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05. Saudades

Gabriel chegou cedo e afoito em casa; aquele havia sido um dia repleto de felicitações, afinal, era seu aniversário. Diego e Cris lhe trouxeram presentes durante a aula. O trio permaneceu na sala no intervalo, enquanto os dois observavam o amigo desembrulhar os pacotes. Não dava para saber qual dos três estava mais ansioso: Gabriel, que parecia travar uma batalha de vida ou morte contra o embrulho feito pelos pais de seus amigos, ou Cris e Diego, que se inclinavam cada vez mais sobre o colega. Diego, inclusive, chegou a roer as unhas em antecipação.

Ao entrar em casa, Gabriel mal conseguia conter a ansiedade para mostrar à mãe o que seus melhores amigos haviam lhe dado. Assim que pisou na sala de estar, largou a mochila no chão e retirou de dentro dela um boneco do Godzilla, presente de Diego. Seu amigo nunca entendera o que Gabriel achava de tão fascinante no monstro radioativo que aterrorizara Nova York no blockbuster de 1998. Cris, por outro lado, presenteou Gabriel com um livro de uma de suas escritoras favoritas. Ela pediu aos pais que comprassem A Ilha Perdida, pois sabia que o amigo já havia tentado alugar o livro na biblioteca diversas vezes, sem sucesso. Quando Gabriel retirou o livro do embrulho, ficou radiante. Levantou-se da carteira e envolveu a amiga pequena, de óculos fundo de garrafa, em um abraço de urso. Diego ficou enciumado ao ver a reação do melhor amigo diante de um "livro estúpido", como ele mesmo disse.

— Manhêê! — gritou, ofegante. — Olha o que eu ganhei hoje! — completou, recuperando o fôlego.

Gabriel estranhou o silêncio da casa. As luzes da sala estavam acesas, mas a televisão, que normalmente exibia a novela das seis, estava desligada. Chamou pela mãe novamente, certo de que ela deveria estar em casa, já que o pai costumava chegar tarde por conta do trabalho.

— Mãe? — repetiu, agora desconfiado.

O pequeno coração de Gabriel começou a se encher de frustração enquanto ele avançava pela sala com passos cautelosos. A alegria que o acompanhara ao entrar em casa parecia evaporar, dando lugar a um sentimento crescente de preocupação. Será que sua avó havia sido levada ao hospital novamente? Justamente no dia de seu aniversário?

— Vó?

Nenhuma resposta.

Quando finalmente alcançou a cozinha, escura, Gabriel já estava prestes a chorar. Ligou o interruptor e, para sua surpresa, viu a mãe, a avó e o pai usando chapéus de festa de aniversário na cor verde.

— Surpresa! — gritaram em uníssono.

Gabriel chorava copiosamente. Pensara que passaria o aniversário sozinho, mas seu pai foi o primeiro a alcançá-lo e envolvê-lo em um abraço caloroso. O homem, alto e de braços fortes, beijou a cabeça do menino e afagou seus cabelos curtos.

— Ei, por que está chorando? — perguntou, confuso.

Gabriel tentou responder entre fungadas, mas foi interrompido pela visão da avó, sentada com um filhote de pelagem marrom no colo. Sentiu-se aliviado ao vê-la bem. Sua mãe, por sua vez, estava atrás da mesa, com um sorriso largo no rosto.

— Parabéns, meu amor!

As lembranças felizes de aniversários passados davam lugar à tristeza infinita de ter perdido seu único filho. Dona Cláudia segurava um porta-retratos de Gabriel, onde ele estava ao lado dela e de seus inseparáveis amigos, Cris e Diego. A foto, tirada na formatura do Ensino Fundamental, há três anos, retratava um momento especial. Gabriel deveria se formar no final deste ano, mas a tragédia de sua morte precoce deixara um vazio imenso no coração de todos.

— Meu menino... Por quê? — sussurrou, abraçando o retrato com força, como se pudesse trazer o filho de volta.

A mulher, de longos cabelos escuros e ondulados, agora os mantinha descuidados, refletindo o luto que a consumia. Suas roupas amassadas e o rosto inchado de tanto chorar evidenciavam o sofrimento. Desde a morte de Gabriel, ocorrida há três dias, Cláudia não trabalhava e mal conseguia sair de casa. Nem ao menos tivera a oportunidade de enterrar o corpo do filho, já que ainda investigavam as causas estranhas e prematuras de sua morte.

Para piorar, o local onde o cadáver estava armazenado o perdera na noite anterior. Cláudia ficou inconformada, indignada com a irresponsabilidade. Sentia que, se fosse o filho de outra pessoa, as respostas já teriam aparecido. Mas não para Gabriel.

O que ela não imaginava, no entanto, era que seu filho estava muito mais próximo do que parecia. Gabriel a observava da sacada da casa, escondido atrás da cortina creme que o impedia de ver claramente o interior. Ainda assim, ele usava seus sentidos vampíricos: seus olhos captavam a silhueta avermelhada da mãe, que segurava algo azulado nos braços, enquanto seus ouvidos captavam os soluços incessantes dela, deitada sobre a cama desarrumada. Seu coração, embora agora morto, parecia se partir ao vê-la assim.

Cláudia sempre fora uma mulher vibrante, muito querida pelos vizinhos. E Gabriel era seu maior orgulho. Ela jamais se cansava de contar sobre as conquistas do filho ou de convidar amigas para assistirem às apresentações dele. Mesmo quando Gabriel escolheu o balé, algo que a maioria dos meninos evitava, Cláudia o apoiou incondicionalmente, apesar da resistência do pai, que achava que dançar com colãs não era "coisa de homem". Esse conflito tornou a relação entre Gabriel e o pai bastante difícil.

O homem raramente aparecia para ver o filho dançar e evitava se envolver nas aulas. Cláudia, então, decidiu pagar o curso por conta própria. Até mesmo Diego, o melhor amigo de Gabriel, entrou na companhia de dança para apoiá-lo, e acabou se apaixonando pela arte. Juntos, tornaram-se os melhores alunos da turma.

Se pudesse, Gabriel bateria à porta e sabia que seria recebido com um abraço apertado, daqueles que demoram a se desfazer. Havia tanta saudade a matar. Mas isso não era mais possível. Por mais que desejasse estar com a mãe novamente e dizer que estava bem, ele sabia que não podia. A lembrança do frentista, cuja vida tirara na noite anterior, ainda o assombrava. Temia que a mãe tivesse o mesmo destino.

Só de imaginar a cena — sua mãe inerte em seus braços, os olhos sem vida, o sangue escorrendo pelo ferimento no pescoço — ele sentia um pavor indescritível. As lágrimas, agora de sangue, escorriam pelo rosto. Sua barriga protestava, exigindo mais sangue, mas ele não conseguia simplesmente se alimentar. A culpa pelo pai de família que deixara uma menina órfã o consumia. Gabriel não queria repetir aquele erro. Não queria ser culpado por separar mais uma pessoa de quem ela amava.

"O que ela diria se soubesse do monstro em que me tornei? Será que ainda me amaria?"

Esses pensamentos o atormentavam. Seu olhar perdido refletia o sofrimento constante. Sua mente, sempre cheia, não lhe dava descanso. Ele se sentia exausto. Com certeza, devia ser o único vampiro no mundo a sofrer de problemas tão humanos. Uma grande ironia!

Entretanto, algo o tirou de seu torpor. Um movimento dentro de sua casa indicava que sua mãe já não estava mais na cama. O vampiro percorreu o ambiente com o olhar, procurando qualquer sinal de onde ela poderia estar e se estava bem.

Seu coração batia freneticamente, tomado pelo desespero. Ele tentou escutar algo, mas tudo que conseguia eram os sons diversos que invadiam seus ouvidos: carros passando em uma avenida próxima, o bater de asas de mosquitos circulando à procura de alimento — o mesmo que ele compartilhava com eles.

Também ouviu gemidos e o som de madeira sendo arrastada sobre o piso. A conclusão sobre o que aquilo significava o deixou levemente constrangido. Não esperava encontrar mais alguém além de sua mãe ainda acordado. Após muito esforço para filtrar os ruídos, conseguiu finalmente distinguir a voz dela. Um perfume familiar também chegou até ele.

— Dona Claudia, eu... — uma voz masculina ecoou. Parecia jovem e, de alguma forma, Gabriel reconhecia seu dono.

— O que está fazendo aqui? — A mulher questionou antes que o rapaz pudesse terminar.

— Me escuta... por favor... — O jovem suplicou. Gabriel percebeu que sua voz carregava uma tristeza profunda e incomensurável.

O que está acontecendo?

Gabriel aproximou-se do parapeito da sacada, tentando ver melhor quem estava parado diante da porta de sua casa. Identificou um rapaz de pele bronzeada, mais alto que ele, vestindo roupas largas. O perfume do jovem era doce e provocou algo dentro dele, uma agitação inexplicável. Gabriel se lembrou de momentos no palco, banhado pelas luzes que o tornavam eterno para o público comovido e impressionado. Ele se viu dividindo o palco com aquela pessoa, invadido por uma onda de nostalgia.

Diego?

Concluiu, incrédulo. Não esperava ver seu melhor amigo, muito menos ali, na porta de sua casa, em circunstâncias tão estranhas e misteriosas.

Por que sinto tanta culpa e tristeza vindo dele?

— Está tarde, e não me sinto confortável com visitas. Por favor, respeite meu luto...

— É minha culpa... Se eu não... — Diego tentou dizer, mas a angústia e o peso que carregava desde a morte do amigo o silenciaram.

Seu peito parecia comprimido, e o ar mal alcançava seus pulmões. Seu coração batia descompassado, e Diego sentia que os sentimentos que guardara a sete chaves estavam prestes a transbordar, ameaçando engoli-lo como piche.

— Não se preocupe, querido. Onde quer que ele esteja, tenho certeza de que meu Gabriel não guardaria rancor de você. Você era o melhor amigo dele — disse Claudia, tentando reconfortá-lo.

Diego, o que você está escondendo?

A resposta está no sangue... — ouviu a voz de Isabel ressoar em sua mente.

Gabriel escutou a porta de casa se fechar. Claudia observava Diego se afastar, cabisbaixo, chutando uma latinha amassada na sarjeta. Do alto, o vampiro assistia o amigo desaparecer pela mesma rua que ele próprio deveria ter tomado para chegar ali.

Diego morava a algumas quadras de distância. Quando iam para o colégio, costumavam se encontrar na avenida principal, perto da praça onde se reuniam com os amigos. Lá, passavam horas conversando e bebendo catuaba. O local também era ponto de encontro de jovens skatistas, que gastavam horas fazendo manobras ousadas. Gabriel costumava encontrar Diego durante a noite, quando escapava pela sacada de casa e corria até a praça. Em uma dessas noites, Diego lhe contou sobre a maior briga que teve com o pai, no dia em que decidiu dançar balé.

Um calafrio percorreu o corpo de Gabriel, como se estivesse sendo observado. Ele olhou para trás e ficou atônito ao ver que sua mãe o espiava por entre a cortina. Claudia percebeu a movimentação na sacada e abriu as portas de madeira em formato de persianas.

— Vou chamar a polícia! — gritou, alarmada.

Gabriel saltou imediatamente, aterrorizado. Suas pernas tremiam, o peito subia e descia freneticamente, e respirar tornou-se quase impossível. Ele estava tendo uma crise de pânico. Olhou uma última vez para a porta do quarto, onde sua mãe permanecia imóvel, encarando-o.

Saltou novamente, lançando um olhar pesado para a sacada. Com lágrimas de sangue escorrendo pelo rosto, desapareceu na escuridão da rua, iluminada apenas por lâmpadas fracas.

No fundo, ele queria que sua mãe soubesse o quanto sentia sua falta. Mas, ao mesmo tempo, desejava que aquele encontro não passasse de uma infeliz coincidência.


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