Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo IV (Luvell)

As pessoas pensam que sonhos não são reais apenas porque não são feitos de matéria, de partículas. Sonhos são reais. Mas eles são feitos de pontos de vista, de imagens, de memórias e trocadilhos, e de esperanças perdidas.

Neil Gaiman

O corpo de Luvell se debate na cama, são movimentos bruscos. Ela está suada. A respiração é forte. A cena frenética dura minutos. De repente ela se encolhe em posição fetal. Continua a dormir. Seu semblante torna-se pacífico. A respiração toma um ritmo lento.

O menino ruivo corre com ela no jardim. O sol ilumina o gramado.

Ela adora aquele menino. O rosto dele é nítido.

Tudo em volta é desfocado.

Ela faria de tudo para ficar naquele momento.

Vê-lo sorrir, poder brincar naquele jardim.

No fundo um vulto de um adulto.

O vulto chama o menino. Ela pensa em gritar.

Não se vá para longe de mim!

Luvell acorda.

Mais um de seus sonhos repetidos. Ela está acostumada. Às vezes, eles se repetem iguaizinhos, outras vezes alteram-se detalhes. Toda manhã ela se lembra dos sonhos, dos inéditos e dos recorrentes. O menino ruivo tem constância em seus sonhos. Ele é lindo. Corriqueiramente, acorda cansada. Os sonhos cansam mais que a realidade. Uma pergunta ronda sua mente. Toda manhã a mesma pergunta.

Quem sou eu?

A pergunta vem de seu íntimo. Ela acredita que todos se fazem essa pergunta, mesmo que inconscientemente. Todo mundo quer saber quem é. Ninguém sabe realmente. A vida nada mais é que uma odisseia em busca dessa resposta. Outra pergunta lhe surge: Quem seriam aquelas pessoas tão familiares em seus sonhos?

Há anos ela tem dificuldade em distinguir os sonhos da realidade. Quem era aquele ruivo? O que lhe confirma o real é certa rotina, sequências de acontecimentos lógicos, que nos sonhos, às vezes, não duram tanto.

Não é comum, mas a "moça" levantou cedo. Ela sabe que não precisa ir trabalhar, já resolveu as tarefas da semana no dia anterior. Tem facilidade em resolver as coisas, sobra-lhe tempo livre. Ela tira a camisola e se olha no espelho. O incômodo e também adorável pênis continua lá, pendurado como um lustre. Seu corpo miúdo faz o membro parecer maior do que é. Ela segura os pequenos seios, seu orgulho, faz uma cara sensual para a imagem do espelho. Seus cabelos ondulados, negros como uma graúna, descem até próximos das nádegas bem delineadas. A magreza de uma modelo de passarela, a delicadeza de um corpo de adolescente.

Luvell veste sua calça larga e flexível, a mesma de quase todos os dias. Agora que seu membro não pode ser visto, sua imagem se preenche de uma vulnerabilidade de uma menina. A genética lhe trouxe a vantagem de envelhecer devagar. Seu rosto mantém a pele de seus dezoito anos. Em breve, fará vinte e oito. Ninguém acerta sua idade. Ela olha atenta para o rosto, morde os lábios carnudos e admira os olhos amendoados de um castanho tempestade. A ausência quase completa de pelos no corpo vem de seu sangue indígena, uma benção. Costuma sonhar com tribos e uma vida na floresta. A pele cor de jambo parece ter sabor doce. Seria uma bela menina, mas dizem que não é. De manhã, em geral, ela se sente frustrada por isso. Durante o dia, a sensação desaparece. Na maior parte do tempo gosta de ser como é, cada vez mais próxima do feminino que construiu para si. Um feminino intrínseco, independente de hormônios, de desejos da família, de cultura, até mesmo de sexo, mas que caminha com um desejo profundo de aprimoramento de seu feminino, de ressignificação dele.

Na cozinha prepara o café. Faz panquecas e um cappuccino. Sua habilidade culinária é invejável. Ela sempre avisa as pessoas: Tenho habilidades invejáveis. O apartamento é cheio de luz. A vista da ampla janela mostra todo o verde da cidade. O símbolo de Arborenses são suas frondosas árvores de rua. Luvell quase acredita que a cidade é cheia de harmonia e felicidade quando a observa do alto. A podridão fica debaixo do tapete, nesse caso um tapete verde.

Na sala de televisão, mas sem televisão, senta-se em um confortável sofá, colocado estrategicamente entre prateleiras de livros, todos organizados por gêneros, uma biblioteca de valor íntimo. Uma pequena mesinha de madeira de demolição serve de apoio para a xícara e o prato. Enquanto se alimenta, ela lê as notícias em seu sensophone. Leva um susto com o vibrar do aparelho. A imagem de seu chefe surge no ecrã; junto, o costumeiro estresse. O que esse cara quer de mim nesse horário? Reticente ela atende.

— Alô.

— Bom dia, Luvell!

— Bom dia, Palhares.

— Pronta para trabalhar hoje?

— Não me irrite, por favor. Entreguei tudo que me foi solicitado ontem. Você sabe que eu não gosto de fazer nada que não tenha sido previamente combinado.

— Luvell! Pelo menos é possível você fingir que me respeita? Sou a porra do seu chefe, certo?

— Delegado, odeio hipocrisia, você sabe. Sei do meu valor e se quiser você me demite, de certa forma irei gostar. Se for para o trabalho ser maçante e estressante como você parece que quer que seja é melhor me demitir o mais rápido possível. Um bom dia, estou tomando meu café.

— Não, não desligue, Luvell!

— Ok, fale logo do que se trata.

— Sério, é uma urgência. Sem você vamos ter problemas. Precisamos conversar pessoalmente. Você pode vir aqui na delegacia o mais rápido possível?

— Sim, irei. Bom dia!

Luvell desliga o aparelho, bufa e bebe um gole de seu cappuccino.

Alguns minutos depois segue pelas ruas com seu skate. Outra de suas habilidades invejáveis. Desliza pelo asfalto, desvia de buracos, salta meios-fios, se diverte com o vento no rosto e nos cabelos. Observa as copas das árvores que se tocam, encobrindo as ruas de frescor e sombra. O céu límpido e azul contrasta ao fundo. Passa por muros em que na adolescência fez alguns de seus grafites, podia ter seguido carreira, desenhos vibrantes, cheios de cores, de imagens de mil sonhos. Sorri envolta pelo ar praiano e luz carismática que Arborenses ostenta mesmo estando longe do mar. Um dedo médio levantado estampa a camiseta da "garota" e traz certo desconforto aos transeuntes. Os olhares para a menina radical são de incredulidade. O que estraga essa cidade é esse povo careta. Com cara de cu.

Na delegacia, ela cumprimenta sorridente alguns colegas, outros ignora com veemência. Vai direto para sala do delegado, adentra sem nenhum pedido ou batida de porta.

— Pode entrar, fique à vontade! — diz o delegado com escárnio.

Luvell coloca o skate apoiado no braço da cadeira e se senta, enxugando o suor do rosto com a camiseta.

— Você chamou, estou aqui.

O delegado apaga o cigarro que fumava. Luvell odeia o cheiro. Raiva e irritação ficam perceptíveis no semblante do velho delegado. O rosto enrugado, a baixa estatura, os dentes amarelados, causam aversão em Luvell.

— Obrigado por vir. Por aparecer no seu local de trabalho.

— De nada! Por que você fuma esse cigarro? Dessa marca que ninguém fuma. Que tem esse fedor horripilante. Por quê?

O cigarro tem o filtro verde, chama-se Ecologic, só por causa da cor.

— Foda-se, Luvell!

— Gostaria, mas anda difícil conseguir bons parceiros.

O delegado olha a menina com malícia.

— Sei. Você assistiu o noticiário?

— Eu não assisto televisão, você sabe.

— Certo. Mas você lê notícias, não é?

— Sim, mas quase sempre só a parte de literatura e, às vezes, cinema.

Palhares sorri e informa:

— Pouco me importa. Ouça, preste atenção. Duas pessoas morreram em um avião no aeroporto de Curytyby.

— Certo, continue.

— O avião viria para Arborenses. Um dos mortos é Otávio Ferroso.

— Que bom! Fico feliz. Conheço o sujeitinho.

— Ele teve um ataque de fúria, matou uma aeromoça. Enfiou na jugular dela um abridor de cartas de plástico. Mas acabou morto por um dos passageiros.

— Nossa! Um herói. Isso existe?

— Exatamente. Tudo é muito estranho. O suposto herói é um trompetista bonachão, mulato, um homem com histórico pacífico.

— As pessoas escondem seus monstros, delegado. Pensei que você já tivesse percebido.

— Engraçado! Acontece que esse músico tocou por muitos anos na boate do senador Ferroso.

— E daí?

— Daí que o delegado de Curytyby me ligou. O senador também me ligou.

— E daí?

— Precisamos saber a verdade. Provas concretas dos motivos verdadeiros dessas mortes. Precisamos esclarecer tudo. O senador está forçando para colocarmos esse trompetista na cadeia. Se não desvendarmos tudo nos próximos dias é isso que vai acontecer. Você sabe que não tem como segurar caras como o senador Ferroso. Claro, que se você nos trouxer respostas tudo fica mais fácil. Queremos fazer o correto. Do jeito que você gosta.

Luvell entorta a boca e espreme os olhos. Pensa por alguns segundos.

— Nossa! Você e o delegado Morais são gente tão boa. Fico admirada.

— Luvell, é sério. Queremos fazer o correto.

Luvell começa a gargalhar, sua risada é entusiasmante, mas o delegado não se deixa contagiar. Ela cessa o riso e continua:

— Delegado, eu sei bem que vocês odeiam o senador. Sei que ele quer eliminar a carreira de vocês dois. A do Morais nem se fala. Vocês querem vingança. Querem esfregar na cara do senador algo irrefutável, mostrar competência, assustar o cara. Eu poderia falar das ligações políticas entre vocês, mas não é o momento, certo?

O delegado passa a mão nos cabelos grisalhos e suspira forte.

— Luvell, suponha o que você quiser. Preciso saber se você vai ajudar ou deixar a história correr.

— Acho que vou deixar a história correr. Valeu!

A garota se levanta pega o skate e abre a porta.

— Espere, espere!

Palhares abre um sorriso mostrando todos os seus dentes amarelados.

— Não faça por nós. O trompetista é um coitado, tá na cara que é inocente. Ajude ele. O senador vai forçar a barra. Feche a porta, sente aqui. Vamos conversar como gente grande.

Luvell fecha a porta, senta-se novamente e fala com sua voz delicada.

— Tá óbvio que o cara teve uma atitude de legítima defesa. Como vão acusar esse cara? Deve ter muitas testemunhas. Não me venha com historinha. Fale a verdade.

— Realmente, vai ser difícil incriminar o cara, mas estamos falando do senador Ferroso. Mataram o filho dele. Ele vai querer vingança. Não queremos fazer mais favores, nem sujar as mãos por esse senador. Faz tempo que somos ameaçados. Você sabe. Queremos solucionar o caso dignamente, sem política e sujeirada, é isso. Não podemos fazer sem você. A coisa tem de ser rápida e você é nosso trunfo. Entendeu? Tá bom de elogios?

— Me passa a ficha do trompetista.

Palhares abre uma gaveta e joga uma pasta na mesa.

— Tá na mão.

— Alguém filmou o ocorrido, certo?

— Sim.

— Me passa o vídeo. Me passa no meu sensophone, deve ter algo espalhado na internet, me passa o link. Agora!

O delegado verifica na tela do sensophone, procura pelo link que havia acabado de receber do investigador Júlio e encaminha para Luvell. Luvell abre o link e assiste atenta os acontecimentos. A agilidade do gordo mulato, as defesas precisas, o golpe cinematográfico, quase impossível. Habilidades como essas não surgem como mágica. Ou surgem? Luvell franze o cenho.

— Delegado, vou ver o que posso fazer.

— Obrigado, obrigado.

Enquanto Palharesrespira aliviado, Luvell retira-se da sala.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro