15. Aquele Em Que a Madrasta Não é Má
Você entra e sai do meu coração como se fosse um hotel
E ela deve ser perfeita, oh bem
Eu espero que vocês vão para o inferno...
(Reckless - Madison Beer)
— Isso aqui tá uma delícia! –Stuart exclamou, com a boca cheia. O olhei, segurando um sorriso, e é claro, falhando na tentativa.
— Todos sabemos, amorzinho. Você também disse isso nas outras duas vezes que repetiu. –Comentei sorrindo, olhando na direção do meu pai, que estava franzindo as sobrancelhas.
— Bom, temos que parabenizar os cozinheiros, então. –Ele disse, suavizando a expressão em seu rosto.
— Com toda certeza! –Stuart exclamou.
Abri a boca para colocar mais lenha na fogueira, porém fui interrompida por um... latido?! Aqui não tem nenhum cachorro, então...
— Velma, querida, se comporte. –Genevieve disse, me fazendo olhar em sua direção, e em seguida, olhar para o cachorro no chão, ao seu lado.
— Você trouxe um cachorro para cá? –Questionei incrédula, enquanto analisava o chihuahua de cor caramelo, vestindo uma saia rosa. Bem, na verdade, era uma cachorra.
— A Velma não gosta de ficar sozinha em casa, não é, coração?! –Ela respondeu, com direito à uma voz infantil na última frase. Revirei os olhos diante da cena e olhei meu pai. Era só o que me faltava.
— Pai! –Chamei a sua atenção, e é claro, de Genevieve e Stuart também, que estava segurando alguma coisa de comer na mão, iria perguntar se ele iria comer, ou jogar para a cadela, mas balancei a cabeça, afastando aquele pensamento. Tinha coisa mais importante acontecendo ali. — Vai deixar uma cachorra comer aqui com a gente?
— Bem, tecnicamente, ela não está comendo com a gente, está no chão latindo. –Stuart declarou. Lancei um olhar mortal em sua direção, e rapidamente o garoto parou de mastigar.
— Seu pai me disse que eu poderia trazê-la. Não foi, Colin? –Genevieve questionou, piscando rapidamente e então olhou para o meu pai, como se estivesse desesperada para confirmar.
Meu pai afirmou com um aceno, e eu bufei largando o garfo no prato, e me encostando com tanta força na cadeira, que se ela não fosse resistente, podia jurar que cairia para trás.
Senti alguém colocar as mãos sobre a minha, em cima da mesa, e quase dei um pulo. Olhei para o lado, me deparando com Stuart me encarando de uma maneira quase cômica. Quer dizer, cômico de verdade foi o que ele disse logo à seguir:
— Relaxa, baby. Você ainda é a cadela mais bonita dessa sala.
Encarei aquela cena com uma expressão enojada no rosto. Genevieve estava na piscina tomando banho com a Velma. Fala sério!
— Que nojo. –Murmurei para mim mesma, enquanto fazia uma careta.
— Pelo menos uma vez na vida, você podia curtir um pouco o momento, ao invés de sempre ficar com uma cara emburrada e se isolar num canto. –Marla falou, parando ao meu lado com uma bandeja de bebidas nas mãos.
— Pelo menos uma vez na vida, as pessoas podiam parar de me provocar. –A olhei sem interesse e dei de ombros. — Qual é, Marla?! É como se o meu pai permitisse qualquer coisa que a Genevieve desejasse fazer. Ele nunca me deixou ter um cachorro, e se por acaso eu estivesse tomando banho na piscina com ele, levaria uma baita bronca.
Apontei para Genevieve e sua cadela, que estavam em cima de uma bóia rosa com formato de flamingo. Era incrível que ela nem sequer morava aqui, e já agia como se fosse a patroa. Argh, que ódio!
— Pelo o que eu bem me lembro, o senhor Colin já deixou sim, a senhorita ter um animal de estimação. Ou já esqueceu que quase matou seu gato de fome, quando tinha oito anos?
— Bom, devido aos concursos de beleza, eu não tinha muito tempo e... –Comecei á explicar para Marla, porém, logo parei, balançando a cabeça à fim de focar no que era preciso. — Quer saber?! Isso não vem ao caso agora. Eu só quero entender por que raios tem um cachorro na nossa piscina.
— Uma cachorra. –Marla corrigiu, me olhando seriamente, e eu cruzei os braços, me entediando com aquilo. — Sinceramente, garota, eu não sei. Mas de uma coisa eu tenho certeza: Você está com ciúmes. Agora me dá licença.
E a governanta saiu, sem dar espaço para eu negar. Talvez ela também estivesse sem paciência para a nossa conversa.
Eu estava com ciúmes sim, oras. Colin Woodsen era o meu pai, e eu não tinha a obrigação de dividi-lo com Genevieve Gilmore, uma mulher que poderia ser filha dele, que poderia ser minha irmã. Já tem bizarrice suficiente na minha vida.
Suspirei, colocando meus óculos em formato de coração no rosto, e me afastei para trás, e por pouco, por calcular errado, quase errava a espreguiçadeira e caía de bunda no chão. Eu não sou muito de agradecer, mas, Deus, obrigada por não ter permitido que isso acontecesse. Seria um vexame.
Depois de alguns minutos ali, senti alguém se sentar na espreguiçadeira ao meu lado, olhei na mesma direção e vi o meu pai. No entanto, não falei nada, mas não demorou muito que ele tirasse seus óculos escuros do rosto e olhasse na minha direção.
— Eu já saquei qual é o seu jogo.
Tentei não demonstrar nenhuma reação com a declaração que o meu pai acabou de dar.
— Hum? –Olhei para ele, que exalava calma.
— Seu namorado. –Apontou com a cabeça em direção à Stuart, que estava em pé com a cadela em seus braços, a abraçando como se fosse um urso de pelúcia, e conversando com Genevieve, algo sobre a irmã dele adorar animais.
— E o que tem ele? –Questionei calmamente, tirando os meus óculos também.
— Ele não é aquilo que demonstrou ser hoje. –Franzi as sobrancelhas. Meu pai me olhou e logo continuou, ambos voltando a atenção para Stuart, que agora sorria sentindo a cachorrinha lamber seu rosto. Fiz careta. — Não sei se você lembra, mas essa não foi a primeira vez em que nos encontramos, e da última vez, ele parecia ser um garoto dócil e educado, o completo oposto do que ele está sendo hoje.
— E...? –O incentivei à continuar, mesmo já desconfiando de que agora ele iria me desmascarar. Por que eu fiz isso, afinal?!
— E eu acho que ele se perdeu no personagem. –Meu pai riu. Então, me olhou seriamente, e eu já sabia que a bronca estava por vir. — Não sei o que fez para convencê-lo à me irritar, mas saiba que deu muito errado, e agora eu gosto do seu namorado.
Não, isso não é nada bom.
— E? –Questionei novamente, quase rindo de nervoso.
— Está de castigo.
— Ele me deixou sem carro, dá para acreditar?! –Exclamei, sentindo meu cabelo voar com o vento.
— Que merda. –Susan disse, quase de um jeito robótico, enquanto dirigia seu jipe vermelho. Jennifer, que estava no banco de trás, concordou.
Na real, eu não peguei carona com elas porque simplesmente quis, mas sim, por falta de opção. Quero dizer, à princípio, eu pensei em pedir para Edward, mas não queria parecer desesperada. Depois, pensei em Stuart, mas isso significaria que Jason Dinckley estaria incluído na viagem, e com o humor que eu estava, era capaz de cometer uma tentativa de assassinato contra ele. E eu não podia ser presa, sem antes separar Nancy e Edward.
— E quanto tempo você vai ficar sem carro? –Desviei o olhar do espelho para Jennifer e dei de ombros, diante da sua pergunta.
— Um mês. –Soltei um suspiro frustrado.
Colin poderia agir como um pai normal e me proibir de sair com Stuart, daí eu fingiria sair com ele mesmo assim e o deixaria furioso. Era assim que tinha que ser, foi isso que eu planejei. Afinal, por que o universo me odeia tanto?!
— Você vai superar isso. –Jennifer falou.
— É claro que eu vou. —Dei uma risada sem ânimo. — E Susan, por que não acelera essa lata velha?!
— Porque não quero levar multa. –Respondeu simplesmente, depois de alguns segundos em silêncio.
— Nossa, seu medo é mesmo encorajador. –Murmurei, e pela minha visão periférica, vi Susan dar de ombros. Maravilha.
Ao pararmos no estacionamento da escola, fui a primeira à descer do carro.
— Hoje é o último dia de audições. Não se atrasem. –Avisei para as duas, antes de sair andando.
Quando entrei nos corredores, fui direto para o meu armário e o abri sem dificuldade, pegando alguns livros que iria precisar para a primeira aula.
— Oi, Summer. –Primeiramente, tomei um susto e derrubei os livros no chão, depois me dei conta do que estava acontecendo e mordi o lábio, segurando um sorriso.
Edward se abaixou para pegar os livros, e eu logo tratei de fazer o mesmo, mesmo achando aquilo o cúmulo do clichê.
— Desculpe, eu me assustei. –Falei calmamente e coloquei de propósito uma mão sobre a de Edward, fingindo que por coincidência fui pegar o mesmo livro que ele. Ed olhou nossas mãos juntas, e subiu o olhar para mim, sorrindo um pouco sem graça. Então, puxou o livro delicadamente e me entregou.
— Tudo bem, a culpa foi minha. –Nos levantamos igualmente. Edward esboçou outro sorriso enquanto me olhava. Ele parecia ansioso, e eu sabia disso porque ele passou alguns dias assim, pouco antes de terminar o nosso namoro.
— E então? –Tentei o encorajar, ao mesmo tempo em que fingia estar desinteressada. Arqueei as sobrancelhas, segurando os livros contra o peito.
— Eu só... vim te dar um oi. –Ele riu nervosamente e levantou o braço, coçando o cabelo logo em seguida.
Suspirei baixinho, enquanto acompanhava os seus movimentos com o olhar. Flashes de algumas noites que estivemos juntos me atingiram como uma facada. O vendo assim, daquele jeito, foi difícil não lembrar dos seus braços fortes segurando a minha cintura, da sensação de tê-lo colado em mim.
Calma, se concentra, Summer.
— O quê? –Balancei a cabeça, tentando me livrar daqueles pensamentos nada apropriados, e sorri inocentemente para Edward. Ele olhou para os lados, e abriu e fechou a boca, como se ainda estivesse criando coragem para falar o que pretendia, e suspirou.
— Eu só queria saber se você estava bem. Finalmente consegui falar com você à sós e... Não sei. –Riu, olhando para o chão, subindo o olhar para mim logo depois. — Aquilo que você disse sobre o Stuart ter ciúmes de nós dois ficou martelando na minha cabeça.
Aquilo que eu disse?! Aliás, o que eu... ah, lembrei.
— Merda, eu não devia ter te contado aquilo. Esquece, tá? –Tentei o tranquilizar, assumindo uma expressão de culpa no rosto. Eu deveria mesmo ser atriz.
— Não consigo. –Olhei em seus olhos, vendo um sentimento de culpa neles, e suspirei.
— Não é culpa sua, e tá tudo bem. Eu consigo lidar com isso. –Sorri.
— Eu só não quero causar problemas entre vocês dois.
— Não está. –Garanti, levando uma das mãos ao seu braço, o acariciando. — Obrigada por sempre se preocupar.
Olhei para os dois lados do corredor, e sem me importar com algumas pessoas que nos olhavam curiosas, beijei a bochecha de Edward, e comecei à me afastar.
— Aliás, –Edward falou um pouco mais alto, me fazendo parar e me virar em sua direção. — Obrigado por ter apoiado e incentivado a Nancy à fazer teste para a equipe de torcida.
Sorri como resposta e voltei á caminhar. Você quis dizer: apoiado e incentivando a Nancy à pagar o maior mico, Edward. Então, de nada.
As aulas hoje pareciam se arrastar. É incrível e trágico que, quando queremos muito que uma determinada hora chegue, o caminho até ela se torna lento e agonizante.
O sinal soou, e infelizmente, ainda não era para o fim das aulas, mas sim, para a hora do almoço. Levantei da cadeira e saí imediatmente da sala de aula, mesmo não tendo nenhum plano para agora.
Considerei a hipótese de ir para a enfermaria e dormir até o término das aulas, mas acho que nem isso eu conseguiria. Talvez eu devesse matar as últimas aulas. Não, não, não.
— Hey, Summer! –Escutei Stuart me chamar, em meio à multidão, pouco depois de eu atravessar a porta.
— Agora não, Stuart. –Desviei dele, indo em direção ao refeitório.
Mas foi só chegar lá na frente, que percebi que Stuart não era o meu maior problema.
Genevieve estava na escola, e olhava de um lugar para o outro, até que, novamente por causa do destino que me odeia, ela me viu.
— Summer! –Ela gritou animada. Olhei para os lados, fingindo que não era comigo, mas ela logo se aproximou, em uma velocidade meio discutível. — Trouxe isso.
— O quê? –Questionei, afinando a voz bem mais do que havia planejado.
— É o seu almoço, você esqueceu. –Ela riu, porém, permaneci séria. — Tá, deixa eu explicar. Bem, é que eu resolvi ir na sua casa fazer uma visitinha para o seu pai, daí ele acabou comentando que você esqueceu o seu almoço, então resolvi trazer ele aqui para você.
Genevieve riu com animação, tocando o meu braço como se tivéssemos algum tipo de intimidade. Eu estava estática, com a mesma expressão séria, e com uma dose de vergonha alheia. Ela parecia ter saído diretamente do The Sims.
— E daí?! Eu não pedi que você trouxesse, e eu não quero, e nem preciso da sua ajuda. –Disse por fim, fazendo Genevieve parar de rir e me olhar como se não tivesse entendido.
— Mas... eu pensei que você iria gostar. –Ela ainda não parecia entender, e por uma fração de um segundo, senti pena dela.
— O que está pensando?! Que vai me conquistar com essas pequenas ações de merda? É sério, Genevieve?! –Mantive minha voz firme, a vendo se encolher um pouco. — E mais, sabe do que eu iria gostar?! De você parar de fingir ser quem não é, e sumisse da vida do meu pai, e da minha.
Genevieve abriu um pouco a boca e então se mexeu, soltando um suspiro e olhando a sacola com o meu suposto almoço, logo então, focando em mim.
— Perdão, eu pensei que você gostava quando alguém a ajudava sem precisar ou pedir algo em troca, mas acho que me enganei, não foi?! –Ela sorriu novamente, e eu arqueei as sobrancelhas, cruzando os braços. — Perdão.
Observei Genevieve se afastar e suspirei pesadamente, liberando toda a tensão acumulada. Feito isso, me virei, retomando meu caminho para o refeitório.
Entrei na fila para pegar o almoço, e em questão de segundos, escutei Marcus furar a fila, parando logo atrás de mim, sério, ele não era nada discreto. E é claro que, ele resolveu me perturbar também. Pra variar.
— Eu vi você conversando com aquela gostosa e, puta merda. Que gostosa. –Ele falou próximo ao meu ouvido, com o seu típico humor de sempre. Revirei os olhos e me virei, me afastando na mesma hora devido à proximidade que nossos rostos ficaram com o meu gesto não pensado.
— Você sabe que ela está comprometida com o meu pai, seu idiota. –O empurrei, abrindo um sorriso em seguida. — Mas eu apoio vocês dois, então pode investir à vontade.
— Não, ela não faz o meu tipo. –Falou, segurando um sorriso, me fazendo estreitar os olhos em sua direção.
— É mentira.
— Com certeza, é. –Ele riu exageradamente, e eu revirei os olhos, mesmo deixando escapar uma risada também.
Me virei para a frente, dando alguns passos conforme a fila andava.
— E eu prefiro as loiras. –Escutei ele comentar despreocupadamente e dei de ombros.
— Mas a Susan não é loira.
— Eu sei.
Franzi as sobrancelhas e paguei minha comida, saindo da fila. Preferia não prolongar mais aquela conversa com Marcus. Sabe-se lá o que poderia sair dela...
Quando cheguei na minha mesa, e me sentei, a primeira coisa que prestei atenção foi em Nancy.
Eu mal podia esperar para mais tarde.
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