor o coelho, sorrindo genuinamente pela primeira vez naquela noite. "Pompom, huh? Bem, ele parece ser um bom amigo."

Jimin deu uma risadinha, seu sorriso se alargando. "Ele é. E você, Jungkook? Não me diga que você também veio aqui para ficar sozinho e correr do mundo."

Jungkook sentiu uma pontada em seu coração. Ele estava ali fugindo de tudo, fugindo de uma vida que nunca escolheu. Mas, agora, vendo Jimin com aquele coelho em seus braços, com um sorriso genuíno que iluminava seu rosto, ele não se sentia mais tão sozinho. Por um momento, pareceu que a vida poderia ser diferente para ambos, se o destino lhes permitisse.

Ele se aproximou um pouco mais de Jimin, o olhar suave. "Eu estou fugindo... daquilo que não posso controlar. Do casamento, das expectativas... eu só não quero mais ser prisioneiro."

Jimin o observou com atenção, com os olhos brilhando de uma sabedoria que Jungkook não conseguia entender. "Você não precisa fugir sozinho, Jungkook. Às vezes, a liberdade não está apenas em correr, mas em encontrar um lugar onde você se sinta em casa."

Jungkook sentiu o peso das palavras de Jimin, e, por um momento, todo o tumulto em sua mente pareceu se acalmar. Jimin tinha razão, embora ele não soubesse exatamente o que aquilo significava ainda. Mas, olhando para aquele coelho fofo em seus braços e para o sorriso tranquilo de Jimin, ele se deu conta de que havia algo ali. Algo em Jimin que fazia com que ele sentisse que a vida poderia ser mais simples, mais doce.

"Eu... não estou pronto para entender tudo isso ainda, mas vou ficar", disse Jungkook, o som de sua voz mais suave, como se ele estivesse admitindo a si mesmo algo que jamais havia dito antes.

Jimin olhou para ele com ternura e, depois de um instante de silêncio, disse: "Fique. Talvez, juntos, possamos encontrar o que estamos procurando."

E, com isso, o coelho Pompom fez um salto mais alto, como se estivesse celebrando a promessa que acabara de ser feita. Jungkook e Jimin trocaram um olhar, e pela primeira vez, algo no ar parecia ter mudado.

Talvez a liberdade não fosse algo que eles precisassem buscar em algum lugar distante. Talvez ela estivesse ali, na companhia um do outro, no carinho de um coelho fofo chamado Pompom.