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Entre as ruas escuras da cidade, um jovem renegado se arrasta feito um bêbado, se escorando nas paredes das casas de pedra e vomitando no chão já sujo das vielas.
A caminhada o levou a lugares que não conhecia, e conforme a madrugada foi chegando, e a lua sempre amarela foi se infiltrando pelo véu preto que cobria sua cabeça confusa, de delírios e rancores, ele parou em uma humilde ponte, feita do pedregulho mais claro, coberto pelo asfalto mais escuro, e ficou na beira entre o chão, o olhar da lua sobre seu peito, e o lago que terminava na morte.
O jovem, anseado pelo desprezo de sua vida de caprichos, tentou olhar o fundo da água cor petróleo que remexia com calma entre os pilares robustos que seguravam o resto da ponte. Louco para dar um mergulho, não se importando com o depois, se propôs a pular, e foi impedido pela curiosidade, quando um homem, com uma vara de pesca rústica em suas mãos, se sentava não muito ao seu lado, observando o céu sem estrelas, recheado com nuvens acinzentadas e a lua cor farol que brilhava timidamente por entre ele e o garoto, agora surpreso, ao seu lado.
O menino de cabelos castanhos, alternou seu olhar confuso entre o velho e o fio invisível que se mantinha no lago escuro muito abaixo de seus pés e, por puro impulso, o mesmo que lhe fez ter motivo de pular o buraco do fim, perguntou:

— O que você está pescando? Não há peixes aqui.

O velho homem olhou de relance para o inexperiente rapaz perante a vida, e sua vara de pesca o respondeu, quando o anzol mais resistente que o pescador agarrou em alguma coisa e subiu para recuperar o fôlego. De seu cabide, se pendurava por mal trapilhos gastos e rasgados, o corpo do que antes foi um homem, e o pescador, calmo igual o lago que fisgou seu peixe sem escamas, respondeu o agora assustado garoto:

— Estou fisgando o que será você, em um futuro não tão distante nessa terra sem paciência, coberta pela ganância da pressa e apressada pelo cano do revólver que tem seu cão puxado a cada segundo que faz o ponteiro do relógio correr.

Com uma frase confusa e uma voz cansada, o jovem, agora apavorado, usou de sua perna para pisar o atrás, e por má sorte, pisou o ar que era percorrido pela névoa sinistra da ponte. Ele agora caia, e a lua ria de seu ato falho, o causando um mergulho cego com suas costas para o véu infinito e de cor breu para o lago que cercava o culpado de sua queda.
Poucos dias depois, sem o relógio neurótico para lhe contar os números corretos, foi retirado de onde afundou, e o que restou foram suas roupas, pobres e rasgadas tal qual eram antes, sendo puxado por um anzol poderoso enquanto era puxado pela linha resmungante em uma vara de pesca falante.
O jovem, sem nome, sem idade, sem vida, jazia agora no caixão que sua família, pobre igual a morte, o colocou contra sua vontade, em um sono não desejado, sem paz, apenas gritos vindo de sua garganta, implorando pelo batimento do coração e o pulsar do sangue a luz dos olhos e a escuridão da mente.
Triste era o destino daqueles que não entendiam seu propósito, e conheciam a ponte que conhecia o lago, que conhecia o pescador que conhecia o fim.
O melhor atalho de suas vidas.

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