Capítulo 2 - Pacto com o diabo
Luke pensou ter ouvido passos, ainda enquanto seus olhos estavam fechados. Mas, logo deixou tal ideia de lado, afinal, ninguém entrava em seu quarto além da sua irmã. E ela sempre o acordava com um abraço e gritos estridentes. Se fosse Aretha, ele já estaria sendo esmagado.
Porém, apesar de seu pensamento ter sido descartado. Luke voltou a sua mente, segundos depois. Afinal, a luz do sol tocou seu rosto. Logo após as cortinas terem sido abertas.
Assim, após seus olhos verdes se abrirem, Luke pôde ver uma desconhecida a sua frente. Uma jovem criada, que nunca havia visto antes, de cabelos loiros rosados, olhos azuis brilhantes, pele clara e bochechas coradas. Seu uniforme azul-marinho e branco cabia perfeitamente nela, a deixando bem fofa. Principalmente com algo que o jovem nunca havia recebido de um funcionário, um sorriso.
— Bom dia, senhor. A senhorita Aretha pediu que eu viesse acordá-lo. Prazer, sou a nova funcionária; Lily Sous. Estou aqui para servi-lo. Me chame para o que precisar.
Luke estava realmente confuso. Os eventos da noite anterior voltaram a sua mente. A primeira questão era: por que raios ele não estava morto? Segunda questão: como ele chegou em casa? E a terceira: por que a coitada da criada novata havia sido designada para ele? Ela seria desprezada.
Lily ainda o observava com um sorriso, esperando orientações.
Luke estava realmente com dó da jovem, só do fato dela estar ali com ele, já poderia ter problemas. Por isso, ele quis acabar logo com a situação.
— Bem, bom dia, primeiramente, Lily. Eu agradeço pela ajuda. Mas, não precisa disso, tudo bem? Como você é nova, não devem ter te contado... Sou alguém que não merece atenção dos criados, entende? Se você cuidar de mim, irão te isolar. Você parece uma menina gentil e não merece isso. Por favor, saia.
Lily pareceu surpresa. Nenhum lorde se importaria com a reputação de um criado dessa maneira.
— Deixe ela te ajudar, idiota. Lily é nova e disse que queria fazer amigos, então pedi que ela trabalhasse para você.
A dona da nova voz, logo estava agarrada a ele. E o apertava como se não fosse soltar nunca mais.
— Aretha, me solta... Está me sufocando. — Luke resmungou.
O riso de sua irmã mais velha preencheu a sala. Ela o soltou, ainda rindo. Hoje vestia um vestido verde de algodão que contrastava com seus olhos da mesma cor e cabelos castanhos ondulados. Ele com certeza sentiria falta dela.
— Hora do banho, dorminhoco. Lily, prepare o banho.
A criada concordou e se pôs a trabalhar enquanto Aretha continuava a tagarelar.
— Ontem o príncipe veio te trazer para casa após te encontrar bêbado. Muito gentil da parte dele, não acha?
A menção ao príncipe fez Luke se lembrar da noite anterior e sobre o beijo do mesmo. Ele ficou vermelho com a lembrança, mas estava se distraindo novamente.
— Foco, Luke. Você tem que contar a ela. — pensou apressado.
— Irmã, você quer mesmo se casar com o príncipe?
Aretha agora tinha um olhar perdido. Ela parou de provocá-lo e se sentou na cama. Pensou por alguns minutos, mordeu os lábios e apertou levemente os lençóis, como se estivesse escolhendo bem as palavras que deveria dizer.
— Bem, não. — Respondeu diretamente. — Eu queria viajar, cavalgar por aí com alguém que amasse de verdade e poder ficar com essa pessoa até os fins dos meus dias, tomando chá e conversando sobre o novo lançamento da Autora Jane Hullers. — após uma pausa longa, ela continuou. — Mas, não podemos ter o que queremos, certo?
Após ouvir aquilo, Luke tinha certeza que não podia deixar sua irmã nas mãos daquele maluco.
— Então, não se case com ele, Aretha. Por favor. Ele não é alguém do bem. Ele...
Luke hesitou, será que acreditaria nele? Mesmo sua irmã que estava ali para ele sempre. Aquilo era muito absurdo para alguém acreditar. Mesmo assim, decidiu arriscar.
— Eu ouvi algo ontem, ele quer te matar após o casamento, Aretha.
Aretha o observou, agora séria.
— Eu sei que está preocupado comigo, irmãozinho. Mas tudo vai ficar bem. Eu sei que está com ciúmes, mas não precisa viu. — ela sorriu apertando as bochechas dele.
Luke suspirou, sabia que essa seria sua resposta.
— Agora, hora do banho. Rapidamente, ela tirou as cobertas de cima dele, o fazendo correr para o banheiro de vergonha.
— Não faça isso, sua maluca. Pode ver o que não quer.
Do outro lado da porta, Aretha riu.
— Eu já te dava banho quando era pequeno, não há nada ali que eu não tenha visto. — Ela foi mais ainda por trás da porta.
— Vou te esperar para o café da manhã, não se atrase.
Luke suspirou aliviado, ao ouvir os passos se afastando.
Felizmente, ele ainda estava coberto com uma camisa branca, que logo se encontrava no chão. Em suas costas podiam ser vistas pequenas marcas de cicatrizes que estavam se curando. Porém, o que mais chamava a atenção era como Luke era magro e esguio, seus ossos quase saltados para fora do corpo.
Ele entrou na banheira e começou a se esfregar, doía, pois parecia que a pele não protegia os ossos de seu corpo. Outro motivo para não permitir que sua irmã o visse, além da vergonha.
Ela teria muitas perguntas e Luke não estava interessado em responder. Após o banho, ele colocou calças pretas e uma camisa da mesma cor. Quase desaparecendo de vista.
Quando Luke chegou à mesa de jantar, seus pais logo fecharam a cara, como se sua presença trouxesse uma praga.
O jovem conde se sentou e pegou um pouco de leite e pão. Seria o suficiente por hoje.
Aretha colocou mais alguns pedaços em seu prato e pediu para que comesse. Mas, logo o clima piorou com a voz rouca e alta do seu pai e com o cheiro de leite nos cabelos de Luke.
Os patriarcas o olhavam com intenso ódio e descaso.
— Como você ousa dar trabalho para o príncipe Artanis, seu ninguém. Você tem sorte da sua irmã estar noiva dele e do príncipe ser gentil. — Seu pai gritou, o olhando com olhos castanhos possessos de raiva, enquanto sua mãe segurava o jarro de leite vazio e seu olhar verde e mortal parecia querer o deteriorar. Um olhar mais frio e vazio que o do próprio príncipe.
Luke não respondeu. Eles não mereciam que falassem com eles.
Os criados ao redor pareciam não se importar. Luke pôde ouvir os cochichos mais tarde, de como ele era alguém abusado. Apenas Lily observava tudo em choque e com verdadeiro olhar de piedade.
Temendo chorar de tanta humilhação. Ele se levantou e foi embora.
— Luke, Luke... Volte aqui.
A voz de Aretha pôde ser ouvida de longe, mas foi ignorada com sucesso.
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No fim do dia, sua porta foi arrombada novamente por Aretha que apertou suas bochechas por tê-la deixado falando sozinha depois do incidente de manhã.
— Tenho uma surpresa. Se prepare para o baile no palácio real. Hoje será a comemoração do aniversário real da rainha e iremos nos apresentar ao piano. Quanta honra, não acha?
Realmente era uma honra de alto valor, mas, ela havia dito "nós" ?
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A noite chegou e Luke estava super nervoso. Não sabia como Aretha havia conseguido convencer seus pais a permitirem que ele tocasse um dueto no piano com ela.
Mas não importava, eles não poderiam dizer nada contra ele naquele momento, na frente de todos.
Aretha apertou sua mão, para apoiá-lo. E ele decidiu que não teria medo. Tocar as teclas era uma das poucas coisas que o confortava. A música era algo tão límpido e perfeito que o fazia sentir que podia ser mais que aquilo que ouvia no seu dia a dia.
E sem medo, suas mãos deslizaram pelas teclas assim que sua irmã começou. A harmonia foi perfeita, é como se fosse somente ele e a música. Nada mais existia ali. Só aquela sensação de familiaridade e conforto.
Quando a partitura chegou ao fim, ele pôde ouvir os aplausos. Ele e Aretha se levantaram e de mãos dadas se curvaram em agradecimento. Luke suspirou aliviado e pelo sorriso da irmã, ele não havia estragado tudo.
A própria rainha Perséfone veio agradecê-los e elogiá-los. Logo atrás dela, estava seu filho, que possuía os mesmos cabelos.
O bastardo estava usando uma roupa típica da realeza, a camisa azul escura, o colete e capa branca com detalhes dourados. Ele deu um sorriso gentil para os irmãos, fazendo Luke morder os lábios. Quem visse pensava que era santo.
Luke teria que fingir. Ele se curvou adequadamente diante de Artanis e agradeceu:
— Eu gostaria de agradecer, vossa alteza. Por me ajudar na noite anterior. Minha família é muito grata pela sua generosidade.
— Não é preciso agradecer, Willians. Que tipo de príncipe eu seria se não ajudasse alguém em necessidade?
E ambos sorriam, mas claro que em seus olhares, Luke queria matá-lo, porque afinal fora ele que o fizera desmaiar. E Artanis o ameaçava para que não falasse nada. A guerra silenciosa continuou por alguns segundos, até a rainha e o príncipe se despedirem.
Após a saída deles, Luke se distraiu com os convidados. Se contentando em ouvir as conversas e observar os espetáculos. Até que algo chamou sua atenção, o príncipe desgraçado com sua irmã indo em direção aos jardins.
E como um bom irmão, alguém que conhecia a verdadeira face do príncipe e claro, uma pessoa super curiosa; ele os seguiu.
Silenciosamente, ele ficou escondido contra as altas escrituras de arbustos no jardim do palácio. Não pôde ouvir nada, o que o fez se frustrar bastante.
Parecia apenas uma conversa casual entre noivos, eles nem se encontraram. Mas o olhar do príncipe era gentil.
"Mentiroso." — Luke pensou.
Até que finalmente, sua irmã se afasta e deixa o príncipe sozinho.
Que por surpresa de Luke, adentrou ainda mais os jardins. E claro, foi seguido. Ainda havia chance de salvar a sua irmã.
Ao entrarem cada vez mais fundo no jardim, em meio a uma espécie de labirinto de rosas, o príncipe se virou com um sorriso atrevido.
— Você gosta mesmo de me seguir, Luke Willians. Sentiu falta do beijo de ontem?
Luke se irritou e respondeu:
— Seu... Aquilo não foi um beijo, foi uma magia maligna para me apagar. E você ainda mentiu, como se fosse meu salvador ou algo assim.
O príncipe riu e o olhar malicioso apareceu. Ali estava ele, o verdadeiro príncipe Artanis de Athea.
— O que importa é que eu conversei com sua irmã. É por isso que está aqui, certo? Ela me disse que realmente não desejava se casar, mas, faria pelo bem e pela reputação da família.
Luke ficou surpreso com a sinceridade de Aretha. Mas, pelo que sabia, o príncipe não deixaria isso barato. Afinal, precisava sabe lá os deuses o porquê desse casamento.
— E com isso, eu pensei em uma solução. Que pode salvar sua querida irmã mais velha.
Luke se exaltou com a oportunidade.
— E qual é? — perguntou esperançoso.
Artanis se aproximou dele, fazendo com que Luke encostasse as costas em um arbusto.
— Case-se comigo, Luke Willians. Faça isso e sua irmã estará livre e viva para viver a vida dela como cartógrafa e pesquisadora do palácio. Para viajar para onde quiser.
— Como...?
Luke estava em choque total. O príncipe queria se casar com ele só invés de Aretha? Mas ele não tinha nada de especial. Ele deveria agradecer por ver sua irmã livre e viva... Porém, ainda estava confuso com aquilo.
— Sua irmã será livre e você se casará comigo. Assim, ela não precisará morrer e nem você.
— Mas... Se você precisava matá-la antes. Por que comigo é diferente?
O príncipe sorriu divertido.
— Porque vocês são diferentes, cachorrinho. Então, aceita minha proposta ou não?
O coração de Luke estava acelerado, ele estava cada vez mais confuso. Porém, havia a certeza do que era mais importante no momento.
— Eu aceito me casar com você, príncipe Artanis de Athea.
— Então agora somos noivos, Luke Willians
E novamente, os lábios do príncipe se chocaram com os dele, e dessa vez, Luke sentiu o sangue escorrer por entre eles. Como se um pacto tivesse sido feito.
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