22. Aquele em que as Inseguranças Se Evidenciam
Para os seus amigos, você está delirando
Tão consumida pela sua desgraça, se esforçando para preencher o vazio
As peças acabaram, o quebra-cabeça ficou desfeito
É assim que tem que ser?!...
(Beautiful - Christina Aguilera)
Abri os olhos com uma certa dificuldade, me sentia incomodada com toda aquela claridade. E com um pouco mais de esforço, consegui mantê-los abertos, e passei à observar ao meu redor.
Já havia amanhecido. E eu pude constatar isso pela luminosidade do meu quarto, com as cortinas abertas, que nem consigo lembrar se as fechei ontem à noite. Suspirei, conseguindo forças para me sentar na cama, sentindo uma dor forte na cabeça, que com certeza era consequência do que aconteceu na noite passada.
Argh! A noite passada. Enquanto estava sentada, flashes me atingiram, me fazendo recordar de quase tudo o que aconteceu ontem. Suspirei bruscamente e me joguei na cama novamente, vendo a pouca coragem que eu tinha de me levantar, ir embora de vez.
Droga, droga, droga! Que piada. Eu mal havia acordado, e já queria dormir de novo. Até amanhã, não, até semana que vem, ou melhor, até o ano que vem. Quem sabe assim, as pessoas esqueceriam o que aconteceu na festa da Jennifer.
Passei as mãos no rosto, com uma sensação aflita. Eu não devia ter bebido ontem, porque claramente não resolveu nada. Ainda lembrava de tudo, e com certeza estava pior do que nunca.
Passaram-se alguns minutos de puro diálogo interno, e eu finalmente criei coragem para me levantar. Dessa vez, de verdade. Caminhei até o banheiro, fazendo careta ao reparar no meu estado deplorável, o que fez eu me perguntar se havia ficado assim depois de cair na piscina, ou depois de ficar bêbada. Céus, seja como for, a noite de ontem já poderia ser considerada oficialmente como a pior noite da vida de Summer Elizabeth Woodsen.
Quando comecei à tomar banho, desejando que todas as minhas preocupações fossem embora junto com a água que caía no ralo, só conseguia pensar em como daria a volta por cima, mas nem eu mesma sabia.
E assim, nessa vibe, passei o resto do domingo, trancada no quarto e com mil pensamentos rodeando minha cabeça. Eu estava péssima.
À noite, fui obrigada à sair dos meus aposentos quando meu pai e Genevieve chegaram da viagem romântica. Bem, alguém tinha que se divertir no final de semana, não é mesmo?!
— Finalmente resolveu sair desse quarto! –Marla exclamou depois que eu abri a porta, e jogou as mãos para o ar, como se realmente algum milagre tivesse acontecido. A encarei sem muito entusiasmo e dei de ombros, começando à descer as escadas.
Uma parte de mim só queria permanecer no quarto e hibernar por muito tempo, mas a outra parte teve que, por livre e espontânea pressão, cumprimentar o pai e a namorada insuportável dele. E além do mais, eu não havia comido nada o dia todo, estava com fome.
— O que aconteceu? Não parece a mesma garota eufórica que eu deixei ontem ao sair. –Marla constatou, caminhando ao meu lado. — Se o seu namorado fez alguma coisa que você não gostou, eu...
— Eu estou com ressaca, Marla, e morrendo de dor de cabeça. –A cortei imediatamente, enquanto massageava as minhas têmporas. — E foi tudo lindo! Fizemos sexo selvagem até o amanhecer. Satisfeita?! –Rolei os olhos com escárnio e apressei os passos, sem dar chance para que ela continuasse com o seu interrogatório.
Ao descer as escadas, vi Genevieve na sala, e fiz careta ao vê-la com a sua cachorrinha no colo, cantando para ela. Céus, ela parecia uma versão menos glamorosa da Elle Woods, mas Genevieve faltava ser Legalmente Loira, para receber aquele título. E é claro, ser tão bonita quanto a Reese Witherspoon.
— Oi, Summer. –Ela disse sorrindo, me fazendo sair do transe que aquela cena havia me deixado.
A observei colocar a cadela no chão, que rapidamente se virou para o sofá e pulou em cima, e então vi a namorada do meu pai caminhar em minha direção, com os braços abertos e um grande sorriso no rosto, mas coloquei a minha mão na frente e me afastei antes que ela conseguisse me abraçar.
— Genevieve. –Cumprimentei sem emoção.
— Oh... –Deu alguns passos para trás, sorrindo sem graça. — É bom ver você. E, sabe, –Colocou algumas mechas de cabelo atrás da orelha, e esboçou outro sorriso. Sério, aquela falsa paciência e simpatia já estava me irritando. — Obrigada pelo seu pequeno empurrãozinho. O nosso fim de semana foi incrível, a casa de campo é tão linda!
— É linda, mesmo. –Sorri com o quanto Genevieve parecia entusiasmada em contar sobre o seu conto de fadas aterrorizante para alguém. — Meu pai sempre levava a minha mãe lá. –Comentei, mesmo não fazendo a mínima ideia se tal coisa era verdade. Tudo o que eu queria era ver brotar desconfiança em Genevieve, e parece que consegui, ao presenciar sua expressão se abater por alguns segundos. — É, bons tempos...
— Ai, meu Deus, Velma! –Toda a nossa tensão foi interrompida quando a cadela começou a morder uma almofada. Genevieve correu em direção à ela, a pegando no colo novamente.
Revirei os olhos e olhei para os lados, onde meu pai caminhava em minha direção.
— Solzinho! –Ele exclamou, me abraçando logo depois. Ah, aquele apelido. Fazia tempo que ele não me chamava assim.
— Pai. –Cumprimentei enquanto retribuía seu abraço. Talvez eu precisasse mesmo daquilo.
— Então, como passou o fim de semana? –Perguntou enquanto se afastava, bagunçando meu cabelo propositalmente. — Bem, conhecendo a filha que eu tenho, espero que não tenha aprontado muito.
Soltei uma pequena risada, ao mesmo tempo em que fazia careta, colocando os fios de cabelo no lugar.
— Você sabe, o de sempre: dei uma super festa e fiquei bêbada, enquanto pessoas que eu nem conhecia vomitavam e transavam pela casa. –Dei de ombros, agindo naturalmente, e escutei meu pai rir. Era impressionante como ele nunca levava essas histórias à sério, mesmo que, em partes, houvesse um pouco de verdade nelas.
— Tem uma grande imaginação. –Ele deu alguns tapinhas nas minhas costas, enquanto negava com a cabeça.
Ri e olhei na direção que Marla estava, à alguns metros, me fuzilando com o olhar.
E depois de anunciar educadamente que iria me retirar, logo depois que jantamos, pois havia tomado alguns remédios, o que não era mentira, já que a minha cabeça estava prestes à explodir, voltei para o quarto e fui tentar decorar as falas do meu teste para a peça da escola, que seria amanhã. Teste esse, que com toda a correria dessa semana, eu havia esquecido completamente.
No dia seguinte, eu estava igualmente acabada, sem um pingo de vontade de levantar da cama. Estava com olheiras, pois mal havia pregado o olho na noite anterior, revezando entre ensaiar, checar as redes sociais de instante em instante para saber se alguém estava falando de mim, e até mesmo, parar pra pensar em absolutamente nada.
E passando-se alguns minutos olhando para o teto, já estava prestes à roer as unhas de ansiedade, mas ao invés disso, batia as mãos sobre a minha barriga, como se, de algum jeito aquilo fosse me acalmar. Eu não ficava nervosa assim desde que animei um jogo pela primeira vez, e isso foi há uns dois anos.
— Tá legal, Summer, você tem um teste hoje, e se não levantar seu traseiro lindo dessa cama, vai perder a chance de deixar todos encantados pelo seu dom de atuar. –Declarei para mim mesma e sorri, finalmente jogando o cobertor para o lado.
Mas, assim que coloquei os pés no chão, uma sensação esquisita me invadiu, e logo me veio à cabeça que o teste não seria o único motivo que faria as pessoas olharem em minha direção.
Olhei para a cama novamente, desejando voltar para ela e me cobrir da cabeça aos pés, fingindo que não existia. Meu Deus! Quando eu havia ficado tão covarde assim?!
— Que se dane! –Murmurei decidida. Eu iria sim para aquela escola hoje, nem que fosse com a força do ódio.
— Tudo bem, já pode descer. –Meu pai avisou pela quinta vez que já havíamos chegado na escola. Se bem que, nesta última, ele estava meio que me expulsando do carro. — Pensei que viria com o Stuart.
— Ele não vem hoje. –Inventei a primeira desculpa que me veio à mente, enquanto olhava para os lados, torcendo em silêncio para que todas aquelas pessoas sumissem.
Stuart era outro problema.
— Filha, você está estranha hoje. O que aconteceu?
— Tchau, pai. –Disse rapidamente e beijei a bochecha dele, saindo do carro em seguida, antes que ele perguntasse mais coisas, que sinceramente, eu não queria, e nem podia explicar.
Com um óculos escuro no rosto para disfarçar as olheiras, jeans e uma blusa preta de manga longa, eu caminhava em direção à escola, e não seria nenhuma surpresa dizer que, à cada passo que eu dava, sentia todos os olhares se virarem em minha direção.
Nos corredores, foi a mesma coisa. Alguns tinhas expressões risonhas, já outros, me olhavam com pena. Eu odiava isso.
Abri meu armário de vez, pegando o livro que iria precisar para a minha primeira aula. E quando bati a porta com força para fechá-lo, tomei um grande susto com a pessoa que se revelou ao meu lado.
— Jesus! –Exclamei, levando uma das minhas mãos ao peito, sentindo meu coração bater acelerado.
— Me desculpa, eu não queria te assustar. –Edward disse, exageradamente preocupado com o incidente. Me recompus e finalmente fechei o armário, me encostando nele. O garoto me olhou e esboçou um sorriso. — Oi, como você está?
— Bem. –Ajeitei os óculos, tentando parecer indiferente diante daquilo, mesmo que, de onde eu estava, pudesse ver alguns grupinhos conversando e olhando em minha direção de vez em quando. Até quem não foi à festa, com certeza sabia.
Edward confirmou com um aceno de cabeça, e também pareceu perceber o mesmo que eu, então se virou para mim novamente.
— Eu estou aqui, se quiser conversar. Não liga para o que os outros dizem, as pessoas são bem cruéis quando querem. Eu só quero que você saiba que... –Limpou a garganta, colocando as mãos nos bolsos. Ele fazia exatamente isso quando ficava nervoso perto de mim, por algum motivo idiota que eu não entendia, ou quando simplesmente buscava coragem para dizer algo pessoal, ou sentimental demais. — Quero que saiba que eu me importo com você. E tudo bem se não estiver legal, você não é obrigada à ser forte o tempo todo. E para falar a verdade, –Ele soltou uma pequena risada, quase sem humor. — eu não entendo isso, já que, se tem uma pessoa que passou vergonha nisso tudo, foi a Jennifer, não você. Acho que as pessoas têm que entender, que quem tem que sentir vergonha é sempre a pessoa que humilha e rebaixa os outros para se sentir melhor, e não o contrário.
Abri um enorme sorriso genuíno com as palavras de Edward, e por um momento, senti vontade de chorar, mas não sei se era por causa das palavras bonitas em si, ou pelo fato de que, se fosse em outro contexto, as últimas frases ditas me atingiriam diretamente, de uma forma que, nem em sonho eu seria a vítima.
Como não sabia o que dizer, apenas o puxei para um abraço, carregado de agradecimento e carinho. Droga, eu realmente o amava. Como não amaria, afinal?! Edward sempre estava provando que não era apenas um rosto bonito, ele tinha uma alma bonita. E, por um momento, acabei esquecendo da raiva que sentia dele por ter me trocado pela Nancy, e por ele não ter feito nada quando caí na piscina.
Senti os braços de Edward em minha cintura e sorri com os olhos fechados. Quando os abri, tive certeza de que vi Stuart, à tempo de se virar, caminhando na direção oposta em que eu estava. Eu só espero que ele não tenha me visto, já que estava com o intuito de tentar evitá-lo ao máximo, depois do segundo vexame que dei: A tentativa de beijo não correspondida.
Edward se afastou de mim, parecendo um pouco sem jeito com a nossa pequena demonstração de afeto em público.
— Obrigada, Ed. –Agradeci sinceramente, o fazendo sorrir.
— Amigos são para essas coisas. –Respondeu enquanto se afastava, dando alguns passos para trás. Edward acenou em minha direção, e finalmente virou as costas, seguindo pelo corredor, na mesma direção que Stuart tinha ido.
Amigos. Aquela palavra ecoou na minha mente algumas vezes. Parecia cada vez mais difícil fazer com que ele me enxergasse de outra forma.
Suspirei e segui em direção à minha sala, com o livro nas mãos.
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