23. Aquele com a Desconfiança
Querido, eu me levantei dos mortos, faço isto o tempo todo
Tenho uma lista de nomes e o seu está em vermelho, sublinhado
Eu o marco uma vez, e aí marco duas, oh! Olha o que você me fez fazer[...]
Eu não confio em ninguém e ninguém confia em mim
Serei a atriz estrelando nos seus pesadelos...
(Look What You Made Me Do - Taylor Swift)
Suspirei com a bandeja nas mãos e mordi o lábio, olhando para o refeitório cheio. Pela primeira vez na vida, eu quis ser invisível.
Eu contei, foram cinco vezes em que eu passei pelos corredores e acabei flagrando alguém assistindo meu vídeo em seu celular. E foram mais de dez vezes que escutei cochichos em minha direção. Sem falar dos memes que fizeram à respeito. Meu Deus, aquilo só piorava.
Dava passos lentos, tentando aparentar confiança, e é claro, indiferença em relação à tudo aquilo. Se alguma coisa tinha que sobrar dessa história, com certeza seria a minha dignidade.
Era só uma fase, eu sabia disso. Só teria que me reerguer e recuperar a minha popularidade. E Edward, é claro, não podíamos esquecer dele.
Avistei a minha mesa habitual, e como sempre, lá estavam Jennifer, Susan, e Marcus. Quanto mais me aproximava deles, sentia um ódio crescer dentro de mim, o que de certa forma, me dava determinação para o que quer que estivesse por vir.
Marcus foi o primeiro à olhar em minha direção. Parei em frente à mesa, atraindo os olhares das outras duas. Susan, desligada da vida como sempre, apenas me olhou e desviou sua atenção para o seu almoço na bandeja, como se aquilo fosse mais importante que a minha presença. Fala sério!
Então, meu olhar caiu em Jennifer, que sorriu enquanto me olhava. Bem, como eu já imaginava, ela iria agir normalmente, como se nada tivesse acontecido, como em tantas outras brigas que nós já tivemos. É claro que, nenhuma delas tomou proporções tão extremas, mas ainda assim, era sempre a mesma coisa: De alguma forma, Jennifer se arrependia do que teria dito anteriormente e então não tocávamos mais no assunto.
Forcei um sorriso e fiz menção de puxar a cadeira para me sentar, mas, antes que pudesse fazer, vi a loira bater rapidamente com a mão na mesa, no lugar em que eu iria colocar a minha bandeja.
— Não pode sentar aqui. –Jennifer apontou calmamente, ainda com um sorriso no rosto.
Em um ato involuntário, levei meu olhar em direção à Susan, tendo tempo de vê-la levantar a cabeça rapidamente, como se só agora tivesse começado a prestar atenção no que acontecia ao redor dela. Desviei minha atenção para Marcus, que comprimiu os lábios e deu de ombros, como se dissesse algo do tipo: "Eu não posso fazer nada, você ouviu o que ela disse".
— Tá brincando com a minha cara, não é?! –Deixei escapar uma risada seca, enquanto usava o bom e velho sarcasmo para camuflar a minha indignação.
— Se estivesse brincando, pediria para você dizer: "Toc toc", daí eu responderia "quem é?", e então você diria: "Summer Woodsen, a piada da escola".
— O quê? –Franzi as sobrancelhas em choque, não pela a audácia que Jennifer estava tendo, mas pelo o que ela havia falado. Meu Deus, ela estava tentando lacrar, e o resultado daquilo estava sendo catastrófico.
— Eu sento aqui todos os dias, não pode me impedir. –Declarei em tom de riso, mesmo surtando por dentro. As pessoas já começavam à olhar em nossa direção, e eu me recusava a perder para alguém que teve a coragem de dar uma resposta tão ridícula quanto a de cerca de um minuto atrás.
— Ah, qual é! Não fode, Jennifer. –As palavras de Marcus me fizeram olhá-lo. O garoto revirou os olhos e empurrou sua bandeja sobre a mesa. Por um momento, fiquei em dúvida se ele estava do meu lado ou não, mas logo tive que voltar a minha atenção para a loira oxigenada.
— Se não me engano, você mesmo dizia que nós éramos um grupo extremamente seleto, e que se alguém quisesse sentar aqui, teria que ralar pra caralho. –Começou, numa tentativa ridícula de imitar a minha voz. Apertei as mãos na bandeja, sentindo meus batimentos cardíacos acelerarem, e mordi o lábio. — Pois bem, acho que você não é digna de estar aqui, e além do mais, esse lugar já está ocupado. Ei, Nancy!
Olhei para trás, na direção em que Jennifer também olhava, me deparando com a garota cujo o nome foi chamado, parecendo mais perdida que o normal, enquanto segurava uma bandeja à poucos metros de nós.
Naquela hora, saquei todo o joguinho de Jennifer. Ela, mais do que ninguém, sabia como eu havia ficado quando Edward me trocou pela Nancy. Eu disfarçava ao máximo, mas devia dar para perceber o meu estado de raiva e tristeza... Não é?! E a loira queria que eu me sentisse assim de novo, ao tentar me fazer acreditar que eu estava sendo "trocada" mais uma vez.
Jennifer seria brilhante, se não fosse tão previsível.
— Não, obrigada, é que eu já combinei de almoçar com outra pessoa. –Escutei Nancy responder. Acho que, no meio da minha descoberta, Jennifer devia ter chamado ela, que negou e fugiu, quase que desesperada. Algo à mais estava errado ali.
— Quer saber de uma coisa?! –Comecei, me virando novamente para Jennifer.
— Ai, sério mesmo que vocês vão começar tudo de novo?! –Susan interviu, ao mesmo tempo em que mantinha uma expressão chateada no rosto. — Eu só quero comer, que merda. –E então, jogou sua caixinha de suco, agora vazia, na bandeja.
— Você é tão burra, Jennifer. –Neguei com a cabeça, com uma expressão falsa de pena, ignorando Susan completamente. Marcus soltou uma risada nasal e se encostou na cadeira, cruzando os braços em seguida. A loira, por sua vez, sorriu me encarando. — Pode ficar com a porra da sua mesa, mas se eu fosse você, não me acharia tanto, porque vamos combinar, isso é só uma fase, uma fase que logo irá passar.
Desviei meu olhar de Jennifer, à tempo de ver todos ao redor desviarem o olhar de nós e voltarem a agir normalmente, como se nem tivessem percebido a discussão. Lancei um breve e falso sorriso, e comecei a me afastar, sem esperar por qualquer reposta ou reação.
Pude avistar Stuart sentado à umas cinco mesas de distância. No entanto, desviei o olhar rapidamente. Ainda era difícil de aceitar que eu havia sido rejeitada por ele. Justamente por ele.
Joguei a bandeja com o meu almoço na lixeira mais próxima e saí daquele refeitório barulhento. Com tudo o que aconteceu, acabei perdendo a fome.
Eu não acreditava que estava fazendo aquilo novamente.
Com a minha saída da equipe de torcida, não me restou outra escolha, à não ser, voltar para as terríveis aulas de educação física. Eu odiava aquela merda.
Vejam só, entre animar jogos, e ser reconhecida, respeitada e desejada por fazer aquilo, ou, suar correndo atrás de alguma bola, não recebendo mérito algum, o que escolheriam?! A resposta era tão óbvia!
— Bem vinda de volta, senhorita Woodsen. –A treinadora falou, caminhando em minha direção. Forcei um sorriso, enquanto tinha as duas mãos para trás, como uma criança travessa escondendo alguma coisa. Não foi proposital, só para constar. — Eu sei que faz tempo que não frequenta aqui, mas a principal regra da Educação Física é não ficar parada.
Ri sem humor.
— É que meu tênis estava desamarrado. –Apontei para baixo. — E eu acabei de amarrá-los.
— Hum. –A treinadora murmurou, parecendo desconfiada, e então subiu o olhar dos meus pés até a minha cabeça, me dando as costas e começando à se afastar. — Trate de se mexer, mocinha.
— Claro. –Respondi com escárnio, e aproveitando que ela não estava olhando, apontei meu dedo do meio em direção à ela. Que se dane!
— Que coisa feia, Summer. –Olhei na direção de onde vinha aquela voz, me deparando com Claire Shields, me lançando um olhar acusatório.
— Oh, desculpe, eu não sabia que a senhorita perfeitinha estava aqui. –Retruquei em um tom exagerado e proposital, levantando os braços em sinal de rendição, o que claro, atraiu uma risadinha de Claire.
— Hey, a treinadora mandou a gente dividir os times para jogar queimada. –Samantha avisou, depois de correr até onde nós estávamos. — Summer, uau. Pensei que eram só boatos que você tinha saído da torcida. –Comentou, parecendo surpresa.
— Eu resolvi tentar coisas novas. –Dei de ombros, mesmo que não fosse obrigada a responder aquilo.
— Pois é, agora ela é uma mera mortal que nem a gente, Sam. –Claire disse para a ruiva, ainda em tom de riso, o que me fez revirar os olhos.
Revirei os olhos porque não sabia o que dizer. Talvez eu ainda estivesse tão estranha, que o meu cérebro não funcionava direito. Mas de uma coisa eu sabia: Por incrível que pareça, aquele mísero momento estava sendo o ponto alto do meu dia, pois aquelas duas garotas não estavam me olhando torto, com pena ou o que for. Tinha alguma explicação, é claro. Talvez elas não tenham ido à festa e nem soubessem o que havia acontecido, o que eu achava pouco provável. Ou, simplesmente sabiam fingir muito bem. Mas, de qualquer forma, eu não estava me sentindo tão deslocada. Bobagem, eu sei.
— Talvez eu só queira me aventurar em outras coisas. Talvez ser atriz, como a minha mãe. Não que isso vá interessar a vocês. –Soltei, enquanto as olhava calmamente.
— Peraí, vai fazer teste para a peça da escola? –Claire perguntou, e eu confirmei com um aceno de cabeça. — Oh, Summer, por favor, não faça isso. Como pode acabar com as chances de todas as garotas daqui desse jeito?!
— Eu diria que, vou me sair muito bem, obrigada. –Agradeci com falsa modéstia, mesmo que o tom de Claire fosse sarcástico.
— Imagino que vá fazer teste para a protagonista, então isso significa que vamos disputar o mesmo papel. –Samantha comentou calmamente, enquanto prendia seu cabelo ruivo em um coque.
— Bem, então, que vença a melhor. –Lancei uma piscadela e me afastei das duas, caminhando em direção à rodinha que se formava no meio do campo, já ouvindo o som estridente e irritante do apito da treinadora.
A ideia de fazer teatro não era apenas uma escolha qualquer, mas sim, a minha salvação para tentar me reerguer, já que, eu não tinha mais Edward – ainda –, não era mais capitã das líderes de torcida, e o meu namoro com Stuart não estava mais sendo tão comentado na escola. E então, com os acontecimentos daquela noite de merda, eu estava fadada ao fracasso, e logo em seguida, ao esquecimento.
E eu cheguei tão longe. Seria tão injusto que tudo o que eu construí, toda a minha reputação, acabasse assim, tão rápido como um estalar de dedos. Qual é! Eu estava no último ano do colegial, não podia terminar essa fase como uma perdedora.
E eu não iria.
Depois da separação dos times para a queimada, começamos a jogar. Eu só me mexia quando sentia que a bola pudesse encostar em mim, esportes definitivamente não eram a minha praia.
Olhei para os lados, sem intenção de ver qualquer coisa que me interessasse, mas acabei vendo. Passando pelas arquibancadas, estava Marcus, acompanhado de alguns garotos, que eu deduzi serem do time de futebol, mas o fato que mais me chamou a atenção, talvez por ser bem nojento, foi perceber que Marcus encenava alguns movimentos obscenos, e os outros riam. Não evitei em fazer careta, já que ele provavelmente estava se gabando de alguma conquista que fez na festa de sábado. Vocês sabem do que estou falando.
Logo, de repente, seu olhar se cruzou com o meu, e a expressão dele não mudou nem um pouco. Marcus queria me provocar, era a única explicação. Os amigos continuavam rindo e comentando alguma coisa entre si, mas Marcus não desviou o olhar. Muito menos, eu.
Eu estava tão imersa naquilo, que só acordei para a vida quando senti uma pancada em meu braço.
— Queimada! –Escutei uma garota gritar. Passei a mão no braço, que se encontrava dolorido. Talvez o impacto tenha sido grande porque eu estava distraída, ou talvez aquela garota seja forte e me odeie, para jogar a bola com tanta força em minha direção.
— Se mexa, Woodsen! –A treinadora berrou, e como se aquilo não bastasse, ainda apitou, me fazendo bufar irritada e caminhar para o lugar do campo em que ela apontava.
Ao parar no lugar indicado e jogar a bola, me peguei olhando novamente na direção em que Marcus estava, mas para a minha surpresa, ele não estava olhando para mim, mas para Nancy, que por alguma razão estava acompanhada por Jennifer e Susan, que conversavam com o garoto. E, pela segunda vez no dia, parecia que Nancy estava vendo um fantasma.
Mesmo com a distância, podia ver claramente que algo estava errado ali. E eu iria descobrir o que era.
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