Capítulo 15
"Eu quero levar você em algum lugar, assim você sabe que eu me importo
Mas está tão frio e eu não sei onde
Eu lhe trouxe narcisos em um belo buquê
Mas eles não florescerão como na primavera passada"
Another Love (Tom Odell)
Stella
Ele olha para mim como se eu fosse seu tudo, a responsável por mantê-lo respirando, por mantê-lo vivo, pelas batidas do seu coração. Há tanta intensidade, meu coração está acelerado, minha respiração irregular, sinto sua boca na minha, um leve encostar, meu coração é preenchido por ternura, carinho, felicidade, uma magia está em torno de nós, abro meus lábios, sua língua invade minha boca, nossas línguas duelam, o beijo torna-se mais desesperado, faminto, selvagem. Minhas mãos estão espalmadas sobre seu peito, sinto seu coração, está acelerado, sua mão não ferida no acidente está entre meus cabelos. Meu corpo todo está desperto, cada partícula do meu corpo sente nosso beijo, eu sei que ele sente o mesmo, eu sei pela forma como seu coração bate. Nós estamos conectados, nossos corações e nossas almas.
O ar falta, o beijo chega ao fim, eu estou sem fôlego como se tivesse corrido em uma maratona, abro meus olhos, apoio minha testa na sua, nossos olhares se encontram, é intenso, uma energia está em torno de nós, uma energia nos mantem presos um no outro, um campo magnético nos atrai como imãs.
— Nós somos como imãs, Stella, eu sou a parte positiva e você a negativa.
Nós temos a mesma sintonia, nós temos os mesmos pensamentos, eu sorrio, ele sorri. O mundo estava do avesso, bagunçado, mas não está mais, porque nossa ligação o organizou, nós somos como peças de quebra-cabeças que finalmente encontraram seu encaixe, um encaixe perfeito, ergo minha mão, toco seu rosto.
— O que aconteceu, Pablo? O que mudou?
Seus olhos fecham por breves segundos e ao abir novamente, eu vejo a dor, eu vejo luta, eu vejo o quanto não é uma decisão fácil.
— Está doendo, Stella, lutar contra si mesmo não é fácil, lutar contra seus demônios não é fácil, estar com você é estar em casa, estar bem, é estar exatamente onde eu gostaria de estar. — Retira com carinho minha mão do seu rosto e a deixa sobre seu coração. — Mas aqui, um sentimento, uma voz, grita que não deveria estar com você, não deveria ser feliz, não deveria manchar você com minha escuridão.
Eu não posso imaginar o quanto deve ser difícil querer algo que você mesmo não acredite que é merecedor. Eu não posso sentir, não posso entender, não posso, porque não é a minha dor, não são os meus monstros, os meus medos. Eu não posso julgar, porque eu não sinto. Eu posso tentar compreender, eu posso superficialmente me colocar em seu lugar, sempre será superficial, mas se eu entender um pequeno pedaço da sua dor, eu posso entender as suas escolhas.
— Você irá conseguir. — Beijo seus lábios brevemente. — O que mudou, Pablo? Você não queria lutar, você não queria se permitir ser feliz, você não queria tentar, o que mudou, zangado?
Repito a pergunta, eu preciso da resposta, eu sinto que a resposta irá fazer meu coração bater mais rápido, fará com que um frio surja em minha barriga, fará com que meu estômago se agite e pareça o bater de asas de borboletas.
— Você aconteceu. — Sussurra, está apenas nós dois, ninguém é capaz de ouvi-lo, mas sussurra para que seja mais intimista, mais especial. — Você aconteceu, Stella e tudo mudou. — Respira fundo, uma pausa, eu seguro meu fôlego, meu coração descompassa. — Eu não posso viver pela metade, porque eu quero viver uma vida inteira com você.
Eu posso respirar novamente, eu estou olhando em seus olhos, eu não sei se posso falar, não consigo, eu abro e fecho a boca sem conseguir dizer uma palavra, eu sou uma bagunça de sentimentos, suas palavras preencheram cada parte de mim, eu esperei ouvi-las por muito tempo, respiro fundo para tentar controlar minha mente e coração.
— Você irá ficar, Pablo?
Ele entende o que quero dizer, ele sabe que é sobre parar de fugir, sobre ficar, sobre não me deixar.
— Eu vou ficar, feliz. — Meu corpo, minha alma, meu coração vibram de alívio, eu não posso evitar sorrir, Pablo faz o mesmo, eu amo seu sorriso. — Desculpe ter sido estúpido com você, eu jamais deveria ter dito certas coisas.
Seu olhar transmite arrependimento.
— Tudo bem, mas não volte a repetir certas palavras, doeu, eu quero ficar com você, mas eu também sou apaixonada por mim e não irei suportar agressões, nem físicas, nem verbais, nada.
Ele assente, seu olhar torna-se um tanto perdido, dói para Pablo saber que ele conseguiu me machucar.
— Eu vou tentar com tudo de mim, Stella, por mais que doa.
Beijo sua bochecha.
— Eu estou feliz por escolher lutar, por escolher viver, por escolher por sua felicidade.
Sento corretamente, com a costas apoiadas no sofá e a cabeça em seu ombro, Pablo entrelaça sua mão na minha, eu estou bem, eu estou em casa.
— Conte algo ruim da sua vida, algo que não goste, uma perturbação, angústia, ou medo.
Eu não compreendo, não o entendo. Pablo com a ponta de um seus dedos traça círculos invisíveis na parte superior da minha mão.
— Por que?
Por alguns segundos, apenas escuto o som da sua respiração, eu estou prestes a intervir quando sua voz chega aos meus ouvidos.
— Porque você não merece segurar o que te deixa triste, porque eu estou triste, porque se você está ao meu lado, eu estou do seu. — Beija a lateral da minha cabeça. — Por mais frágil que meu psicológico possa estar, você não merece segurar tudo sozinha, todos temos problemas e se eu vou dividir os meus com você é justo que você divida os seus comigo.
Pablo se importa comigo, meu coração está acelerado e ao mesmo tempo cheio, cheio de sentimentos que transmitem paz, amor, felicidade.
— Eu odeio a morte precoce, eu odeio quando uma criança morre, eu faço o que posso, o possível e algumas vezes impossível, mas não é o suficiente, então eu questiono minha capacidade, minhas escolhas. Eu vejo mais crianças vencendo e vivendo do que perdendo a vida, mas não é o suficiente e isso é horrível.
Respiro fundo, por mais feliz que eu possa ser há tristeza, ninguém é feliz o tempo todo, todo mundo tem seus problemas, complexos, medos, demônios, dias ruins.
— Eu odeio o racismo, odeio quando recebo um olhar mais demorado por ser negra, como se fosse um E.T, uma médica negra, então odeio quando o olhar torna-se duvidoso, quando minha capacidade é uma dúvida pela cor da minha pele. Eu odeio como o racismo me faz sentir, pequena, sem chão, imponente.
Uma lágrima escorre por meu rosto, essa é a minha pior dor. Pablo larga minha mão, passa seu braço sobre meus ombros e me aperta contra seu corpo.
— Eu tenho medo de não ser feliz, sabotar minha felicidade, tenho medo de quando chegar a hora de fechar meus olhos para sempre chegar a conclusão que não fui feliz, tenho medo de fracassar comigo mesmo. — Mais uma vez, respiro fundo. — Por esse motivo, eu estou aqui Pablo, por esse motivo insisti em nós, porque eu não posso perder a chance de ser feliz, não posso arriscar deixar a felicidade escorrer por entre meus dedos sem tentar.
As palavras saem da minha boca de pressa, quase não respiro entre elas, eu apenas preciso falar e falo, não penso, não repreeendo as palavras, não as mantenho para mim, não as escondo.
— Algumas noite, eu não consigo dormir, meu coração bate acelerado, uma angústia me atormenta, porque eu morro de medo de não ser feliz, então eu penso na minha vida e a pergunta é será que eu sou feliz? Será que eu irei continuar sendo feliz? Como não falhar? Como não deixar os dias ruins me colocarem para baixo? Porque a verdade é que todos temos dias ruins e temos a difícil tarefa de não os deixar nos levar para baixo, para o fundo do poço, é difícil não sucumbir aos problemas, as merdas do dia-a-dia, as injustiças, mas é preciso, porque eu quero ser feliz.
É bom falar, é um alivio, uma leveza. Eu não tenho mais nada a falar, nós estamos em silêncio.
— Eu odeio que pessoas sejam capaz de machucar você por conta da cor da sua pele, se é que podemos chamar de pessoas, eu gostaria de retirar essa sua dor, porque somente de imaginar dói, eu não consigo mensurar o quanto de dor você sente.
Aperta minha mão com a sua em uma mistura de conforto para mim e raiva pela situação.
— Sinto muito que você presencie a morte.
Mais uma vez, aperta-me contra seu corpo. Eu gosto que não tente explicar minha dor, ou amenizá-la com palavras, ele apenas oferece seu abraço, ele indica que estará ao meu lado.
— Você tem uma luz incrível, Stella, essa sua vontade de viver e ser feliz é perceptível, sinto muito que ela tenha suas partes feias. — Solta minha mão para subir e descer as pontas de seus dedos pelo meu braço. — E nas partes feias quero estar ao seu lado, quero segurar sua mão, aparar você, como é aquele nome que você falou ontem dos barcos?
Sorrio da forma como pronúncia sua última frase.
— Dofins.
Continua acariciando meu braço.
— Eu vou ser os dofins do seu cais.
É uma bonita forma de dizer que estará ao meu lado, Pablo está me dizendo que se a vida fosse o mar e eu a embarcação, ele estaria no cais, no lugar de chegada, para tornar minha chegada mais leve, menos turbulenta. E durante a vida temos muitas partidas e chegadas.
Nós ficamos em silêncio, não é um silêncio ruim, ou desagradável, nossa ligação não precisa de palavras, apenas de estarmos no mesmo cômodo nós sentimos o coração um do outro.
— Que tal, maratona de Senhor dos Anéis?
Pablo interrompe o silêncio e com palavras mágicas, sorrio, afasto-me alguns centímetros do seu corpo para olhar para seu rosto.
— Você realmente sabe como conquistar uma pessoa, zangado.
Um pouco mais de seis horas depois e dois filmes nós continuamos com a atenção na televisão, os créditos sobem pela tela de 50 polegadas. Pablo está com as pernas sobre a mesinha de centro e eu estou deitada no sofá com a cabeça sobre as coxas dele, eu hesitei por conta de seus ferimentos, mas ele insistiu, garantiu que não o machucaria, ou acentuaria sua dor.
— Uma pausa?
Olho para cima para Pablo.
— Com certeza. — O próximo é último filme são quase cinco horas, nós precisamos comer, além de que para ele que está em uma posição por muito tempo deve estar desconfortável. — você está com dor?
Faz uma careta.
— Sendo sincero, um pouco.
Eu sento no sofá, olho para ele culpada.
— Desculpe, você deve estar muito dolorido. — Dá de ombros como se não fosse nada demais. — E está na hora dos seus remédios, irei buscá-los.
Busco seus remédios e água na cozinha, entrego para Pablo e sento ao seu lado, observo-o levar o comprimido a boca e o engolir, logo em seguida bebe água, deixa o copo na mesinha que fica ao lado do sofá e olha para mim, nos encaramos, há expectativa em seu olhar, vergonha e decepção. Eu não o entendo.
— Eu gostaria de levar você a um encontro.
Minha primeira reação é ficar surpresa, em seguida um sorriso surge em meus lábios, meu coração acelera, Pablo quer me levar para um encontro, sou novamente uma menina apaixonada.
— Você está me chamando para um encontro?
Pablo sorri, um sorriso bobo, ingênuo, há um tom vermelho em suas bochechas, como uma criança que aprontou e foi pega.
— Eu gostaria de estar chamando você para um encontro, mas...— Ergue seu braço e aponta para seu corpo. — Como pode perceber, eu estou todo quebrando.
Eu posso ver a frustração em seu olhar, dou de ombros e aproximo-me dele, minha mão está em seu peito e meu rosto perto do seu.
— Podemos pedir comida e jantarmos aqui, o que faz um bom encontro não é o lugar, é a companhia, a intenção, a ligação entre os envolvidos.
Ergue sua mão afasta alguns fios de meu cabelo do meu rosto.
— E de ligação nós entendemos, não é feliz?
Seus olhos brilham, eu sorrio.
— Como ninguém, zangado.
Beijo seu rosto.
— Então, aceita participar de um encontro comigo, Stella Lima de Souza?
Ele lembra do meu sobrenome, todo ele, eu sorrio meu coração bate mais forte, mais feliz.
— Eu aceito.
Como eu poderia dizer não? Depois de tantos encontros aleatórios, um encontro marcado, não posso evitar sorrir da ironia da vida.
— Qual motivo do sorriso lindo?
Traça com o polegar o contorna da minha boca.
— Depois de doze encontros, um encontro marcado, não acha irônico?
Ele sorri, para o seu dedo no canto de minha boca, seus olhos entregam sedução e desejo.
— Realmente, um tanto quanto irônico, mas na verdade a vida e o destino nos trouxeram até aqui.
Pablo quer me beijar, mas não consegue se aproximar, sorrindo, eu acabo com seu sofrimento, diminuo a distância entre nós, fecho meus olhos e o beijo, é um beijo longo, nós temos saudade, desejo, carinho e amor.
Ao fim do beijo, meus lábios estão dormente, eu apoio minha testa na minha, não abro meus olhos, talvez eu esteja sonhando e eu não quero acordar, eu estou tão bem, tão feliz.
— É real, feliz.
Pablo responde como se fosse capaz de ler meus pensamentos, abro meus olhos, meu olhar encontra o seu, é tão forte, tão intenso, nós estamos exatamente onde deveríamos estar. Continuamos assim por um tempo, mas a posição não é agradável e sou obrigada a me afastar, Pablo está sorrindo.
— Um encontro então, hein, feliz? — Dou de ombros e sorrio, imagens do que eu deveria fazer antes de um encontro ecoam em minha mente, escolher roupa para vestir, ajeitar o cabelo, depilação, banho...eu meio que paraliso ao lembrar do banho e faço uma careta. — Qual problema?
Pablo olha-me preocupado.
— Banho, nós precisamos de banho.
Ele joga a cabeça para trás e gargalha, eu sou contagiada com sua risada e sorrio, por alguns segundos apenas rimos. Pablo é o primeiro a conter o sorriso, logo em seguida faço o mesmo, mas olhamos um para o outro e voltamos a rir, rimos alto. Mais uma vez, nossa risada cessa, não olhamos um para o outro novamente.
— Meu pai livrou você dessa tarefa, feliz. — Suspiro aliviada. — Porém, eu preciso ir ao banheiro.
Eu faço uma careta, ele sorri. E então vamos para o banheiro, cada vez ficamos melhor, mas continuo suando. Após a difícil tarefa "Pablo e banheiro", Pablo fica na sala, enquanto eu vou para o banho, um banho demorado com cantoria, o repertório são músicas animadas, eu estou me sentindo uma diva do pop.
Eu escolho um vestido longo florido, branco com rosa, prefiro os pés descalço, deixo meu cabelo molhado e solto, gosto dele assim, não passo nenhuma maquiagem. Ao entrar na sala, Pablo olha para mim, seus olhos brilham, ele olha para mim como se eu fosse a mulher mais bonita do mundo.
— Você está linda.
Eu sorrio e aproximo-me dele.
— Obrigada, você também é bem bonito.
Ergue uma sobrancelha, paro ao lado das suas pernas, trás sua mão para minha cintura, meu corpo e eu gostamos do seu toque.
— Mesmo parecendo uma múmia?
Sorri, um sorriso cafajeste, leve, acaricio a lateral do seu rosto com a minha mão.
— Mesmo parecendo uma múmia.
Pablo sorri, sobe sua mão pelo meu corpo e a deixa na lateral do meu corpo, abaixo dos meus seios.
— Eu pedi nossa comida.
Retiro a mão do seu rosto e passo por entre os fios de seu cabelo.
— E qual será o cardápio?
Balança a cabeça negando.
— Surpresa.
Faço um biquinho infantil.
— Eu sou curiosa.
Dá de ombros.
— Prometo que irá valer à pena e enquanto esperamos podemos arrumar a mesa.
Sorri e dessa vez, sou eu a balançar a cabeça negando.
— Eu arrumo a mesa você quer dizer.
Sorri, um sorriso amarelo.
— Desculpe.
Curvo meu corpo e beijo seus lábios.
— Bora organizar essa mesa.
Ajudo Pablo a ir para sua cadeira e vamos para cozinha, ele diz como quer a mesa e eu coloco a louça sobre ela.
— Há velas na última gaveta do armário.
Eu estou dispondo os dois copos na mesa, paro com a tarefa e olho para Pablo que está em um das pontas da mesa.
— Velas?
Assente.
— Para por na mesa, um encontro lembra e merecemos um encontro com tudo que temos direito, inclusive velas.
Largo os copos, dou a volta na mesa e paro ao seu lado.
— Você é surpreendente.
Olha para mim como se eu fosse seu tudo, minha respiração está irregular, segura meu pulso com a sua mão e traça círculos imaginários com as pontas de seu dedo.
— Eu sempre quis mudar Stella, mas não tinha o porquê, eu ia ao psicólogo e pensava eu quero mudar, mas ao chegar em casa a solidão me acolhia, eu não sabia o porquê lutar, mas dessa vez eu tenho alguém me esperando, eu tenho um futuro para lutar, eu não estou sozinho, eu tenho uma vida que quero ter, viver não parece tão desanimador, eu quero uma vida e uma vida ao seu lado.
~❤~
Olá pessoas! Decidi respostar essa serie mesmo sem todos os livros estarem revisados. Então aqui vai alguns avisos:
1 - Essa série foi escrita há muito tempo então os primeiros livros estão mal escritos e com muitos erros.
2- Como estou reescrevendo a série e repostando conforme vou fazendo isso algumas coisinhas não irão bater, detalhes que pretendo mudar.
3-Siga-me no instagram, porque em breve tem novidades aqui no wattpad e eu irei lançar meu primeiro livro na Amazon em Julho, meu insta é @lanasilva.sm.
4 - link do grupo no whats (ou deixe seu número nos comentários).
Bjs e até mais ❤️
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