33. Aquele com as Polaroids
Ele está explorando o gosto da excitação dela, tão precisa
Ele ressalta a beleza nela
Ele é Vênus, Vênus em forma de menino
Ele acredita em uma beleza, ele é Vênus em forma de menino...
(Venus As a Boy - Björk)
Olhei a folha em branco na minha frente, sem fazer nenhuma noção do que escrever. Por pouco não havia começado à roer as unhas.
Estava na aula extracurricular de literatura, e o Sr. Jones deixou todos livres para escrever sobre aquilo que quisessem. Eu ainda estava em dúvida se achava o máximo não me prender à um gênero que não gostava, ou se entrava em pânico por não fazer a mínima ideia do que escrever.
Maldita hora em que eu decidi entrar nessa aula. Aliás, o que me deu na cabeça para tomar essa decisão estúpida?! Ah, claro, no momento em que eu larguei a equipe de torcida por pura birra, e entreguei de mãos beijadas para aquela tapada da Jennifer.
Não que eu morresse de amores em ser animadora de torcida, mas aquilo tinha lá seus benefícios, e ainda conseguia ser melhor do que ficar enfurnada em uma sala, queimando meus neurônios e recebendo olhares ameaçadores da louca do Shakespeare.
Funguei, como se aquilo fosse me fazer ter alguma inspiração. Corri os olhos pela sala de aula, vendo que todos tinham a cabeça baixa, com certeza colocando suas ideias na folha. O barulho do lápis deslizando sobre o papel chegava a ser desesperador.
O Sr. Jones se encontrava na sua mesa, parecendo concentrado enquanto lia um livro sei lá de quem.
Meu olhar encontrou Stuart na fila ao lado da minha, sentado à três carteiras de distância. Seu semblante era sereno, ao mesmo tempo em que parecia que sua cabeça estava fervendo, por causa da sua caneta rabiscando a folha com certa rapidez.
Desci o olhar até seus dedos segurando firmemente a caneta, me fazendo concluir que eu gostava deles, e adoraria que estivessem percorrendo a minha pele naquele momento.
Stuart parou de escrever, mas eu continuava o analisando, inclusive, vi o exato momento em que ele umedeceu seus lábios rosados, e em seguida mordeu o lábio inferior, fazendo o meu corpo se arrepiar por inteiro, com aquele simples gesto.
Me virei para a frente novamente. Sentia como se tivesse acabado de receber uma descarga elétrica.
Ele era sexy, de um jeito até estranho, e parecia não fazer a mínima ideia daquilo.
Fechei os olhos, enquanto flashes dos momentos com Stuart começavam à me atingir com certa brutalidade. Lembrei dele dirigindo, de como era fofo quando parecia perdido ou entediado, por mais que isso também me irritasse, e de como sua camisa subiu uma vez, deixando uma pequena parte da sua barriga à mostra, enquanto ele se espreguiçava.
Abri os olhos, só para encarar o papel em branco novamente. Aquilo era loucura, mas acabei deixando que os meus pensamentos saíssem em forma de palavras.
"O que há de errado com você? E o que há de errado comigo, que passei à te desejar completamente, loucamente, e todos os 'mente' que possam vir à existir?
Você não tinha esse direito... O que pensa que está fazendo? Por favor, arranque essa sementinha que cresce em mim toda vez que te olho, toda vez que..."
Quase pulei da cadeira quando o sino que indicava o final da aula soou em meu ouvido. Coloquei a mão por cima da folha, ainda meio atordoada, enquanto olhava os outros arrumarem suas coisas.
Ao longe, pude ouvir o Sr. Jones nos tranquilizando ao dizer que podíamos terminar em casa e apresentar na próxima aula.
Nem fodendo que eu iria ler aquilo para a sala inteira.
E, sem ter o mínimo cuidado em não amassá-lo, enfiei o papel dentro da minha bolsa e me levantei depressa, dando um jeito de passar na porta antes de algumas pessoas que já se dirigiam até lá.
Comecei à caminhar rapidamente, como se estivesse sendo perseguida por algum assassino mascarado, e em questão de segundos, que levaram à um ou dois minutos, já estava abrindo a porta do meu carro, e agradecendo mentalmente por ter conseguido chegar ali sem que ninguém me parasse.
Suspirei depois de entrar, me encostando no banco e passando as mãos no rosto. Eu tinha quase certeza de que estava enlouquecendo, porque no momento, a única coisa em que pensava era no quanto eu queria fazer as coisas mais indecentes possíveis com alguém. Com Stuart.
Maldita carência.
Ele nem era quente, quer dizer, não como Edward. Mas talvez meu corpo quisesse experimentar algo novo.
— Summer. –Alguém parou na janela, me fazendo dar um salto e praguejar mentalmente por causa do grande susto que levei.
— Que merda, Stuart! –Exclamei, mas a minha voz não passou de apenas um sopro. Eu estava sem fôlego, mas não sabia se era por causa do susto, ou dos meus pensamentos sujos.
— Deixou cair isso na sala. –Olhei seus dedos, que seguravam a minha caneta rosa de pompom.
— Valeu. –Peguei a caneta da sua mão, e só então reparei melhor em Stuart abaixado na janela do meu carro. — Nossa, você precisa retocar essa raíz.
Ele sorriu. Por que ele tinha que sorrir com tudo?
— Eu estava cogitando pintar de vermelho, mas a Cindy disse que eu pareceria o Chucky. –Fez uma careta, e então olhou para algo ao seu lado.
Olhei na mesma direção que ele, e então percebi que se tratava das líderes de torcida escandalosas depois de terminarem o treino.
Nós dois desviamos o olhar ao mesmo tempo, então nos encaramos por alguns segundos. Soltei uma risada fraca e sem graça, então olhei para a frente, mais especificamente para o painel do carro.
— Pensa bem, o Halloween está chegando. –Dei de ombros, fazendo ele rir. — E não, eu não iria de Tiffany com você.
Eu iria, sim.
— Eu nem ia pedir. –Rimos, dessa vez juntos. Houve alguns segundos de silêncio, com Stuart brincando com algo nas mãos, até que ouvi a sua voz suave novamente. — Por falar em "ir juntos", quer que eu te acompanhe no jogo de sexta?
Franzi levemente as sobrancelhas e então o encarei.
— Mas você odeia jogos.
— Eu sou muito profissional.
O olhei a tempo de presenciar seu sorriso fofo, então acabei sorrindo também.
— Só se você me deixar tirar essa tinta desbotada do seu cabelo.
— Fechado.
Olhei a mão estendida do garoto, e então a segurei.
Na quarta-feira, eu resolvi colocar meu plano de "ajudar" Nancy em ação. Afinal, eu havia prometido para Edward, não que eu levasse promessas à sério, mas aquela em especial eu faria com gosto.
Havia acabado de sair da aula extracurricular de literatura, em que eu sabiamente disse que não havia feito o que o Sr. Jones pediu, pois vejamos bem: todos da sala fizeram, mas se tratavam de temas simples, contos de como a adolescência era difícil, poesias do tipo "rosas são vermelhas, violetas são azuis e blá blá blá". Nenhum deles levava tanto para o lado pessoal, nem mesmo Stuart, que escreveu algo sobre a "beleza da vida" e etc.
Comecei a procurar Nancy pela escola, e após observar ao longe várias garotas da equipe saindo, deduzi que a sonsa ainda estivesse no ginásio, então fui até lá, me deparando com a garota ainda ensaiando a coreografia, dessa vez, sozinha.
Me aproximei em passos lentos, e não sabia se ria baixo ou sentia pena, quando Nancy derrubou um dos pompons no chão. Ela se abaixou para pegá-lo e então pareceu perceber a minha presença ali, já que olhou na direção em que eu estava.
— Oi, Nancy. –A cumprimentei, erguendo uma das mãos em um aceno.
Nancy se levantou, parecendo envergonhada e então me cumprimentou de volta.
— Desculpa, eu só estava de passagem.
— Tudo bem. –Ela falou, batendo os pompons ao lado do seu corpo e suspirou, passando uma das mãos na testa molhada de suor. — O jogo é depois de amanhã, e eu meio que estou surtando.
— É normal, sua bobinha. –Forcei uma risada, me aproximando dela, que virava a garrafa de água na boca.
— Não sei o que eu tinha na cabeça quando resolvi ser líder de torcida. –Confessou em voz baixa.
Talvez tenha sido a vontade obsessiva de ser eu, foi o que eu pensei. No entanto, dei um sorriso largo e falso.
— Relaxa, Nancy, não precisa se cobrar tanto. Serão tantas garotas dançando, que as pessoas nem vão ficar prestando atenção em você.
A garota me olhou, parecendo absorver o meu conselho, então esboçou um sorriso, que eu também julguei ser falso.
— Vou tentar pensar nisso.
Troquei o peso de um pé para o outro, enquanto a analisava. Ao final da minha pequena observação, olhei a garota com expectativa.
— Quer que eu te ensine como eu fazia?
Ela concordou.
Passei algum tempo ensaiando com Nancy (plot twist: eu realmente a ajudei sem pensar em alguma maldade, pelo menos, não naquela hora), mas não arranquei nada dela, portanto, não satisfeita, a convidei para tomar um milkshake no Cherry Bomb's. Era um esforço que eu teria que fazer, para o bem da minha vida de fofoqueira.
— Acho que nunca tive a chance de perguntar isso. –Comecei, depois de tirar o canudo do meu milkshake de morango da boca. — Por que seus pais resolveram morar aqui?
Nancy, que olhava para os lados, prestou atenção em mim.
Já passava das cinco da tarde, o que explicava o lugar pouco movimentado. Além de Nancy e eu, estavam um casal de velhinhos à algumas mesas de distância, e um rapaz concentrado de mais no celular em outra.
Uma música antiga estava tocando, e por estar tudo quase silencioso, era possível a ouvir com clareza, embora eu não a conhecesse.
— Na verdade, é um pouco complicado. –Nancy respondeu.
— E que família não é complicada? –Brinquei, fazendo Nancy forçar um sorriso.
A de Stuart, é claro, foi o que eu pensei.
— Meus pais meio que quiseram recomeçar em outro lugar. –Completou com o olhar baixo, como se lembrasse de algo.
— Entendo.
— Você sempre morou aqui?
— Desde que me entendo por gente. –Rimos. — A minha mãe é atriz, então... –Dei de ombros, como se aquilo não fosse nada de mais.
Nancy abriu a boca em surpresa. Eu adorava provocar aquela reação nas pessoas ao mencionar o que a minha mãe fazia.
— Que incrível, sério. –Ela comentou, dando um leve sorriso. Mas, devido à minha habilidade em reconhecer sorrisos falsos, eu logo percebi que havia alguma coisa errada.
— Você parece triste. O que aconteceu? –Perguntei, fazendo ela arregalar levemente os olhos. Mas, antes que Nancy respondesse, eu continuei, levando a mão ao peito. — Olha, se for por causa dos treinos, não precisa ficar chateada, você vai arrasar, e mesmo que não, nem todo mundo nasce para ser líder de torcida, não é mesmo?!
— Não é isso. –Ela negou de imediato. — Embora eu esteja bem nervosa.
Suspirei, a encarando por alguns segundos.
— Não me diga que o Marcus andou mexendo com você outra vez... –Falei com cautela.
— Por Deus, não. –Nancy fez careta.
— Ainda bem.
Levei o canudo à boca novamente, e passei alguns segundos apenas sugando o resto de milkshake, enquanto a olhava distraída.
Antes que eu decidisse mentalmente o que fazer em relação à Nancy, ela avisou que precisaria chegar em casa antes do jantar, e assim pagamos a conta e nos despedimos.
E no momento em que caminhei lentamente até o meu carro, ainda tentando digerir todos os acontecimentos recentes, eu percebi que, merda, eu estava muito confusa.
Na sexta-feira, eu resolvi que, foda-se, eu iria esquecer por hora todo o meu plano e o real propósito que estava me influenciando à tomar todas as minhas decisões nos últimos dois meses, e com "esquecer", eu também estava me referindo à minha repentina e estranha queda por Stuart, mesmo que no momento, eu me encontrasse penteando o seu cabelo.
Meu namorado falso estava sentado em uma cadeira improvisada no banheiro, comigo em pé entre as suas pernas. Enquanto eu passava lentamente a escova lilás de Cindy pelos seus cabelos, que depois de tirarmos toda a tinta roxa, se encontravam castanhos, sua cor natural, percebia seu olhar atento em mim diversas vezes, mesmo que eu só me permitisse olhá-lo de verdade quando seus olhos estavam fechados.
Passei a ponta dos dedos sobre uma mecha do cabelo dele, o que fez Stuart abrir os olhos e me olhar, e desta vez eu não desviei. Quero dizer, não até o meu celular tocar em cima da pia. Amaldiçoei mentalmente quem quer que fosse.
Me afastei de Stuart, e quase me arrastei até o meu celular. Pelo visor, percebi que não tinha aquele número salvo, o que tornava aquela pessoa misteriosa ainda mais irrelevante.
Rolei os olhos e atendi a ligação, levando o celular à orelha.
— Hey, Summer. Sabe, eu resolvi dar uma passadinha aqui no shopping, e então pensei: "uau, acho que seria uma boa convidar a Summer para fazer compras comigo". E então, o que acha? Está ocupada?
Fui bombardeada com várias informações de uma vez, e ao franzir as sobrancelhas confusa, finalmente pude identificar de quem se tratava, Genevieve.
— Estou com o meu namorado. –Respondi, afastando uma mecha de cabelo que caía em meu rosto.
Olhei mais uma vez na direção de Stuart, e pelo movimento dos seus lábios, percebi que ele perguntava quem era. Fiz um gesto com a mão, como se dissesse que não importava.
— Oh, isso é ótimo. Bem, acho que eu deveria ter te convidado com antecedência...
— É, deveria. –Revirei os olhos. — Quem sabe em uma próxima, Genevieve?! Tchauzinho.
E então, desliguei. Não havia muito tempo disponível para perdê-lo com Genevieve.
— Então, –Comecei, me virando para Stuart. — Pelo o que eu me lembre, você não me mostrou sua casa inteira.
— E ali naquela porta fica o ateliê da minha mãe. Eu não entro muito ali, à não ser quando ela me pede para provar alguma roupa. –Ele fez careta. No entanto, seu sorriso indicava que no fundo, ele gostava daquilo.
— Oh, então você tem um lado "modelo"? –Perguntei rindo, enquanto caminhava ao seu lado.
Stuart já havia me mostrado quase a casa inteira, embora que, a parte que mais interessasse fosse a sua companhia.
Estávamos sozinhos em casa. Ele me disse que Cindy havia ido dormir na casa de uma amiga chamada Marion, Mariah, ou algo parecido, e que seus pais haviam ido visitar alguns colegas do tempo de faculdade.
— Todo mundo faz de tudo por aqui. –Ele deu de ombros, um sorriso ainda brincava em seus lábios. — Quero dizer, eu viro um modelo para a minha mãe quando ela precisa de ajuda, sirvo de cobaia para a Cindy quando ela quer fazer seus penteados e suas maquiagens malucas, e até arrisco à ajudar meu pai na correção de provas.
Ele disse aquilo como se não fosse nada. Enquanto eu... Eu ajudava o meu pai à gastar o seu dinheiro.
— "Tenham irmãos, é legal", eles dizem. –Fiz aspas com os dedos, fazendo Stu rir.
— Pois é. –Ele parou em frente à uma porta, então me olhou.
— E esse aqui é o meu quarto, mas imagino que não esteja interessada em ver a minha bagunça.
Mordi o lábio, pensativa enquanto observava o seu comportamento, que indicava que ele estava com vergonha.
— Na verdade, eu adoraria ver a sua coleção de polaroides.
Nos olhamos por alguns segundos, em que ele parecia me analisar silenciosamente. Talvez estivesse um pouco chocado com o meu comportamento, e eu não o julgava, as vezes nem eu mesma estava me reconhecendo.
— Ok... –Falou devagar, enquanto balançava a cabeça. — Mas eu já vou avisando que elas não são muito...
E então, depois que Stuart abriu a porta, eu meio que parei de prestar atenção no que ele falava, e passei à observar seus passos, como por exemplo, quando ele recolheu rapidamente algumas roupas sobre a cama e as jogou de qualquer jeito no armário.
— Só prometa que não vai achar que eu sou algum tipo de stalker.
Quando dei por mim, ele estava com uma caixa estendida em minha direção. Acho que fiquei tão imersa nos meus pensamentos, que nem notei quando ele a pegou.
— Bem, isso eu não posso garantir. –Pisquei em sua direção e então peguei a caixa. Caminhei até a cama e me sentei, pude notar quando Stuart sentou ao meu lado.
A maioria das fotos continha pessoas desconhecidas, o que me fez levar realmente em conta a teoria do garoto ao meu lado ser mesmo um stalker. Em outras continham paisagens, que obviamente seriam os lugares que Stuart já visitou.
Fiz uma pequena observação mentalmente: grande parte das pessoas, inclusive eu, posariam nesses lugares, de preferência o mais bonito, escolheriam o seu melhor ângulo e tirariam a foto com o único intuito de ganhar likes e seguidores no Instagram. Stuart não, ele parecia gostar de guardá-las como uma memória pessoal.
— Esse gatinho pode parecer inofensivo, mas ele definitivamente não gosta de ser fotografado.
Stuart apontou para a foto que eu estava na mão. Nela, havia um gato branco deitado na grama verde, que parecia cheirar uma flor.
Franzi as sobrancelhas e o olhei, esperando que ele continuasse.
— Ele me atacou logo depois que tirei a foto dele. –Fez careta. — E é uma pena, porque eu amo gatos.
— Devia ter pedido a autorização dele primeiro. –Apontei seriamente, embora estivesse segurando o riso.
— Tem razão, e o pior é que nem deu tempo de pedir desculpas, antes que ele deixasse uma cicatriz em mim.
Rimos juntos.
Ai, meu Deus.
— Sério? Onde? –Perguntei com curiosidade. Ou talvez eu só estivesse louca em ter um pretexto para tocá-lo.
Talvez tenha sido apenas impressão minha, mas notei Stuart vacilar por um momento, antes de abaixar um pouco o colarinho da sua camisa branca, revelando a pequena cicatriz de um provável arranhão acima do seu peito, quase próxima ao ombro.
Levei a minha mão até lá, a tocando suavemente. Ouvi a respiração de Stuart aumentar, e quase sorri com o efeito que um simples toque meu podia causar nele.
— Não foi tão ruim assim. –Anuncei descontraída, depois de recolher a minha mão.
Stuart ajeitou a camisa e me olhou.
— Ele era o meu vizinho, imagina só o clima tenso que ficou entre a gente.
Neguei com a cabeça, enquanto deixava uma risada baixa escapar e então voltei a olhar as fotos, mas uma em especial me chamou a atenção.
Peguei a foto em que eu aparecia, e que só podia ter sido tirada àquele dia na aula de artes, e a levantei na direção de Stuart, enquanto um sorriso presunçoso preenchia meus lábios.
— Você guardou...
— Não, não era pra você ver isso. –Senti ele puxar a foto das minhas mãos e se levantar. Acabei rindo e então o segui.
— Sabe, se bem me lembro, você disse uma vez que só tirava fotos do que achava bonito.
Eu não podia negar que estava me divertindo com aquilo, ainda mais quando notei o leve rubor nas bochechas de Stu, antes dele ficar de costas, próximo ao seu armário.
Escutei ele suspirar e se virar lentamente, enquanto eu esperava com a maior paciência e expectativa. Ele levantou as mãos em sinal de rendição, e me lançou um sorriso, que embora parecesse doce e envergonhado, ainda assim tinha uma coisa à mais.
— Você tem razão. —Arqueei uma das sobrancelhas enquanto cruzava os braços, esperando, desejando que ele continuasse. — Na verdade, eu tenho essa foto como o meu tesouro mais precioso. Toda noite antes de dormir, eu olho ela, como se fosse para decorar todos os seus traços, sobre o quanto você é perfeita, e o quanto eu quero que você me ame. E então eu sonho que nos casamos daqui à sete, oito anos. Então adotaremos um gato e um cachorro, e depois de três, quatro anos, finalmente teremos um bebê. Viu só? Eu já imaginei a minha vida com você no momento em que tirei essa foto.
— Que fofo. –Levei uma mão ao peito, falsamente comovida com toda aquela "declaração" regada à sarcasmo. — Você só errou em um ponto: –Apontei, enquanto me aproximava dele em passos lentos. — Eu não quero ter filhos. –Fiz careta.
— E eu não imaginei aquilo. –Negou rapidamente com a cabeça, como se realmente achasse que eu fosse tonta ao ponto de acreditar naquilo. — Não tudo, pelo menos.
Sorri.
— Quer saber o que eu acho?! Eu acho que você está louquinho por mim. —Foi a vez de Stuart sorrir, enquanto olhava para o chão. Levei aquilo como incentivo, e então logo estávamos frente à frente. Fiz um estalo com a língua, fazendo ele me olhar. — Isso é clichê em tantas maneiras diferentes.
— Tá, vamos supor que você esteja certa, –Ele limpou a garganta, sem se deixar abalar. — E quem disse que clichês são uma coisa ruim?
— Não sei, me diz você. Hipoteticamente falando, você acharia ruim se eu dissesse que eu, logo eu, que sempre odiei clichês, contratei um cara qualquer que nem conhecia, só para fazer ciúmes à outro cara, que por sinal é atleta, e que agora estou terrivelmente atraída pelo meu falso namorado?
Observei Stuart abrir e fechar a boca algumas vezes, então decidi que não esperaria até que ele formulasse uma resposta. Cravei as mãos em sua camisa, o puxando suavemente para que nossas bocas se encontrassem.
Para a minha surpresa, Stuart retribuiu de imediato, como se já esperasse por aquilo. A sensação de ter seus lábios macios contra os meus, por mais que já fosse conhecida, ainda assim era nova. Já que, era a primeira vez que fazíamos aquilo por nós mesmos, sem ter que impressionar outras pessoas.
— Não tem ninguém olhando. –Escutei Stuart sussurrar contra o meu rosto.
Quase reclamei o fato dele ter parado o beijo e me deixado secretamente querendo mais. Era como se eu estivesse entorpecida, tanto que, nem notei quando suas mãos seguravam firmemente a minha cintura, e nem quando minhas mãos foram parar no seu pescoço.
Não devia ser assim, céus, eu nem desejava que algo do tipo acontecesse, mas agora estávamos ali, e era como se eu nem mesmo tivesse controle sobre mim, tanto que, sorri e disse:
— Eu sei.
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