38. Aquele com a Festinha do Pijama
Todos os dias no fim de semana, tentarei ser sua melhor amiga, tentando te entender
Vá em frente e perca o controle
Vivendo nos arredores, tentarei te entender...
(Chateau - Angus & Julia Stone)
Meus dias estavam seguindo calmos, por incrível que pareça, coisa que era difícil de acontecer nesses últimos tempos, já que sempre surgia um problema para eu resolver.
Marcus finalmente deixou de me perturbar com aquela história de vídeo, e por falar em vídeo, as vezes eu me pegava pensando no que Jennifer iria fazer à respeito da falsa informação que eu dei à ela. Céus, nem para se vingar a garota serve.
Eu havia perdido algumas aulas de literatura, e nas aulas que ia, mal fazia o que era proposto. Havia sido um erro ter entrado na turma avançada extracurricular, e ficou ainda pior depois de Stuart, quero dizer, era uma barra fazer aquela aula com ele, e ainda sermos parceiros nas aulas de artes, já que eu sempre sentia algo estranho no peito quando estávamos perto. Culpa, provavelmente. Eu pediria desculpas, se aquilo fosse fazer eu me sentir melhor, mas ele mal olhava na minha cara...
E aqui estava eu, em plena sexta-feira à noite, contrariando todo o meu ritual desses últimos anos, enfurnada no meu quarto, com ninguém menos que... Nancy.
Quando a convidei para dormir aqui, não fazia ideia de que ela iria aceitar, quer dizer, eu estava torcendo que não, mas para a minha surpresa, ela disse "tudo bem, acho que posso ir", e aqui estávamos nós, jogando conversa fora no quarto, enquanto todos os jovens da minha idade se divertiam fora de suas casas.
— Tem sorte que Genevieve, a namorada do meu pai, não veio aqui hoje. Ela com certeza iria querer fazer parte da nossa festinha do pijama. –Fiz careta, enquanto pintava a unha de Nancy de rosa.
— Ela parece ser bem presente, pelo menos. Queria que a minha mãe também fosse assim. –Nancy suspirou, enquanto segurava a minha almofada em formato de sol com a outra mão que estava livre.
Coloquei o pincel do esmalte dentro do frasco, então a olhei.
— Ela não é a minha mãe.
— Eu sei, claro. Escolha de palavras errada, me desculpe. –Por um momento, Nancy pareceu desconcertada, já que apertou a almofada e umedeceu os lábios, olhando para todos os lugares do quarto, menos para mim.
Céus, achei que estávamos superando aquela fase.
— Tudo bem. –Forcei um sorriso, voltando à pintar sua unha. — Na verdade, a Genevieve é bem intrometida, isso sim. Ela só finge ser alguém que não é.
— Você nunca quis isso? –Franzi as sobrancelhas e encarei Nancy de relance. Ela então começou a se explicar. — Quero dizer, ser outra pessoa... nunca pensou em ser alguém diferente, nem que fosse só por um dia?
— Não. –Respondi de imediato, mas logo me calei por alguns segundos, pensando em tudo, e em nada ao mesmo tempo. — Não mesmo. Eu já tenho tudo o que preciso.
Nem tudo.
— Mas e você?
— Ah, não sei... –Falou lentamente e mexeu os ombros. Nancy ficou alguns segundos em silêncio, e eu decidi não intervir, já que poderia borrar sua unha, e sinceramente, não iria ter paciência para começar de novo. — Uma vez fizeram O Mágico de Oz na minha antiga escola, eu queria tanto ter sido a Dorothy, mas não tive coragem nem de fazer o teste.
— Puxa, que chato. –Lamentei, enquanto me atentava à tirar os borrões ao redor da unha dela. — É uma pena, se pararmos para pensar, já que estamos no último ano, e você não vai ter mais chance de participar de nenhuma peça.
— Tem razão. –Suspirou baixo, parecendo pensativa.
Terminei de limpar as unhas de Nancy e então a olhei, abrindo um sorriso.
— Bem, mas a notícia boa é que você pode ser quem você quiser na festa de Halloween da Susan.
— Não! –Nancy choramingou, deitando a cabeça na almofada de forma dramática.
— Sim! –Retruquei, realmente me divertindo com a situação. Seria um tanto curioso vê-la em uma festa daquele tipo.
— Festas não são bem a minha praia. No dia trinta e um, eu só quero maratonar meus filmes de Halloween preferidos. É uma tradição que nós temos, eu e a minha irmã. Nós tínhamos. –Ela foi abaixando o tom de voz conforme a frase se encerrava, perdendo o brilho aos poucos.
— Bem, sua irmã não está mais aqui, então você pode descobrir outras formas de se divertir. –Falei calmamente, então a olhei. — Se não fizer por você, faça por ela. Ela gostaria de te ver feliz.
Aquela frase chegava à ser clichê em níveis extremos, no entanto, pareceu confortar Nancy, já que ela sorriu, e foi mais que suficiente para que eu ficasse satisfeita e desse um fim naquele assunto.
— Então, também está tendo um deja vu?
Com cara de poucos amigos, encarei o dono daquela pergunta, sentindo uma vontade imensa de fazê-lo engolir o pincel que estava em minhas mãos.
Relaxei os ombros e suspirei baixo, tentando ficar mais calma com o fato de que, mais uma vez, o professor de matemática fez com que Jason e eu fôssemos resolver alguns cálculos na lousa. A diferença é que desta vez eu realmente sabia como responder.
— Então, como vai o Stuart? –Perguntei sem olhá-lo, me surpreendendo pela minha incrível concentração em resolver uma questão e trocar conversa fiada ao mesmo tempo.
Pelo canto do olho, percebi Jason me olhar por alguns segundos. Ou ele estava admirando a minha beleza, ou estava extremamente incrédulo com a minha cara de pau. Bem, acho que a segunda opção era mais provável, embora a primeira também não fosse impossível.
Ele soltou um longo suspiro, voltando à prestar atenção na lousa novamente.
— Depois de você ter feito ele de gato e sapato?! Acho que bem, na medida do possível.
Balancei a cabeça, sem saber direito o que dizer.
O professor se encontrava sentado em sua mesa, tão distraído que nem parecia sequer existir, e o restante da sala estava conversando, alheios ao que estava acontecendo fora de suas bolhas.
— Sabe, –A voz de Jason me fez olhá-lo, e para minha surpresa, o garoto já me encarava, com o seu corpo voltado para mim, provando que eu tinha a sua atenção. — Por um momento, de verdade, –Ele gesticulava com as mãos enquanto falava. — Eu achei que você tivesse mudado, até torci para isso, admito, mas agora vejo que estava incrivelmente enganado. Pessoas como você não têm conserto.
Estreitei os olhos em sua direção, o encarando quase que de uma maneira irônica. Fiz um estalo com a língua, enquanto a minha mente parecia ter se desligado, e eu não havia pensado em nada para dizer. Mas, para a minha surpresa, ou para o meu azar, Jason voltou à falar:
— E eu não consigo ficar próximo de alguém assim, digo, não por vontade própria, pelo menos.
— E quem disse que eu tenho interesse em ter algum tipo de vínculo com você? –Finalmente consegui falar, então olhei para os lados rapidamente e me aproximei de Jason, baixando o tom de voz, de modo que só ele conseguisse escutar o que eu diria à seguir. — Você só era o amigo do meu falso namorado, se toca.
Ele sorriu amargamente, acenando com a cabeça.
— Touché.
E então, o barulho que indicava o final da aula preencheu toda a escola. Jason foi o primeiro à se retirar, primeiro até que os alunos que estavam sentados sem fazer nada. Tive vontade de pedir que ele dissesse à Stuart que eu sentia muito por tudo, mas aquelas palavras não adiantariam de nada, então fiz o que estava fazendo de melhor nesses últimos dias: ignorei um problema que estava bem na minha frente.
Meu pai combinou de me buscar na escola para irmos em uma loja de fantasias escolher a minha roupa para a festa de Halloween.
Era estranho, bem estranho. Normalmente eu fazia aquilo com Jennifer e Susan, e não com o meu pai. Céus! Como eu iria poder escolher uma fantasia sexy que destacasse a tremenda gostosa que eu sou, com o meu pai bem ao meu lado?!
— Que tal essa aqui? –Ele me mostrou um vestido azul de princesa, provavelmente da Cinderela.
— Não viaja, pai!
— Pelo que eu me lembro, você adorava essas fantasias de princesa. –Ele respondeu confuso, colocando o vestido no lugar.
— É, quando eu tinha uns nove, dez anos. –Respondi com sarcasmo.
— Pelo amor de Deus, você não quer aparecer na casa da família do seu namorado vestida de coelhinha, não é mesmo?!
Encarei a tiara com orelhas de onça nas minhas mãos, e então a coloquei no lugar, franzindo levemente as sobrancelhas.
Ah, um pequeno detalhe: eu não havia contado que havia terminado o meu "namoro", e muito menos, que iria para uma festa com um bando de adolescentes irresponsáveis. Céus, meu pai nunca permitiria aquilo, então, por via das dúvidas, no Halloween eu estaria com Stuart e a irmã dele pedindo doces.
Eu estranhamente senti vontade de levar aquela fantasia de onça com qualidade duvidosa, e o mais estranho, é que o motivo de tal desejo era o fato daquela fantasia ser o mais perto de uma tigresa.
Suspirei olhando para os lados, até que avistei uma fantasia interessante, então caminhei em passos largos até ela. Era o conjunto com a roupa e sapatos da Dorothy, de O Mágico de Oz.
— Excelente escolha, solzinho. –Meu pai se aproximou sorrindo. Ele estava enganado se pensava que aquela fantasia era para mim.
— É a cara da Nancy. O que acha? –Mostrei a roupa para ele, notando sua expressão confusa. — A garota que dormiu lá em casa no fim de semana.
— Quer saber o que eu acho? –Arqueou uma das sobrancelhas, então esboçou um sorriso. — Acho que ela parece ser uma boa garota, vocês deveriam sair mais vezes. –Então bagunçou o meu cabelo, me fazendo revirar os olhos disfarçadamente.
— Você não sabe de nada. –Murmurei baixinho, aproveitando que o meu pai já estava na frente, então suspirei e o acompanhei.
Alguns minutos se passaram e eu finalmente consegui escolher a minha fantasia, e depois de mais alguns minutos de luta, finalmente consegui persuadir meu pai à me deixar levá-la para casa.
Por mais que tenha sido algo simples, gostei de passar aquele tempo com ele. As vezes eu tinha a impressão de que passávamos meses sem nos ver, e olha que morávamos na mesma casa, imagine só quando eu fosse para a faculdade... Não, não, não, por mais que eu odiasse o ver com Genevieve, e que as vezes ele fosse chato pra caramba, era o meu pai, afinal de contas, e eu não podia odiá-lo, nem que eu quisesse.
Depois de sairmos da loja, meu pai me deixou em casa e foi para o trabalho. Bem, pelo menos ele prometeu que jantaria em casa. E por incrível que pareça, cumpriu sua promessa.
Agora eu estava sentada na mesinha do meu quarto, terminando de fazer a lição de casa, quando a vibração no meu celular chamou a minha atenção. Estiquei a mão e o segurei, tendo uma pequena surpresa quando liguei o visor e vi a notificação de uma mensagem de Edward.
Mordi os lábios, sentindo todo o meu ser se encher de curiosidade, e ao mesmo tempo fiquei relutante, já que, do jeito que as coisas iam, Edward poderia muito bem ter descoberto algo desagradável à meu respeito, e talvez eu não reagisse muito bem à outra rejeição dele.
Por fim, resolvi clicar na mensagem de uma vez, e fiquei ainda mais abismada ao ler o que continha:
"Oi, tô na frente da sua casa. Posso falar com você?
Por favor, preciso da sua ajuda"
Eram quase oito e meia da noite. O que diabos ele queria?!
Suspirei novamente, então o respondi com um "ok". Dei uma olhada rápida no espelho e passei um hidratante labial, só para garantir, antes de sair do quarto.
Por sorte, a sala estava vazia, então saí de casa sem dificuldade, e o melhor, sem ter que explicar para alguém o que eu iria fazer. Mesmo estando agasalhada, senti frio no momento em que caminhei em direção ao portão, mas por sorte, avistei o carro de Ed há poucos metros.
Não demorou para que ele notasse a minha presença, e se esticasse para o lado, abrindo a porta do passageiro para mim, antes que eu sequer tivesse encostado nela.
— E dizem que o cavalheirismo morreu... –Falei sorrindo, me repreendendo mentalmente em ter o elogiado por fazer o mínimo, mas tudo bem, eu podia colocar a culpa no frio que estava congelando o meu cérebro e me impossibilitando de raciocinar direito.
Fiz careta, me aproveitando de que ele não veria, graças à pouca luz no ambiente, e então finalmente entrei no carro, sentindo meu corpo agradecer por estar de volta à um ambiente aquecido.
— Obrigado por ter vindo. –Edward disse, com as duas mãos segurando o volante, enquanto o seu olhar se mantinha vago em algum ponto qualquer.
— E então... –O incentivei à falar o que ele queria. Detestava rodeios.
— A Nancy.
Edward finalmente me olhou, e eu pude ter um vislumbre do seu rosto, que parecia abatido por sinal. Mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele envolveu seus braços em mim, me deixando paralisada com aquele ato totalmente inesperado, e ainda com os braços abertos, sem saber direito como retribuir.
Mas diante de toda aquela confusão, vários questionamentos tomaram conta da minha mente. Afinal, o que havia rolado entre ele e a Nancy, brigaram, terminaram?!
Oh, céus! E o pior de tudo, é que agora eu não havia feito nada.
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