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Post-scritum

https://youtu.be/os2C0TdDphc

Por Gisinha Lima

Nota: Esta songfic foi criada tendo por base a música Grace Kelly, do cantor Mika. À exceção de alguns personagens, citados de forma indireta, apenas descrições, todos os personagens fictícios são originais.

Londres, Inglaterra, Março de 2018.

O sol matutino já entrava em casa, bastante pálido, os raios ainda muito tímidos, quando uma moça de cabelos castanho-escuros sentou-se em frente a uma bancada de granito, a xícara de café ainda quente sendo saboreada devagar. A animação de pegar a correspondência para verificar, entre outras coisas, a carta de aprovação do mestrado, simplesmente esfriou ao ouvir o baque surdo de algo caindo sobre a superfície do granito cinza. O rosto, outrora tranquilo e sorridente, estava vermelho de fúria. Os lábios se apertaram, uma linha fina raivosa. Uma loira vários anos mais velha, alguns fios grisalhos aparecendo discretamente, sorriu enquanto via o episódio de fúria. Pelo brilho assassino nos olhos castanhos, ela já sabia quem havia tido a audácia de escrever para a filha. Tivera o prazer de ser convidada, junto com as filhas, a mais velha uma enraivecida Lúcia, por ocasião do batizado de um doce e fofinho Thomas, e fora formalmente apresentada ao orgulhoso pai e, por um acaso, correspondente de sua filha. Sabia das farpas que ambos trocaram nos últimos meses, o que, nas entrelinhas, significava uma coisa: a bandejada desferida no ano passado não fora completamente esquecida. Ela ainda espumava de raiva, quando uma réplica viva da mulher em frente à geladeira, na forma de uma mocinha de aproximadamente dezoito anos, sentou ao lado do barril de pólvora que era a irmã. Ignorando completamente a fúria entalhada no rosto jovem, a mocinha serviu-se de café e contentou-se em segurar o riso, imaginando como ela responderia aquela carta... Se bem que dessa vez o cara realmente havia passado dos limites. Provocar logo ela... Era, no mínimo, pedir pra morrer.

Não nesses termos, claro!

Ela ainda segurava o riso com muita dificuldade quando viu a irmã segurar a placa de vidro, o corpo trêmulo de ódio.

- Claro! – ela entoava, a voz duas oitavas mais alta – Porque uma carta assim seria mais século XIX do que realmente precisa ser não é mesmo?

Lúcia Fairchild tentou, em vão, quebrar a placa de vidro que segurava, ganhando um hematoma feio no pulso esquerdo. À medida que avançava a leitura, os olhos castanhos apertados de raiva, passaram a brilhar, cruéis, a raiva mudando as feições belas da moça. A irmã caçula apenas ria, enquanto tirava o leite da geladeira e ajudava a mãe a preparar a refeição matinal. As duas, mãe e filha, assistiam enquanto a mais velha voltava para a bancada, um bloco de cartas na mão e uma caneta, ela sorria enquanto escrevia. Um livro infantil intitulado "O flautista de Hamelin" descansava sobre a bancada, um papel pardo para embalagem embaixo dele. As duas encaravam Lúcia, a irmã dela segurando o riso o mais que podia, enquanto a primogênita terminava de escrever e embalava o livro fino no papel pardo. A mãe apenas encarava a filha, as sobrancelhas erguidas.

Quando ela foi despachar o pacote pelo correio, Lúcia pensava com seu botões, um sorriso irônico no rosto.

Feliz ou infelizmente, para o bebê fofo que ia abrir o pacote, ia ser só um livro inocente. Para o babaca, ia ser algo que ele nunca mais esqueceria...

I wanna talk to you

(The last time we talked, Mr. Smith, you reduced me to tears

I promise you, it won't happen again)

Do I attract you?

Do I repulse you with my queasy smile?

Am I too dirty?

Am I too flirty?

Do I like what you like?

I could be wholesome

I could be loathsome

Yes, I'm a little bit shy

Why don't you like me?

Why don't you like me without making me try?

I tried to be like Grace Kelly

But all her looks were too sad

So I tried a little Freddie

I've gone identity mad!

LÚCIA

Nunca achei que diria isso, mas, agora, aquele babaca passou de qualquer limite. Eu ainda estava petrificada – sim, literalmente falando! – enquanto eu ainda lia aquela carta tão século XIX, tão Orgulho e preconceito... TÃO SR. DARCY! Mamãe e Lizzie ainda riam de mim, enquanto eu tremia de raiva. Nunca achei que aquele idiota ia conseguir me deixar tão furiosa, mas, acreditem, ele conseguiu!

- O que ele diz? – pra completar, minha mãe ficou encantada com a missiva. Encantada é pouco. Ela curtia caras assim, que sabiam usar as palavras (não foi por causa disso que ela e o papai se casaram, por causa das cartas melosas que ele escrevia pra ela no colégio?). Ela estava ansiosa para ouvir o que o gentil Sr. Darcy havia escrito pra mim. Junto com a carta, havia um pacote pardo no qual estava (não acredito que vou admitir isso!) o livro que eu queria, um exemplar de "Mr. Mercedes", do escritor americano Stephen King. Lindo, bem encadernado com aquela linda capa branca e o carrinho de sorvete do Mr. Tastey e rastros de sangue na contracapa. Dessa vez, o cara caprichou no presente (será que foi a mãe do Thomas que comentou alguma coisa? Ou melhor? Fez ele comprar o livro para mim? Se fosse o caso, tenho que ligar para ela, agradecendo. De todo aquele grupo bizarro, ela era a única que destoava, sempre tão educada e gentil – e alegre! Sempre via um riso ou sorriso no rosto dela).

Normalmente, sempre entro em contato para expressar minha gratidão pelo presente, mas, naquele dia eu decidi ler a carta do Sr. Darcy, primeiro. E ainda bem! Foi quando eu percebi que ninguém tão gentil seria capaz de tamanha maldade...

- O que ele diz? – Lizzie quase se jogou em cima de mim – Leia logo!

Minha irmãzinha também curtia caras ao estilo Darcy. Tal mãe, tal filha.

- Está bem, vamos acabar logo com isso! – E li a famigerada carta do Sr. Darcy, um longo suspiro antes. Elas se apoiaram na bancada de granito, o queixo apoiado nas mãos, suspirando ao mesmo tempo. Ah, por favor! E comecei a ler.

Cara Srta. Fairchild,

Espero que esta carta a encontre com saúde. Não consegui pensar em outra forma de entrar em contato, e – convenhamos – nosso meio de transporte mais convencional, como vocês puderam atestar, chamaria muita atenção. Não, assim foi bem mais inteligente. Ah, e por favor, também aproveite a oportunidade de agradecer a sua mãe por mim pela hospitalidade. Ela é nada menos que uma grande dama e uma anfitriã exemplar. Adorei a conversa que tivemos. Foi esclarecedora em vários aspectos. E o chá não poderia estar mais delicioso. Quero retribuir a cortesia, assim que possível.

Tive que levantar os olhos da carta agora. Minha mãe, normalmente calma, a verdadeira dama aqui descrita pelo Sr. Darcy, agora estava com as bochechas em chamas, um acesso de risinhos muito idiota, mais apropriado à adolescente que Lizzie ainda era. E não consegui refrear a pergunta, mas, no mesmo instante, desejei não a ter feito.

- Mãe? O que você fez?

Ela ficou ainda mais ruborizada agora.

- Quem? Eu? Nada, apenas servi chá com biscoitos de avelã, aliás, muito gostosos, desculpe, Lizzie, devia ter lembrado de dizer, ele me pediu para agradecer pelos biscoitos.

Lizzie sorria, igualmente ruborizada.

- Ele ainda me chama de Liesel? – ela deu um risinho.

Eu não acredito que ela gosta disso. Sério?

- Eh... Sim, é, ele chama, sim. Nem imagino por que! – resmunguei, entre dentes, e voltei a ler a "carta". Eu sabia, sim...

Espero ter escolhido o livro certo pra você. Encare esse pequeno mimo como a minha mais sincera gratidão por tudo que fez por mim. Sem sua participação providencial, provavelmente não teria um bebezinho nos braços, hoje. E talvez as coisas tivessem tido um rumo bem diferente de agora.

- Pois eu aposto que sim. – respondi para a carta, um pouquinho mordaz, admito. Mas sei que estou certa. O cara literalmente tem jeito com as mulheres. Olha só a minha mãe e irmã como estão se comportando?

Contudo, leia esse mimo sabendo de antemão que certo passarinho me contou que, com o passar do tempo, você se parecerá com um dos personagens nele descrito. Então tome cuidado de agora em diante, sim?

Atenciosamente,

Era melhor eu ter parado a leitura ali mesmo. O Sr. Darcy aqui realmente é um idiota, mas, até ali não havia entendido o que ele havia escrito, até que minha mãe e irmã começaram a rir (Lizzie já havia lido Mr. Mercedes, ou por que ela estaria dando essas risadinhas idiotas?). Eu devia MESMO ter parado ali.

Só que não, né? Eu tinha que ler o Post-Scriptum...

P.S: Só uma dicazinha dessa mudança, minha querida... Não vá ficar nervosa demais e começar a se encher de pão!

- O QUE?! - eu nem percebi que havia gritado. Mas, acredite ou não, isso não as assustou, ao contrário, fez foi provocar mais acessos de riso. Minha irmã se contorcia de rir em frente à bancada de granito. Minha mãe, então, essa não parava de rir mesmo.

- Por que vocês duas estão rindo?

Elas pararam... Só para rir mais um pouco.

- Querida, - minha mãe começou a falar um pouco mais normalmente, ainda que em meio aos risos – posso responder essa sua pergunta com outra? – ela riu um pouco mais antes de responder – você tem observado seu peso na balança, ultimamente?

Sim, é claro que sim! Estou ligeiramente mais gorda (6 kg e meio a mais que o peso ideal, distribuídos em 1,54m, para ser mais exata), mas, o que é que isso teria a ver com... ?

AQUELE GRANDISSÍMO FILHO DE UMA...

- Eu vou matar ele! – eu gritei, enquanto tentei feito louca quebrar aquela placa de vidro ridícula. Não bastasse o idiota ter acabado de me chamar de gorda, agora tem duas hienas rindo de mim...

Eu mereço mesmo!

Não se preocupe... Um certo flautista vai ficar sabendo disso... Até porque anda muito em cima do muro, ultimamente...

I could be brown

I could be blue

I could be violet sky

I could be hurtful

I could be purple

I could be anything you like

Gotta be green

Gotta be mean

Gotta be everything more

Why don't you like me?

Why don't you like me?

Why don't you walk out the door!

(Getting angry doesn't solve anything)

THOMAS

Olha só! Pra quem ainda não me conhece, sou apenas um bebezinho fofo de apenas seis meses (como o tempo passa rápido quando a gente se diverte, aff), mas, para a minha mãezinha linda e as poucas pessoas que sabiam de mim, pondo na minha conta o amigo (?) violoncelista da mamãe, bom... Eu explico. Depois. Bem depois.

Agora, voltando para a mamãe e o amigo (?) violoncelista, eu ainda acho que eles dois deviam se acertar. Sei o que você deve estar pensando – e, antes que pergunte, sim, eu literalmente leio pensamentos – ela das Exatas, o cara é músico, os dois não combinam, eu posso dizer uma coisa? Discordo. Eu acho o cara legal, e a mamãe se diverte quando a gente vai visitá-lo em Londres (isso tem ocorrido muito depois que eu nasci), ela sempre fica com outra cara quando isso acontece, e sinceramente acharia divertido se eles se casassem. Fora que ele seria bem mais adequado para a mamãe que o próprio papai...

Não sou dessas crianças que fica imaginando os pais juntos, não mesmo. Não consigo pensar em duas pessoas mais incompatíveis, mas, não sou cego. Nem burro! Às vezes, vejo o papai olhando para a mamãe quando ela tá ocupada no computador. Quando ela percebe, ele sorri e fica acenando pra ela (tipo os pinguins de Madagascar, sabe? Só sorria e acene, sorria e acene). E, às vezes, quando ela acha que eu não tô vendo, eu a vejo retribuir o aceno bobo, só pra depois baixar a cabeça, o rosto mais vermelho que um tomate. É só nessas poucas e raríssimas vezes é que me pego pensando em como seria se meus pais me criassem juntos. Bom, o papai bem que tá tentando. De vez em quando, ele insiste em participar da minha criação junto com a mamãe, e aí ela o lembra "produção independente, lembra? Você concordou!". Se ela fosse como eu, tipo ela teria percebido que ele não ia ler as letras miúdas. Aliás, ele ia ignorar tudinho. No que diz respeito a mim, pelo menos. Ele quer me criar e preparar para o grande dia, quando ele finalmente passar o bastão pra mim. Desculpe aí, papai. Não quero, não.

Tá, mas, foco, vamos lá, foca na confusão! Minha vida e dilema pessoais provavelmente não são interessantes para ninguém.

Quando o pacote com o meu livro de contos de fadas novo, "O flautista de Hamelin", chegou, não imaginava a confusão que viria a seguir (sou telepata, não adivinho!). Eu, como sempre, tava bancando o bebê (mamãe não queria que mais ninguém soubesse de mim, e agora até achei sensato mesmo). Minha mãe passou a tarde organizando uma papelada que ela trouxe (onde já se viu, trabalho no feriado de Páscoa!) e minha tia predileta – vamos pensar nela assim – me segurava, brincando comigo, literalmente me beliscando, quando o papai simplesmente invadiu o quarto da mamãe, a carona vermelha, até os tomates perderiam pra ele agora. Ele segurava o pacote, agora largado em cima da cama, e lia uma carta, a letra da tia Lúcia inconfundível. Ele tava apertando a carta, furioso e depois começou a fazer sinais que só elas entendiam. Que sorte a minha ser telepata...

'Quando eu disser a vocês que eu quero matar aquela desgraçada, por favor, me deixem matá-la!'

Bom, mamãe leu a carta da tia Lúcia, o queixo dela caindo a cada parágrafo (a carta da tia Lúcia era grande!), e depois ela passou a carta para a minha tia, que leu, também, uma careta zangada, mas, depois ela ficou só segurando o riso enquanto lia.

Maldade, titia, olha o veneno escorrendo...

Adivinhem onde mamãe estava nessa hora?

How can I help

How can I help it

How can I help what you think?

Hello my baby

Hello my baby

Putting my life on the brink

Why don't you like me

Why don't you like me

Why don't you like yourself?

Should I bend over?

Should I look older just to be put on your shelf?

I try to be like Grace Kelly

But all her looks were too sad

So I tried a little Freddie

I've gone identity mad!

É isso aí!

Bem escondidinha, atrás da bancada de trabalho dela. Onde havia muita animação por ver um presente chegando pra mim, havia só uma testa, mais vermelha que um tomate.

Claro que a tia Lúcia mandava livros infantis pra mim, ela sabia que eu gostava de uma boa história antes de dormir, ela mandou muitos pra mim – sem qualquer relação com as farpas enviadas para (e pelo) papai, é claro. Mas... Que tal a gente pendurar essa parte da história um pouquinho? Prometo que volto pra esse ponto, afinal a história tem que terminar, né?

Preciso explicar duas coisas que eu vi (quando o papai deixou, é claro)... O conteúdo da carta da tia Lúcia – muito legal, por sinal – e uma visita bem interessante que ele fez um pouquinho depois do meu batizado, algo que ele morre, mas, não admite que fez. Parece até que ele visitou o Papa! Mas ele não foi tão longe, não. Só até Regent Park. Vamos falar da famigerada visita? Mas aqui eu precisei da ajuda de uma pessoa pra contar essa parte da história. A mãe de alguém pra quem, até hoje, ainda estão devendo uma contradança...

I could be brown

I could be blue

I could be violet sky

I could be hurtful

I could be purple

I could be anything you like

Gotta be green

Gotta be mean

Gotta be everything more

Why don't you like me?

Why don't you like me?

Walk out the door!

ELISABETH

Enquanto a tarde avançava, um casal sentado em frente à varanda apreciava um delicioso chá de ervas, cuja fumaça perfumada exalava das xícaras. Ela, muito idosa, sorria diante das reações do interlocutor à infusão ingerida.

A varanda ainda recebia um caleidoscópio de cores resultante das gotas deixadas por uma chuva torrencial que caíra muito antes, agora banhadas pelos raios de sol.

- Então? Ainda acha que tomar chá é ruim?

Ele sorria, enquanto gesticulava.

"Minhas memórias de infância influenciaram um pouco minha opinião. Esse aqui está delicioso!"

Hannah Fairchild sorriu de volta.

- Sabia que ia gostar, meu rapaz. – ela serviu mais um pouco na xícara em frente a sua, enquanto empurrava um prato de biscoitos recém-assados na direção do seu interlocutor. – Então? Pensou no que eu disse há pouco?

Ele balançou a cabeça, um pouco envergonhado. O bebê no carrinho dormia placidamente enquanto conversavam.

As rugas em volta dos olhos cinzentos da Sra. Fairchild ficaram mais evidentes quando ela sorriu outra vez.

- Meu jovem, quero que escute uma coisa: só porque uma situação está ruim, não quer dizer que não possa melhorar. Olha a chuva, por exemplo. Ela molha tudo, faz um certo estrago... mas, veja o resultado... – ela apontava para as gotas, agora parecendo arco-íris, nas grades de madeira da varanda. – Não é lindo?

Ele sorriu.

"Peço desculpas por incomodar a senhora. Sei que a última coisa que quer ouvir são as minhas queixas."

- Não é incomodo algum. É sempre bom receber homens tão encantadores como você e o...

Um silvo baixo seguido de um barulho desagradável vieram do carrinho de bebê. O menininho ainda dormia, sugando o polegar. A sra. Fairchild pigarreou, ligeiramente irritada.

-... Príncipe. Depois que a mãe o lapidar um pouco mais.

O pai fez um esforço hercúleo pra segurar o riso. Além da necessidade óbvia, não queria ofender a anfitriã, depois de toda gentileza.

"Queira desculpar isso, também".

A boa senhora deu um sorriso, os olhos cinza quase desapareceram.

- Meu jovem, quando foi a última vez que teve a chance de refletir e ser honesto consigo mesmo?

Ele a encarou por um instante, confuso. Ela sorriu, um olhar de cumplicidade, ante essa reação.

- Você passou tanto tempo ocupado com o bem-estar dos outros, incluindo na conta a mãe do seu pequeno herdeiro, que não desfrutou de um tempo mais que necessário só seu.

"Não entendi."

Ela sorriu, um olhar maroto. Ele havia entendido, sim, pensou ela com seus botões. Que tal forçar a barra um pouco?

- Meu rapaz, você não faz idéia do quanto a honestidade o ajudaria agora. – ela sorria. Mesmo as rugas mais evidentes não denunciavam a idade avançada dela – Vamos colocar a coisa assim: Você era só um adolescente... Um pouco rebelde, talvez (um ligeiro sorriso apareceu à medida que ela falava), que, de uma hora para outra, precisou ser um chefe de família, já que a sua não podia mais exercer esse papel. Confere?

Ele sacudiu a cabeça, afirmando. Não gostava muito de reviver essa parte da juventude.

- Certo. Então, como se não bastasse ter que assumir o encargo de cuidar de uma criança, sendo ainda uma criança, você passou a ter cuidar de outras, por assim dizer, "crianças", pessoas que passaram a depender de você, algo que lhe foi imposto, mas, que ainda não pronto para fazer. Esqueci algo?

Ele sorriu, um olhar surpreso. Ela havia acertado tudo. Ou quase tudo. Faltava uma coisinha...

Hannah fora proposital agora.

- Esperaram muito de você, agora, pode se dar ao luxo de pensar um pouco em si mesmo. – ela olhava para o carrinho onde o pequeno Thomas dormia, ainda sugando o polegar, as bochechas rosadas se movendo de vez em quando – Esse garotinho tem a oportunidade de ter o pai por perto como exemplo. Mas não o chefe de estado que seu pai foi o tempo todo.

Ele sorriu, olhando com ternura para o bebê.

- Ele tem um pai agora, mas, se você se negar a ouvir seu coração, ele corre o risco de ter uma infância muito semelhante à sua.

Os olhos castanhos brilhavam, alarmados.

"O que a senhora quer dizer?"

Ela sorriu.

- Você gosta muito dela?

Apesar de pego de surpresa, ele entendera a pergunta. Apenas baixara os olhos por um instante de responder. Foi o olhar da mãe de Lúcia que o fizera suspirar, derrotado. Não tinha como mentir para aquela mulher.

"sim," ele sorriu, um olhar ligeiramente travesso "gosto muito dela."

A sra. Fairchild juntou as mãos, um risinho de triunfo enquanto pulava de júbilo na própria poltrona.

- Ótimo, chegamos lá! Agora responda, o mais honestamente possível (ele encarava a mãe de Lúcia, surpreso)... Se tivesse conhecido sua esposa, na mesma época, com a mentalidade que você tem hoje... Ela ainda seria sua primeira opção?

Ele baixou os olhos, envergonhado. Já pensara sobre isso várias vezes no último ano, e, sempre – para sua vergonha – chegava à mesma conclusão desastrosa.

"Não."

Agora os olhos cinzentos brilhavam de júbilo. Eles finalmente chegaram ao X da questão!

- E eu vou lhe dizer por que, e que isso não lhe soe estranho. – ela observou o pequeno Thomas por alguns instantes antes de voltar a falar – Porque as duas agiram de formas muito diferentes em relação a você.

Ele piscou, confuso.

"Agora mesmo é que eu não entendi", e ele estava sendo sincero desta vez.

- Não, mesmo?

Ele tornou a encarar a velha senhora, mais confuso que antes. Ela sorriu outra vez, decidindo ir por outro caminho.

- Querido, uma enxergou em você o que a outra convivendo ao seu lado por anos não percebeu, - a mãe de Lúcia ainda sorria – ela viu acima da superfície, não o chefe de estado, não o homem poderoso. Ela viu alguém cuja necessidade podia ser suprida. Ela viu o homem, apenas. Um homem simples, com defeitos, qualidades, como todo mundo. Alguém que precisou crescer cedo demais. Ela viu além da coroa... Para essa moça, você não era um rei, mas, um homem que desejou amar.

Ele entendeu no mesmo instante o que Hannah quis dizer. A imagem refletida nos olhos da mãe de Lúcia o surpreendera naquele instante...

"Quer dizer que..."

- Você podia não ter absolutamente nada, ser simplesmente ninguém, que ela ainda assim o amaria. Ela não se apaixonou pelo poder que você tem, ou o que possui. Foi por você. Simplesmente você.

Buscava apenas uma confirmação do que queria ouvir, e agora sairia confrontado com algo que jamais imaginara sentir na vida. Nunca imaginara passar pelo dilema mais simples da vida, e agora, diante de uma xícara de chá quente e uma senhora idosa muito astuta, ele se deparava com a possibilidade de dar outro rumo à própria vida.

"Talvez sim," ele sorriu, tristonho "mas temo que a minha oportunidade já tenha passado."

- O que faz você pensar isso? – ela ergueu uma sobrancelha, surpresa. – O que sentem um pelo outro é diferente, claro, quer dizer... – a boa senhora sorria – eu consigo entender a quedinha momentânea (ela deu uma risadinha afoita)... Eu também teria pulado no seu colo, se pudesse. Mas não, estou muito velha e acabada demais pra isso.

Ele arregalou os olhos, surpreso com a confissão.

"Quantos anos a senhora acha que eu tenho?"

Ela deu outra risadinha, as bochechas em chamas agora.

- Bem menos que eu, tenho certeza disso!

Ela ainda sorria voltando a instigar o convidado, que agora já a observava mais calmo, quando um movimento chamou a atenção de ambos.

- Mamãe! Cheguei! – era a irmã caçula de Lúcia, que vinha em direção aos fundos da casa, um ar de cansaço, desejando desesperadamente desabar em alguma poltrona vaga e ali ficar para sempre.

- Olá, meu amor! – A boa senhora sorria enquanto ganhava um beijo da filha mais nova – como foi o treino? – ela perguntava mais por convenção que por interesse, já que não aprovava que uma debutante praticasse esportes, por não considerar adequado a uma jovem.

- Conseguimos. – ela sorria, os olhos cinza brilhando de empolgação enquanto desabava na poltrona mais próxima – A gente vai esmagar Abbey Mouth no sábado que vem!

Um par de olhos castanhos muito atentos se arregalou ao ver o tom de voz da mocinha.

Hannah também percebeu o mesmo, alertando a caçula com um pigarro.

- Elisabeth Mary Katherine, olhe os modos, mocinha! Temos visitas!

Elisabeth Fairchild só se deu conta de quem era ao ver o carrinho de bebê ao lado dela. A jovem levantou de um salto, as bochechas coradas.

- Perdão, Majestade, não havia visto vocês. – a mocinha curvou-se respeitosa, como a professora na Academia Weston ensinava às jovens prestes a serem apresentadas como debutantes. Sua mãe ficara extremamente orgulhosa da garota.

Ele também se levantou e abraçou a jovem, que retribuiu, risonha.

"É muito bom revê-la."

- Aposto que não diria o mesmo da minha irmã. – ela deu uma risadinha ao concluir a frase. O outro sorriu em resposta.

- Elisabeth!

A mocinha apenas riu.

- O que foi, mamãe? Os dois não se gostam, ponto. Ninguém vai morrer se ele for honesto consigo mesmo e admitir isso. A Lúcia já não gosta mesmo dele, mas, ela não disfarça. – e voltou a rir. – Aliás, o seu apelido carinhoso aqui é Sr. Darcy, aquele do romance Orgulho e Preconceito. – Lizzie voltou a rir.

O pai de Thomas apenas lançou um olhar de reprovação para Lizzie. A garota riu um pouco mais.

- O quê? Devia se sentir lisonjeado, pelo menos ela não te chama de dragão, ou coisa parecida.

- Elisabeth! – a mãe a censurava, enquanto servia a si mesma e aos outros mais chá, quando viu que o bule de porcelana chinesa estava mais leve. Ela se levantou, fazendo uma respeitosa mesura.

- Vou pegar um pouco mais de chá para nós, está bem? – ela voltou-se para a caçula – Elisabeth, querida, pode fazer companhia para o nosso convidado, sim? Mas, por favor, tente não envergonhá-lo, está bem?

- Está bem, mamãe, fique descansada. Ele não vai sair daqui com a impressão de que esteve em um hospício. – a mocinha sufocou um riso.

- Elisabeth Mary Katherine! – a mãe marchou de volta para o interior da casa, o rosto rubro de vergonha do comportamento da filha caçula.

A garota ria ainda mais.

- Desculpe por isso, - a jovem sorriu, agora fazendo uma mesura – mas, tinha que me divertir um pouquinho. Afinal, não é todo dia que faço piada com a mamãe.

O outro apenas sorriu. Diferente da sempre enraivecida Lúcia (algo que ele ainda insistia em não admitir ser culpa sua), Lizzie era espontânea e gentil. Ela serviu-o de mais um prato de biscoitos antes de servir a si própria e acomodar-se, quando deu por si mesma olhando o convidado, extremamente ruborizada. Ele sorria, um pouco incomodado, mas, já sabia do que se tratava.

A mocinha baixou os olhos, corada.

- Bom... Então... E aquele seu primo? Como ele está?

Ele sorriu, condescendente.

"Eu tenho três primos ainda solteiros. Melhor ser mais especifica".

Lizzie deu outra risadinha, ficando ainda mais ruborizada.

- Apenas um deles está me devendo uma dança... – ela baixou os olhos cinzentos, as bochechas extremamente vermelhas. Ele engasgou, para depois sorrir – ele é sempre assim, quer dizer... Tão tímido?

Ele sorriu outra vez. Seu primo podia ser tudo, menos isso. Bonachão, talvez. Desastrado? Com certeza! Mas timidez nunca fora um de seus adjetivos mais comuns. Principalmente em relação às mulheres. Ele sempre fizera sucesso entre elas, a prova disso era o rosto corado de Lizzie.

"Não, ainda que inaceitável," ele sorria "o comportamento dele nem sempre foi esse. Ele está com alguns... problemas de adaptação. Nada com que precise se preocupar... só... casa nova".

Agora foi Elisabeth quem sorriu.

- Então... isso significa que... tenho alguma chance? Por menor que seja?

Ele voltou os olhos para a garota que agora se encontrava próxima ao carrinho, observando o bebê, que aos poucos acordava, esfregando os olhinhos, sonolento. Ao ver o ambiente à volta dele diferente da própria casa, começou a choramingar, voltando a esfregar os olhos. Elisabeth e o pai do garotinho o observavam enquanto esse o pegava no colo, embalando-o muito devagar.

- Ele não está muito acostumado a passear, não é?

"Com a mãe, sim, mas, hoje eu precisei ficar com ele", ele voltou a sorrir quando a mãe de Lizzie voltava, uma bandeja com um bule de porcelana branca, "então não vi inconveniente algum em trazê-lo. Mas preciso voltar às seis e meia... ou, muito provavelmente, ela me mata. Não antes de garantir o bem-estar de Thomas, é claro".

Lizzie se contorcia de rir. A mãe, no entanto, apenas lançou um olhar de reprovação para a filha.

- E considerando que já são quase sete da noite aqui, - ela ainda encarava Elisabeth, exasperada – creio que você ainda tem uma hora e meia, pelo seu fuso horário, antes que a pobre mulher pegue o telefone e chame a polícia. Não sei a sua força policial como é, a Scottland Yard costuma ser truculenta quando se trata de sequestro de crianças.

O pai empalideceu no mesmo instante. O bebê começou a chorar um pouco mais alto, um barulho acompanhado de um silvo um pouco mais prolongado fez coro com o choro da criança. Elisabeth foi a única que prestou atenção ao fato e riu.

- Quando ele trocou a fralda pela última vez? – ela sorriu, pegando Thomas no colo – Calma, bebê lindo, fofuchinho, já vou trocar sua fraldinha – ela sorria, enquanto pegava uma bolsa azul onde vários objetos estavam mal dispostos, a mesma parecendo que ia estourar, até que a adolescente encontrou o que procurava – pronto, vamos trocar essa fraldinha?

O bebê parou mais de chorar, alguns poucos soluços, enquanto Elisabeth, muito cuidadosa, trocava a fralda do garotinho, brincando com ele de vez em quando, enquanto o pequeno esfregava os olhos, esquadrinhando o ambiente, à de procura de alguma coisa. Ou pior, alguém...

"Mas que..."

- Veja lá o que vai sair dessa boca, rapazinho! – a sra. Fairchild lançou-lhe um olhar de reprovação enquanto o repreendia. Ele ainda olhava estupefato para Lizzie.

"Como ela conseguiu? Achei que ele não ia parar mais de chorar."

Ela sorriu, mais controlada.

- Mulheres, meu jovem, mulheres. Nascemos com esse dom.

- EU OUVI ISSO, HEIN!

Eles se entreolharam, marotos. Lizzie bufou, irritadiça, mas, acabou se rendendo e voltou a rir. Ela sorria enquanto trazia um Thomas ainda sonolento de volta para a varanda. A bolsa do pequeno, agora mais organizada, provavelmente o trairia quando fosse entregar o bebê para a mãe, mas, ele já tinha uma história pronta.

- Você fica para o jantar? – Lizzie sorria, entregando o bebê – Lúcia não vem dormir em casa, hoje, então temos a casa toda para nós!

- O que?! – a mãe das jovens Fairchild berrou, agora furiosa – SUA IRMÃ O QUE?!

Lizzie riu de novo.

- Em que planeta você vive, mamãe? – ela ainda ria – A Lúcia e o Kelly já dormem juntos tem mais de um ano.

Ela bufou, raivosa.

- Querido, por favor, melhor você ir. Deixe o príncipe com a mãe agora, antes que ela chame a polícia. – ela ainda puxava a respiração furiosa – Eu tenho um funeral pra providenciar!

O pai e o bebê ainda riam da anfitriã ao partirem, não antes de, secretamente, um pequeno bilhete ser depositado na lateral da bolsa do bebê. O bebezinho riu da atitude de Lizzie, algo que passou despercebido ao pai do menino. Lizzie agora acalmava uma mãe em prantos.

Muito mais tarde naquela mesma noite, aquele bilhete deixaria alguém muito desastrado bastante acordado...

Say what you want to satisfy yourself

But you only want what everybody else says you should want

You want

LÚCIA

Pois é, né?

Não disse que eu ia me vingar da horrível afronta que o infame Sr. Darcy fez contra mim?

Só que, infelizmente, ainda não foi dessa vez. Essa visitinha aí aconteceu umas três semanas antes desse episódio aí (mas ainda fiz a criatura cair do muro, afinal, alguém tinha que se decidir, né? E o Henry era muito legal pra ficar sendo cozido em banho maria por umas e outras por aí...)

(Oh, Lúcia!)

Isso aí não é a minha consciência, não. É o Kelly. Lembrando a esta que vos fala que não devo me meter na vida amorosa dos outros. Mas que vida amorosa o Henry teria se não fosse a minha ajuda?

Enquanto eu enxugava alguns copos de cerveja, certa mamãe estava sentada na minha frente, só esperando eu falar alguma coisa (favorável, é claro).

Voltamos exatamente aonde tudo teve início, o pub Vitória da Rainha. Que estranho. A maioria das pessoas detesta admitir que seu romance começou em uma mesa de bar. Só que esse literalmente havia começado em uma mesa de bar – e já convivo com ela e o infame Sr. Darcy nos últimos quatro anos e desde então...

Sim, é isso mesmo que você ouviu. Essa é uma lembrança minha de quatro anos atrás. Dos 52 livros que o nosso babaca favorito me "presenteou" nesse período, 36 eu comentei em um livro que eu escrevi contando as minhas impressões (algumas nada divertidas) de tudo que eu li – com a 'gentil' contribuição do babaca.

E como ele contribuiu!

Mas vamos focar aqui na visitinha e como ela acabou? Melhor assim...

- Então? Fala alguma coisa!

Pois é, nunca tinha visto alguém morder tanto o lábio na vida. Ela com toda certeza sairia com o lábio sangrando daqui, mas, sairia com uma resposta bem honesta da minha parte.

- Quer a verdade mesmo? – a mamãe do ano sacudiu a cabeça, afirmando (é por sua conta e risco, querida!) – Eu acho, só acho (isso foi um sorriso?), que você está enrolando o Henry.

E foi aí que alguém arregalou os maiores olhos azuis que eu já vi na vida.

Adoraria poder chamar a criatura de quatro olhos, mas, aí eu lembro que a Lizzie sempre deixava as lentes de contato em casa quando ia para o treino de Lacrosse, com medo de uma possível bolada acidental (ou quase sempre proposital, mesmo) e usava aqueles óculos maiores que a cara dela. Pra quê chamar alguém de quatro olhos quando sua própria irmã é uma?

- Como é que é?! – pensei que ela fosse voar em cima de mim. Não ficaria surpresa, já apanhei de um babaca com um livro na mão... Mas aquilo (admito agora!) foi um acidente de percurso... Ainda que ele nunca tenha se arrependido de verdade...

- Isso aí que você ouviu. – preferi pagar pra ver – Enrolando, empatando... – sabia que ia pegar pesado, mas, como eu disse antes, alguém tinha que cair do muro – cozinhando...

Jurava ter visto um brilhozinho de arrependimento ali.

- Você entende o que está em jogo aqui?

Bingo! Missão cumprida!

- Eu acho que entendo que... Primeiro de tudo, você precisa ser honesta consigo mesma; Segundo, o que faz você pensar que o Henry ainda não percebeu? – a gente teve que acenar pra ele, tipo pinguim de Madagascar, porque ele meio que adivinhou que falávamos dele.

- Quando você fica indecisa entre um cara muito legal e alguém com quem você nem devia estar querendo sair, (jurava que veria dez unhas vindo em direção à minha cara, mas, incrivelmente, elas ficaram exatamente onde estavam, no colo dela) só existe uma atitude a ser tomada... A fila anda, meu bem!

Mas a cara fechada ainda estava lá.

- E, pelo andar da carruagem, a fila está querendo andar. – tive que acenar pra ele de novo – Dito isso, ainda quer um conselho?

Ela apenas virou os olhos na direção de Henry antes de falar:

- Tenho alguma escolha?

Não pude deixar de rir (aquelas unhas estavam muito comportadas... nossa...).

- Decida-se! O Henry não vai esperar pra sempre, e o Sr. Darcy lá... Já tem dona, então...

Agora foi ela quem riu (fiquei com um pouquinho de medo agora...).

- É assim que as pessoas se sentem falando com o Bartender?

- Não, pra isso existe um profissional pago por hora chamado Terapeuta. Eu apenas sirvo bebidas. Se tiver dinheiro sobrando, a gente conversa, senão, cai fora que a fila anda.

Ela riu outra vez.

E lá vinha o Henry, o violoncelo nas costas, pronto pra ir pra casa. E pelo sorriso no rosto dele, perdi minha carona. De novo!

- Pronta? – ele passou o braço em volta da cintura da mamãe, enquanto ela ria, olhando pra mim. Não gostei daquilo.

- Olha... Se o nosso amigo ganhou o apelido de Sr. Darcy... O que isso faz de você?

Aquilo eu entendi de primeira.

- Cai fora daqui! Cai fora, já! – comecei a distribuir surras de guardanapos na mesma hora, até o coitado do Henry foi atingido, apesar de ele já estar mais do que acostumado. E ele riu também.

- Quem fala o que quer...! – ele voltou a rir e não parou mais.

Agora eu bati nele, e totalmente de propósito.

- Cai fora, você também! – e eles saíram do pub, ainda rindo. Foi quando Kelly veio em minha direção, também rindo. Eu mereço...

- Pronta pra ir pra casa? – ele sorria – Agora que já se meteu o bastante na vida dos outros?

Não pude deixar de rir disso.

- Engraçado, foi ela quem pediu um conselho... Só dei o conselho...

- Você não serve mesmo pra Bartender. - ele ria enquanto falava – Que tal uma biblioteca, que é bem melhor?

- Ótima idéia!

E com isso, fechamos o bar, finalmente prontos pra ir pra casa.

I could be brown

I could be blue

I could be violet sky

I could be hurtful

I could be purple

I could be anything you like

Gotta be green

Gotta be mean

Gotta be everything more

Why don't you like me?

Why don't you like me?

Walk out the door! (2x)

(Humphrey, we're leaving)

Kachinga

THOMAS

Aqui, admito, pesquei isso da tia Lúcia. Diferente dos outros, a tia Lúcia é tão cooperativa... Principalmente quando a deixavam zangada...

Agora podemos voltar ao fim da história...

Mamãe já não estava mais tão escondidinha quanto antes, visto que o acesso de fúria do papai já havia passado, mas, ele (ainda) estava muito zangado. Minha outra tia – a madrasta - (que até então estava quietinha, não falava nada – tentando manter a postura discreta, já que a titia divertida riu tudo que tinha direito por ela!), pegou a carta da tia Lúcia e fez uma leitura silenciosa, primeiro, – ela queria saber com o que estava lidando. Ela terminou de ler a carta, primeiro a careta séria. Só que ao fim do último parágrafo (sim, ela leu tudinho novamente, e em voz alta...), ela se contorcia de rir, deixando o meu pai ainda mais furioso que antes. Sobrou pra mamãe tentar acalmá-lo (ela tem feito muito isso, ultimamente, também...).

- O que foi que ela falou de mais? – minha madrasta ria agora, o rosto vermelho de tanto rir. Não dava mais pra saber onde terminavam os fios de cabelo e começava o rosto. Ela toda estava vermelha de tanto rir. E ela voltou a ler em voz alta, as risadas já controladas (mas os olhos dela estavam rindo também). Ele não parava de tremer enquanto ouvia.

Carísssimo Sr. Darcy:

Antes de qualquer coisa, não leve esta carinhosa alcunha para o lado pessoal. Sinta-se, isso sim, lisonjeado por ainda estar sendo tratado como alguém da nobreza, apesar de nós dois sabermos muito bem que – e isso eu estou presumindo – que se a natureza tivesse sido mesmo ao menos um pouquinho sábia que fosse, você merecia estar era no meio da raia miúda mesmo!

Contudo, já que devo tratá-lo como alguém da nobreza (algo que minha mãe insiste que eu faça!), nada mais apropriado que um apelido à sua altura. Cada pingo nos seus is, já diz o ditado. Então, desde já, considere esta alcunha a prova do meu imenso respeito por sua pessoa. Viu? Sou ou não sou uma filha obediente?

Aliás, falando nisso, minha mãe transmite seus cumprimentos, também. Ela e Lizzie simplesmente adoram sua companhia (além do poço de educação e boas maneiras na figura do príncipe Thomas. Ele é um bebê muito encantador e deveras bastante cavalheiro – bem melhor que o pai, com certeza...). Lizzie também agradece. Como Vossa Majestade gostou muito dos biscoitos de avelã, ela prometeu que fará uma nova fornada em breve, só esperando sua degustação. Mas não vá se encher demais de biscoitos, ou pode acabar esquecendo que precisa manter essa matraca literalmente fechada.

Agora quanto ao "mimo", não precisava ser tanto gentil, mas, seus préstimos foram de grande valia para o nosso clube do livro. Era apenas para ser um título do Stephen King, não precisava ser tão específico. Ainda assim, muito obrigada, Majestade, por sua cavalheiresca ajuda. E pode ficar sossegado quanto ao pão. Entendi a mensagem. Quanto a retribuir sua cortesia, eu não serei tão pródiga.

Também enviei um pequeno mimo ao príncipe, que sabemos, adora ouvir uma boa história pra mimir. Sei que já mandei tantos, mas, esse em particular pode agradar em cheio. É bem do tipo que ele gosta. Espero que o Flautista de Hamelin seja a fábula mais lida em sua cabeceira. Sei que ele vai a-do-rar quando o papai ler pra ele... Se bem que, pensando melhor, é muito mais seguro a mamãe fazer isso, ou ele corre o risco de não apreciar a experiência tão bem quanto se espera.

Que esta carta também o encontre com muita saúde.

Atenciosamente,

Lúcia.

P.S: Um dos sete anões aí ainda deve uma dança para a minha irmã. Por favor, Anão querido, pelo bem dos meus lindos ouvidos, PAGUE ESSA DANÇA LOGO! Não aguento mais a Lizzie se lamuriando que o cara fugiu dela na hora da contradança. Fora que ela a-do-ra você. Como se você tivesse alguma coisa de mais...

Enquanto todos os outros (exceto a tia-madrasta, essa ainda ria) estavam estupefatos, uma testa mais vermelha que um tomate já se escondia atrás do computador. Papai, ainda furioso, se mandou do quarto, enquanto a outra seguia atrás dele (ela podia parar de rir, né?). Depois que todos foram embora (um certo desastrado agora assobiando, risonho, porque alguém sentia sua falta), a tia divertida ficou para trás, observando a mamãe procurar caixões on line. Ela riu muito ainda. Mamãe, ao contrário, ficou incomodada e, acredite se quiser, mais vermelha do que nunca. Só que a minha tia não riu disso. Ficou foi preocupada com ela.

- Você não seria punida por isso – ela lançou um olhar de desdém pra minha mãe – por que então está tão preocupada com a morte?

Minha mãe ainda procurava alguma coisa na internet quando se virou para a titia, agora confusa. Ela piscou, encarando a outra, perplexa.

- O que... ? Não entendi.

- Você está procurando... Caixões e urnas crematórias... É isso, certo? Esse aí não é pouco pequeno pra você? – ela sufocou um risinho agora. Ela era bem mais alta que aquilo, e, apesar de ligeiramente robusta, parecia uma daquelas jogadoras de vôlei de praia. E aquele caixão devia ser para alguém extremamente desprovido de estatura, até 1,50m, talvez, tipo a...

- O que faz você pensar que é pra mim? – a pergunta veio em meio aos risos.

Quando a ficha finalmente caiu, a pobrezinha se contorcia de rir, já sentindo pena de quem era o beneficiário do micro caixão.

Pobre coitada da Lúcia!

Fim.

Notas finais:

1) A culpa das histórias se passarem em Londres é da Marvel. Quem mandou gravarem Wonder Woman lá? Minha cidade favorita depois de Nova York;

2) A música aqui foi usada em sua versão original, sem mudanças na sua estrutura.

3) Para quem ainda não leu romance em particular (Mr. Mercedes), pode conter spoilers.

4) Antes de mais nada, essa cena não faz qualquer referência a Downton Abbey. Até porque não é a Maggie Smith que aparece aqui. Então nada de assistir Downton Abbey, ok? E ainda que a personagem importante aqui seja Lizzie, o foco narrativo nessa parte será em 3ª pessoa (narrador onisciente);

5) O chá da Cinco da Tarde não é apenas um lanche da tarde, como seria para a maioria das pessoas. Para os britânicos, é como uma convenção social, já que ele também era uma oportunidade de interagir, principalmente para as jovens debutantes, em via de serem apresentadas à sociedade.

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