04_ O outro lado da lembrança.
Eu não era de sentir ciúmes, pelo menos, nunca havia sentido daquela forma antes. Nick era popular na escola, saía, ia para festas, mas nunca me deu motivos para sentir ciúmes. Sério... Teve uma vez que a Honey me convenceu a ir numa festa que eu não planejava ir, mas sabia que ele tinha ido. Chegamos lá e eu me aproximei dele sem que ele me visse... Nick deu um fora em todas as meninas que tentaram algo com ele, sempre dizendo que tinha namorada.
Eu sempre confiei muito nele e por isso nunca me vi com ciúmes, mas, naquele momento, esse sentimento tão horrível acertou o meu peito como uma faca afiada.
A garota saiu tímida de perto dele e o mesmo voltou a observar os livros a sua frente com um sorriso no rosto.
Ele tinha flertado com ela... Ele tinha... O que eu faria? Arrumaria um barraco com ele? Tiraria satisfação e mandaria ele parar de falar com a garota? Na verdade... Era tudo o que eu queria fazer, mas não podia.
Respirei fundo tentando voltar ao meu estado normal e passei pela estante para chegar até ele.
ㅡ Nick? ㅡ O mesmo olhou para mim ainda com o sorriso no rosto.
ㅡ Oi, minha gata. ㅡ Seu sorriso estava focado em mim agora. Dei-lhe um beijo tentando ignorar a gigante insegurança dentro de mim.
ㅡ Te procurei no almoço e os garotos do seu time disseram que você estava aqui. ㅡ Passei a mão na minha saia ajeitando-a.
ㅡ É, o professor de espanhol quer me ajudar para eu não ter problemas para ir pra universidade. ㅡ Voltou a olhar os livros. ㅡ Ele me mandou vir buscar um livro. E você? O que fez essa manhã?
ㅡ Estive resolvendo umas coisas pro time. Vou abrir vagas para os novatos. ㅡ Nick pegou um livro, me abraçou de lado e começamos a andar para sair dali.
ㅡ Sério?
ㅡ Uhum. O teste vai ser amanhã. Também estou procurando alguém pra me ajudar com a nova logo do time para os novos uniformes.
ㅡ Puxa, está bem ocupada. Ia te chamar pra assistirmos um filme lá em casa hoje, mas já que tem tantas coisas para fazer... ㅡ Ele fingiu uma expressão decepcionada.
ㅡ É claro que eu vou. ㅡ Ri parando em sua frente. ㅡ Eu sempre vou ter tempo para você. ㅡ Lhe dei mais um beijo ao me colocar na ponta dos pés.
Nick sorriu para mim e passou na minha frente para seguir o corredor. Acabei olhando para o lado antes segui-lo e me deparei com Devon. O mesmo estava pegando algum livro, mas estava olhando para mim naquele momento com aquele olhar tão desagradável que ele sempre me olhava.
Nós nos encaramos por uns segundos. Eu queria muito, muito saber o que se passava na cabeça dele para me olhar daquele jeito. Além do olhar de ignorância, ele também parecia incomodado. Cara... Eu era tão inconveniente assim para ele? Ele não me suportava!
ㅡ Roxy? ㅡ Nick me chamou, Devon abaixou a cabeça virando para sua frente. Pegou seu livro e saiu pelo outro lado.
Bufei e segui Nick.
[...]
ㅡ Aí eu to tendo que encontrar alguém pra me ajudar, mas acho que vou conseguir sim. Devon não é o único cara que sabe mexer com isso na escola. ㅡ Comentei as coisas que haviam acontecido durante o dia na escola para meu pai. Já era quase noite e ele estava terminando de se arrumar para ir para seu restaurante.
Eu havia acabado de chegar da escola e nem ao meu quarto tinha ido ainda, me sentia cansada.
ㅡ Por que você e o Devon não se dão bem? Eu gosto tanto da família dele, eles vão jantar quase todo fim de semana lá no restaurante. ㅡ Meu pai terminava de abotoar sua dólmã.
ㅡ Eu também gosto da família dele, a mãe dele é um amor, o pai é gente boa e a irmã mais nova dele é muito fofinha. Eles são ótimos vizinhos, mas o Devon... Sei lá, ele só me odeia. ㅡ Cruzei meus braços.
ㅡ E você não fez nada para provocar isso? ㅡ Me olhou pelo espelho que estava na sua frente.
ㅡ Não! ... Talvez. Mas foi a tanto tempo! Éramos crianças... Adolescentes.
ㅡ E por que não conversa com ele e pede desculpa?
ㅡ Isso não importa agora, eu vou lá pra cima tomar um banho e comer algo. Vou na casa do Nick mais tarde, tudo bem? ㅡ Levantei do sofá.
ㅡ A mãe dele vai estar em casa?
ㅡ Vai.
ㅡ Tudo bem. ㅡ Subi para meu quarto após ouvir a resposta de meu pai.
Entrei no mesmo já tirando minha mochila das costas e pendurando-a na cadeira da escrivaninha. Passei as mãos nos meus cabelos fechando meus olhos involuntariamente pelo cansaço. Abri-os devagar e no instante seguinte eles se arregalaram.
ㅡ Cadê meu ar condicionado? ㅡ Perguntei num alto para que meu pai pudesse ouvir do andar de baixo. ㅡ PAI! ㅡ Gritei da porta o fazendo subir as escadas e aparecer no corredor. ㅡ O que aconteceu com meu ar condicionado e por que deixaram aquele arrombo na parede? ㅡ Apontei para a parede do meu quarto que tinha um buraco quadrado. Era possível ver o céu e alguns galhos da árvore que tínhamos em frente a nossa casa.
ㅡ Porque tirei, você nem usava mais. ㅡ Ele explicou passando a mão do cabelo enquanto se observava no espelho do corredor.
ㅡ Ta, mas aquele buraco vai continuar ali? Meu quarto fica ridículo daquele jeito, sem contar o frio de noite. ㅡ Reclamei.
ㅡ Ué, é só cobrir enquanto não contrato alguém para tampa-lo. ㅡ Sorriu. ㅡ Coloca um dos seus quadros, tem tantos na garagem.
ㅡ Shh... ㅡ Fiz uma careta. ㅡ Não fale que são meus.
ㅡ E por que não? Você sempre pintou tão bem, eu guardei todos, coloca um aí. ㅡ Me aproximei dele.
ㅡ Pai, para. ㅡ Pedi. ㅡ Eu não sei pintar... não mais. E não conte isso pra ninguém, sabe que... que parei com isso.
Meu pai me observou por uns segundos.
ㅡ Tudo bem. ㅡ Ergueu as mãos. ㅡ Vai lá na garagem buscar algum quadro que não é seu. ㅡ Ele saiu andando pelo corredor com os braços erguidos e eu ri fechando a porta do meu quarto.
Desci logo atrás de meu pai e saí com ele pela porta da sala. Ambos entramos na garagem após ele abrir a porta, ele entrou em seu carro e eu comecei a passar os olhos pelas coisas que estava ali. Tinham tantas caixas e tantas coisas que eu pensei que levaria horas para encontrar algum quadro que tivesse o tamanho ideal para tampar o buraco.
Meu pai saiu com o carro e acenou para mim. Eu não sabia o motivo por ele ir de carro, já que o restaurante era na nossa rua, mas não vou questionar. Eram cerca de sete horas da noite, o que significava que eu tinha umas meia hora sozinha com a casa, já que minha mãe chegaria da floricultura sete e meia e traria meu irmão do colégio. Tanto eu, quanto ele estudávamos em período integral, o que significa que meu pai ficava com a casa inteira só para ele quase que o dia inteirinho. A noite eu tinha treino das cheerleaders ( não hoje, pois era só o primeiro dia ) então eu quase não parava em casa.
ㅡ Falando nisso, preciso voltar a treinar o quanto antes. ㅡ Murmurei comigo mesma abrindo a primeira a caixa de papelão. Passei boa parte do verão criando novas coreografias e me aperfeiçoando. Eu quase não relaxei, para falar a verdade.
A primeira caixa tinha apenas coisas antigas da minha mãe como sapatos de saltos quadrados e cordões extravagantes de pedras enormes. Fechei-a e abri outra. A outra tinha vários e vários livros de receitas do papai. Fechei e abri outra, a terceira continha roupas do meu irmão de quando ele ainda era bebê.
ㅡ Ai, eu vou levar uma vida! ㅡ Resmunguei empurrando as caixas que eu já tinha aberto, até que vi uma maior com o meu nome escrito em piloto rosa. Puxei a mesma e a abri esperançosa.
De cara a primeira coisa que vi foram vários álbuns de fotos da minha adolescência desajeitada. Joguei-os de lado sem nem abri-los, contudo, uma foto caiu dele me fazendo olhar para o chão. Ela estava virada para baixo, então peguei já com uma careta. Esperava encontrar uma Roxy de aparelhos dentários externos, óculos de grau e rosto com mais espinhas do que pele, mas não foi o que eu vi.
ㅡ Devon? ㅡ Perguntei ao notar que era uma foto minha mais nova com um rapaz exatamente igual ao Devon. Estávamos sentados num parque tomando sorvete e rindo muito. Sim... era o Devon. Impossível não reconhecer os olhos puxados, cabelos pretos lisos como eu nunca consegui que o meu ficasse e sorriso fácil.
Os pais de Devon eram coreanos, então o mesmo tinha fortes traços asiáticos.
ㅡ Nós eramos tão próximos naquela época... ㅡ Deixei um sorriso escapar, mas rapidamente as lembranças do que aconteceu depois de um tempo me vieram a mente e eu deixei a foto de lado.
Voltei a olhar a caixa e no fundo dela encontrei alguns quadros que eu pintei quando era mais nova. Toca-los, olha-los e senti-los também me causou uma nostalgia enorme, mas ignorei. Peguei um que me parecia grande o suficiente e guardei o resto das coisas na caixa.
Peguei minha foto com Devon do chão e, por algum motivo, a trouxe comigo.
•••
Continua...
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