Capítulo 2
CHAMADO DO DESTINO
ALANA
A cada passo que demos pela movimentada rua enfeitada, parecia que fomos transportadas para diferentes contos de terror e horror. Maeve e eu não conseguíamos conter o riso, e a cada nova surpresa, nossos olhares se cruzaram, e uma entendeu a outra sem precisarmos dizer nada.
Era uma verdadeira festa de imaginação, onde o inimaginável se tornou real. Testemunhamos uma fada beijando o Deus nórdico Loki, ou um encontro romântico entre uma versão feminina do Chuck e o infame Coringa. Mas esses não foram os únicos casais inusitados na rua. Enquanto caminhávamos, nos deparamos com um zumbi vestido de terno branco, que se parecia muito com o ator que interpretou Latrell Spencer em "As Branquelas", dançando ao ritmo pulsante de uma música eletrônica, suas lanterninhas tremulando no ar. Ao seu lado, uma garota vestida de lobisomem com um black power carregava um rádio nos ombros, proporcionando uma trilha sonora única para a cena.
Era como se as fronteiras entre os mundos fictícios e a realidade estivessem borradas, criando um espetáculo mágico que nos arrebatava a cada esquina. Nossa curiosidade só aumentava à medida que avançávamos naquela rua repleta de casas decoradas e pessoas em trajes icônicos aprontando todas. Parecia que o conceito de "Doces ou Travessuras" havia sido deixado para trás, prevalecendo apenas as travessuras.
Eu estava tão encantada com tudo que, sem querer, esbarrei em uma mulher que também estava vestida de bruxa, com uma capa de capuz cinza. Embora parecesse haver manchas de sangue por toda a capa, o perfume forte de canela que exalava dela me chamou a atenção. Mas quando nossos olhares se encontraram, senti um arrepio percorrer todo o meu corpo. Ela era incrivelmente bonita e tinha heterocromia, um de seus olhos era tão escuro quanto a própria noite, e o outro era branco como se a lua tivesse encolhido a ponto de se encaixar no lugar de seu olho. Ela sorriu com lábios pintados de um vermelho vibrante e então disse:
— Uma noite feliz, Alana... ... — Sua voz era sedosa e profunda, não precisou falar alto para que eu a ouvisse. Por um momento, parecia que apenas nós duas estávamos ali, e a situação era tão surreal que nem percebi que ela havia me chamado pelo nome.
No entanto, esse momento durou apenas uma fração de segundos, quando senti o cotovelo de Maeve me atingir. Ela apontava para um Frankenstein musculoso e bonitão que estava girando sua camisa de forma desajeitada do outro lado da rua. Naquele instante, aquilo não parecia mais interessante para mim.
Mas quando voltei meu olhar em busca da mulher, parecia que ela havia desaparecido completamente. Suspirei, pensando: "Que droga, Maeve!"
— O que foi, Lana? — perguntou Maeve, percebendo minha expressão preocupada.
— Eu pensei ter visto... — Comecei a dizer, mas então meus olhos a encontraram novamente. Vi a bruxa de heterocromia a alguns metros de nós, entrando em uma loja ou algo parecido na rua à frente. — Vamos!
Agarrei o braço de Maeve e, mesmo com a rua cheia, a arrastei comigo. Ela me fazia perguntas, mas eu a mandava calar a boca e seguir comigo. Estávamos ofegantes e, provavelmente, com alguns hematomas quando paramos em frente ao local para onde a bruxa tinha entrado.
Era um pub, o que me fez questionar por que um pub. Refleti enquanto Maeve me segurava pelo braço, visivelmente intrigada.
— Mas que diabos você tem na cabeça, Lana? Sei que não somos as pessoas mais normais do mundo, mas você está agindo estranho desde mais cedo! — Então, sua expressão mudou quando uma luz a chamou a atenção, e ela olhou na direção de uma placa de neon do pub. — Ué, como você sabia que eu ia te trazer aqui?
— Você ia me trazer aqui? — perguntei, surpresa.
— Sim... hoje mais cedo, um cara super gostoso me entregou o cartão deste novo pub. Ele era muito lindo e tinha heterocromia... — explicou ela.
— Ele tinha heterocromia? Mas isso é algo raro, não é? Eu acabei de ver uma mulher com um olho de cada cor também. Foi por isso que vim aqui. Ela me chamou pelo meu nome, e eu não a conhecia.
Maeve parou, pensativa, tentando encontrar uma lógica para tudo, e então disse:
— Bom, hoje em dia existem lentes de contato de todos os tipos... Será que é uma nova tribo em que um dos critérios seja ter heterocromia ou usar lentes de contato para parecer que tem? Mas admito que ela saber o seu nome é estranho. Talvez tenha me ouvido te chamar, já que fiquei te chamando para ver uma coisa e outra.
Refleti, e sua explicação fazia muito mais sentido do que as mil possibilidades que passaram pela minha mente. Além disso, parecia um ótimo marketing para o pub.
— Bom, já que estamos aqui, por que não entramos? — perguntou Maeve após dar de ombros e deixar os pensamentos de lado. — Resolvemos que hoje íamos nos divertir, e já rimos bastante observando as pessoas indo de um lado para o outro. Agora só falta beber, dançar e encontrar um cara gostoso para dar uns amassos.
Maeve tinha uma simplicidade encantadora, e eu não conseguia evitar rir da maneira como ela expressava as coisas.
— Certo, vamos. — concordei.
Entramos no pub após mostrar o papel ao segurança que Maeve havia conseguido. O som lá dentro era alto, mas não a ponto de nos incomodar. Fomos caminhando em direção ao bar, e acabei esbarrando em um homem todo vestido de preto, suas roupas pareciam elegantes e novas, mas seu corte e estilo davam a sensação de que haviam sido transportadas de alguns séculos atrás.
Ele era alto, e por isso demorei um momento para levantar os olhos e encontrar seu rosto. Seus cabelos ruivos eram longos, formando cachos nas pontas. Sua pele era clara, e seu rosto ostentava uma beleza sem igual. Tinha a beleza comparável a de um anjo, mas também carregava uma aura sombria, misteriosa e muito séria, como se fosse um mago.
Nossos olhos se encontraram, e por um instante, vi o céu refletido nos seus olhos azuis cristalinos. Algo peculiar em suas íris parecia criar pequenos riscos castanhos, tornando-as semelhantes ao sol. Para meu espanto, após um momento que não poderia ser descrito de outra forma senão mágico, jurei ter ouvido um choro masculino, o choro de um homem que estava sentindo uma dor indescritível.
Pisquei repetidamente, tentando entender o que estava ouvindo, sem perceber que ainda estava perdida olhando-o nos olhos. Ele deixou escapar um suspiro de riso contido, e então mordeu o lábio inferior. Por um breve milésimo de segundo, seus olhos brilharam, como se estivesse prestes a chorar. Mas essa impressão se desfez rapidamente, pois sua expressão ficou séria, e ele forçou o maxilar, tornando-o ainda mais definido. Ele virou o rosto e seguiu seu caminho, deixando o pub com passos firmes, sem olhar para trás.
Aquele encontro fugaz me deixou intrigada, como se tivesse tocado brevemente em um mundo de mistério e magia que eu não conseguia compreender.
Maeve já estava no bar quando a maquinaria da minha mente pareceu retornar ao seu estado normal. Assim, apressei meus passos e me juntei a ela.
— Maeve, nossa! Você viu o ruivo que passou ao meu lado? Caramba! Perdi o fôlego! — falei animada.
— Ruivo? Que ruivo, amiga? — ela perguntou, olhando ao redor em busca do homem ruivo de que eu falava.
— Ele estava indo embora, pelo que parece... Mas não acredito que não tenha visto um cara daquele tamanho, e ainda esbarrei nele.
— Eu estava olhando para a decoração, ela é linda... Desculpa, amiga.
De toda forma, muitas coisas estranhas estavam acontecendo. Era melhor deixá-las de lado, pois parecia que, quanto mais eu as investigava, pior ficavam e mais sinistras se tornavam. Minha mãe costumava dizer que quando você olha para o abismo, ele olha de volta para você. E eu não queria me tornar a protagonista de um filme de terror, então achei melhor não pensar muito nisso.
Pedi uma bebida para mim, esperando que ela aliviasse o excesso de pensamentos em minha mente. Talvez assim eu pudesse finalmente aproveitar o Halloween sem me preocupar tanto. Ou pelo menos era isso que eu queria acreditar.
Depois de pedirmos nossas bebidas e dar alguns goles, decidimos nos divertir na pista de dança. Dançamos por um bom tempo até que um homem se aproximou. Quase caímos de tanto rir quando ele fez sua pergunta direta:
— Vocês estão juntas como um casal ou são só amigas?
Ele foi tão franco que não pudemos fazer mais nada além de rir e responder em alto e bom som que éramos apenas amigas e estávamos dançando juntas porque dançar sozinha era entediante.
— Então eu tenho uma chance? — perguntou o rapaz. Maeve olhou para ele e respondeu:
— Você é bonito, simpático, direto e objetivo. Mas, para mim, hoje é um "não".
O rapaz então voltou seu olhar para mim, e eu disse:
— Você veio interessado em qualquer uma de nós, não em mim. Então, para mim, hoje também é um "não".
Após o encontro com o ruivo que vira anteriormente, qualquer um que fosse menos do que isso, eu acreditava que não seria suficiente para me atrair. Aquele esbarrão no pub definitivamente havia elevado minha definição de beleza.
Ele não pareceu nada satisfeito e veio para nos xingar, mas, de repente, outro homem apareceu atrás dele. Era bonito, forte e seus olhos castanhos eram tão claros que pareciam dourados.
— Você já recebeu a resposta "não", agora saia. — Ele falou de forma tão pontual que me surpreendi. Ainda mais surpreendente foi o fato de que, assim que o rapaz se afastou, o homem não flertou com Maeve. Simplesmente a deixou ali e foi em direção ao bar.
É claro que Maeve não resistiu a um desafio, então foi atrás dele para oferecer pagar uma bebida. Deixei os dois conversando e comecei a procurar um lugar para me sentar. Meu corpo tinha quase vinte anos, mas minha alma era mais velha e ansiava por uma cadeira. Enquanto buscava descanso para os meus joelhos, um rapaz com um sorriso gentil se aproximou de mim.
— Oi...
— Oi — respondi, mas a conversa com o rapaz foi interrompida quando alguém me agarrou pelo braço. Virei-me para ver quem era e encontrei Maeve furiosa.
— Vamos embora, Lana! — ela disse, parecendo que soltaria fumaça pelas orelhas.
Confusa, olhei na direção do homem com quem ela estava flertando e o vi encharcado de algum líquido. Não sabia o que era, não sabia o que havia acontecido, mas era óbvio que Maeve era responsável pelo "banho" no homem.
— Maeve, o que aconteceu? — perguntei assim que passamos pela porta e nossos pés estavam do lado de fora, na calçada.
— Aquele cara! — disse ela, como se isso explicasse tudo.
Sem saber para onde estávamos indo, continuamos andando, e eu aguardei até que o sangue dela esfriasse e ela me explicasse o que havia acontecido.
...
Após um ou dois quarteirões, ela me disse que o cara era um safado que não valia nada. Ele mal se ofereceu a pagar uma bebida ou coisa do tipo, apenas a convidou a ir para a parte de trás do bar.
— Ele achou o que? Que sou uma puta? Posso ser um pouco safada, Lana. Mas se eu fosse mesmo uma puta, para ele que eu não ia dar!
— Você? Um pouco safada? — comentei, achando graça.
— Ah! Lana, não fode. É para você me apoiar, apoiar, Lana. Não me zoar!
— Certo, certo. Tudo bem, me desculpe. Ele foi um tremendo babaca e você não deveria ter desperdiçado bebida nele, apenas ter chutado suas bolas. Se nesse processo ele fosse castrado seria um bem para a humanidade.
Ela parou de andar por um momento e começou a pensar em voz alta:
— Você está certa, eu deveria ter chutado as bolas dele! Como sou idiota! Vou voltar lá e fazer! Obrigada pela ideia, Lana. — Ela falou como se fosse um gênio dizendo "Eureca!" Mas me vi obrigada a segurar seu braço com força, pois, apesar do que qualquer um possa dizer, Maeve era a pessoa que não apenas falava, mas também fazia.
Entre risos, tive que fazer um esforço considerável para conter sua empolgação. Naquele momento, ela parecia uma bola de energia prestes a explodir. Eu a chamei de "louca", porque era exatamente o que ela parecia nessas horas.
Quando paramos de rir e tudo se acalmou, começamos a olhar ao redor para ver onde havíamos parado, pois até então tínhamos saído andando sem rumo.
Percebemos que estávamos na parte de trás do dormitório, de frente para a floresta.
— Mas como diabos viemos parar aqui? — perguntei perplexa.
•••
Obrigada por ler!
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