17 - O pouco que posso oferecer
Kazumi e Mai voltaram de viagem extasiados. Fizeram compras e trouxe presente para todos. Mas, Kazumi tinha que voltar para a faculdade e encarar o Megumi Fushiguro mais uma vez.
Depois do dia do casamento ele nunca mais o viu. E seu coração doía só de pensar nele. Olha a aliança em seu dedo e ficava pensando o quão o casamento pode ser banal.
Ele chegou já faculdade de cabeça baixa. Alguns colegas o parabenizaram pelo casamento e as vezes ouvia-se alguns burburinhos "mas, ele não era gay?".
Ele era tão obvio assim? Então, porque o Megumi nunca tinha notado? Ele passou pelo corredor e primeira pessoa que vê de longe é Megumi. Ele olha para ele com certo receio e desvia o olhar. Kazumi se sentia um lixo por isso.
Durante a aula nada de conversa, Megumi sequer olhava para ele. Kazumi ficou esperando, com um raio de esperança de que talvez, por um breve momento, ele fosse pelo menos perguntar como ele estava. Nada.
Mas, Kazumi era um Massaro e como tal ele jamais deixaria por menos. Ele viu Megumi se afastar e correu até ele.
-Megumi!
Ele virou e o encarou. Olhar ainda triste.
-O que você quer?
-Megumi, a gente precisa conversar.
-Não. Acho que não.
-Por favor, me deixe ao menos me explicar.
-Não dá Kazumi! Não consigo.
-Você tem nojo de mim? Por eu ser... gay?
-Que absurdo é esse que você está falando?
-Você está me evitando!
-Olha, vamos para outro lugar. Agora mesmo você começa a chamar atenção.
A casa de Megumi era próxima da faculdade. Kazumi já tinha lá algumas vezes mas não como estavam agora. O rapaz morava sozinho, os pais dele o havia abandonado ainda muito novo e por ser um bastardo não frequentava a casa principal dos Zenin.
-Quer beber alguma coisa? Água? - Megumi perguntou.
-Tem algo mais forte? - Kazumi disse meio ansioso.
-Cerveja. Pode ser?
-Por favor.
-Não vá virar um alcoólatra pelo amor de Deus! - Disse entregando a garrafa para Kazumi.
-É para criar coragem.
-Fala o que você tem de falar.
-Você nunca mais falou comigo! Depois daquele dia você me ignorou. Eu acho mesmo que você ficou com nojo de mim.
-Não seja ridículo! Você acha fácil. Você chega no dia do seu casamento com a minha tia, diz que me ama e me beija e tá tudo certo?
-Desse jeito que você fez parecer....
-Não Kazumi! Nós éramos amigos. Nunca deixamos a entender nada. Não dá para simplesmente eu começar a te olhar de uma forma diferente!
-Eu pensei que você soubesse que eu era gay. Tipo, todo mundo sabe!
-Eu desconfiava Kazumi, mas você nunca me disse nada! Talvez se você tivesse me dito, eu talvez te enxergasse de outra forma agora.
-Então... você não se importa de eu ser homem, mas, pelo fato se eu nunca ter demonstrado interesse? É isso?
-Sim. Eu me importo com o caráter da pessoa. Para mim não tem um tipo, e sim o caráter. A forma como a pessoa vive a vida. Só me importa as pessoas.
-Então eu tenho chance? - Os olhos do garoto brilhavam como estrelas.
-Talvez. Por que não? Eu só quero que seja natural. Não vamos forçar situações e nem tentar nada. Até porque você é casado com a minha tia Mai.
-Não! Nós não fizemos nada! É só por causa das famílias.
-Eu sei. A Mai me contou.
-Ela contou?
-Sim. Eu sou um Zenin. De certa forma. Sei bem como é a forma que lidam com nossas vidas. Mas, temos que ir devagar mesmo assim. Eu meio que vou ter que te conhecer de novo. Com outros olhos. Quem sabe?
Kazumi abriu um largo sorriso.
-Esse pouco que você me deu agora, me deixou muito feliz.
-Não seja bobo. Eu nem sou tanta coisa assim.
-Para mim é. Pelo menos podemos ser amigos de novo?
-Eu ainda sou seu amigo. Você não me considera mais como tal?
-Claro que sim!
-Agora vamos, temos trabalho da faculdade para fazer.
Kazumi ficou tão feliz que se a felicidade fosse palpável teria invadindo o prédio inteiro. Megumi poderia algum dia amá-lo ele só teria que fazer isso acontecer.
***
Maki estava sentada no consultório do médico da família Massaro. Eles chegaram de viagem e foram direto para lá, para qhe Maki fizesse exames. Ela pediu a Ichiro que lhe desse privacidade, não queria que ele invadisse a vida dela, mais do que já havia invadido.
O médico veio do laboratório com alguns papéis na mão. Ela fez exame de sangue e um ultrassom, que o médico não disse nada enquanto fazia anotações.
Ele sentou-se diante dela e a olhou por cima dos óculos. Deu um suspiro profundo. E começou a falar.
-Eu conheço Ichiro desde que nasceu. Literalmente. Fiz o parto da mãe dele. Eu sou um Massaro como você pode perceber. E sei bem com as coisas funcionam na nossa família.
-O que você quer dizer?
-O casamento de vocês foi arranjado e sabemos que vocês não conheciam certo?
-Sim, você está me assustando!
-Eu estou te preparando Maki Massaro.
-Para de suspense porra!
-Você está grávida. De pelo menos uns 2 a 3 meses. E você se casou não tem nem 15 dias.
Maki levou as mãos à cabeça. Estava tão perplexa que custava a acreditar.
-Isso é impossível! Eu me prevenia! Tomava anticoncepcional, eu tomo anticoncepcional.
-Tomou algum medicamento fora do comum?
-Eu não sei. Eu tenho crises de ansiedade e enxaqueca. Se não me engano é Topiramato o nome do remédio.
-Ele cortou o efeito. Barbitúricos anticonvulsantes, antibióticos... Inclusive você tem que parar de tomar agora, não faz bem para o bebê.
-Bebê! Não fala isso.
-Mas, é um bebê. Um feto na verdade.
-Não pode ser!
-Maki, você sabe o tamanho do problema em que você está?
-Não sei de mais nada.
-As famílias vão te dar uma tremenda dor se cabeça. Deserdá-la, difamação, além do seu marido, que pode cobrar de você está questão. E talvez até para o pai da criança e para a criança. Podem exigir que você doe, aborto...
-Aborto...?
-Sim. Você sabe como são estas famílias. Tanto a Zenin, quanto a Massaro não tem escrúpulos pelo "bem da família".
Maki estava desnorteada, lembrou-se de Yuta machucado, com o braço quebrado e do medo que ele tinha nos olhos.
Se pudesse ela simplesmente mataria todos eles. Estava farta de tudo aquilo.
-Eu não sei o que pensar.
-Se optar pelo aborto. Conheço uma clinica extremamente discreta. Eu não posso dizer mais que isso.
-Você vai me entregar?
-Nunca. É nosso sigilo médico-paciente.
Ela levou a mão a barriga, ela carregava um filho do homem que mais amava. Um filho do Yuta. O fruto de um amor verdadeiro.
-Eu não vou abortar meu filho.
-Então, precisa lidar com isso sozinha... ou...
-Ou?
-Você tem duas opções. Contar com a colaboração do seu marido, dizer a ele a verdade e ver como ele vai reagir. Que sinceramente eu não sei. Afinal ele sempre foi um filho muito obediente.
-E a segunda opção?
-Dizer que o filho é dele, até você ver o que pode fazer. Como fugir por exemplo. A Misaki Massaro está a mais 6 meses "foragida".
-Eu não posso...
-Por que?
-Nos não... nós não fizemos nada.
-Então sugiro que faça hoje mesmo.
Maki saiu do consultório com a cabeça a mil. Não sabia o que fazer. Naquele momento ela estava sozinha. Não tinha Yuta, nem Mai, nem sua família. Ela só tinha a si mesma e seu filho. Na saída do hospital encontrou-se com uma amiga que a muito não via.
-Sati!
-Maki! Como está?
-Bem, são exames de rotina.
-Ah, parabéns pelo casamento.
-Obrigada. - Ela disse sem graça. - Tem visto... O Yuta?
-Ele tá bem. Viajou para o exterior. Ele ficou abalado com seu casamento.
-Eu imagino.
-Mas... eu queria te contar uma coisa sabe. Eu preciso mesmo contar uma coisa pra você. Minha consciência pede isso.
Maki ficou intrigada. Sati falou o que queria a Maki. Ela ficou pensativa.
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