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34. Aquele com o Jogo e a Playlist

Eu sei que me senti assim antes
Mas agora eu estou sentindo ainda mais, porque isso veio de você
E então eu abro os olhos e vejo que quem está se apaixonando aqui sou eu...

(Dreams - The Cranberries)

As paredes do quarto de Stuart eram em um tom claro de verde. Na mesinha ao lado da cama, além da caixa de fotos que estávamos olhando há alguns minutos, também se encontravam alguns livros.

Talvez o grande defeito de Stuart seja a sua desorganização, e eu concluí isso devido a algumas peças de roupas jogadas na sua cadeira de escritório. Bem, algum defeito ele tinha que ter, afinal.

Em algum ponto da parede, havia o desenho de uma mão, que Stu provavelmente desenhou quando era mais novo, ou não, tanto faz. O desenho era quase minúsculo, do tipo que passaria batido para quem quer que entrasse em seu quarto, mas como eu já estava há bastante tempo ali, principalmente pelo fato de estarmos transando em sua cama, eu meio que pude perceber até os mínimos detalhes.

Assim que chegamos ao ápice, saí de cima de Stuart e deitei ao seu lado, de barriga para cima. Puxei o lençol para me cobrir, então passei a olhar para o teto, enquanto sentia o meu peito subir e descer, ainda com a respiração ofegante.

— Nossa, isso foi...  –Stuart começou, com a voz fraca. Arrisquei olhar em sua direção, ele sorria com os olhos fechados.

— Estranho.

— Incrível.

Falamos ao mesmo tempo, e por um segundo eu tive vontade de cavar um buraco e me esconder. Notei quando Stuart abriu os olhos, e então se virou em minha direção, apoiando um dos cotovelos no colchão.

Antes que ele perguntasse alguma coisa, logo me prontifiquei em explicar:

— O que eu quero dizer é que,  –Limpei a garganta, enquanto apertava a ponta do lençol com as mãos. — É estranho no sentido de eu nunca imaginar que um dia nós estaríamos... assim.

O olhei pelo canto do olho, vendo o exato momento em que um sorriso escapou dos lábios de Stuart, o fazendo relaxar a sua expressão corporal.

— Parece irreal.  –Ele deu um suspiro baixo e então arregalou levemente os olhos, como se acabasse de lembrar de algo.  — Me belisque, só assim eu posso ter certeza se estou sonhando ou não.

À princípio, franzi as sobrancelhas diante do seu pedido inusitado, mas então fiz o que ele pediu, arrancando um grunhido de Stuart, que me fez rir.

— Uau.  –Ele arfou, enquanto massageava o braço que eu havia acabado de beliscar.

— Então, acredita agora?

— Na verdade, ainda tenho algumas dúvidas, talvez passe se você me beijar.

Levantei um pouco o corpo, com uma expressão surpresa enquanto o olhava. Já Stuart, possuía um sorriso brincalhão no rosto.

— Desde quando você ficou tão abusado?

Ele deu de ombros, ainda sorrindo. Revirei os olhos e mesmo assim me aproximei dele, mas antes que a minha boca pudesse de fato encostar na sua, lembrei de um pequeno detalhe, quer dizer, nem tão pequeno assim.

— Escuta, que horas são?  –Perguntei, me afastando para olhá-lo.

Stuart abriu lentamente os olhos, e eu tive vontade de rir e de beijá-lo só por consolação quando vi o biquinho formado em sua boca. O observei arrastar a sua mão até a mesinha ao lado da sua cama e pegar um relógio.

— Hum, seis e sete.  –Murmurou.

— Droga.  –Praguejei enquanto levantava da cama em um pulo. Catei as minhas roupas no chão e comecei à vesti-las.

— Sabe que ainda temos um tempo livre antes do jogo, não é?!  –Escutei Stuart perguntar em um tom preguiçoso. Ao olhá-lo, percebi que o garoto estava com a cara amassada contra o colchão.

— Eu teria, se não tivesse que encontrar Nancy antes.

Fechei o zíper do meu vestido e me virei para ele, o vendo franzir a testa.

— Você não vai arrumar um jeito de humilhá-la na frente dos outros não, né? Seria muito deselegante.

— Nossa, como eu não pensei nisso antes?!  –Questionei em um tom sarcástico, enquanto percorria o meu olhar pelo quarto, em busca de todos os meus pertences.  — Certamente, se não tivesse dito isso, nem passaria pela minha cabeça.

— Só estou dizendo. Nancy parece ser  uma boa garota.

— Hum.  –Murmurei com a cabeça baixa, enquanto sentava na cama calçando os meus sapatos, mas acabei parando, ao me dar conta do que ele havia falado.

"Ela é uma garota legal, Summer."

Foi inevitável não ouvir mentalmente a voz de Edward proferindo aquilo com tanto entusiasmo. E aconteceu nos dias em que eles estavam bastante próximos, e eu mal imaginava a dor de cabeça que iria me causar.

— Que foi?

— Nada.  –Respondi, voltando ao que estava fazendo. Assim que terminei, me levantei da cama, colocando a minha bolsa no ombro, e ajeitando o cabelo com a mão livre.  — A gente se vê mais tarde na escola.

— Eu mal posso esperar.

Esbocei um sorriso.

— Bom saber.

Assim que cheguei em casa, meu pai praticamente me obrigou à jantar, com o argumento de que se eu não comesse nada e desmaiasse de fome na frente da escola inteira, não seria legal. E ele estava certo, eu não precisava desse tipo de atenção na minha vida.

Quando terminei, corri para o banheiro para tomar um banho quente, e quando terminei, fiquei tentada entre escolher uma roupa do tipo "sexy sem ser vulgar", ou se escolheria ir bem agasalhada, já que a noite estava fria.

Marla, como sempre, escolheu a segunda opção. Mas, eu decidi juntar o útil ao agradável: coloquei um cropped preto, acompanhado por uma jaqueta e saia xadrez, que cobria apenas metade das minhas coxas. Já nos pés, optei por uma bota preta que chegava até os joelhos.

Provavelmente eu ainda sentiria um pouco de frio, no entanto, estava estilosa.

Ao terminar a maquiagem, dirigi até a escola, me sentindo uma tremenda gostosa.

Depois de descer do carro, passei à caminhar em passos despreocupados até a entrada da escola, e com um bom humor surpreendente, acenei para aqueles que paravam para admirar a minha beleza, até que meu sorriso morreu um pouco quando encontrei Nancy parada no corredor principal, com cara de morta.

— Meu Deus, você parece abatida.  –Falei ao chegar perto dela.

A garota me olhou, e eu pude observar melhor ela de perto. Embora seu uniforme estivesse bem arrumado, assim como o seu cabelo, seu rosto estava pálido, o que me fez incorporar meu espírito de chefe da equipe de torcida.

— Está tão na cara assim?  –Nancy apontou para si mesmo, com uma preocupação genuína.

— Por sorte, eu sempre ando preparada.  –Dei algumas batidas na minha bolsa, e então segurei as mãos de Nancy.  — Vem, vamos ao banheiro.

Para a nossa sorte, ou somente de Nancy, — já que nada daquilo era problema meu, para falar a verdade —, o banheiro estava vazio, o que faria com que eu a arrumasse com calma, exceto pelo fato de que em alguns minutos o jogo começaria.

— Então, está tranquila com as dicas que eu te dei naquele dia?  –Perguntei enquanto mexia na minha bolsa, até que finalmente encontrei um corretivo para passar na pele de Nancy.

— Eu estou, na medida do possível, é claro.  –Respondeu com um risinho baixo, embora eu notasse uma aura diferente ao redor dela.

— Sério? Não parece.  –Apontei calmamente. Terminei de aplicar o produto em sua pele e então fucei em minha bolsa novamente, em busca do delineador.

Nancy suspirou. 

— Fecha os olhos.  –Pedi, e então ela o fez de imediato.

— Bem, é que os meus pais pensam que eu só virei líder de torcida para tentar parecer mais com a minha irmã mais velha...

Quase abri a boca em surpresa quando Nancy começou à falar. De alguma forma, parece que o simples ato de fechar os olhos deu uma estranha coragem à ela.

— Não brinca...  –Comentei, a incentivando para que ela continuasse.

— Parece que é só nesse momento que eu existo para eles, quando eles precisam me comparar com ela.

Tive que segurar o rosto de Nancy com um cuidado à mais, já que ela parecia tremer um pouco, e eu não estava afim de borrar o seu olho e ter que começar de novo.

— Quer um conselho?  –Não esperei que ela respondesse.  — Se supere, tente ser melhor que a sua irmã, e só assim eles param com isso.

Talvez esse seja um dos motivos de eu não querer ter um irmão nunca: odeio comparações. Odeio dividir atenção.

— Ela morreu há alguns meses.

Paralisei diante daquela nova informação, tanto que, segurei o delineador no ar, e Nancy abriu os olhos. Ela suspirou, parecendo escolher as palavras com cuidado.

— Foi em um acidente de carro, e morar na mesma casa estava sendo um inferno, tanto que nos mudamos para cá, mas parece que nada mudou.

— Eu sinto muito por ter falado aquilo.  –Fui sincera, e pude perceber que Nancy se forçou a sorrir, enquanto seus olhos ameaçavam transbordar.

— Tudo bem, você não sabia.  –Respondeu, abraçando o próprio corpo. E era como se a coragem dela tivesse evaporado, já que agora eu aparecia estar falando com a velha Nancy.

— Esquece isso, ok?  –A olhei com pena. Eu não saberia lidar com uma possível crise de choro de Nancy agora.  — Escuta, eu vou terminar de te arrumar, e você vai arrasar naquele campo.

Ela assentiu com a cabeça, e não falamos mais nada enquanto eu a arrumava.

Quando terminei tudo e passei um batom super vermelho em Nancy, ela se virou em direção ao espelho, enquanto eu guardava as coisas na minha bolsa. Escutei a porta ser aberta, e as vozes de Susan e Jennifer rindo preencheram o banheiro. Era só o que me faltava.

Olhei na direção delas, percebendo que pararam de rir e a agora nos olhavam com curiosidade.

— Summer, oi.  –Susan foi a primeira à cumprimentar, enquanto nos lançava um olhar significativo, considerando o que havíamos feito há alguns dias. Acenei com a cabeça como um cumprimento.  — Nancy, a gente estava te procurando, vem, vamos nos aquecer, sua...  –Ela olhou a garota dos pés à cabeça.  — Grande gostosa. Uau.

— Bom, foram só uns ajustes.  —Me gabei, vendo que Nancy olhava envergonhada para Susan.

— Eu acho que um casal vai se dar bem hoje.  –A de cabelos negros cantarolou, enquanto puxava a outra para fora do banheiro.

Ainda deu tempo de Nancy olhar para trás e murmurar um "obrigada". Abanei as mãos com um gesto de que não havia sido nada, então a porta do banheiro se fechou.

Meu olhar parou em Jennifer, só para notar que ela já me olhava com um semblante desconfiado. A loira oxigenada estalou a língua e então caminhou em direção ao espelho ao meu lado, enquanto nós duas, duas narcisistas, tentávamos corrigir erros inexistentes em nossas imagens refletidas no espelho.

— Quem diria, não é mesmo?  –Escutei a loira murmurar em um tom quase irônico.

— O quê, exatamente?  –Arqueei uma das sobrancelhas, olhando Jennifer pelo espelho.

Ela deu de ombros.

— Você sendo amiga da pessoa que mais odeia.  –Respondeu calmamente, enquanto se virava para mim.

— Bem, você foi minha amiga por um tempo, acho que não tem muito direito de falar isso.  –Sorri ao ver a expressão dela mudar por um instante.  — E tá tudo bem se enganar com alguém de vez em quando.

— Summer, eu...  –Arqueei as sobrancelhas, esperando que ela continuasse.  — Sinto muito por o que fiz na festa.

— Ah, você sente?  –Sorri ironicamente, sentindo um certo desconforto quando ela mencionou aquela noite, que por sinal, já não me perturbava há muitos dias.

— Mesmo que você seja uma babaca na maioria das vezes, eu não tinha o direito de tentar ser pior que você.

Acabei rindo com aquilo.

— Isso é um pedido de desculpas, Jennifer?  –Um misto de sentimentos tinha tomado conta de mim, e indignação era um deles.

— Sim, embora eu não devesse, já que, se eu bem me lembro, você nunca pediu desculpas por tudo o que já fez comigo.

Revirei os olhos com aquele teatrinho de quinta categoria de Jennifer. Céus, nem para ser dramática ela servia.

— Bom, eu vou indo.  –Ela começou à se afastar, um sorriso convencido surgindo em seu rosto mais uma vez.  — Tomara que veja o bom trabalho que eu estou fazendo com a equipe.

— Vocês nem se apresentaram ainda.  –Retruquei baixo, enquanto revirava os olhos.

Jennifer saiu do banheiro, parecendo não ter ouvido o meu comentário. Já eu, apenas dei de ombros e então fiz o mesmo.

Após chegar ao local do jogo, que por sinal, já estava lotado, senti uma leve nostalgia ao ver os alunos na arquibancada gritando ansiosos para o início do jogo, as garotas da equipe embaixo, já se preparando para se apresentarem, e os garotos do time na beirada do campo. Aquilo me fazia lembrar da minha época de ouro naquela escola.

Corri o olhar pelo lugar, então avistei Stuart sentado mais à frente. Dei um jeito de passar para chegar até a fileira dele, então me espremi entre os alunos, até que finalmente parei ao seu lado.

— Oi.  –Falei um pouco alto, por conta de toda aquela barulheira.

Stuart olhou em minha direção, e como se alguma lâmpada tivesse se acendido nele, o garoto deu um sorriso, deslizando pelo banco e cedendo um lugar para eu sentar.

Quase revirei os olhos quando notei Jason ao lado dele, no entanto, ele me olhou e não disse nada, nem mesmo nos "cumprimentamos" ou trocamos farpas, o termo que melhor servir, o que facilitou a minha noite.

— Só você mesmo pra me fazer vir à um jogo.  –Ele disse quando eu me sentei ao seu lado, muito próximo da minha orelha. Eu me arrepiei, mas podia muito bem culpar o frio por aquele movimento involuntário.

— Deixa eu adivinhar, você tinha alguma coisa melhor para fazer?  –Perguntei com um leve sorriso, enquanto percorria o meu olhar pelo campo.

— Maratonar filmes de terror conta como uma coisa melhor?

Não precisei olhar Stuart para saber que ele sorria. No entanto, não tive tempo de respondê-lo, já que uma música familiar ecoou por todo o local, fazendo grande parte dos alunos se calarem.

Sob o comando de Jennifer, as líderes de torcida começaram a sua clássica abertura de todo jogo. A música escolhida dessa vez foi Funkytown¹, eu já devia imaginar, já que Jennifer vivia me perturbando para dançarmos essa música em algum jogo. Bem, agora ela conseguiu, afinal de contas.

Nancy estava se saindo bem, eu tinha que admitir. Talvez a música também tivesse favorecido, já que não exigia movimentos muito rápidos, o que era prefeito para ela.

Será que Edward estava orgulhoso dela?

Quando elas terminaram, e o jogo então começou, tudo pareceu estranhamente entediante. Quero dizer, torcer estando na beira do campo tinha muito mais emoção do que estar na arquibancada, mal podendo respirar por estar cercada por várias pessoas gritando à toda hora.

Jason havia ido ao banheiro, e Stuart não conseguia esconder a sua cara de tédio, mesmo que as vezes fingisse que estava entendendo, e me lançasse comentários de coisas que eu obviamente já sabia, e estava vendo bem na minha frente.

Eu também estava ficando entediada, tanto que, cutuquei levemente o braço dele, o fazendo se virar em minha direção.

— Quer dar o fora daqui?

— Era tudo o que eu queria ouvir.

Sorrimos.

— Eu não acredito que ele colocou essa.  –Stuart disse rindo.

Havíamos passado em uma lanchonete, e agora estávamos no meu carro, no estacionamento da escola, ouvindo o pendrive com a playlist que o pai de Stuart fez para a gente, enquanto comíamos.

A música em questão, era Be My Baby², das The Ronettes.

— Fofa, embora seja mais velha que o meu pai.  –Comentei, colocando uma batata frita na boca logo em seguida. Acho que comer frituras uma vez ou outra não iria me matar.

— E daí? Música não tem data de validade.  –Stuart retrucou calmamente, o que me fez dar de ombros. Ele tinha razão.

— Você tem razão.  –Reforcei.  — Mas eu acho que ela não combina com a gente.

— Concordo.  –Falou, levando o copo de refrigerante à boca, o sugando com o canudo.

O clima entre nós até que estava... bem, formidável. Nem parecia que havíamos transado mais cedo. É claro que eu não poderia aparentar indiferença quanto àquilo, mas também não estava igual à uma tonta nervosa, tremendo toda vez que ele me tocasse. Embora eu quisesse que ele me tocasse.

— Eu adorava assistir Dirty Dancing quando era mais novo, foi lá que eu ouvi essa música pela primeira vez.

Molhei a batata frita no ketchup, então o olhei, enquanto a levava lentamente à boca.

— Então esse foi o filme da sua infância?  –Perguntei, o fazendo paralisar com o copo de refrigerante no ar por alguns segundos, parecendo pensar.

— Não sei.  –Respondeu por fim, me fazendo rir com a sua expressão.  — Qual foi o seu?

Olhos Famintos.  –Disse. Stuart me olhou, com as sobrancelhas levemente franzidas.  — Eu sempre detestei aqueles romances água com açúcar, daí uma noite eu estava com a minha babá, Goldie, acho que ela tinha uns vinte, vinte e um, sei lá...

— Achei que a Marla era a sua babá.  –Comentou, então umedeceu os lábios depois de ter bebido seu refrigerante.

— Depois que a minha mãe foi... viajou, meu pai achou que nem a Marla, muito menos ele, dariam conta de cuidar de mim sozinhos, então foi aí que a Goldie entrou. Enfim, uma bela noite, enquanto ele estava em um jantar com alguns sócios, Goldie, amante de filmes de terror, teve a brilhante ideia de colocar o dvd de Olhos Famintos para assistir.

— Sabia que lá em casa a gente ainda assiste em dvd?

— Não duvido, considerando o quanto você é desatualizado.  –Apontei em tom de riso. Stuart colocou a mão no peito, fingindo estar magoado, mas logo riu também e pediu para que eu continuasse.  — Ela pensou que eu estava dormindo, é claro, então foi ver na sala. O que ela não contava é que eu estava bem acordada, e que faria birra para que ela deixasse eu assistir junto. Então aconteceu que, eu tive pesadelo àquela noite, e pensei naquele filme por anos. Foi o meu primeiro trauma.

Ocultei a parte em que fiz o meu pai achar que Goldie me forçava à assistir filmes de terror com ela para me assustar, e que claro, resultou na sua demissão. Na época, eu havia ficado satisfeita, já que estava de saco cheio que ela sempre levasse o namorado nas nossas noites de cinema. Só para constar, eu me arrependia de ter feito aquilo.

Talvez eu não tivesse sido uma criança boazinha, isso explicaria o fato de o Papai Noel nunca ter me visitado. Supondo que ele existisse, é claro.

Fiz uma careta ao escutar a música melosa que estava tocando, então olhei Stuart.

— Não tô afim de ficar a noite inteira dentro desse carro. Que tal irmos ao Píer?

— Tá legal.  –Ele acenou com a cabeça.  — Só me deixa jogar isso aqui no lixo antes.  –Apontou para as embalagens e os copos de refrigerantes, e antes que eu dissesse mais alguma coisa, abriu a porta do carro e saiu, caminhando para a lixeira mais próxima, que ficava em frente à escola.

Aproveitei para ajeitar o retrovisor do meu carro e fazer alguns retoques na minha maquiagem. Quando Stuart voltou, eu estava acabando de passar o batom, então umedeci os lábios, o espalhando, e fechei a embalagem, encarando o garoto que se sentava ao meu lado.

— Você sabe que fica linda, mesmo descabelada, com a maquiagem borrada ou com a falta dela, com as piores roupas possíveis, ou sem elas, certo?!

— Aposto que você adorou essa minha versão, não é mesmo?  –Sorri, enquanto me encostava no banco, vendo Stuart abrir um sorriso e olhar para a frente.

Aquela havia sido a primeira vez que havíamos tocado naquele assunto, mesmo que indiretamente.

— Não nego. E embora eu não estivesse me referindo à isso, caiu como uma luva.

Sorri enquanto ligava o carro, e coincidentemente, a música que começou à tocar, depois que eu havia passado da música anterior, era Woudn't It Be Nice³, dos Beach Boys.

Olhei quase que imediatamente para Stuart, que me encarava com curiosidade.

Wouldn't it be nice if we were older? Then we wouldn't have to wait so long...  –Comecei à cantarolar, com o carro já em movimento, fazendo Stuart alargar o sorriso.

— Você conhece Beach Boys?

Por mais impressionado que ele parecesse, sua pergunta foi como se ele questionasse se eu conhecia a praia. Acabei rindo com aquilo, e então respondi como se fosse bem óbvio:

— Querido, eu moro na Califórnia.

E então, cantamos juntos, à todo pulmão, boa parte do percurso, já que logo depois de terminar aquela música, mais duas dos Beach Boys tocaram, e depois, numa total quebra de clima, começou uma música um tanto quanto depressiva, que fez Stuart questionar se o objetivo do pai dele era nos ver felizes ao escolhermos uma música para a gente, ou que chorássemos abraçados em posição fetal, se é que isso fosse possível.

Bem, eu tinha que admitir que as duas opções eram tentadoras, embora uma delas fosse bem embaraçosa.

Eu me sentia como uma protagonista tonta de comédia romântica. Céus, à que ponto havia chegado?!

Stuart e eu estouramos a nossa cota de coisas clichês que um casal pode fazer: cantamos no carro, andamos de mãos dadas em um parque, caminhamos descalços na areia da praia, comemos algodão doce e andamos na roda gigante. Agora, nos encontrávamos parados, lado a lado, enquanto ouvíamos uma espécie de banda de garagem, começarem os primeiros acordes de Please, Please, Please, Let me Get What I Want⁴, do The Smiths.

Naquele momento, meu corpo se encontrava na mais profunda paz de espírito, como eu não me sentia há algum tempo. Eu sentia como se devesse estar ali, de corpo, alma e coração, não havia outro lugar em que eu quisesse estar, nem outra pessoa.

Era ali. Com Stuart.

Arrisquei olhar na direção dele, vendo uma expressão serena e de fascinação transbordar de seus olhos. Voltei à olhar para a frente, enquanto desejava que ele também estivesse pensando o mesmo que eu, que sentisse o que eu sentia, mas isso eu nunca iria descobrir.

Havia mais algumas pessoas apreciando a música ao redor, alguns casais, mas isso não me importava. Por isso, fechei os olhos, como se pudesse absorver ainda mais aquela sensação.

Logo pude sentir meu dedo roçando com o de Stuart, como se eu tivesse levado um pequeno choque com aquele ato. Nossos dedos pareciam dançar num ritmo só deles, enquanto nós nem mesmo saíamos do lugar. Antes mesmo da música acabar, desejei loucamente segurar a sua mão, como se a minha vida dependesse daquilo, exagero, eu sei, por isso me arrependi mentalmente por estar sendo tão dependente de alguém assim.

Mas ele o fez.

Stuart segurou a minha mão, da mesma maneira que eu queria segurar a sua.

Playlist do capítulo:

¹


²


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