06. Aquele com a Praia
Eu sou do tipo ruim
Do tipo que deixa sua mãe triste
Do tipo que deixa sua namorada brava
Do tipo que talvez seduza seu pai
Eu sou a vilã, dã...
(Bad Guy - Billie Eilish)
Suspirei pela milésima vez, totalmente entediada. Já havia feito toda a minha rotina matinal, e tomado o meu delicioso café da manhã. Até arrisquei em estudar um pouco, e agora, além de entediada, também estava cansada.
— Não acredito que vai ficar mofando aí no quarto, enquanto está fazendo um lindo dia lá fora. –Marla disse, enquanto pegava minhas roupas sujas para lavar.
— Então pode acreditar. –Respondi, com o travesseiro abafando a minha voz, já conformada com a ideia de passar boa parte do dia vendo séries e filmes.
Marla suspirou, negando com a cabeça, e então saiu do quarto, já sem paciência, eu aposto.
Mordi os lábios pensativa, e me sentei na cama, com o celular em mãos e a almofada no colo. Eu não precisava de companhia para ir ao shopping, não estava tão desesperada assim. Então, num impulso, e decididamente, me levantei da cama, pronta para começar a me arrumar, mas ao ouvir meu celular vibrar, o peguei rapidamente sobre a cama.
Era uma mensagem de Susan. Eu confesso, não iria dar muita bola, mas ao ler do que se tratava, um sorriso involuntário nasceu nos meus lábios pintados de rosa. A mensagem dizia que toda a galera iria à praia.
Toda a galera incluía Edward, e se o Edward ia, também iria levar Nancy. Os dois indo juntos era a minha desgraça, e também o meu empurrão para ir, e é claro, levar Stuart comigo.
Por falar nele, na noite passada, publicamos nossa primeira foto juntos no Instagram, além de nos seguirmos. E é claro, trocamos nossos números de telefone, como bons falsos namorados.
Sorri quando Stuart atendeu minha ligação, e antes que ele pudesse dizer alguma coisa, eu fui mais rápida:
— Espero que você tenha protetor solar, porque vamos à praia.
— O que você veio fazer na praia, morar aqui? –Stuart perguntou, enquanto caminhávamos pela areia. Me virei em sua direção, baixando meus óculos de sol por alguns segundos, enquanto o loiro carregava a minha bolsa e uma cadeira de praia.
— Ora, não seja exagerado. –Falei, dando de ombros, apressando meus passos.
— Vai com calma, apressadinha. –Ele pediu. Entretanto, não diminuí o ritmo dos meus passos. — Ah, já entendi. Eu sou o que corre atrás da relação.
Não resisti e acabei rindo, parando de caminhar e o encarando.
—É, tipo isso.
— Sabia que eu tinha compromisso pra hoje? –Senti o seu olhar em mim, e então o olhei também, notando seu cabelo ainda mais bagunçado, por causa do vento, e sua camisa com estampa de flores. Se ele estivesse com uma câmera fotográfica no pescoço, poderia até ser confundido com um turista.
Ele, definitivamente, se vestia muito mal.
— Tipo o quê, se revezar entre dormir e fazer coisas de nerd? –Stuart fingiu rir, colocando a mão livre sobre o peito.
— Droga, seu senso de humor é mesmo uma coisa de outro mundo. —Ele disse em tom sarcástico, e eu apenas dei de ombros, esboçando um sorriso. — Mas para a sua informação, eu combinei com a minha irmãzinha em maratonar os filmes da Barbie, por isso, quero que você me libere antes das quatro da tarde.
— Oh, perdão. –Retribuí seu sarcasmo, e logo pude avistar o nosso grupinho mais à frente.
A praia estava bem movimentada, porém, não chegava a ser aquela coisa sufocante. Mais à frente, ficava o famoso píer de Santa Mônica, mas creio que não iríamos lá hoje.
— O nome dela é Cindy, e...
— Para. –Ergui a mão o interrompendo, e mesmo Stuart estando com óculos escuros, pude perceber a confusão em seu olhar. — Nossa relação é extremamente profissional, não precisamos criar algum tipo de intimidade.
— Ah, foi mal. Na próxima vez, prometo que vou ler as regras direitinho. –Revirei os olhos, diante da sua ironia, e então sorri falsamente quando nos aproximamos do nosso grupo.
— Olá, vadias. –Os cumprimentei.
— Bom, antes tarde do que nunca, não é mesmo?! –Marcus Haghman disse, com seu típico humor de sempre.
— Não precisa demonstrar que sentiu a minha falta, Marcus. –Sorri, enquanto Stuart já arrumava uma barraca perto das outras. Marcus, por outro lado, me lançou um olhar que durou por alguns segundos, antes de piscar para mim e abaixar os óculos escuros. Céus, eu conhecia muito bem aquele tipo de olhar.
— Ok, quer que eu passe protetor nas suas costas também? Jennifer e Susan adoraram. –O amigo de Edward se ofereceu, malicioso. Olhei na direção das duas garotas, que estavam deitadas em uma toalha, se bronzeando.
— Bom, em alguma coisa você tem que ser bom com as mãos. –Susan disse enquanto nos olhava, e tanto Jennifer, quanto eu, soltamos gritinhos, zombando de Marcus, que por alguns segundos, fingiu estar envergonhado.
Tinha uma coisa sobre Susan, que eu tinha que confessar: Eu adorava os peitos daquela vadia! Merda, eles eram grandes e durinhos, e sem silicone. Eu morria de inveja. É claro que, eu jamais teria coragem de admitir isso em voz alta, mas ela era atraente, e não era por causa dos seus cabelos negros, e seus olhos claros, que eu não sabia identificar se eram verdes, ou cor de mel.
Mas Susan tinha uma coisa que, não sei, talvez seja por isso que Marcus está sempre voltando para ela, mesmo depois de correr atrás da escola inteira. Eles viviam em um eterno vai e volta de pegação.
— Posso te dar um conselho, Marcus? –Olhei o garoto asiático ao meu lado, e coloquei minha mão sobre o seu ombro. Esse provavelmente seria o máximo do meu toque que ele iria sentir daqui pra frente. — Ainda dá tempo de você se suicidar na praia. –Sorri, me afastando dele em seguida.
— Nossa, e eu pensava que o meu humor era ácido. –Stuart comentou, e isso foi o suficiente para Jennifer rir, como se estivesse desesperada por atenção.
Olhei para a frente, vendo Nancy e Edward caminharem em nossa direção, molhados. Acho que em um ponto, eu me enganei sobre Nancy, já que jurava que ela teria vergonha de ficar apenas de biquíni para entrar na água.
— E além do mais, —Completei, começando à tirar a minha roupa, ficando satisfeita ao ver os olhares do três garotos ali presentes. Me abaixei lentamente, tirando o protetor solar da minha bolsa. — Eu já tenho alguém que passe em mim.
Caminhei na direção de Stuart e lancei-lhe uma piscadela, entregando o frasco para ele. Dei um selinho no loiro e então deitei na minha toalha sobre a areia, de bruços.
— Achei que o combinado seria você fazer tudo o que eu quisesse, e não o contrário. –Escutei ele sussurrar em meu ouvido, depois que se abaixou ao meu lado.
— Seja um bom namorado falso, e passe protetor solar nas costas da sua garota. –Respondi sorrindo.
Eu e as garotas estávamos nos bronzeando no sol. Até mesmo a sonsa da Nancy estava lá, mesmo que mal falasse alguma coisa.
Como eu já imaginava, Jennifer estava falando normalmente comigo. Ela não tinha coragem nem mesmo de ficar brava. E eu, como não era nem um pouco boba, notei seus olhares para Stuart sempre que ele estava por perto, e eu estava adorando exibi-lo, fazendo com que ela sentisse inveja.
Não era a primeira vez que Jennifer sentia inveja de mim. Lembro de quando comprei uma bolsa da Gucci, e ela rapidamente comprou uma igual. Ou de quando ela começou a pintar seus cabelos morenos de loiro, para me ofuscar. Eu era a única loira de nós três, e até isso ela invejou. Agora, com Stuart não seria diferente.
— Deixa que eu prendo. –Avisei para Nancy, enquanto me aproximava dela. A garota hesitou por alguns instantes, mas logo permitiu. — Isso é bem chato. Às vezes as alças do meu biquíni também se soltam.
— Obrigada. –Ela agradeceu docemente, e então revirei os olhos, dando um nó apertado em seu biquíni, de propósito. — Ai!
—Oh, desculpe. –Segurei o sorriso, suavizando o aperto. — Está bom agora?
Nancy murmurou um "sim", e depois que cumpri meu trabalho, voltei para o meu lugar. Passando-se alguns segundos, notei Stuart parar ao meu lado. Eu estava tão distraída pensando em como Nancy era patética, que nem havia percebido que ele estava vindo.
— E então, como está a água? –Perguntei para ele, que à minutos atrás, insistiu para que eu entrasse.
— Molhada. –Stuart deu de ombros. Semicerrei os olhos em direção à ele, que me olhava com um sorriso divertido no rosto.
— Olhem, parece que o Marcus não quis seguir o conselho da Summer. –Jennifer gritou enquanto ria, fazendo ele apontar o dedo do meio em sua direção.
— Que tal se a gente jogasse vôlei de praia? –Edward chegou lá com uma bola. Eu estava orgulhosa de mim mesma por não ter falado com ele. Quer dizer, eu havia o cumprimentando, mas isso não conta.
— Acho uma ótima ideia. –Fui a primeira à concordar.
Eu tinha que ganhar a confiança dele e da Nancy, e assim ficaria mais fácil. Não podia demostrar ser a surtada que não aceitava o fim do namoro. É mais ou menos como diz aquele ditado: Mantenha seus amigos por perto, e os seus inimigos mais ainda.
— Eu escolho meu time primeiro. –Avisei quando todos toparam, menos Stuart, que por não gostar de esportes, segundo ele, ainda estava meio relutante. — Stuart.
— Temos sete pessoas aqui, e uma delas vai sobrar, então, que seja eu. –Ele falou, esboçando um leve sorriso, e passando as mãos em seu cabelo molhado.
— Eu posso ficar de fora, não sou muito boa em esportes. –Nancy se ofereceu timidamente, e eu tive vontade de enterrá-la na areia.
— Viu só?! Então está decidido, Stuart vai jogar no meu time. –Disse indo até ele, e segurei suas mãos, tentando puxá-lo, ao mesmo tempo em que lançava um olhar sugestivo e quase mortal para ele.
— Qual é?! Você sabe que eu não gosto de esportes.
— Quem te viu, quem te vê, Summer. Saindo com um cara que não gosta de esportes. –Marcus zombou.
Revirei os olhos, observando a situação ao meu redor.
— Hey, achei uma solução. –Susan anunciou. Olhei em sua direção, notando que ela estava acompanhada por um cara. Me perguntei à que horas ela havia se distanciando da gente, já que eu não havia notado. — Esse aqui é o Kyle, e ele vai jogar no meu time.
O garoto ruivo cumprimentou à todos. Eu não o conhecia, e sinceramente, não fazia nem ideia se ele estudava na nossa escola. Provavelmente, ele é apenas um garoto qualquer, que já dormiu, ou que ainda vai dormir com Susan.
— Ora, ora. Então vai ser o time da Summer contra o da Susan?! –Marcus questionou, em tom de riso. — Achei que seria um lance tipo garotos contra garotas.
— Aí não teria graça, já que a gente ganharia. –Susan retrucou, convencida. Era verdade, afinal.
Enquanto eles discutiam sobre quem era o melhor, mudei meu olhar para Edward, que parecia meio alheio à tudo aquilo. Não levou muitos segundos para que nossos olhares se cruzassem, e um sorriso tímido nascesse em seu rosto. Com ar desinteressado, desviei meu olhar para Nancy e Stuart, que estavam sentados nas cadeiras de praia, à poucos metros de nós, conversando.
Droga, a missão dele é ser meu falso namorado, e não virar amiguinho da garota que eu mais odeio na vida.
— Tudo bem, eu quero o Marcus. –Falei, voltando a minha atenção para os outros, e não deixei de me amaldiçoar mentalmente ao me dar conta do duplo sentido daquela frase. Aquilo podia ser suficiente para Marcus pensar que teria uma chance comigo.
Eu só tinha três opções: Ele, Edward e Jennifer. Só que, tecnicamente, eu não estava nem aí para Ed, pelo menos, eu tinha que aparentar não estar. Já Jennifer, bem, ela era péssima! Um peso morto, digamos assim. Porém, por mais que eu tentasse, não conseguiria me livrar dela, já que, logo depois, Susan escolheu Edward, e então a loira falsa foi o que me sobrou.
Conforme íamos jogando, me amaldiçoei mentalmente por ter aceitado aquilo. Era duro admitir, mas Marcus estava levando o time nas costas. Enquanto no time adversário, Edward e o garoto jogavam pra caralho.
E nós perdemos. Se eu não estivesse odiando aquilo, até pediria uma revanche, eu odiava perder. Mas, bem, eu não deveria desperdiçar meu precioso tempo com uma partida idiota de vôlei.
Depois de algum tempo, decidimos ir embora, e enquanto os outros iam mais à frente, Stuart e eu caminhávamos lentamente, logo atrás. Olhei o loiro, que assobiava despreocupadamente, e senti a curiosidade tomar conta de mim.
— O que estava conversando com a Nancy? –Não resisti e tive que perguntar. Não sei, mas algo me dizia que se eles virassem amigos, meu plano iria por água abaixo. Quero dizer, ele poderia fingir que gostava dela, como eu estava fingindo. Mas lembrando do modo como eles conversavam e riam, aquilo não parecia nem um pouco fingimento.
Stuart parou de assobiar, e me olhou, franzindo as sobrancelhas por alguns instantes.
— Nada de mais. –Acenei como resposta, querendo dar aquele assunto como encerrado, e voltei á olhar para a frente. — Sabe, ela parece ser legal, não entendo como pode querer o mal dela.
— Eu não estou acreditando nisso. –Disse, soltando uma risada sarcástica e incrédula, então passei a mão no meu cabelo, fazendo algumas mechas caírem sobre meu rosto. — Ela roubou o meu namorado. Quer um motivo melhor que esse?
— Eu entendo como se sente, entendo mesmo. Mas não acha que já está indo longe de mais com essa vingança, ou coisa assim?
Sorri, acenando para os outros, que caminhavam em direção aos seus respectivos carros, mas logo fiquei séria, quando voltei a encarar Stuart.
— Pelo visto, ela também te enfeitiçou. –Revirei os olhos. —Olha, eu não te pago para dar palpites. –Disse, e caminhei na direção oposta, onde meu carro estava estacionado.
—Mas você não me paga. –Escutei Stuart falar e me virei em sua direção.
— Porque você não quer.
Me afastei novamente, dando um fim naquela conversa. Até pensei em oferecer uma carona à ele, mas tenho certeza de que ele daria um jeito, já que não viemos juntos mesmo.
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