Me lancei sobre minha cama após pendurar o quadro na parede e jogar a foto numa caixa que tinham muitas outras mais recentes. Passei a mão por meus cabelos e puxei minha agenda de debaixo do travesseiro. 

Quem quisesse me conhecer, era só ler aquela agenda. Ali eu descrevia todos os meus sentimentos, compromissos, conquistas, tudo. Dias importantes como o dia que me tornei capitã das líderes de torcida e o dia que Nick me pediu em namoro após fazer o ponto da vitória num jogo contra outra escola estavam descritos de forma bem detalhada ali, juntamente com fotos desses dias. 

Também era fácil encontrar relatos das minhas inseguranças e surtos que já tive durante minha adolescência. 

Puxei a caneta que ficava junto da capa de veludo cor roxa Com meu nome em letras brancas e grandes. Abri numa folha em branco e descrevi tudo que havia acontecido naquele dia, o que inclui a súbita mudança no comportamento de Nick ao flertar com uma aluna nova. 

Mordi o lábio inferior de forma tensa e observei o quadro que eu havia pendurado em minha parede. 

Era uma flor, uma tulipa. Suas pétalas eram num rosa vivo, porém, metade delas estava marrom e murchas, algumas até já haviam caído e estavam suspensas no ar. O cabo de um verde bem vivo pendia para o lado das pétalas murchas, como se a parte ruim da flor a puxasse completamente para o chão, mas a parte viva da planta a segurava de pé, de alguma forma. 

Lembro-me bem de quando pintei esse quadro. 

Meu celular notificou algo me fazendo parar de encarar o quadro e pegá-lo. Era só uma postagem do instagram, na verdade, muitas postagens, só que eram a mesma foto. Eu havia tirado uma foto com o time, então todas estavam repostando a foto em seus stories e me marcando. 

Sorri observando a foto e resolvi me levantar para tomar um banho. Eu ainda precisava ir a casa do Nick.

[...]

ㅡ Não, não pretendo demorar muito. To bem cansada. ㅡ Comentei com a minha mãe puxando uma garrafa de suco da geladeira e a abrindo. 

ㅡ Eu trouxe refrigerante. ㅡ Ela disse guardando as compras que havia trazido quando voltou do trabalho com meu irmão, o que significa que tem uma criança gritando com um vídeo game na minha sala. 

ㅡ Não, eca. ㅡ Balancei a cabeça de imediato. ㅡ Esse refrigerante todo ainda vai matar vocês. 

ㅡ Mãe, me dá um copo de morte líquida aí! ㅡ Meu irmão entrou na cozinha e sorriu de deboche para mim. 

Dei língua para ele e ele fez o mesmo. Bebi mais um gole do suco e observei minha mãe. 

ㅡ Ah, olha o que eu achei no mercado hoje. ㅡ Minha mãe virou para mim e apontou uma embalagem de plástico escuro que não me permitia ver o que tinha dentro. 

ㅡ Que isso? ㅡ Me aproximei curiosa e peguei a embalagem das mãos dela. 

ㅡ Abre. É algo que você gostava muito quando era mais nova. ㅡ Minha mãe sorriu para mim com tanta expectativa que eu abri a embalagem ainda mais curiosa. 

ㅡ Isso é...  ㅡ Parei de sorrir quando notei ser um pedaço considerável de torta de maça, algo que eu amava comer quando era mais nova porque minha avó fazia para mim. Infelizmente, ela havia falecido, então nunca mais tive a oportunidade de comer. Só o cheiro já me causou uma enorme vontade de comer aquela torta. 

ㅡ Torta de maça. A sua favorita. Lembrei de você na hora que vi, vamos, coma. ㅡ Ela abriu a gaveta ao seu lado, puxou uma colher pequena e colocou na minha mão. 

ㅡ Não. ㅡ Neguei de imediato fechando a embalagem. ㅡ Eu não posso comer isso, mãe, sabe bem. 

ㅡ Como não? Sei que você vive de dieta para continuar magricela e se encaixar no time, mas é só um pedaço de torta. Não vai mudar nada nessa sua cintura tão fina. ㅡ Ela virou as costas e voltou a guardar as compras. 

ㅡ Eu não posso. ㅡ Deixei-a sobre a mesa, por mais que tudo que eu quisesse era devorar todo aquele pedaço. ㅡ Se eu comer esse pedaço, vou querer mais doces, e sabemos que o que mais tem nessa casa é doces. ㅡ Apontei para o refrigerador onde meu pai guardava as tentativas de sobremesa dele. Bem, o meu pai vivia em busca das receitas perfeitas, então, se ele queria fazer um bolo de chocolate, ele inventava vários e vários tipos de bolo de chocolate até conseguir chegar  a um sabor perfeito que ninguém tenha feito antes. E os que não ficaram perfeitos? Ele deixa no refrigerador. No começo minha mãe e meu irmão até davam conta de comer, mas com o tempo até eles enjoaram e começaram a doar para instituições e também para os vizinhos. ㅡ E imagina o desastre que aconteceria no meu corpo se eu comece tanto doce. Deus me livre! 

Minha mãe se virou para mim com aquele olhar de quem tinha preocupações demais para ficar se preocupando se estou magra ou não. 

ㅡ Ta, to saindo. ㅡ Ergui minhas mãos. Passei pela mesa e acabei pegando uma maça. Virei-me para ela de novo. ㅡ Não comi a torta, mas como uma maça. É quase a mesma coisa. 

ㅡ Se você diz. ㅡ Minha mãe deu com os ombros e eu saí da cozinha.

Peguei meu celular, minha bolsa pequena e saí de casa. Coloquei meus fones e deixei que Ariana Grande soasse enquanto eu caminhava pelas ruas. O sol estava se pondo e o céu estava consideravelmente bonito. 

Nick não morava tão longe da minha casa, então fui andando mesmo.

Depois de uns dez minutos eu já estava na casa dele. Nick era filho único de pais bem ricos, então ele sempre foi bem mimado pelos dois com tudo.

ㅡ Olá, senhorita Ryan. ㅡ A empregada da família abriu a porta para mim com um sorriso simpático.

ㅡ Olá! ㅡ Sorri para ela.

ㅡ Pode entrar. ㅡ Ela me deu passagem e eu entrei na bela sala de estar. O cheiro de desinfetante recém passado tomou minhas narinas. O lugar era grande, paredes brancas, quadros caros, vasos de flores, tudo muito chique.

ㅡ Roxy Ryan. ㅡ A voz do pai de Nick me fez olhar para o topo da escada. O homem descia os degraes com um sorriso até chegar a mim e me cumprimentar. ㅡ É um prazer te ver aqui de novo. O Nick está sempre falando de você.

ㅡ É um prazer estar aqui, Sr Brown. ㅡ O cumprimentei. ㅡ O Nick está?

ㅡ Está sim, está na sala de filmes. Fique a vontade, eu vou precisar sair, mas a mãe dele está lá em cima caso precisem de algo.

ㅡ Obrigada. ㅡ Caminhei na direção da sala de filmes. Por serem bem ricos, Nick tinha sua própria sala de filmes que era escura e a televisão gigante. Eu tinha boas recordações dali, já maratonamos muitas séries e filmes juntos, sem contar que foi onde demos nosso primeiro beijo.

ㅡ É o que que tu quer, Cold? ㅡ Ouvi a voz de Nick e parei na porta da sala. Ele estava sentado no sofá com uma vasilha enorme de pipocas ao seu lado e o celular na orelha. ㅡ Não, eu não posso, to ocupado. ㅡ Com a outra mão ele segurava o controle que passava os filmes na televisão. ㅡ Não, eu marquei com a Roxy e ela já deve estar chegando. ㅡ Ele colocou na sessão de romance. Espera... Romance? Nick não gosta de romance. Até hoje to lutando pra tentar fazer ele ver um romance comigo. ㅡ Não, não vou pra festa não. Você viu o que rolou na última festa que fui sem a Roxy, o tanto de garota que ficou dando em cima de mim. Quero isso não, a Roxy confia em mim e eu não quero dar motivos pra ela desconfiar.... ㅡ Deixei um sorriso tímido aparecer em meus lábios. ㅡ Eu sei, mas não quero não. Vou procurar ir em festas agora só quando ela estiver junto comigo, assim fico mais de boa. ㅡ Ele ficou mais uns segundos em silêncio. ㅡ Deixa de ser chato, moleque, vai encher outro.

Nick desligou a ligação e eu sorri entrando na sala.

ㅡ Oi, Nick. ㅡ Sentei-me ao seu lado colocando a pipoca do outro e lhe dei um beijo. ㅡ Tudo bem?

ㅡ Tudo ótimo. Você demorou um pouco. ㅡ Ele me observou. ㅡ Pensei que ia me dar um bolo.

ㅡ Até parece. ㅡ Ri tirando a bolsa de meu ombro e me ajeitando ao lado dele. ㅡ Então... O que vamos ver?

ㅡ Como você sempre me pediu para assistirmos a romances e eu nunca quis, hoje vou dar uma chance.

ㅡ Sério? ㅡ Sorri empolgada. ㅡ Você não imagina o quanto me deixa feliz! ㅡ Olhei para a televisão. ㅡ Qual vai ser? ㅡ Nick colocou o nome do filme e o meu sorriso sumiu como num passe de mágica.

Um match surpresa...

Era esse filme que veríamos? O filme que aquela garota pediu para ele ver? 

•••
Continua...