39. Aquele com a Ruptura
Mas tudo que eu sei é que ela o deixou, e você jura simplesmente não saber porque
Mas você sabe, querido, que sempre estarei por perto, se você por acaso me quiser
Venha e chore, chore, querido, chore, querido, chore, querido
Oh, querido, bem vindo de volta para casa...
(Cry Baby - Janis Joplin)
Tudo estava meio estranho.
Em um momento, eu estava no meu quarto terminando de estudar, para em seguida me enrolar nas cobertas e ver alguma série até pegar no sono.
E agora, eu estava sendo apertada por Edward no carro dele, enquanto tentava entender o que havia acontecido para nos ter feito chegar até aqui. Minhas mãos ainda estavam levantadas ao redor dele, e foi quando eu decidi retribuir o seu abraço.
Não sabia o que havia rolado entre ele e Nancy, no entanto, decidi que o ouviria, tentaria entendê-lo e então o aconselharia, seria sua amiga, emprestaria meu ombro, caso ele precisasse chorar.
E então eu o apunhalaria, agiria como a grande desgraçada que sou e daria um jeito de tornar tudo pior. Porque talvez Jason tenha razão, eu não tinha conserto, nem se quisesse.
— Ok, eu estou um pouco... surpresa, eu acho. –Comecei, afastando Edward.
E não era mentira.
— Me desculpa, eu não tinha com quem falar. —Ele disse, se ajeitando no banco e então me olhou.
— Tudo bem. Amigos são para essas coisas, sim?! –Respondi com um sorriso doce, enquanto passava as mãos suavemente pelo braço de Edward.
Que merda, fala logo!
Ele levou seu olhar até as minhas mãos, então abriu a boca, parecendo que ia finalmente contar o que havia acontecido, o que claro, me fez olhá-lo com expectativa.
— Eu acho que a Nancy está me traindo. –Me olhou, mas não esperou realmente que eu falasse alguma coisa, então logo continuou. — Hoje, na saída da escola, eu a vi abraçada com o Jason, sabe, pareciam muito... próximos.
Dava para sentir o amargo em sua voz, o que me fez engolir em seco. Tentei ficar feliz com a sua declaração, no entanto, me senti incrivelmente confusa.
Nancy e Jason? Sério?! Por mais que algumas vezes eu tenha desejado que os dois se unissem e parassem de atrapalhar a minha vida, jamais imaginei que um dia fosse de fato acontecer, e sem que eu precisasse fazer alguma coisa a mais.
Afinal, quando os dois haviam ficado tão próximos? E Edward, desde quando começou à tirar decisões tão precipitadas?! Porque queira ou não, tudo pode não ter passado de apenas um mal entendido.
— Summer, está me ouvindo?
Desviei a minha atenção para ele, que já me encarava com um semblante que eu podia jurar que parecia desespero.
— Você sabia de alguma coisa? –Edward complementou, antes que eu pudesse responder a pergunta anterior.
— Eu... –Pensei por um instante, e então engoli em seco.
Eu estava em conflito, essa era a verdade. É claro, havia passado um tempo com Nancy, e de certa forma, pude ter a oportunidade de conhecê-la melhor, quer dizer, só até onde ela quis me mostrar. Mas, por outro lado, o meu subconsciente gritava que Nancy poderia estar fingindo, tipo, fala sério! Ela era exageradamente boazinha, e em um mundo como esse?! Sem chance!
Eu não iria colocar a mão no fogo por ela, mesmo que não a odiasse tanto quanto antes. Mas também, não iria correr o risco de me enganar e ferrar com todo o trabalho que tivesse nesses quase três meses.
— Me desculpa, eu deveria ter te contado. –Completei, por fim, o que fez Edward soltar um suspiro pesado e passar as mãos pelo rosto, deslizando no banco.
— Porra... –Murmurou com as mãos tapando o rosto, e então logo as tirou, parando seu olhar em mim. — Quanto tempo faz?
Dei de ombros, o encarando com uma expressão fria, como se eu estivesse tão fora de mim que não conseguisse nem sentir a burrada que estava fazendo.
— É recente, acho que faz uma semana. –Edward balançou a cabeça e fungou, passando a mão sobre a boca. — Nancy me contou que só havia ficado com ele uma vez, que tinha sido um erro, mas então, depois ela me contou que havia feito de novo. –Falei tão baixo, que quase não pude ouvir a minha própria voz. Mas Edward ouviu, para o meu desespero.
Céus, eu queria fugir dali, porém, não estava conseguindo nem mesmo parar de mentir. O que havia de errado comigo? Eu finalmente estava conseguindo o que tanto lutei, mas aquele sentimento ruim não me deixava sentir nem um pingo de felicidade com o meu ato.
Edward acenou com a cabeça, parecia abatido o suficiente para sequer pensar em alguma coisa para dizer. Percebi o exato momento em que nossos olhares se cruzaram, então, sem dizer mais nada, apenas o envolvi em um abraço reconfortante.
Eu estava o consolando por uma coisa que nem era real. Meu Deus, eu realmente sou uma pessoa horrível.
— Por que ela fez isso comigo? –Perguntou em um tom melancólico, com a cabeça enterrada sobre o meu ombro.
— Eu não fiz nada, Summer! –Nancy exclamou, se levantando de supetão e ficando na minha frente.
Estávamos na arquibancada matando a primeira aula. Tive que me sentar naqueles degraus e encarar uma Nancy jamais vista antes por mim: transtornada, e ainda mais confusa que o normal.
— E então, de onde ele tirou isso? –Juntei todas as minhas forças e perguntei, enquanto apertava o tecido da minha calça mom jeans com as mãos.
— Eu não sei. –Ela passou as mãos em algumas mechas do seu cabelo que insistiam em se soltar do seu rabo de cavalo mal feito. — Eu só estava conversando com o Jason e... tá, em algum momento da conversa a gente se abraçou, mas foi só isso. Por que esse detalhe tem que significar uma possível traição?! –Me olhou, provavelmente esperando que eu dissesse alguma coisa, mas permaneci calada. Nancy deu um sorriso triste e então baixou o tom de voz. — Ele também abraça outras garotas. Poxa, ele também já te abraçou. Por que um abraço tem que ser um problema?
— Isso depende muito do contexto. –A olhei, e pela sua expressão, estava à um passo de chorar. — Ninguém abraça ninguém do nada, você entende, Nancy? —Ela acenou positivamente. Já eu, aproveitei para me levantar e ficar frente à frente com a garota. — É uma desculpa ridícula, eu sei, mas o Eddie pode ser tão idiota ao ponto de achar que você o está traindo, só porque te viu muito próxima de outro cara, coisa que você não é acostumada à fazer. –Suspirei. — Ou, na pior das hipóteses, ele se cansou de você, e só esperou aparecer qualquer pretexto para poder terminar. Sinto muito.
Forcei um sorriso singelo em direção à Nancy, que abraçava o próprio corpo em uma clara tentativa de confortar à si mesma.
— Você conhece ele há mais tempo que eu. Acha que... que ele cansou de mim?
Pobre Nancy...
— Sinceramente, acho. —Concluí enquanto tinha meu olhar fixo no chão, me recusando à olhá-la. Eu deveria achar aquela cena patética, mas ao invés disso, fiquei realmente com pena de Nancy. — Você é boa demais para ele.
E então, reuni coragem e a abracei, como se, de alguma forma fosse aliviar a minha culpa. Eu gostaria de dizer que havia feito aquilo para eu mesma me sentir melhor, mas a verdade é que fiz por Nancy, era o mínimo que eu devia fazer por ter estragado o que parecia ser a melhor coisa que havia acontecido à ela em muito tempo.
Ela retribuiu, me deixando ainda mais culpada, e mais certa de que se existisse um inferno, eu já havia garantido a minha passagem de ida.
Adentrei a sala e percebi que estava vazia, à não ser, é claro, por Stuart, que mexia em seu celular, e que ao me ver, logo baixou o olhar, como se eu não fosse ninguém.
Bem, eu duvidava que aquele sinal que o universo havia me dado pudesse ser mais claro.
Era a última aula do dia. Para ser mais específica, era a aula do Sr. Jones, e depois de presenciar Edward e Nancy agirem como estranhos durante todo o tempo em que estávamos aqui, e claro, de tentar me esconder de ambos e evitar contar mais mentiras, eu só queria alguém para conversar. Eu precisava de alguém que me fizesse esquecer toda a culpa que estava sentindo.
E ali estava ele. E como se eu não tivesse o controle dos meus próprios pés, passei à caminhar em sua direção.
— Fiz uma coisa horrível. –Puxei a cadeira ao seu lado e me sentei, o fazendo levantar o olhar para mim.
— Sério?
Não sei se foi impressão minha, mas senti um certo tom de sarcasmo na voz de Stuart. Por isso, franzi as sobrancelhas, o fazendo suspirar.
— Acho melhor você ir para o seu lugar, afinal, alguém pode nos ver. –Forçou um sorriso. Certo, ele estava sendo mesmo sarcástico.
Não me mexi, e então, vendo que eu não iria a nenhum lugar ainda, ele suspirou novamente e guardou o celular.
— Certo, o que você fez?
— Bem, eu... –Comecei com cautela, enquanto mexia com as mãos em meu colo. — Eu acho que eu posso finalmente ter conseguido separar o Ed e a Nancy.
Levantei o meu olhar para Stuart, que já me encarava fixamente, parecendo me analisar. Ele se ajeitou na cadeira e então olhou para os lados, só para pousar seu olhar em mim novamente.
— Meus... parabéns?! –Disse com cautela, franzindo a testa em um gesto confuso e fofo.
— Na verdade, acho que isso é a última coisa que eu mereço. –Ri sem humor, e novamente encontrei a confusão no olhar de Stuart.
— Você se esforçou e conseguiu, não é mesmo? –Sua expressão neutra, como se fizesse pouco caso de mim, me fez engolir em seco.
— Mas acho que não estou tão feliz como achei que ficaria. –Confessei e sustentei seu olhar por alguns segundos. Ele estava me julgando mentalmente, e eu sabia muito bem disso. — Não consegui fazer com que ele se apaixonasse por mim novamente. Eles terminaram por causa de uma mentira, e até mesmo o Jason está envolvido nisso.
— Não entendi. –Fiquei feliz quando Stuart demonstrou algum sentimento, mesmo que fosse de incredulidade. — Espera aí, o que o Jason tem à ver com isso?
— Edward acha que ele e Nancy estão juntos, por isso terminaram.
— E você, por acaso inventou isso... –Gesticulou pensativo, não era uma pergunta, na verdade, ele parecia estar tentando assimilar tudo.
— É, pois é. –Suspirei, dando de ombros. — Agora não sei o que devo fazer.
— Inacreditável. –Murmurou em um fio de voz, então me encarou com um olhar de decepção. — No fundo, você sabe o que deve fazer.
— O quê? Nem ferrando que eu vou contar toda a verdade, Edward me odiaria. –Falei rápido, o vendo arquear as sobrancelhas.
— Sinto muito, mas ele vai te odiar de qualquer forma, por que mesmo que você não conte, a verdade sempre aparece.
— Para com esse papo de escoteiro. –Retruquei, embora soubesse que talvez ele tivesse razão.
— Além do mais, –Continuou, ignorando meu comentário anterior. No entanto, a chegada do Sr. Jones, acompanhado de alguns alunos, fez Stuart parar e se virar para a frente. — Deixa pra lá.
Fiquei estática por alguns segundos, mas logo fui forçada a voltar para o meu lugar, enquanto as palavras de Stuart ainda ecoavam na minha mente.
Eu estava tão ferrada, mas nem morta iria contar a verdade para Ed e Nancy, e aquele definitivamente seria um grande erro.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro