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I 1.6 Damien

Os raios rosados começavam a surgir no horizonte. O mar estava calmo. Não havia ninguém naquele canto da praia. Serena andou até o fim da areia e deixou a água molhar seus pés. De longe já dava para sentir a presença de Damien. Era um dos poucos homens que aprendiam as artes da Ilha. Há muitos anos, Raoul havia proibido as mestras de aceitarem aprendizes homens. Apenas dois foram aceitos nos últimos 20 anos. Um deles era Damien.

- Acordou cedo.

Damien sentou-se ao seu lado na areia. Usava apenas uma calça que era parte do uniforme da Ilha. Sua pele clara chamava atenção a essa hora, quando ainda estava escuro. Seus cabelos lisos e brancos brilhavam. Serena sabia que ele corria na praia todos os dias antes do amanhecer. Não dormia mais do que quatro horas por noite. Todos do seu povo eram assim.

- Não seja bobo, estava te esperando.

- Não gosto de despedidas.

- São só seis meses – Ela pegou sua mão. - Não quero que nada mude.

- Menos de seis meses, nada mais que isso. Poderei visitar, sabia?

O que ela sabia é que aquilo não era verdade. Os recursos da Ilha eram limitados. Com elas quatro em Shailaja, Damien teria muito trabalho pela frente. Raoul não daria nenhum minuto de folga. Nem mesmo agora, tinham tempo. Ela deveria partir em breve.

- Não se preocupe comigo, Serena. Estou bem.

- Seja sincero comigo.

- Não acredito que vamos falar sobre isso de novo...

- Ele tentou falar com você? Luc te procurou?

- Não, Serena. Ele continua fora, na missão para a qual foi enviado. Vamos parar com essa desconfiança?

Não era desconfiança. Ela acreditava em Damien, sabia de sua lealdade, ele jamais trairia a Ilha ou Raoul. No entanto, Luc era infinitamente mais poderoso. Viveram os últimos anos quase como irmãos, ele era o único que sabia o que Damien passava, o único homem.

- Está bem, me desculpe. Mando notícias quando chegarmos.

- Já sabe como vão se comunicar?

- Veremos os meios quando estivermos lá. Daremos um jeito, é claro.

- Vou sentir sua falta - disse Damien, passando os dedos pelos seus cabelos loiros. – Cuidado lá com essa Cerimônia...

- Está com ciúmes?

- Claro que estou – disse, sério. Ela apertou sua mão.

Era a primeira vez que Serena deixava a Ilha por tanto tempo desde que aquele se tornara o seu lar. Tinha dez anos quando fora levada para a Ilha. Sua mãe a acordara no meio da madrugada. A mala estava pronta. Ela mesma veio trazê-la. Na época, disseram-lhe apenas que iria para uma fortaleza, que era normal ranis crescerem em uma corte, que precisava ser muito prendada. Mas sua mãe nunca mais voltou para buscá-la. Por muitos anos, as mestras lhe deram esperanças de que voltaria para casa. Diziam que tudo corria normalmente. Ela não tinha como saber. Muitos moradores da Ilha nem conheciam a própria família, estavam lá desde pequenos.

Quando completou 15 anos, Serena tinha certeza de que iriam buscá-la. Ela sabia que essa era a idade de ir para Shailaja com as outras jovens da nobreza. Era o dia mais esperado da curta vida dessas meninas. Mas ninguém viera. Ainda acalentava esperanças até que leu a nota sobre a sua irmã no semanário. Ao lado de outros nobres, o nome de Sybilla estava na lista de calouros de Shailaja. Por que ela não estava lá?

Nesta época, Serena já sabia que era diferente dos outros. Sabia que a Ilha era um lugar para pessoas como ela, pessoas capazes de fazer coisas que ninguém mais conseguiria. O que ela não sabia era que seus poderes eram considerados uma abominação entre muitos clãs. Sua família, seu povo, sua mãe... Para eles, Serena era uma aberração, uma bruja, uma força do oculto. Não deveria existir. Sua mãe poderia tê-la matado e nem seria condenada! Mas não fez isso. Ela a trouxe para a Ilha. Desde aquele dia, há nove anos, não via a mãe. Seus pais cortaram o seu contato com Sybilla. Durante todo o primeiro ano na Ilha, ela escreveu cartas. Nunca foram respondidas.

As mestras pensavam que era uma menina ainda, não entenderia, não queriam que se sentisse uma aberração. Seu maior temor era que seus prodígios se fechassem em si mesmos, abandonassem sua arte, como chamavam. No dia em que descobriu que Sybilla estava em Shailaja, chorara até dormir. No dia seguinte, entrou na sala de Gaetana aos berros. Disse que iria embora naquele instante, que exigia um barco, que sua irmã estava em Shailaja, que ela também iria, que eles tinham sequestrado ela. Gaetana nada disse. Exausta de tanto gritar, Serena voltou para o seu quarto. Não queria sair por nada.

Foi Damien quem abriu seus olhos. Desde pequenos eram muito próximos, melhores amigos. Serena já estava há quase uma semana no quarto, praticamente sem comer. Faltara a todas as lições. Damien pediu que Gaetana interviesse, mas ela disse apenas que essa descoberta fazia parte do amadurecimento de Serena, que ela deveria tirar suas próprias conclusões e se reerguer.

No sétimo dia, Damien foi até os aposentos de Serena. Ela disse que não abriria a porta nem para ele, mas ele se sentou no chão, em frente ao quarto e aguardou. No meio da madrugada, ela finalmente cedeu. Damien não poderia entrar no quarto dela. Além de ser uma aprendiz, ele era cinco anos mais velho, já ensinava suas próprias turmas. Mas Serena era sua amiga de infância e não se importou. Se sentaram na sacada e ela disse apenas uma frase: "Me conte tudo". E ele contou. Explicou que viviam escondidos. Os clãs não sabiam o que era ensinado na Ilha, muito menos onde ela ficava. Havia boatos, mas mesmo estes eram pouco conhecidos. Falou sobre o medo do ocultismo, sobre a intervenção no Destino. Com delicadeza, fez com que Serena percebesse que, sim, fora abandonada ali. Seus pais não queriam mais vê-la, não iriam buscá-la. No entanto, preferiram trazê-la a matá-la. Não veria mais Sybilla.

- No que está pensando? - Damien perguntou. Serena estava calada, observava o mar, mas seu olhar estava perdido.

- Ela estará lá.

- É verdade...

- Sybilla não deve saber... Quer dizer, ela sabe que existo. O que disseram para ela?

- Você sabe o que pensam.

- Não estou indo disfarçada, serei eu mesma. Será que ela vai se aproximar?

- Acredito que sim.

Quando completou 17 anos, Raoul chamou Serena para uma conversa particular. Isso não era comum. Gaetana era a mestra responsável por Serena e era ela quem cuidava de seus estudos, seu treinamento, suas conquistas. Falar com Raoul sozinha era algo inédito para Serena. Raoul perguntou sobre seus treinos, disse que estava muito contente com o que ouvia sobre ela. Após um ligeiro bate-papo, ele a olhou sério e revelou o motivo da conversa. Estivera com seus pais. Havia esperado até aquele momento para que eles mesmos pudessem explicar tudo a ela. Mas ela completou a maioridade e nada aconteceu. Durante os últimos sete anos, Gaetana fora sua tutora. Seus pais disseram em Hyanchinthe que a enviaram para a Ilha, porque sofria com distúrbios mentais, ataques de agressividade.

- Acham que sou louca. – Sempre que se lembrava de sua família, sentia uma grande mágoa, uma dor que começava no alto do estômago. Iria ver sua irmã pela primeira vez em nove anos. Nunca se despedira.

- Serena, não se esqueça que sua família está aqui. Não são eles. Somos nós – Damien enrolou uma mecha do cabelo dela em seus dedos.

Pouco depois de alcançar a maioridade, Damien a levara para um passeio em uma das praias. Na época, ele já terminara seu treinamento e ensinava as turmas mais novas. Até esse dia eram somente amigos. Como um dos poucos homens aprendizes na Ilha, era admirado, mas a preferência pela companhia de Serena era evidente. Com o calor, entraram para um mergulho no mar. Conversaram sobre os assuntos de sempre: a Ilha, as mestras, Raoul, as estranhezas de Luc, a guerra que viria, mas ainda parecia tão distante. Havia sido uma tarde feliz, leve e comum, mas quando chegaram à porta do salão que dava acesso ao quarto de Serena, Damien a tocou. Ela esperava por aquele momento há muito tempo, mas não foi rápido. Com firmeza, Damien segurou seu pulso esquerdo. Com a outra mão, pressionou o alto da sua barriga e empurrou, devagar, até que ela encostasse na parede. Suas roupas estavam molhadas do banho de mar e Serena se arrepiou. Ele subiu a mão por seu braço esquerdo e segurou seu queixo. Sem pressa, Damien se aproximou e a beijou. Não pediu permissão, não ficou inseguro. Era como se fosse um acordo fechado. Ele sabia que ela o aceitaria. Depois, encostou sua testa na sua, dando apenas o tempo necessário para que ela absorvesse aquele momento. Não disse nada quando se virou e seguiu pelo corredor. Serena se lembrava de como entrara no salão tão vermelha que fora obrigada a contar para as outras cada detalhe do que acontecera.

Mas o namoro era singular. Depois desse dia, Damien passara semanas como se nada tivesse acontecido. Era assim com ele. Segundo seu povo, o contato físico era algo muito íntimo e construído com o tempo. Na tradição, o homem deixava claro que havia escolhido uma mulher quando a beijava. Esse era o compromisso. Apesar de ter convivido pouco com a família, ele herdara a distância do seu povo. Um novo toque poderia demorar meses. A timidez de Serena a ajudava a respeitar o espaço de Damien. No entanto, seis meses é muito tempo.

***

Bia e Cris já tomavam café da manhã quando Serena entrou correndo no salão. Ela ainda precisava tomar banho, fechar a mala, nem dava para pensar em comer. Enquanto subia apressada, Hannah desceu a escada ainda de camisola.

- Não vai se apresentar? - perguntou Cris, no costumeiro tom irônico.

- Prazer, Hannah Maël, direto de Tegallan – Ela fez uma mesura e sentou-se emburrada.

- Na verdade, não está nada mal. Acho que Leila foi boazinha com você.

O líquido preparado por Leila continha propriedades que apenas ela conhecia. Há muitos anos, estudava o efeito das ervas e plantas da Ilha e os aplicava em seus disfarces, que ela mesma experimentava. Podia fazer alguém inchar, parecendo ganhar peso, e até mesmo perder vários quilos em poucos dias. Um dia aparecera tão magra no salão de jantar da Ilha que ninguém a reconhecera. Também conhecia ervas que atuavam em cada músculo da face, paralisando e inchando, o que alterava as feições. Leila estudara ainda o efeito das plantas que empalideciam ou escureciam os tons de pele, olhos e até cabelos. Testava tantos tons diferentes de íris que as meninas não sabiam mais qual era o verdadeiro. Mas, para mudar o tom dos cabelos, era preciso esperar que crescessem novamente, o que levava meses. Às vezes, passava semanas com o cabelo em duas cores diferentes para testar um novo tom. Agora, estava empenhada em descobrir uma erva que fizesse seus fios crescerem mais rápido.

Com esse disfarce, Leila havia preparado mudanças sutis, mas que transformavam Hannah em uma pessoa totalmente diferente. A altura e o peso eram os mesmos, mas a sua pele estava mais clara. Era o seu tom natural, mas sem o bronzeado de anos na Ilha. Afinal, a fazenda em Tegalaan não ficava em uma região tão iluminada. Os olhos ainda eram castanhos claros, mas haviam perdido os tons de mel, que ela herdara de seu pai. Além disso, eram menores e mais arredondados. A sua boca agora era pequena e os lábios finos. Hannah tentava se acostumar com os músculos inchados e paralisados que comprimiam seus lábios e deixavam suas bochechas maiores. Enquanto isso, suas maçãs do rosto haviam murchado e seus traços já não eram mais tão marcantes como os de sua mãe. Logo pela manhã, Leila entrara em seu quarto para verificar sua adaptação e aproveitara para cortar o seu cabelo na altura do ombro. Ela mantivera o cabelo castanho e ondulado, comum às mulheres palacianas. O costume era mantê-los longos, mas Leila preferira cortá-los para chamar menos atenção. Poucas pessoas da nobreza nortenha conheciam os costumes palacianos mesmo. Hannah se levantou. Ao lado da mesa onde tomavam café da manhã havia um belo bar, talhado no mármore. Ela se observou no espelho por trás das bebidas.

- Essa boca é estranha. É pequena.

- Muita gente tem boca pequena e não acha estranha... - começou Bia.

- Mas esses lábios tão finos...

- Cuidado para não me ofender - alertou Cris, rindo.

- Pelos deuses, minha boca parece a sua! Será que Leila se inspirou em você?

As meninas começaram a rir e, finalmente, quando Serena desceu do quarto, Bia já estava tão vermelha quanto seus cabelos.

- O que perdi?

- Que tal a sua dignidade? Chegando a essa hora? - brincou Cris.

- Ora, me atrasei! Não foi nada! E o que estão bebendo? – perguntou Serena, desconfiada.

- Bebendo? A essa hora? – rebateu Chris.

- Mani está bebendo... – apontou Serena.

- É só uma dose - respondeu Hannah, prática, terminando de servir o malte em um copo de cristal. Às vezes, odiava como Serena era observadora.

Chris se virou para Hannah, séria.

- Achei que o disfarce ajudaria com a dor.

Melhor não responder, pensou, evitando revirar os olhos.

- Você pelo menos esperou para ver se fazia diferença? Eu sei que você está usando uma dose reduzida, mas até produzirem mais...

- Chris, acabou. Não tem dose reduzida, não tem mais.

Chris olhou pra Bia e, depois, pra Serena. Não sabia o que dizer. Hannah não gostava de malte. Quando bebia, era porque estava com dor. E era muita dor.

- Mani... Logo agora...

- Acabou há um mês na verdade - respondeu Hannah com um tom amargo: - Não queria preocupar vocês - admitiu. Ela sentiu os olhares reprovadores das três sobre si, enquanto tomava o malte em uma golada rápida. O líquido queimou sua garganta e ela fechou os olhos com força, aguardando as críticas, mas nenhuma delas quebrou o silêncio. Sabiam que estava sofrendo, mas não havia o que dizer. Deixou o copo de lado: - Podem parar! Podem parar de me olhar assim. Enganei vocês por um mês, não é mesmo? Estou ótima, como podem ver. Além do mais, Leila me garantiu que em breve conseguirá produzir mais. Chris, vamos lá. Coloque um sorriso nesses seus lábios fininhos...

- Pare! - gritou Chris manhosa.

Depois que as outras se foram, Hannah voltou para o quarto. Ela viajaria somente à tarde. Sentou-se na penteadeira e observou seu novo rosto no espelho. Poderia ser qualquer garota palaciana, da nobreza às cozinhas do Palácio. Eram feições absolutamente comuns, nem feias nem belas, completamente normais. Porém, ali à sua frente estava uma jovem coberta das mais finas joias e isso a tornava uma rani. Cuidadosamente, encontrou o fecho atrás do pescoço e tirou a gargantilha de ouro, adornada por minúsculas pérolas em toda a sua extensão. Do meio da gargantilha, saía mais um fio, que descia pelo seu colo e encontrava mais uma corrente de ouro que contornava sua cintura. Afastando as mangas do vestido, achou esse fecho também e o abriu. Depositou o colar de sua mãe ao lado de uma tiara encrustada de esmeraldas que já estava abandonada na penteadeira, onde ficaria pelos próximos meses. Então, se esforçando para não olhar para ele, puxou o anel de seu pai de seu indicador direito e o depositou, cuidadosamente, ao lado das outras joias que abandonaria. O anel de ouro envelhecido com a maior esmeralda que ela já vira ficaria ali, assim como o fogo em seus olhos, como sua mãe dizia. Tem os olhos de Ammiel, como madeira em brasa. Agora, sim, o disfarce de Leila estava completo.

Resignada, se deitou na cama e cochilou por mais uma hora. Como sempre, seu sono era conturbado. A dor em suas costas dava a sensação de uma queimadura insistente e ela sonhou com o fogo... O fogo destruindo o jardim da sua casa. O fogo avançando lentamente, queimando as plantas, os corpos dos guardas, derrubando as pilastras, avançando pelos tapetes, subindo pelas cortinas...

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