Capítulo 5
Música: Iridescent (Miguel)
Preocupação
Miguel abriu a porta do Museu e um menino entregou-lhe o jornal. Agradeceu e o folheou rapidamente, notando algo inconveniente. Uma notícia a respeito de Isabel. Apanhou o celular e ligou para ela, quase arrependido de tê-lo feito.
– Isabel, espero que você não tenha lido o jornal ainda...
– Algum problema?
– Aconteceu uma coisa e acredito que você não vai gostar...
– Fale de uma vez!!!
– É sobre a sua coleção... – ele pausou – Estão afirmando que ela acabou de vazar...
– Como assim?
– Você deveria falar com a sua chefe...
Isabel sentiu sua carreira deslizar por suas mãos.
– Isabel???
Ela desligou. Miguel estranhou e se arrependeu do que havia feito. Deixou-a mais preocupada ainda. Abriu mais duas caixas e retirou um par de castiçais. Lembrou-se do piano. Abriu outra caixa e retirou uma boneca de porcelana. Lembrou-se de Angelina. Levantou-se e correu para fora do Museu, pedindo permissão para Sandro. Teria que ir até a casa de Isabel.
Ela estava chorando, abraçada ao piano. Seus pensamentos a traíam e ela não queria ver ninguém. Miguel bateu na porta três vezes, mas ela não atendeu. Abriu a porta e não a encontrou. Um vento forte lhe soprou os cabelos. A varanda. Correu até lá e viu uma mulher pronta para saltar sacada abaixo.
– Isabel!!! – o rosto dela se voltou no instante em que pularia, e ele a tomou pela cintura.
Os braços dele a alcançaram a tempo, seus pés já estavam suspensos no ar. Assim que a conteve, viu seu rosto pálido. Os olhos cerrados, em uma expressão morta. Cingiu-lhe o pulso. O coração batia normalmente. Deitou-a calmamente no tapete da varanda e foi pegar álcool. Não encontrou. Foi até o quarto dela e encontrou um frasco de perfume. Tirou um pano do bolso e o banhou no frasco. Logo, levou ao nariz dela.
– Acorde, Isabel…
Aos poucos a cor foi voltando aos olhos dela e eles se abriram vagarosamente.
– Não estou vendo nada …
– Calma, já vai passar...
Quando sentiu que voltou ao normal, Isabel se sentou no chão ainda trêmula, fitando Miguel com um olhar culpado.
– Você está melhor agora?
– Acho que sim... Por quê.... Por que veio?
– Você desligou o telefone na minha cara... Pensei que fosse fazer alguma coisa …
– Eu vi a Angelina...
– Sonhou com ela?
– Não, eu a vi... Ela estava em um lugar lindo, havia um piano... uma árvore...
– Isabel, você sabe que não pode falar nessas coisas, a Angelina, ela...
– Não acredita em mim, não é?
– Eu não disse isso...
– Mas seu filho acredita.
– Não fale de Pedrinho – sua voz se alterou – Ele está m...
– Isso é o que você pensa, não o Portal.
Miguel sentiu uma leve comoção dentro de si, como se sentisse a presença de outra pessoa naquele lugar. O olhar de Isabel ainda estava abalado, como se ela estivesse em transe. De repente ela se levantou, caminhou para dentro da sala, e Miguel a seguiu, parando em frente a um espelho da sua altura.
– Tenho que ir...
– Do que você está falando???
– Eu estou com você... – disse olhando-o em seus olhos e desmaiou novamente.
Miguel segurou-a, ao mesmo tempo que tentava lembrar de onde conhecia aquela frase. Engraçado, ao mesmo tempo em que era Isabel, não podia ser ela mesma, não havia como …
– O que aconteceu? – a voz dela saiu ofegante.
– Você desmaiou.
– Há quanto tempo está aqui? – indagou franzido a testa.
Miguel hesitou. O que estava acontecendo com ela? Como poderia mudar de personalidade?
– Não se lembra?
– Lembrar do quê? Ah, minha cabeça está doendo... – e levou ambas as mãos à sua cabeça.
– O que você queria, foi a segunda vez que caiu...
– Segunda vez? Eu caí da varanda?
– Não você caiu quando estava em frente ao espelho, conversando comigo...
– Não lembro... – sorriu – Só me lembro da varanda… – ela tornou a olhar para o espelho.
Isabel tentara o suicídio, mas não conseguiu, falara com ele, mas não se lembrava, e agora estava desmentindo-o?
– Eu acho melhor que você não ficar sozinha aqui.
De súbito Miguel caminhou na direção da janela. Isabel o fitava ainda com os olhos sensíveis.
Ele fechou as cortinas e se afastou. Algo veio ferozmente em direção à janela, quebrando a vidraça com tamanha força que bateu na parede branca do apartamento e foi ao chão.
Ela soltou um grito, trêmula. Os olhos dele ficaram surpresos.
–O que é isso? – indagou desesperada.
– Um aviso...
Ele estava incrédulo com a cena. Ali, estirado no chão, com os estilhaços de vidro e com sangue escorrendo, jazia um corvo morto.
Miguel a encarou. Ela olhava para a parede atrás dele.
– Olhe aquilo... No local onde o corvo bateu na parede, o sangue escorria formando as seguintes palavras:
– Céus... O que é isso???
– Não precisa ficar com medo... É o que ele quer!!!
– Por que ele quer que façamos isso, se não sabemos nada??? Angelina está presa do outro lado, sem que se possa saber se está viva ou morta... Seu filho é a prova de que nada sabemos se não você já teria tirado ele de lá... – desta vez os olhos dele fugiram – A não ser que... O que está acontecendo, Miguel? Você sabe de alguma coisa que eu não sei? Vamos, fale logo!!!
Ambos sabiam que aquela situação inusitada, entre loucura e realidade estava ficando séria demais. Se o Mago estava acusando Miguel de ter uma saída era porque ele poderia acabar com toda aquela história...
– Miguel … – a voz macia de Isabel se tornou rouca e aflita
– Você me encontrou por acaso, não foi? Você sabia este tempo todo que poderia acabar com o Portal se tivesse a ajuda de mais alguém... E se for isso, com certeza você tem algo que o Mago queira, não é? Você está sendo vigiado por alguém que quer lhe matar, antes que você possa tirar alguém do Portal...?
Miguel refletiu um pouco. Pegou o corvo estirado no chão, mas ao tocá-lo ele se transformou em terra em suas mãos. Achou aquilo curioso. Seria melhor que ela soubesse da verdade.
– Eu tenho a chave.
Aquilo foi uma flecha no coração de Isabel. Os olhos dele encontraram os dela.
– Mas não sei como usar... Ninguém sabe... Ou sabia... Agora o Mago já descobriu...
–E onde ela está?
– Está escondida no Museu... Dentro da armação do espelho que é o Portal...
– E como sabe que ela é a chave?
– Ela se encaixa perfeitamente no espelho, mas nunca tentei encaixá-la, e foi Daiane quem descobriu isso antes de morrer...
Isabel ficou abalada com aquela revelação.
– Ela encontrou um bilhete na armação que dizia ¨Do alto, posso ouvir uma música cristã¨.
– Miguel, podemos quebrar o Portal …
– Não podemos. Se Angelina estiver lá, ela terá que passar para o segundo Portal.
– Você está maluco... São quantos Portais, afinal?
– São sete... Sei que não podemos nos comunicar com Angelina do outro lado, mas esse é o único jeito. Para destruir o primeiro Portal é preciso que ela, do outro lado do Portal, vá para outra dimensão, que é o segundo Portal... E eu não sei como fazer isso.
– Então por isso que não tirou Pedrinho de lá? Por que não sabe como fazer para se comunicar? – ficaram alguns segundos em silêncio.
– Isabel, nos conhecemos por mera coincidência... Não escolhi que fosse assim... Você roubou meu táxi naquele dia de chuva... A sua pasta de desenhos caiu no chão para que eu pudesse ir até você... Se há alguém no mundo que capaz de impedir que essa maldição se alastre, esse alguém só pode ser você... Angelina é parte de você... O Portal a escolheu... Por quê? Eu não sei... – ele olhou para os dedos – Aqui não é seguro, acho que já percebeu isso.
De súbito ele se levantou e foi até a porta. Isabel se ergueu assustada.
– Para onde está indo?
– Para minha casa... – sorriu.
– Vai me deixar aqui... Sozinha???
Miguel lhe lançou um último olhar, sorriu e fechou a porta.
*******
Mal havia chegado em casa, cansado, e exausto, a campainha tocou. Quem poderia ser àquela hora?
– Isabel?
Sim, ela estava com as malas na porta da casa dele.
Ainda reprimida com o ambiente, ela sentiu-se protegida naquele lugar. Era assustador morar sozinha, ainda mais depois daquela tarde. Deixou o piano, o quarto de Angelina, e todas as suas recordações naquele apartamento, só trazia consigo a consciência.
– Pode ficar no quarto de hóspedes. Não é muito grande mas sei que você se vira.
Ela o acompanhou até o quarto, a porta estava aberta, como se a esperasse. Era simples, havia uma cama de solteiro, uma cômoda, um criado-mudo, um espelho e um abajur. No alto da cabeceira, um crucifixo pendurado. A janela estava fechada e uma cortina branca a cobria. Abriu-a para que o ar entrasse. Arrumou a cama e logo desfez as malas.
– Qualquer coisa, estou na cozinha.
– Tudo bem.
Seu casamento com Bruno foi um erro que resultou no melhor prêmio que ela poderia ter recebido, Angelina.
Em uma revista de fofocas saiu uma matéria falando sobre o fim do relacionamento deles. Isabel sentiu os nervos à flor da pele. Ninguém deveria ter informações pessoais dela, ela nem sequer era tão conhecida assim para ser citada em uma revista... Mas Bruno era... E foi ele quem deixou que publicassem a matéria, para logo depois anunciarem na mídia que ele estava noivo de Célia, a editora-chefe da Revista Astro.
*******
No dia seguinte, Miguel olhou o relógio ao lado da cama, eram sete e meia da manhã. Mal havia feito isso, o despertador começou a tocar.
Levantou-se e começou a se arrumar. Enquanto fazia isso, lembrou de Isabel, o que ela faria o dia inteiro em casa? Não ela ainda tinha um emprego, ou será que não? Teria que conversar com ela.
Esquentou a água para o café, fez duas torradas e as comeu com manteiga e geleia de pêssego.
Antes de sair de casa, foi até o quarto dela, ver se estava acordada.
– Isabel? – indagou abrindo cautelosamente a porta do quarto.
Ela se remexeu na cama, vestindo uma camisola branca que lhe ia até o joelho, agarrando o edredom com as unhas e fitou Miguel como se fosse um fantasma.
– O que faz aqui???
– Queria saber se você vai se levantar para ir trabalhar?
– Acho que sim, que horas são?
– Faltam dez para as oito.
– Será que eu consigo me vestir em meia hora?
Ele percebeu a cara de cansaço dela.
– Creio que não. – sorriu.
– Você tem que ir, certo? Pode ir, eu me viro sozinha.
Dizendo isso, ela se levantou-se da cama, e Miguel se dirigiu até a porta de entrada.
– Antes de sair, tranque a porta e fique com a chave. Eu tenho uma chave reserva. Até mais tarde. – e fechou a porta.
Isabel tomou um banho, penteou os cabelos, vestiu-se e foi tomar um café rápido, enquanto comia uma torrada, seus olhos fitaram um calendário que estava em cima da mesa. Começou a entrar em pânico. Todo o dia doze de cada mês, Bruno levava Angelina para passar uns dias na casa dele. Agora, o que faria, se Angelina estava presa no Portal e ninguém poderia saber disso?
*******
Como se não bastasse a corrida contra o tempo, mais uma bomba explodiria nas mãos de Isabel. Ela estava com a nova pasta de desenhos na mãos, prontas para apresentá-las na edição da revista. Christine fez questão de ir em seu encontro.
– Que bom que veio, Belinha... Entre, precisamos conversar.
Isabel entrou na sala de Christine. Pelo seu tom de voz ela estava feliz pelo mesmo motivo que faria Isabel sofrer.
– Sente-se. – disse Christine sentando-se frente a frente Vamos direto ao assunto, não é mesmo? Bem, sei que trabalha aqui na Impacto a pouco mais de dois anos, ou quase isso...
– O que está querendo dizer? Aonde você quer chegar?
– Devo dizer que você tem grande talento, mas quando se trata de ser discreta, você é lamentável!!! Deixou a coleção vazar... Não há mais solução...
– Você está me dispensando? – disse aflita – Christine …– Eu sei que para você é difícil, mas é isso... Sinto muito mas não podemos dar uma segunda chance se não há confiança.
Aquela frase foi fria, acabou com todos os sonhos de Isabel naquele momento. Não poderia ser assim, tudo tão complicado...
Saiu da sala assim como entrou, com as mesmas expressões no rosto. Como seria se não arranjasse emprego? Viveria com Miguel por quanto tempo?
Resolveu que não voltaria naquele momento para casa. Eram quase nove horas. Estava frio do lado de fora do prédio da Impacto, mas ela não se importou. Teria que esfriar a cabeça e até pensou em ir ao Museu mas não queria incomodar Miguel àquela hora.
Caminhando como o de costume, ela se dirigiu até a Igreja. O sol aquecia o dia frio de inverno. Seu olhar parou em um local remoto da praça.
O dia estava ótimo, o sol brilhava intensamente. Bruno a esperava com um buquê de flores. Ele tinha seus cabelos loiros deitados na testa. Isabel se aproximou e ele a beijou. Logo depois, se ajoelhou em sua frente, lhe deu o buquê de flores e abriu uma caixinha com um anel.
– Belinha, quer se casar comigo?
Ela pulou nos braços dele, enchendo-o de beijos.
Depois se lembrou de algo triste. O vento frio batia em seu rosto e Bruno estava irritado. Sua aparência era de alguns anos mais velho. Eles estavam discutindo. Isabel o empurrou. Depois ela disse que queria o divórcio.
E o vento soprou mais uma vez.
Primeiramente me perdoem por eu ter demorado tanto para postar, estava muito ocupado na faculdade com muitos trabalhos e estava sem tempo para postar. Como recompensa deixo vos um capítulo maior (rsrs) espero que gostem.
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