22 - O fio vermelho do destino
Harumi acordou no quarto deles. Ela se lembrava apenas de chorar muito no chão e depois adormecer. Ela levantou com os olhos inchados e tomou um banho quente para relaxar. Ela estava processando todas as informações. Quando abriu a porta se deparou com Satoru sentado no chão cheio de olheiras e desarrumado, uma cena rara de acontecer.
Ele olhou para ela com os olhos marejados. Harumi queria brigar com ele, dizer tudo que queria, esbravejar. Mas, ela tinha um coração bom. E ela ficou com pena de vê-lo daquele jeito.
-Harumi... eu quero falar com você, me explicar. Eu não fiz por mal. Eu só queria ajudar o Suguru, ele é meu melhor amigo. Eu juro para você: eu casei porque eu queria. Eu achei você tão linda e tão frágil naquele dia! E seu pai ficou te humilhando daquele jeito...você não merecia. E depois a convivência com você me fez apaixonar e eu quis tudo o que vivemos! Acredite em mim por favor.
Ela deu um longo suspiro e pensou no que dizer. O suspense o deixava tenso . Ela olhou nos profundos olhos azuis dele e disse.
-Eu fiquei chateada. Acho que poderia ter me dito desde o começo. Eu entenderia. Eu juro. Isso é o que mais me incomoda. Minha irmã veio de Nova York para dizer isso, e você não pôde me contar.
Ele abaixou o olhar entristecido.
-Mas, eu... amo muito você. Isso eu não posso negar. Você me fez a mulher mais feliz do mundo. Eu acho que se você não tivesse casado comigo, meu pai iria me vender para algum velho escroto. Ou eu estaria em casa sendo humilhada todos os dias por não ser boa o suficiente. Então... quando coloco na balança, não há outro lugar que eu gostaria de estar. Aí tem você... seus sentimentos. Eu posso estar sendo uma idiota! É a minha mania de enxergar as coisas boas nas pessoas. Mas, eu não consigo acreditar que cada momento que passamos nos últimos meses foi mentira. - Ela se ajoelhou diante dele que ainda estava sentado no chão. - A nossa cumplicidade, todo o amor que compartilhamos, as conversas, todas as vezes que fizemos amor. Era real para mim.
Pela primeira vez, ela viu o homem arrogante, cheio de si, deixar as lágrimas rolarem como uma criança.
-Haru, eu sou péssimo nisso. Sempre fui. Eu nunca fui fiel a mulher nenhuma, mas quando eu te conheci, eu não quis estar com nenhuma outra a não ser você. Eu te amo e te quero todos os dias. E, se eu puder pedir isso a você, não me deixe. Não vá embora desta casa. Nada aqui será como antes se você não estiver aqui. Tudo foi real para mim. Eu não mentiria jamais sobre isso.
Ela abraçou o marido e sentiu as lágrimas dele molharem seu ombro. Era a primeira vez que ele realmente mostrava o quão sensível ele podia ser. Ela não o deixaria, porque no fundo de seu coração, ela tinha certeza do amor que sentiam.
Maki e Ichiro anunciaram as famílias sobre a gravidez. O primeiro neto de Kendi Massaro estava a caminho e isso o deixava muito feliz.
-Que orgulho meu filho! Tão pouco tempo e já encomendaram um filho.
-Claro papa!
-Logo será o de Kazumi e o de Harumi! Esta casa estará cheia se crianças correndo!
-Mal vejo a hora.
-Só tem uma coisa que me entristece...
-O que papa?
-Misaki. Ela foi vista aqui em Tokyo. A mancha na nossa família.
-O que pretende fazer papa?
-Ainda não sei. Mas, eu darei um jeito.
Ichiro ficou preocupado com a declaração. Sabia do que o pai era capaz.
Enquanto isso Maki passeava pela cidade comprando roupas para o bebê. A barriguinha começava a realçar. Entre uma loja e outra ela acabou parando num supermercado porque ficou com desejo de comer morangos. Passava lentamente pelos corredores. Estava feliz.
-Maki?
Seus olhos desviaram para onde a chamaram. E sua felicidade sumiu de seu rosto. Yuta parado segurando um cesto de compras olhando fixamente para a barriga dela.
-Yuta?
-Você... você tá grávida?
Ela ficou sem graça e olhou para si mesma meio envergonhada.
-Estou.
A expressão dele era triste. Lembrou-se da promessa que ela havia feito.
-Que bom pra vocês. Vejo que está feliz.
-Yuta, eu estou. E você? Como está?
-Bem, eu fiquei um tempo fora do país, mas agora estou aqui, estudando e trabalhando.
-Legal. - Ela queria mesmo dizer a ele sobre a paternidade do filho. Que ele era o pai, mas ela tinha que protegê-los custe o que custasse.
-Seu marido não perdeu tempo ne? Caramba, você não esperou nem ao menos eu dobrar a esquina.
-Não seja ridículo. Você sabia que isso poderia acontecer.
-Mas, você disse que não.
Xeque-mate
-Foi bom te ver Maki. Espero que sejam muito felizes.
Ela ficou olhando ele se afastar. Sentiu a hostilidade na voz dele, ela o conhecia bem. Ele estava chateado. Com ciúmes. Mas, não havia muito o que se fazer. Não naquele momento.
***
Keiko estava feliz que os patrões haviam se reconciliado. Ela sabia que a briga não duraria, eles se amavam de verdade.
Mas, o amor para Keiko era uma coisa impossível. Todo cara que ela se apaixonava ou estava comprometido ou tinha algo melhor para fazer. Ela estava sentada em uma lanchonete olhando o movimento da rua, o vai e vem das pessoas.
-Oi!
Alguém a tirou dos seus pensamentos.
O rapaz tinha a voz grossa, os cabelos muito lisos em uma cor que ela não sabia descrever, ficando entre o loiro e o cinza, os olhos eram violeta.
-Este lugar está vago? - Ele disse apontando para a cadeira.
-Não.
-Posso me juntar a você ?
Por favor
-Claro!
-Eu sou Toge Inumaki. E você?
-Keiko Shinomia.
-Muito prazer.
-Igualmente.
Ele sentou-se diante dela e pediu um água. A voz do rapaz era bonita. Não . Ele era bonito. Keiko era uma pessoa tímida e na maioria das vezes sonhava com o amor. Mas, sempre dava errado de algum jeito. Aquela era a primeira vez que um homem puxava papo com ela .
-Me desculpe, eu sou seyuu e a garganta as vezes reclama.
-Fique a vontade.
-Você mora aqui perto? - Ele era muito espontâneo.
-Sim, na verdade eu moro na casa do meus patrões.
-Você faz o que?
-Sou uma espécie de dama de companhia.
-Nem sabia que tinha isso hoje em dia.
-Mas, sou muito bem paga.
-Muito legal. - Ele ficou um tempo rodeando - Na verdade. Eu sou meio direto. Eu vejo você aqui a um tempão. Normalmente aos sábados, e você tá sempre sozinha... então... será que você poderia me dar seu número?
Ela ficou vermelha instantaneamente.
-C-claro! Eu dou sim!
-Que ótimo! A gente pode sair, comer alguma coisa!
-Sim.
Eles ficaram conversando por mais um tempo. Keiko sentia como se o conhecesse a vida toda e não queria parar nem um minuto de falar com ele.
Keiko percebeu naquele instante que a vida tem mesmo viradas interessantes, ela, que sempre foi invisível, que nunca era notada que sempre esteve dentro dos portões das mansões, em algum momento alguém a notou sentada sozinha, como se ela estivesse espera do o dia em que finalmente ela encontrasse alguém com quem dividir todas as expectativas sobre a vida.
São os fios vermelhos do destino.
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