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Primeira Reflexão

Alguns de vós já entenderam o meu gosto pela escrita de ficção. Agora na política poucos são os leitores que conheciam esta minha tendência, pese embora, muito residual no meu, e talvez, nos nossos tempos. No entanto o que se tem passado desde meados de fevereiro, para nós europeus, não nos deve levar à indiferença de umas meras estatísticas sabe-se lá com que procedimentos de validação, como uma verdadeira coboiada de ver quem ganha a guerra: nós ou o bichinho.

Nesta pandemia, no meu caso, nem tudo foi mau. Peguei no maior livro que tinha, e imaginei que era um político que tinha de tomar decisões em face da panóplia de informação que me chegava.

Estes relatórios que estavam a despacho, rapidamente me fizeram esquecer o bichinho, respeitando sempre as medidas preconizadas pela Direcção Geral de Saude, tendo em conta que ainda há muito por descobrir, pondo-me no entanto a pensar se um dia chegarei a avô.

Chegado ao fim de ler tanto papel e informação, acabo por cair na realidade e surgem-me dúvidas como irei lidar com a situação.

No entanto, com tanta pandemia desde a peste negra, como agora esta histeria, quando as mortes parecem um mistério. Uns dizem porque é idoso, outros porque fumava demais outros ainda porque é a «maldição do diabo».

Ora há grupos de risco, ora não há, ora o bichinho morre com calor mas nos países com calor também há a maleita. Quem entende isto, valha-me Deus!

Resolvo ligar para o meu médico de confiança, por sinal veterinário, para ver se me esclarece mais algum pormenor. Alguma coisa que me «ilumine».

«Seguro que o bichinho não foi fabricado. Vem mesmo desses mercados de animais com falta de higiene. E alguma estirpe contaminou um humano, tendo origem num animal vivo. Saiba que os cães, por exemplo, sobrevivem bem a este vírus. Agora é impressionante como se propaga nos humanos, mesmo proporcionalmente matando uma minoria dos infectados.»

Em nada me ajudou a conversa. Toda a comunicação social «incendiava» a serenidade das pessoas, obrigando os políticios a tomarem medidas. Mas que medidas? Morremos à fome? Paramos o País? E por quanto tempo?

Bolas, tenho de dar uma entrevista por telefone. Para o noticiário das 20h00. Logo esse com mais audiência!

«Então que medidas imediatas serão implementadas?»

Como se não soubesse. A pergunta, claro!

Respondo como um marinheiro que navega à vista. Temos de avaliar, pouco se conhece sobre a doença, mas amanhã serão anunciadas as melhores medidas que vão ao encontro dos interesses do país e das pessoas.

Fico depois sempre a ouvir os comentadores pagos pelas TVs a dizerem as maiores baboseiras e atrocidades, que nada ajudam a acalmar e serenar os animos. Claro, se não tenho responsabilidades é muito facil decidir. 

Ainda antes de ir para casa telefono a homólogos de outros países a saber as suas opiniões. Uns nada ligam e quem tiver de morrer é porque já estaria debilitado. Outros até fecham o cão em confinamento, não vá contaminar a família, mas aplicam medidas moderadas por causa da ecomomia. Houve um que queria matar os médicos porque tudo aquilo era invenção. E finalmente os radicais «Isto é fogo na pradaria!»

Em face a tudo isto o que amanhã irei dizer ao país?


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