Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo V (Ferroso)

Os pioneiros não apreciavam o selvagem; era um obstáculo a ser vencido para se ganhar a vida e era uma ameaça constante na sobrevivência. Os pregadores do início do período colonial viram o selvagem como o lugar dos demônios e raramente como o meio ambiente protetor da Igreja.

Yi-Fu Tuan

O gramado extenso possui ipês floridos esparsos, é plano, e fica na região alta da cidade, ao fundo pode-se ver a silhueta urbana, com antenas e prédios. O sol vermelho está quase se pondo, o sol azulado, mais fraco e discreto ainda paira como se fosse meio dia. Os mesmos dois sois de sempre, do cotidiano de Arborenses. As lápides encravadas na grama são discretas. Pequenos drones fazem a manutenção do jardim, irrigando e podando arbustos. O caixão de Otávio Ferroso desce para o fundo do buraco. Grande parte da elite da cidade está ali, despedem-se do falecido. O padre com voz potente ora o pai nosso.

A esposa do senador é a única que se mostra desconsolada, se apoia no marido, querendo despencar no chão, gritar, pensa em jogar-se na cova, partir com o filho. O senador Ferroso olha fixo para o caixão, seu semblante parece congelado, quase um rosto de um androide. Robôs empurram o solo para a cova, o caixão vai sendo encoberto. Lentamente todos vão se retirando do local. Pessoas cabisbaixas pisando na grama com cuidado, observando e analisando os familiares do morto, julgando a tristeza alheia. Ferroso pede para um conhecido acompanhar sua mulher até o carro e acena para o padre.

"Padre Olívio, espere."

O padre segue para o encontro do senador.

"Diga, senador."

"Eu quero uma missa de sétimo dia deslumbrante. Prepare um sermão especial, que enalteça meu filho. Ele merece ser honrado."

"Claro, senador."

"As pessoas falam coisas errôneas sobre meu menino. Quero que esses falatórios sejam enterrados junto com ele. Quero que se fale bem do garoto. Os pecados dele não devem ser lembrados, nem sequer deve-se cogitar que existiram. Certo?"

"Que pecados?" Pergunta o padre sorrindo.

O senador abraça o padre também sorrindo, os dois seguem cruzando o cemitério em passos lentos. As mãos do senador apertam com firmeza o ombro do padre.

"Nós temos que ampliar os católicos de nossa cúpula na cidade. Os católicos do movimento sustentável estão crescendo como pragas, voltando a pregar mediocridades. Vamos fundar mais um belo templo. Uma grande torre, que faça lembrar Babel."

O padre suspira orgulhoso.

"Com fiéis como você senador, garanto que só vamos crescer. Aliás, desde de nossa aliança nos fortalecemos. Temos muito a oferecer para você também."

"O vaticano enviou algo?"

"Sim, novos seminaristas. Um deles extremamente importante. Algo que trará tudo que precisamos. Esse menino irá nos ajudar a extirpar os infiéis, assim como, Deus fez para os Hebreus."

"Nossa, padre! O que esse seminarista tem de tão especial?"

"Não é o momento de falarmos sobre isso, senador. Cure sua dor, passe por seu luto em paz."

Os olhos dos amigos estão lacrimejantes.

Um comboio de carros luxuosos parte do cemitério.

A residência dos Ferroso em Arborenses fica na área rural, um latifúndio. O local possui um jardim imenso com um labirinto feito de cercas vivas, piscina aquecida, quadras de tênis e uma bela capela toda feita com madeira de lei (clandestina). Bem no centro, no alto do terreno, a mansão no estilo romano, com pilastras imponentes. Pastos de confinamento, lotados de vacas, com matadouros eletrônicos são organizados em setores diferenciados. Dificilmente o cheiro de sangue chega até a mansão, pois o relevo e o vento predominante não permitem.

Bebendo a boa cerveja caseira, produzida na propriedade, sentando em sua poltrona macia, com os pés sobre a mesa de centro, feita com restos de perobas que um dia ocuparam a região, o senador observa a paisagem de seus domínios. Destaca-se na vista a pista de voo do monomotor que ele gosta de pilotar. Deixou a esposa entorpecida por remédios no quarto. Um de seus netos adentra o escritório, correndo o menino pula no colo do avô. O senador gargalha.

"Toninho, seu sapeca."

Com suas mãos fortes o velho faz cócegas na barriga do garoto. As risadas da criança soam melancólicas, fazendo ecos de tristeza pela casa silenciosa. O avô cessa as cócegas e apoia a cabeça do menino em seu peito. Sente o calor do corpo do neto, o cheiro da pele infantil que ele tanto gosta.

"Tudo bem com você, meu neto?"

O menino olha com medo para os animais empalhados presos como quadros no escritório: onça-parda, anta, tatu, tamanduá, araras, lobo-guará, capivaras, leão, gorila e um grande marfim de elefante.

"Você caçou todos esses bichos, vovô?"

"Não nem todos, a maioria foi seu bisavô, na época da colonização dessa cidade. Outros fui eu em minhas viagens pela África."

"Eles são perigosos?"

"Claro! São selvagens, matam sem dó. Se não dominarmos essas feras, mostrar quem é que manda, elas nos consomem. Mas nossa família é de gente brava, somos superiores."

"Você me ensina a atirar, vovô."

"Claro, sua mãe não deixou ainda, mas em breve te levo numa caçada das boas."

O senador entorna a cerveja, olha para a pele delicada do neto, passa os dedos pela face do garoto. A feição do velho se enrijece.

"Você tá triste, vô?"

"Um pouco, mas vai passar."

Uma moça uniformizada adentra o escritório.

"Toninho, te achei. Deixa seu avô quieto. Vamos lá no jardim."

O avô coloca o menino no chão.

"Vai brincar!"

O menino olha com pesar para o avô, pensa em papai Noel. A barba branca bem cortada e a barriga avantajada levam a isso.

"Por que minha mãe e a vovó estavam chorando, vô?"

"Coisa de mulher, não liga não." Diz o velho bonachão, com um sorriso esticado.

O menino acompanha a babá, retiram-se do escritório de mãos dadas. O senador em seu íntimo deseja que o neto não siga o caminho do filho. O garoto lembra muito Otávio quando criança, mas o avô sabe que o neto é mais perspicaz. Otávio era um idiota, um fracassado, um drogado. Um merda. O senador pensa nas várias clínicas de recuperação que colocou o filho, em toda a decepção que ele sempre foi. Lágrimas de desgosto saem de seus olhos.

Otávio foi famoso por sua burrice. Sempre avoado, não tinha o poder de perceber em profundidade o mundo ao redor. "Pai, um dia vou te dar orgulho. Um dia você vai saber do que eu sou capaz, de todo o valor que dou para nossa família." Foi a frase mais marcante que Ferroso lembrava-se do filho lhe dizer. Ele lhe disse isso amarrado na cama de um hospital, após quase morrer de overdose. O senador chegou a acreditar que o filho poderia surpreendê-lo, pois era sangue do seu sangue, seu filho, seu único maldito filho. Talvez se não tivesse morrido daquela forma horrenda.

Ferroso lembrou da beleza do filho, de afagar os cabelos do rapaz, do cheiro forte de suor que ele exalava quando criança. Uma criança estranha, que perambulava pelos cantos da mansão. O moleque sempre foi depressivo. Não era um guerreiro, não sabia superar traumas, aguentar a realidade do mundo. O sol azulado desaparecia no horizonte, o sol vermelho já havia se posto há horas, a paisagem azulada acalmou, por um momento, toda ânsia por vingança que batia no peito do senador.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro