Capítulo 16
"Porque eu não me importo
Quando estou com meu amor, é
Todas as coisas ruins desaparecem
E você me faz sentir que talvez eu seja alguém"
I don't care (Ed Sheeran/Justin Bieber)
Pablo
Stella olha para mim e não há dúvida, não há medo, por mais inesperado e rápido que algo em mim tenha mudado, ela não desconfia dos meus sentimentos. É libertador não me reprimir, não sufocar o que eu sinto, mas uma parte de mim continua lutando, gritando, acreditando que eu estou errado, eu não deveria me permitir tentar, eu não deveria trocar o sobreviver por viver e essa parte argumenta, meu DNA, a morte de Cecília ,todas as vezes que eu errei, todas as vezes que deixei Stella, ela grita para que eu solte o pulso de Stella e peça para ela ir embora.
Por outro lado, uma outra parte minha está implorando por viver, sedenta para se livrar do Pablo que não quer viver, o Pablo que está se punindo, punindo pela morte da irmã, punindo pelos erros dos pais biológicos, punindo por erros que ele cometeu. Eu sou uma contradição e não é fácil, não é fácil lutar contra uma e tentar alcançar outra.
Acreditar que a vida é uma merda e ligar o piloto automático é mais fácil, deixar a dor dominar você é mais fácil, perder as esperanças é mais fácil, aceitar um fardo que não é seu é mais fácil, acreditar que a culpa é sua é mais fácil. Lutar contra tudo isso é difícil, lutar contra sua mente é difícil, lutar contra você mesmo é difícil, extremamente difícil.
Meu olhar mantém-se preso ao de Stella, ela aqui em meu apartamento é a prova do que eu posso ter, da vida que pode ser minha, do futuro que eu quero.
— Nas sessões de terapia Joseph, meu psicólogo, perguntava como eu imaginava meu futuro e qual era a imagem que surgia em minha mente ao pensar no futuro, eu não sabia o que responder, porque nada surgia em minha mente, porque nada parecia ser meu futuro. — Respiro fundo. — Até hoje, hoje tudo mudou, hoje eu tinha uma resposta, hoje eu o respondi e entendi o propósito das suas perguntas.
Seus olhos brilham, olha para mim com carinho.
— Eu tenho motivos para lutar, eu tenho motivos para viver. — Uma lágrima desce por seu rosto. — É pela vida que quero ter ao seu lado, é por mim, pela minha felicidade.
Stella abaixa-se, apoia sua testa na minha.
— Eu estou feliz que você decidiu dar uma chance a nós, muito feliz, porque você é o único que acelera meu coração, mexe comigo apenas com um simples toque, é o único com que tenho essa ligação inexplicável, eu sinto você antes mesmo de vê-lo, meu corpo, minha alma e meu coração reagem a você. E essa é minha parte egoísta feliz. — Ergue sua mão e acaricia meu rosto. — Mas mais que está feliz por você estar dando uma chance a nós, eu estou feliz por você decidir dar uma chance para você, porque você é um cara incrível que merece ser feliz, mesmo se o nós der errado.
Apoio minha mão em sua cintura, eu queria Stella em meu colo, em meus braços, gostaria de segurá-la contra meu corpo, eu odeio estar todo quebrado.
— Eu nunca estive com outra pessoa depois de você, Stella, eu tentei uma única vez e falhei.— Encara-me surpresa, abre e fecha a boca, balanço a cabeça para indicar que não terminei de falar. — Não seria justo nem comigo e nem com a pessoa, porque eu não sentiria um por cento do que eu sinto com você, por mais que sexo seja bom, eu não conseguiria usar alguém dessa forma, eu sempre iria comparar os breves momentos de prazer com os nossos momentos e nossos encontros foram e são especias demais para colocá-los no meio de uma situação dessas.
Respiro fundo, colocar os seus sentimentos em palavras não é fácil, demonstrar como você está se sentindo é complexo.
— Eu não queria manchar as nossas lembranças, porque as lembranças eram a única coisa que eu tinha.
Stella assente, seu olhar é uma mistura de culpa e arrependimento.
— Eu quis esquecer você tantas vezes, um tempo atrás eu daria qualquer coisa para apagar você de mim, porque eu queria sentir o que eu sentia com você com outras pessoas, porque é tão bom, tão especial, tão único. — Respira fundo, afasta sua testa da minha, desvia o olhar do meu. — Eu saí com outros pessoas, namorei algumas, sabe, quando você conhece o melhor nada irá te contentar, eu queria aceitar menos, Pablo, mas não conseguia.
Morde seu lábio inferior por alguns segundos.
— Se eu soubesse que um dia ficaríamos juntos, eu teria esperado, eu não teria ficado com ninguém.
Eu odeia que sinta-se culpada, não falei para causar culpa e arrependimentos. Entrelaço sua mão na minha e aproximo de minha boca, deixo um beijo em seu pulso.
— Reagimos de formas diferentes, porque sentimos diferente, vivemos diferente, mas não significa que a intensidade seja diferente, seja menos, ou mais. — Seu olhar procura e encontra o meu olhar novamente. — Você esteve com outras pessoas e mesmo assim escolheu estar comigo, lutar por mim, você está aqui e isso é tudo que importa.
Assente.
— Eu escolhi e escolheria você de novo. — Abaixa-se e beija meus lábios, um beijo rápido, afasta-se e sorri. — Aliás, eu gosto muito desse Pablo romântico, bom com palavras.
Sorrio, dou de ombros.
— Sou surpreendente, baby.
Stella está de frente para mim, coloca as mãos em sua cintura, seu sorriso é sacana, seu olhar está calmo, leve, o momento declarações terminou.
— Eu sou a única pessoa com que você transou desde os seus dezoito anos!?
Provoca, morde seu lábio inferior e percorre seu olhar por meu corpo, Stella é uma provocadora.
— Sim e como sabe, nosso último encontro que resultou em nós dois nus foi há dois anos.
Ela faz uma careta, mas desfaz logo em seguida.
— Na verdade faz quase dois meses, você esqueceu do nosso último encontro. — Eu gostaria de lembrar, eu abro a boca para falar, mas Stella balança a cabeça. — Eu estou pensando aqui, será que você me perseguia, por que queria usufruir do meu corpo?
Seu olhar é malicioso, aproxima-se de mim, sou atingido por seu perfume doce e ao mesmo tempo suave de frutas vermelhas.
— Você descobriu meu segredo.
Eu gostaria de tocá-la e beijá-la, abaixa-se e aproxima seu rosto do meu.
— Eu estou contando os dias para sua recuperação, zangado.
Há sensualidade em suas palavras, na maneira de falar, em seu olhar.
— Você é tão provocadora. — Sorri, dá de ombros, o som da campainha ecoa pela casa, Stella afasta-se. — Amém, nossa comida chegou, eu estou morrendo de fome.
Em sua frase está um duplo sentindo, ela pisca e deixa a cozinha, eu estou sorrindo. É estranho, mas eu estou nervoso, é um encontro na minha casa, mas um encontro com a garota que eu gosto desde os dezoito anos. É estranho como não me recordo do que aconteceu há um mês, mas lembro do dia em que conheci Stella, cada detalhe daquele dia está gravado em minha mente. Stella entra na cozinha, olha para mim, eu sorrio.
— Você está pensativo, no que está pensando?
Dou de ombros.
— Em você.
Soa como uma resposta pronta, Stella ergue uma sobrancelha.
— Galanteador.
Aproxima-se deixa as embalagens sobre mesa e senta na cadeira que está de frente para mim, nós estamos um de frente para o outro com uma mesa entre nós.
— É sério, eu estou pensando no dia em que nos conhecemos.
Encara-me curiosa.
— Na oitava série? — Assinto, seu olhar torna-se divertido. — Qual foi seu primeiro pensamento sobre mim?
Está sorrindo, seu olhar é divertido, mas há também uma certa expectativa, ansiedade, eu sorrio.
— Eu pensei que você fosse uma das patricinhas da sala. — É bom voltar no tempo, nostálgico, quase posso sentir o que o Pablo do passado sentiu. — Ao entrar estava lá você rindo alto, tão dona de si, tão bonita.
Eu posso vê-la mais jovem, sentada sobre a mesa do professor com pessoas ao seu redor e rindo, eu recordo do seu sorriso, do seu olhar, da sua energia.
— Por algum motivo, você foi a primeira pessoa que eu enxerguei, meus olhos simplesmente encontraram você, então depois você veio conversar com Cecilia e eu e eu chamei você mentalmente de intrometida.
Ela ri, abre as embalagens com a comida, seus olhos brilham ao se deparar com comida caseira, olha para mim.
— Você lembra do meu restaurante preferido.
Assinto.
— Eu levaria você nesse restaurante caso não estivesse todo quebrado.
Sorri, coloca comida em nossos pratos, abre o refrigerante e despeja em nossos copos.
— Você sabe lembrar do restaurante preferido e levá-la lá em um encontro, significa que você realmente está empenhado em conquistar a garota.
Pisca, leva uma garfada com comida para sua boca e geme ao provar.
— Eu estou empenhado.
Olha para mim, meu olhar encontra o seu, nossa troca de olhar aquece e acelera meu coração.
— Você já conquistou a garota, Pablo. — Levanta-se e senta na cadeira ao meu lado, pega no garfo que deveria ser meu e coloca comida, traz-o para minha boca. — Mas continue falando sobre mim, eu estou gostando bastante de saber o que eu causei e causo em você.
A comida é realmente incrível e ao terminar de mastigar, olho para Stella.
— Você é tão incrível, legal, especial, com o tempo você foi chamando minha atenção e quando percebi eu gostava de você, gostava mais de como colega, amigo, você fazia meu coração acelera, sentia o famoso frio na barriga. Em nossos encontros era como se eu estivesse mais vivo que nunca, como se eu pertencesse aquele lugar.
Desvia o olhar do meu.
— É como eu sempre me senti, Pablo.
Suspiro.
— E eu fui um idiota com você, fui um idiota há dez anos, fui um idiota em não transformar nossos encontros em algo permanente e há poucos dias, eu fui um idiota com você.
Stella não fala nada, olha para mim e mais uma vez me perco em seu olhar.
— Não seja mais um idiota. — Respira fundo. — É a nossa última chance, Pablo, nosso último encontro.
Suas palavras são firmes, Stella tem certeza.
— Como você pode ter certeza?
Esquecemos o jantar, esquecemos onde estamos, somos somente ela e eu.
— Porque eu sinto, porque eu sei, a vida é feita de ciclos e estamos no fim de um deles, ou iniciamos um novo ciclo juntos, ou iniciamos um separados. — Um arrepio percorre meu corpo, não sentimos, não há barulho, mas é como se um vento passasse por nós. — A vida nos deu chances, mostrou como somos juntos, cruzou nossos caminhos várias vezes e está na hora da nossa decisão, a escolha é nossa, Pablo.
Eu vejo em seu olhar o quanto a certeza a assusta. E pensar em não ver Stella dói, pensar no nosso fim, dói.
— Eu tentarei não ser um idiota. — Estamos próximos, acaricio seu rosto e beijo sua testa. — Perdão por todas às vezes em que fui um idiota.
Assente, seu olhar é doce, carinhoso, gentil.
— E você me perdoa?
Olha para ela sem entender.
— Você não tem o porquê pedir perdão.
Eu sempre fui o culpado, eu sempre fugi, eu sempre a deixei, eu não enfrentei meus medos.
— Tenho, Pablo, eu deixei você ir todas as vezes, nunca exigi conversas em nossos encontros, eu jogava o mesmo jogo que você e isso me torna tão culpada quanto você. — Coloca sua mão em meu peito. — Mas temos uma chance, Pablo, não é tarde e podemos fazer tudo diferente.
Minha mão deixa seu rosto, procura pela sua que está sobre sua coxa e entrelaço nossos dedos.
— Podemos, não é?
Assente, sorri, aproxima ainda mais nossos rostos.
— Com certeza.
Seus lábios cobrem os meus, é um beijo gentil, carinhoso, é a nossa certeza, nossa promessa, confirmação da nossa tentativa, nossa chance, é nós dizendo para vida que escolhemos tentar, escolhemos nós. Encerramos o beijo, porque precisamos respirar, nós estamos sorrindo e ofegantes, eu olho em seus olhos, eles estão brilhando, eu sorrio, ela sorri, o mundo está em seu lugar, nós estamos exatamente onde deveríamos estar. Stella afasta-se, continua sorrindo, continuamos a olhar um para o outro, há uma leveza no ar, em nós. É como se pudesse ouvir os violinos entoando uma música romântica, como se estivéssemos correndo em um jardim de flores coloridas, como se estivéssemos livres, apaixonados.
— O que você fez nos últimos dez anos, Zangado? — Leveza continua em seu olhar, eu levanto uma sobrancelha, eu estou curioso com sua mudança de assunto. — Eu quero saber mais um pouco de você, eu quero saber da sua vida, as partes dela que nunca permitiu que eu soubesse em nossos encontros e eu irei contar as partes da minha vida que não sabe.
Stella está certa, nós tínhamos um acordo, não falávamos sobre nossas vidas em nossos encontros, um acordo não verbal, nunca verbalizamos, mas sabíamos, sentíamos. Era nossa forma de continuarmos distantes, de proteger nossos corações, uma ilusão.
— Eu fiz faculdade, sou um engenheiro mecânico, trabalho em uma fábrica de carros, mas não como engenheiro, trabalho na administração, não ganho bem, mas faço investimentos, sou bom nisso e dinheiro não me falta. — Dou de ombros. — Eu mais sobrevivi nos últimos anos do que realmente vivi, frequentei festas, bebi e me envolvi em corridas ilegais.
Uma voz em minha mente zomba que eu não sou uma boa pessoa, uma parte em mim acredita e grita para que deixe Stella, porque irei falhar com ela, porque está em meu DNA. Como será que irei falhar com ela? Mil maneiras surgem em meus pensamentos, meu coração acelera de uma maneira ruim, eu reconheço a ansiedade chegando, respiro fundo, empurro para longe as vozes, ou melhor tento.
— Alguns diriam que você aproveitou a vida.
Stella está sorrindo, um sorriso que eu posso acabar, porque o que eu toco eu prejudico. Merda, eu estou regredindo.
— Sim. — Eu não quero ser esse Pablo, eu preciso parar minha mente, eu não posso deixar meus medos ganhar. Eu não sou igual meus pais, eu não sou culpado pela morte de Cecília. — E você, feliz?
Minha voz está normal, mas eu estou suando, tremendo. Antes de responder Stella trás um garfo com comida em direção a minha boca, eu aceito e uso o mastigar para distrair minha mente.
— Eu formei em medicina, fiz minha residência e sou uma pediatra. Eu fiz amigos, viagens, saia para festas, saia para beber com meus amigos, assisti muitos filmes, li muitos livros, fiz trabalho voluntário no interior do Nordeste. — Seus olhos estão brilhando, um brilho bonito de satisfação, orgulho, êxtase. — Eu vivi, Pablo.
— Somos tão diferente, não é?
Ela dá de ombros, bebe um pouco do seu refrigerante.
— Como diz a física os opostos se atraem.
Ela faz uma careta, eu lembro do seu desafeto por física e sorrio.
— A física é linda, feliz.
— Você nunca disse algo tão desagradável quanto isso.
Eu gargalho, sorrio de verdade, o medo, receio, angústia, continua aqui, mas por segundos, eu esqueço deles. Stella faz isso, Stella anula meus medos e trás o meu sorriso.
Talvez, eu não precise ter medo, talvez, eu apenas precise o sufocar e o silenciar.
Conversamos sobre nossas coisas preferidas, cores, livros, filmes, enquanto jantamos, aos poucos esqueço dos meus medos. Nós rimos, descobrimos mais um do outro, somos nós dois sem joguinhos, sem fingir, sem esconder nada um do outro. Em nossos encontros tínhamos pressa, porque ele chegaria ao fim, porque o nós tinha prazo de validade, mas acabou, não temos mais pressa, não estamos mais correndo contra o tempo.
Terminamos à noite assistindo um filme deitados em minha cama, mais uma vez dormimos juntos.
É o fim de noite perfeito, o fim de um encontro perfeito.
~❤~
Olá pessoas! Decidi respostar essa serie mesmo sem todos os livros estarem revisados. Então aqui vai alguns avisos:
1 - Essa série foi escrita há muito tempo então os primeiros livros estão mal escritos e com muitos erros.
2- Como estou reescrevendo a série e repostando conforme vou fazendo isso algumas coisinhas não irão bater, detalhes que pretendo mudar.
3-Siga-me no instagram, porque em breve tem novidades aqui no wattpad e eu irei lançar meu primeiro livro na Amazon em Julho, meu insta é @lanasilva.sm.
4 - link do grupo no whats (ou deixe seu número nos comentários).
Bjs e até mais ❤️
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