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I 1.4 Espiral de Alim

- Bem, Meu Raj... Já ouviu falar em uma Espiral de Alim? – perguntou Serena, desenhando um redemoinho confuso em um papel à sua frente.

Ela encarou os olhos atentos de Noa, tentando se esquecer dos outros homens no escritório. Estavam nos aposentos pessoais de Rariff. Serena nunca tinha estado ali, mas conhecia cada detalhe do escritório e do quarto. Tinha visto, mais de uma vez, através dos pulsos de Hannah como era o ambiente aconchegante em que Noa vivia. Ela conhecia a sensação dos lençóis sedosos na ponta dos dedos e sabia como os raios de Amandeep iluminavam o chão através das cortinas, a qualquer hora do dia. Ao entrar ali pela primeira vez, era impossível afastar a sensação de reconhecimento e até de invasão, sabendo que testemunhara muito mais do que Rariff imaginava. Porém, logo, Noa entenderia que, por mais que tentasse, não conseguiria manter muitos segredos dela.

Na mesa do escritório, Serena estava de frente para Noa, com Damien ao seu lado. Ao lado do Kaal, com os cabelos perfeitamente penteados e a barba recém-feita, estava Joshua Blake.

Serena sabia o quanto Blake era amigo de Rariff e, agora que a guerra se aproximava, Noa dividia todas as informações com ele. E Rariff estava determinado a fazê-la explicar tudo o que sabia, o que implicava que ela, Serena, abriria para Blake todo o seu jogo, mostraria todas as suas cartas, deixaria tudo exposto...

Desenhou uma moldura no papel, em volta do redemoinho, lembrando-se das suas primeiras lições de ghaya.

- Não... Nunca ouvi falar em Espiral de Alim – confessou Noa, apoiando um cotovelo na mesa.

- O destino de Hannah caiu em uma espiral. Vou explicar o que é para o senhor... Há três tipos de previsões do futuro... Há aquelas que nasceram com o nosso mundo, que são a moldura que define nossas vidas, desenhadas por Alim para os filhos de Laranjeira desde os primórdios. Essas são as profecias. Antigas, sagradas, soberanas.

- A profecia do Portal – apontou Noa.

- Sim, a profecia do Portal. O último Maël vai abrir o Portal que dá acesso à cidade dos deuses. Mas essas profecias são conhecidas e passadas de geração em geração há tantos anos... Seus detalhes se perderam. Não há uma versão oficial. Não sabemos muita coisa... Podemos escolher uma versão, aquela que acreditamos ser a mais fiel... Na Ilha, escolhemos a versão dos Maël. Quando apenas um Maël restar, não haverá a quem clamar. Por sua família, ele o fará, e o Portal se abrirá. É importante saber qual versão da profecia você está seguindo... Como eu disse, há muitas versões. Mas escolhemos essa, porque é a mais abrangente.

- Quais as outras? – perguntou Joshua.

- Há dezenas. Mas algumas das versões falam em "proteção". Algumas falam em "morte". Algumas falam em "escolhido" – Serena levantou os olhos rapidamente para Noa, mas logo voltou sua atenção para o papel. – Esta versão fala apenas em "por sua família".

- Como Hannah tem sangue de Amadum, então a família teria que ser um descendente? Um filho? – questionou Noa.

- Não... É como Yezekael já explicou... Os aymanistas aceitam o seu par na sua família completamente. Não há distinção entre os seus parentes de sangue e aquele com quem um aymanista decide viver. Portanto, aquele que é o escolhido de Hannah faz parte de sua família. Pode ser por ele que ela abriria o Portal.

- Mas por quê? Os Maël são o motivo pelo qual o Portal foi fechado. Os deuses queriam proteger seus filhos favoritos de Babakur – contestou Joshua.

- Sim... Não sabemos o motivo da abertura... Nem como poderia ser feito. Os Maël jamais abriram o Portal, eles apenas o guardavam...

- Serena... Por que diz que não pode ser um descendente? Acredita nesses rumores sobre Elia Maël? – perguntou Noa.

Serena suspirou, tentando adotar uma abordagem prática. Ela entendia perfeitamente a dúvida de Noa e o que ele queria saber... Apoiou a cabeça nas mãos, tentando pensar, tentando separar o que poderia ser dito do que não poderia ser sabido... Ainda.

Noa quer saber se Hannah pode formar uma família. Com ele, pensou Serena. É claro que só pensa nisso, ele a ama, ele é o que mais odeia essas lendas malditas... Eu vi duas crianças. Eu vi em meu sonho. Duas crianças fortes, castanhas, alegres. Mas não posso...

- Serena? – a mão de Damien pousou nas suas costas, reconfortando-a.

- Um minuto - murmurou.

As crianças não ressurgiram em meus sonhos. Podem ser de qualquer mulher... Não posso dar uma esperança assim para Noa. Nem para Hannah eu contei sobre isso... Seria uma irresponsabilidade... Todos os ghayas concordam que Hannah é a última Maël, seu ventre está selado pela profecia...

Preciso ser corajosa.

- Meu Raj, a história sobre Elia Maël é uma lenda. Não há nenhum registro de que tenha sido vislumbrada por nenhum ghaya...

- Mas pode ter sido? – interrompeu Joshua. – Prevista por um ghaya e então o registro perdido?

- Sim – admitiu Serena. – É possível, não vou negar, mas não acredito nisso. Não acredito que Hannah seja a reencarnação de Elia Maël... Nem acredito que seu ventre seja podre, Noa – disse, olhando diretamente nos seus olhos. Ela viu ali a chama da esperança e se odiou por ter que apagá-la. – Mas ela não terá filhos.

- Por quê?

- Porque eu consigo ver seu futuro. E Aberash também... E ela é a última. Quando Ammiel caiu, Aberash recebeu uma previsão. Com a queda de Ammiel, foi-se o último Raj Maël. Os homens gritam seu louvor, os deuses choram sua dor.

- Não haverá um novo Raj Maël – repetiu Noa, encarando as próprias mãos.

- Não... Sinto muito, Meu Raj – disse Serena. Em um impulso, ela pegou a sua mão. – Queria poder dizer que vi um filho para Hannah, Noa.... Mas não vi. Porém o senhor terá filhos.

Ele balançou a cabeça, devagar, para os lados. Serena completou: - Quando for a hora. Não pense nisso agora.

Ela voltou a atenção para o desenho.

- Bem, então, já falamos de profecias. São as molduras do que foi decidido por Alim. Há ainda outros dois tipos de premonições: previsões e vislumbres... Previsões e vislumbres formam a espiral. Podem ser remanejadas. Podem ser rearrumadas e reordenadas. Podem ser mudadas.

- Está dizendo que uma profecia não pode ser mudada? – questionou Joshua.

- Isso mesmo, Sr. Blake. Uma profecia é a mesma do início ao fim. Não pode ser mudada.

- Então... Hannah está fadada a abrir o Portal?

- A resposta correta seria "sim" – disse Damien. – Porém, estamos tentando evitar isso.

- Para o nosso próprio bem – completou Serena. – Mas, sim, muitos diriam que é uma luta perdida... Mas, quando nasceu, Hannah não era a última Mäel. Ela foi tornada a última Maël através do intervencionismo dos filhos de Babakur... E por que ela? Por que, de todas as gerações de Maël, atacar logo agora?

Joshua e Noa se entreolharam, mas não responderam. Serena continuou: - Quando Hannah era apenas um bebê, sua mãe teve uma visão. Foi vista por Rana Merab Maël e, também, por outros ghayas. Diz respeito à vida de Hannah, porém, como foi vista por outros ghayas e tem um impacto em toda Adij Alim, é o que chamamos de previsão. Maior que um vislumbre.

- O que ela viu? – perguntou Joshua, com um olhar de esguelha para Noa, que continuava encarando o papel à frente de Serena, cabisbaixo. – Noa. Pediu para ela ser sincera, meu amigo.

- Perdoe-me... Estou aqui – afirmou Noa.

Bruscamente, Blake se levantou e serviu uma dose de malte em um copo, colocando-o em frente ao Kaal. Depois se serviu de mais uma.

- Damien? Serena?

Eles negaram. Noa fez um sinal para que Serena continuasse, enquanto bebia um gole, afundando na cadeira.

- Essa previsão de Merab diz que Hannah seria a primeira Maël a participar da Cerimônia. Ela o faria por amor a um herdeiro de um dos clãs... Com essa união, surgiria o maior de todos os clãs. Mais poderoso e eterno... E isso foi um alerta para os Maël.

- Por quê? – questionou Noa.

- O poder dos Maël e suas terras sempre foram cobiçados, Meu Raj. Sempre. Além disso, os filhos de Babakur estiveram esperando uma oportunidade para abrir o Portal. Essa visão de Merab previa um fortalecimento do clã. Com essa união, os Maël sairiam ainda mais poderosos. Nessa época, a maioria dos clãs já rechaçava os cultos a apenas um deus. O conservadorismo em relação à tríade estava crescendo. E os Maël se recusavam a entrar nesse movimento, vivendo suas vidas como aymanistas e intervencionistas... Com um período de paz tão longo, eram raros os herdeiros tocados pelos deuses. Sangue de Amadum, então, mais raro ainda... Os herdeiros dos clãs começaram a acreditar em suas próprias mentiras. Começaram a acreditar que não havia poder em sua linhagem... Se os herdeiros acham que não há mais poder, restaria apenas o poder incontestável dos Maël e suas inscrições. Porém, há algumas gerações, os Maël percebiam que os herdeiros dos outros clãs torciam o nariz para suas inscrições. Então, passaram a ser mais discretos sobre isso... No entanto, as lendas sobre seus poderes são muito conhecidas.

- Então, quando Merab teve a visão sobre a união de Hannah a um herdeiro na Cerimônia, os inimigos dos Maël pensaram que precisavam agir antes disso – concluiu Blake.

Noa ergueu a cabeça, encarando Serena pela primeira vez em longos minutos.

- Serena, está dizendo que... Se Merab não tivesse tido essa visão, talvez os Maël não teriam sido atacados?

- Sim, Meu Raj. Os Maël não teriam sido atacados há dez anos. Essa visão mudou tudo, porque desencadeou muitas corridas... Os inimigos queriam derrubá-los antes da união. Depois disso, seria impossível. Os que ainda acreditavam nos Maël e em seu poder queriam garantir que sua família teria o herdeiro escolhido. Criou-se a corrida pelo maior de todos os clãs. Uma disputa por poder, uma segurança para quando a Grande Guerra chegar.

- Então... Esse homem. A culpa de tudo é desse homem – concluiu Noa, passando as mãos pela nuca.

Serena ergueu as sobrancelhas: - Ninguém sabe quem é o homem. Apenas Merab Maël viu quem era o homem, Rariff. Os outros ghayas não chegavam a seus pés... Eles não conseguiram ver. Por isso, é um segredo que temos que guardar, Rariff. Há muitas desconfianças, é claro... Todos sabem o quanto Azarias era próximo de Ammiel... Previsões como essa são, geralmente, desencadeadas por um toque, um encontro... Então, outros ghayas podem ter imaginado que houve um encontro nessa época.

- Como assim?

- Se me permite, Meu Raj... Posso mostrar ao senhor?

- Me mostrar? Como?

- Vou tocar seus pulsos. E vou mostrar um fragmento do passado. Algo que me foi mostrado por Aberash, que o recebeu de Merab. Uma imagem de sua vida.

Noa concordou e ofereceu os pulsos para Serena que, com delicadeza os rodeou com seus dedos.

- Isso pode ser um pouco intenso, Noa. Se quiser que eu pare...

- Não vou querer – decidiu o kaal.

- Feche os olhos.

Serena passou os dedões pela parte interna do pulso de Noa, indo e voltando, até que o escritório sumiu e ela se viu em um lindo quarto iluminado pelos raios de Amandeep. Estava sentada em uma cama, em cima de cobertas coloridas, com uma padronagem de flores vermelhas e brancas. Passou as mãos pelos cabelos, sentindo a textura sedosa, e os embolou em um nó na cabeça. Observou seus pés, suas pernas, bem mais bronzeados que seu próprio tom de pele. Um beliscão no seu mamilo chamou sua atenção e ela viu que um bebê mamava. No seu peito. O bebê era pequeno e cabeludo, seus imensos olhos cor de fogo a encaravam curiosos.

Sentiu que sorria, apesar da dor, enquanto o bebê mamava com mais afinco. Suas costas doíam e ela se recostou ainda mais onde estava apoiada... Estava na cama, mas atrás dela havia algo firme e quente. Não era um travesseiro, nem uma das almofadas verdes e azuis que estavam espalhadas pela cama. Percebeu que duas pernas a rodeavam. Se aconchegou ainda mais, apoiando-se contra um corpo forte.

- Está ouvindo? – falou um homem no seu ouvido. – Acho que é a comitiva de Azarias...

- Você vai conhecer seu tio Azarias? – ouviu a sua própria voz, mas ela saiu mais rouca e doce. Seus olhos miravam o bebê que, com a boquinha suja de leite, fez apenas um bico, sem compreender.

- Acho que tenho que ir recepcioná-lo, mas está tão bom aqui – o homem às suas costas cheirou seus cabelos, passando os dedos pelos seus braços. Uma mão grande bagunçou o cabelo do bebê. – Acho que seu pai não quer sair da cama, Mani.

- Ammiel, esse apelido vai pegar e ela só será chamada assim! – disse, rindo. – Ainda preciso tomar um banho e me trocar... Você vai recepcioná-los? Peça que Agnes suba, por favor?

- Hmmm – o nariz do homem desceu e subiu pelo seu pescoço, provocando um arrepio, e ela gargalhou.

- Meu Raj, não temos tempo para isso... Não está ouvindo a comitiva?

- Só mais um pouco...

- Além disso, Mani não terminou de mamar...

- Ahá! Até você já se rendeu ao meu apelido, Merab!

Ela revirou os olhos, mas ainda sorria. Sentiu que o homem dava um beijo na sua bochecha. Com um suspiro, ele saiu da cama. Ela chegou para trás, agora se recostando em um confortável travesseiro. À sua frente, o homem caminhava. Não era alto nem extremamente forte, mas seu peito era delineado por músculos firmes. Seu tronco era liso, quase sem pelos, mas ele ostentava longos cabelos compridos e castanhos, que estavam molhados. Estava enrolado em uma toalha branca, mas logo ficou nu, jogando-a por cima de uma cadeira. Ele se dirigiu para um outro cômodo, e voltou usando uma calça clara e fresca. Fechava um colete bordado com fios dourados e verdes.

- Vou descer, meu amor – anunciou o homem, abrindo um sorriso caloroso para ela. Ele prendeu os cabelos molhados em um rabo de cavalo.

- Ammiel, coloque sapatos para receber os Rariff... Pelos deuses!

Ele gargalhou e deu um beijo na sua testa, bagunçando seus cabelos como fizera com o bebê.

- Mani, sua mãe está muito preocupada que o Raj vai receber os nortenhos vestido de qualquer jeito... Como se eles não nos conhecessem, Merab.

- Aposto que até o pequeno Niall estará mais aprumado que você, Ammiel...

- Azarias pode ser mais arrumado, porém serei o mais bonito. Não é mesmo, Mani?

Merab bufou, mas pousou uma mão sobre a bochecha do Raj e deu um beijo rápido em seus lábios.

- Estarei lá em breve.

- Não tenha pressa, meu amor – disse Ammiel, deixando-as.

Merab acariciou os cabelos do bebê, que agora não mamava mais. Apenas puxava o peito com seus dedinhos gorduchos.

- Mani, minha filha, hoje será um dia importante. Mamãe sonhou novamente com aqueles olhos azuis... Sempre que eles aparecem em meus sonhos, são um presságio de algo novo... Algo que pode ser bom, ou ruim... Mas espero que seja bom...

A pequena rani se remexeu e bocejou.

- Hoje você vai conhecer os amigos dos seus pais, os Rariff, e seus dois filhos... Mamãe viu que você e Niall serão grandes amigos, sabia? Isso é muito bom, porém o que me preocupa é o menino Noa...

Mais um bocejo do bebê, desta vez sonoro.

- Ora, Mani, não faça pouco caso do futuro kral... Você é a herdeira do seu pai... E Noa é o herdeiro de Azarias. E os Rariff são um clã quase tão grande quanto o nosso... E a harmonia entre os nossos clãs é o que traz paz a Adij Alim. É importante que vocês sejam amigos e se respeitem... Como seus pais.

Minutos depois, a porta se entreabriu e uma mulher alta, de longos cabelos negros, usando uma capa azul com raios dourados entrou no quarto. Ela tirou os sapatos sujos da viagem na entrada no quarto e cochichou: - Ela está dormindo?

- Agnes! Não! Venha, minha amiga, ela é apenas muito quietinha...

- Ah, quietinha! Que benção! Niall não me dá um segundo de paz... – A mulher se sentou na cama, pousando seus olhos azuis sobre o bebê: - Ah que menininha linda, Merab! Ela é a sua cara! Tirando os olhos, os olhos são do pai... Veja que boquinha mais linda... Estou morrendo de amor, Merab. Posso pegá-la?

- Ah, com prazer, Agnes, com prazer... Ainda não tomei banho, não me arrumei. Vou deixar seu Kral esperando...

- Azarias pode esperar, Merab... Deixe que espere. Estão com os meninos. Juro que Noa fez umas trezentas perguntas no caminho até aqui.

- Adoro como Noa é tão curioso, Agnes... – disse a Rana, caminhando até o banheiro. Ela entrou na banheira, agradecendo a sensação gostosa da água quente contra o mamilo machucado. Com a porta aberta, ela ouvia as risadinhas de Hannah, enquanto Agnes beijava sua barriga.

Depois que se secou, jogou um vestido fresco e branco sobre o corpo. Agnes ainda se divertia com Hannah no colo, enquanto elas desciam as escadas para o salão de entrada.

- Ah que delícia ter uma menina, Merab! Você é uma coisinha muito gostosa, sabia? Vamos conhecer os meus meninos, quem sabe você mostra para eles como ser uma criança calminha.

- Não se engane, Agnes. Hannah pode ser um bebê calminho, mas assim que crescer um pouquinho vai ser uma peste. Pior que Niall... Muito pior que Noa. Fará Noa parecer um filho de Amadam.

Agnes riu, afirmando que agora estava com pena de Merab. Elas chegaram a um amplo salão. Seu chão era desenhado por várias formas verdes e douradas, mas muitas estavam cobertas por tapetes coloridos, bordados com tranças de fios de ouro. Dois meninos brincavam em um tapete, enquanto os homens estavam jogados confortavelmente nas almofadas. Ammiel estava sem sapatos, mas para a surpresa de Merab, também Azarias. O jovem Noa correu na direção delas, deu a volta em Merab e voltou para os pais. O outro bebê era loirinho, com lisos cabelos cor de mel e olhos azuis como os da mãe. Ele rolou desajeitadamente no chão e Agnes deu uma bronca em Azarias, que não estava olhando o bebê.

Agnes colocou Hannah ao lado de Niall, enquanto os criados chegavam com pratos de petiscos, incluindo tâmaras recheadas com queijo, damascos, castanhas e uvas, que foram colocados sobre mesas ao lado das grandes almofadas coloridas. Enquanto comiam e bebiam, Noa continuava a fazer inúmeras perguntas: O que são essas coisas escritas? Esses desenhos querem dizer o quê? Por que Ammiel não corta os cabelos? Quando vamos andar a cavalo? Bebês podem nadar?

Pensando nos olhos azuis que vira em seus sonhos e na importância daquele encontro entre o futuro Kral de Adij Rariff e a futura Rana de Palacianos, Merab se levantou, pegou Hannah nos braços e a levou até Noa, que estava sentado ao lado do pai.

Ele segurou o bebê, inseguro. Mani fechou a mãozinha em volta do indicador do menino. Merab o mirou com atenção.

- Não quero mais um bebê, obrigado – disse Noa, mas apertou a menina no colo, enquanto ela bocejava. – Só faz isso, né? Só dorme...

- É, por enquanto só faz isso. Que nem seu irmão – comentou Agnes, mas sua voz chegou distante. O olhar de Merab estava perdido no menino Noa, no modo como a sua outra mãozinha estava pousada no braço de Mani. Merab se concentrou para não mudar a sua expressão, enquanto deixava aquela visão entrar, abrindo a janela para Vïc Alim.

A voz de Noa ecoou no fundo da sua mente, mas era mais forte, mais grossa: - Eu a levo.

Uma gargalhada.

- Trouxe essas tâmaras para você... Por que não pega? Não alcança a minha mão?

Um menino levantava a mão, enquanto uma menina pulava.

- Saia daí, Hannah, está na ponta da janela, vai cair e me dar trabalho.

- Você não manda em mim.

A voz da sua filha. Lutou para conter uma lágrima. Azarias e Ammiel contavam algum caso e Merab sorriu educadamente. Mas a visão ainda estava lá.

Noa era um rapaz agora, forte, alto, confiante. Estava jogado nesse mesmo tapete no salão de entrada de Palacianos, com um livro na mão, quando Niall entrou descabelado e molhado, ao lado de Hannah, descalça como o pai, os pés sujos de areia, os cabelos pingando água do mar. Assim que os olhos de Noa pousaram sobre ela, Merab sentiu o salto no seu coração.

A imagem mudou. Um baile em Adij Rariff. O Salão Ava estava tomado por velas. Noa dançava com uma jovem esguia e elegante, mas por cima do ombro da sua acompanhante, seu olhar estava fixo na escadaria, onde uma outra menina descia. Usava um vestido verde escuro, quase negro, os cabelos soltos caíam em ondas. Niall estava ao seu lado e ela sorria descontraidamente, mas quando olhou na direção de Noa, seu sorriso morreu. Ela piscou, séria. Caminhou ao lado de Niall, atravessando todo o salão, sem desviar o olhar nenhuma vez, consciente de que ele a observava. Assim que a música terminou, Noa se despediu da moça que estava à sua frente, e seguiu Niall até os jardins. O irmão ria com outros jovens, mas ele foi até a menina, que estava encostada em uma cadeira.

- Maël, vai dançar comigo essa noite? - a voz de Noa soou baixa, como se não quisesse que ninguém mais ouvisse.

- O senhor não consegue me acompanhar, Rariff.

Ele soltou uma gargalhada debochada.

- Vai para Shailaja? Nessa temporada?

- Sou uma Maël, não preciso ir.

- Não foi isso que eu perguntei... – Ele passou um dedo pelo queixo da menina, que o mirou rapidamente, mas logo encarou o chão. – Por que não olha pra mim, Maël?

Flagrantemente irritada, ela o encarou e seus olhos brilhavam como as velas nos jardins.

- Porque a sua aparência não me agrada.

Mais uma gargalhada, seguida de um sussurro: - Como é mentirosa... Já tem quase 17 anos, Hannah. Não vai atender Shailaja? Em nenhuma temporada?

- Não vejo qual o seu interesse nesse assunto, Rariff.

- Sou obrigado a ir... E pode ser que eu não goste de passar tanto tempo sem vê-la. O que teme em Shailaja?

- Não tenho medo de nada.

Ele revirou os olhos.

- O que a incomoda, então?

A menina suspirou e ele olhou para baixo para observá-la. Mas, nesse momento, a jovem esguia com quem acabara de dançar chegou, tocando seu braço, rindo e falando algo que ele não queria prestar atenção, mas que fez a jovem palaciana se afastar. Noa observou suas costas nuas enquanto ela se afastava.

No seu próprio tempo, Azarias deu uma forte gargalhada e Merab viu que o menino Noa ainda segurava Mani, que agora dormia.

De volta à visão, a imagem mudou e Merab reconheceu Shailaja, o salão de dança lotado para um baile.

- Vai abrir o baile comigo, Maël – sussurrou Noa, seus lábios discretamente perto do ouvido da jovem de costas à sua frente.

- Quantas vezes preciso dizer que o senhor não manda em mim? – O rosto de Hannah se virou apenas um pouco para trás.

- É um convite... – ele deixou um dedo correr por uma mecha de cabelo que terminava na cintura da jovem.

- Então, convide, Rariff, e não saia dando ordens... – o tom erra irritado, mas apesar da pele bronzeada, suas bochechas coravam.

- É que já sei que não vai negar... – As costas dos dedos roçaram com delicadeza na pele à mostra na base da coluna e os pelos da jovem se arrepiaram.

- O senhor não se cansa de ser tão convencido?

- Apenas um homem extremamente convencido acharia que está à altura para abrir um baile ao seu lado, minha rani. Sua mão?

Hannah depositou a mão suavemente sobre a de Noa, enquanto ele a dirigia para o centro do salão. E, então, Noa abria o baile e, à sua frente, estava Hannah, usando um vestido branco esvoaçante e decotado, que atraía o olhar do herdeiro para lugares que ele queria evitar. Sua mão pousou nas costas dela e, apesar de conhecer aquela pele desde a infância, o toque foi diferente, um arrepio percorreu sua coluna. Ele pressionou os dedos contra a pele dela, puxando-a mais para perto, mais do que era recomendado, mais do que o decoro permitia.

Hannah entrelaçou os dedos ao dele, algo que não era necessário, nem mesmo normal, mas que fez ele sorrir.

Merab ainda conseguia ver o menino Noa à sua frente, mas então vozes mais nítidas ressoaram na sua mente e ela soube que, a partir daquele momento, a previsão se tornava mais intensa, mais certa e poderia ser vislumbrada por outros ghayas.

- Seria algo inédito, mas definitivamente não é contra as regras.

- É o que os outros clãs sempre quiseram.

- Há quantos anos tentam atrair um Maël para a Cerimônia?

- Essa união é emblemática.

- São dois primogênitos... Será o maior de todos os clãs.

As vozes deixaram um silêncio tão grande que Merab demorou para perceber que Agnes lhe fazia uma pergunta.

- O que disse?

- Ah, perguntei se não quer contratar Noa para ser babá, Merab! Veja como ele tem jeito com Mani...

Merab sorriu, concordando, então estendeu os braços para pegar a filha, acomodando-a no seu colo. O menino Noa logo perdeu o interesse, preocupado em saber quando Ammiel o levaria para cavalgar na praia. Merab colocou Mani no tapete ao lado de Niall e todos riram quando viram que um bebê chupava o dedão de outro. Ela riu com eles, mas sua cabeça estava à mil, os desdobramentos do que acabara de ver se estendiam como longos fios do Destino e ela sabia que muitos inimigos estavam prontos para puxá-los.

De volta ao escritório, Serena soltou os pulsos de Noa, que encarava a mesa, seus olhos castanhos passeando de um lado para o outro. Ele apoiou a cabeça nas mãos. Serena aguardou em silêncio.

- Isso foi... Uma visão dentro de outra visão? - perguntou Noa.

- Sim. Merab compartilhou não apenas o que viu, mas seus sentimentos, seus pensamentos...

- Quando eu toquei em Hannah... Ela ficou feliz, mas depois eu pude sentir... O medo.

- Sim. E aquela segunda parte... O senhor conseguiu entender a diferença?

- Mais intensa...

- Apenas Merab viu que era o senhor, Rariff. Mas a segunda parte foi vislumbrada por muitos ghayas...

- Eu causei isso – sussurrou Noa, fechando os olhos por um instante.

- Não deve pensar assim, Meu Raj - interveio Damien.

- Mas ele está certo, Damien.

- Não me poupe, Serena - mandou Noa.

- Ela iria participar da Cerimônia pelo senhor. E vocês, juntos, formariam o maior de todos os clãs.

- Eu pensei... Por um momento... – Noa esfregou os olhos, cansado. – Algumas vezes, nos últimos meses, lembrei muito de Niall. De como eram próximos, na infância. Vendo essas imagens, no início, ela sempre estava ao lado de Niall... Pensei que talvez pudesse ser sobre ele.

- Sempre foi o senhor, Noa – determinou Serena. – Niall seria um grande amigo, sim... Um dia, posso mostrar mais...

- Tem mais?

- Tem mais... Mas são apenas visões. Não são reais.

- Não são apenas visões – resmungou Noa. – Era o meu futuro. O nosso futuro... O que tiraram de nós.

Serena suspirou, exausta.

- Ela não consegue mostrar mais, Meu Raj – disse Damien, passando uma mão pelas suas costas. – Isso custa. Conte a ele, Serena.

- Me perdoe, Meu Raj... Tenho que escolher com cuidado o que mostrar, porque é um grande gasto de energia. Dividir uma visão dessa forma me deixa vulnerável.

- Vulnerável como? – perguntou Joshua. – Faz mal à sua saúde?

Serena pôde sentir o desconforto de Damien diante da preocupação de Joshua e desejou, mais uma vez, não estar no mesmo cômodo com os dois.

- Não, não faz mal... Mas me deixa exaurida. Posso perder algo... Perder algum sussurro de Alim, por estar exausta demais.

- Não se force, Serena – pediu Noa. – Me perdoe, não quero obrigá-la... Estou apenas...

- Nós sabemos, Noa – disse Blake, bebendo mais um gole de uísque. – Então, uma Espiral de Alim... As previsões de que Hannah formaria o maior de todos os clãs não podem se concretizar, porque a profecia é maior que uma previsão.

- É isso, Sr. Blake – assentiu Serena. – A profecia impacta as previsões e os vislumbres de modo que tudo sempre retorna à profecia. Por isso, não gerará filhos. Já é a última.

- Por mais que seu Destino busque por esse homem... Esse escolhido... – Joshua lançou um olhar rápido para Noa: - Como a tornaram a última Maël, está fadada a ser a última.

- E como a última – completou Damien – está destinada a abrir o Portal.

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