Capítulo 3
Olá, menininhas! Vamos a mais um pedacinho do Marco? Aos poucos vamos conhecendo a personalidade desse homem tão misterioso e seguro de si. Não esqueçam de votar, ok? Xêro!!!!
MARCO ANTÔNIO
O almoço com os executivos do Grupo Select havia sido aborrecido. Marco Antônio era um sujeito muito direto, objetivo. A máxima de que "tempo é dinheiro" era bastante real em seu contexto, e ficar mais de duas horas escutando as aventuras do Osmar nos Cassinos de Vegas só valeu a pena porque conseguiu que o septuagenário investisse pouco mais de 200 milhões em diversas frentes do banco. Tempo, de fato, é dinheiro.
Ele abriu a porta e encontrou uma verdadeira comitiva em sua sala. Laura o havia prevenido de que César estava com problemas, mas Marco Antônio não estava muito inclinado a envolver-se.
─ Boa tarde, senhores. ─ Entrou, esperou Laura fechar a porta atrás de si e enfiou as mãos nos bolsos da calça, contrariado. ─ Posso saber que bom motivo há para que estejam aqui, sem a minha permissão?
César adiantou-se, visivelmente nervoso.
─ Me perdoe, meu irmão. ─ Ele falava baixo, e embora estivesse sendo direto, a atenção de Marco Antônio estava difundida em cada um dos três ali presentes, atento a tudo. Eram respectivamente o gerente de financiamentos, o de ações e o seu irmão: presidente do banco. ─ Estamos com um problema muito grave.
Marco encarou o irmão, que era mais baixo, mais simpático e bem mais vulnerável.
─ Não tenho tempo. ─ Marco também falava baixo, mas firme. ─ você é o presidente, César, não é possível que não possa resolver suas questões com os clientes.
César estava nervoso, suava, a despeito do ar condicionado. Intimista, deu um passo a frente, aproximando-se ainda mais do Marco.
─ Me perdoe, mas... ─ olhou para os lados, aflito. ─ Eu e você sabemos que não me sinto seguro quando se tratam de clientes grandes. ─ Seus olhos azuis dançavam nos olhos nebulosos de Marco Antônio. ─ Sabemos que sou o presidente apenas para que você possa cuidar dos seus interesses no Grupo Futura e manter sua privacidade, mas... Porra, Marco, o cara está querendo foder a gente!
─ Eu tenho uma reunião exatamente agora com o Lenon e com o Francisco, César. Que merda você fez?
César suspirou. Tinha uma admiração imensa pelo irmão e plena consciência de que não conseguia seguir com suas próprias pernas. Não ainda.
─ Leônidas Ventura está ameaçando retirar todas as suas contas do Imperial. Perderemos todo o seu investimento.
Num raciocínio rápido, Marco recapitulou o que significava "retirar todas as contas". O homem era o dono da maior rede de comunicações da América Latina e o Imperial iria perder não apenas muito dinheiro, mas também prestígio.
─ O que ele quer?
─ Investir 500 milhões de reais de origem desconhecida.
─ O quê?! ─ Aquilo era absurdo. Deus sabe de onde vinha o dinheiro e a Receita Federal não deixaria passar esse elefante de circo em seu radar.
─ Não sei o que fazer. O homem está na sala da gerência jurídica, e está uma fera!
Marco encarou o irmão e depois os gerentes apavorados, que aguardavam.
─ Quem está com ele. Gerard ou Juliana? ─ Marco questionou. Ambos eram gerentes do jurídico, mas apenas Juliana lidava com as questões do banco. Gerard estava ali apenas para manter-se próximo a Marco Antônio, já que era o advogado que cuidava exclusivamente dos seus interesses pessoais.
─ Juliana. Ela está tentando acalmar a fera.
Menos mal. Gerard precisava manter o foco em outras situações.
─ Por que meios o Leônidas fez a proposta?
─ Pessoalmente, mas sua secretária me passou o plano de investimento hoje pela manhã.
Marco ergueu o canto dos lábios, com seu "sorriso-monalisa"
─ Traga ele aqui. Eu, você e ele teremos uma conversa privada.
Minutos depois, Leônidas Ventura sentava confortavelmente na poltrona de couro da sala de Marco Antônio. Este, preferiu sentar na ponta da mesa, encarando diretamente o cliente.
─ Leônidas... ─ seu tom era amigável, mas manter a posição acima do oponente era fundamental ─ você é um homem inteligente, sabe que o Leão não vai deixar isso passar. Eu e você teremos que explicar de onde veio esse dinheiro. Então, por que não me diz agora?
O homem ocupava toda a poltrona e usava suíças.
─ Isso não tem importância, Marco. Conheço você há anos e se todos os meus investimentos estão no imperial é porque sua competência e influência são lendárias. Sei que poderá dar um jeito. Até porque, se não der...
Marco soltou o ar, exasperado e caminhou até a estante, abrindo as portas e de lá retirando uma garrafa de uísque e dois copos. Sentado no lounge da sala, César assistia a tudo em absoluto silêncio.
─ Leônidas, Leônidas....─ A voz de Marco era melodiosa, segura. Ele retornou à mesa e, dispondo os dois copos bem à frente do cliente, os serviu. ─ Não me ameace. ─ Os dois pares de olhos se encararam, enquanto Marco fechava a garrafa. ─ você tem o direito de retirar suas contas do meu banco, mas eu tenho o dever cívico de denunciá-lo ao Tesouro. E eu sou um cidadão ilibado, você sabe. ─ Marco usava sua sedução nata, própria dos predadores que cercam a vítima com o cuidado de não assustá-las, deixando seus músculos apenas levemente tensos, tenros o suficiente para que as presas rasguem-lhe a carne sem dificuldades. ─ Sua secretária nos mandou o plano de investimento. ─ Marco fitava o uísque circulando em seu copo, enquanto sua voz aveludada soava tal qual encantamento. ─ Plano audacioso. Quinhentos milhões de reais, Leônidas?
Leônidas parecia hipnotizado, à mercê do predador que pairava a dez centímetros dele, mas que sorria sutilmente, enquanto sorvia um gole de uísque.
─ você não faria isso.
Marcos saboreou o single malt de 30 anos.
─ Não, amigo, claro que não.
Depois de oferecer um sorriso cínico ao Leonidas, Marco contornou a mesa e sentou-se em sua cadeira, apontando para o copo, incentivando o cliente a beber.
─ O que você quer, Marco?
Para Marco Antônio de Alencastro, só havia uma coisa mais saborosa do que o Single Malt: o sabor da vitória. A virada de jogo.
─ Quero te ajudar, Leônidas. É nosso cliente há tanto tempo! E por isso mesmo, irei dizer o que você vai fazer.
De ombros baixos, o homem escutava Marco Antônio com extrema atenção. Confiava cegamente do sujeito e jamais o vira dar um passo em falso. Com aquela quantia em mãos, conseguida de forma tão pouco ortodoxa, ele precisava escutar quem entendia das coisas.
─ Vou colocá-lo em contato com o meu doleiro pessoal. Ele irá transformar seu dinheiro em dólar e abrirá uma empresa fantasma com conta no Banco Imperial das Ilhas Cayman. Lá, você investirá cada centavo. Aqui, o banco irá te fazer um empréstimo, dando uma origem legal ao dinheiro que, aí sim, iremos investir onde você desejar.
─ E o dinheiro nas ilhas Cayman? Fica com vocês?
─ Não, amigo... É investimento da sua empresa no meu banco. O mesmo investimento que pagará o empréstimo que iremos liberar em cinco parcelas.
Não era a saída que ele queria, mas era a que Marco Antônio estava lhe dando. Ele não era louco de declinar.
Ao final, César sorria, aliviado, mas o humor de Marco Antônio já não era o mesmo. E ele ainda teria uma reunião entediante com os sócios Lenon e Francisco, do grupo Futura, produtor e exportador da melhor soja do país.
O sol começava a se pôr em meio à garoa que caía, quando o helicóptero desceu no pátio de pouso do grupo Futura, a 100 km de São Paulo. Com uma área equivalente a setenta campos de futebol, a indústria destacava-se não apenas pela importância indiscutível dentro do agronegócio mundial, mas também pelas instalações modernas e utilização de técnicas inovadoras.
Marco Antônio verificou as horas enquanto apressava-se ao atravessar o pátio. Ao seu lado, segurando um guarda-chuva que deveria proteger seu patrão da garoa, o assistente Misael colocava Marco a par do que ocorria na reunião, que já durava mais de duas horas.
─ Deseja que lhe traga algo, senhor? ─ O homem arfava ao abrir a porta privativa do edifício administrativo. ─ Um lanche quem sabe?
Marco sacudiu as gotas de água sobre o terno.
─ Espero que não seja necessário. Quantos pontos estão pendentes na pauta?
Marcos seguiu para o elevador e o homem o acompanhou, depois de entregar o guarda-chuva a uma funcionária.
─ Dois pontos, Senhor. Depois que lhe reportei a última posição da reunião, não houve mais resoluções.
Misael havia repassado a ata da reunião em tempo real para Marco Antônio, durante o voo.
Marco entrou no elevador, colocando-se na passagem, deixando claro que não precisava que o jovem o acompanhasse, e ajeitou o terno, alinhando-o.
─ Avise ao Anderson que me espere na aeronave. ─ Referia-se ao piloto. ─ Não irei demorar.
As portas se fecharam e, novamente, Marco olhou o relógio. Sua vida era milimetricamente planejada e ele simplesmente odiava perder o controle do seu dia.
─ Boa tarde, senhores e senhoras. ─ saudou-os, apressado, ao abrir a porta da sala de reuniões e entrar intempestivamente.
Ali, estavam Lenon, Francisco, Eneida ─ a secretária, e Eliana, a gerente de marketing do Grupo Futura.
─ Graças a Deus, você chegou! ─ Lenon levantou e saudou Marco a meio caminho. Francisco apertou sua mão assim que ele chegou e ocupou a cadeira da cabeceira ─ seu lugar ─, que estava anteriormente ocupado pelo Lenon. ─ Estávamos preocupados.
─ Não entendo o motivo. ─ Marco recebeu a ata das mãos de Eliana, após sorrir para ela e cumprimentá-la com um sutil meneio de cabeça. ─ Misael estava comigo a todo momento, informando-me de cada canetada sua, Lenon.
Sua leitura era dinâmica, objetiva.
─ Resolvemos quase tudo, Marco, mas temos uma pendência e precisamos da sua posição. ─ Lenon sentou ao lado de Eliana. ─ É sobre a Argentina.
Argentina: o terceiro maior produtor de soja do planeta, concorrente direto do Brasil ─ e consequentemente do Grupo Futura ─ na briga pelo mercado total da China, já que esta sofria um severo bloqueio dos EUA. Marco sabia que a conquista definitiva do Oriente lhes garantiria mercado quando o bloqueio caísse. E ele também sabia que um dia esse bloqueio iria cair.
─ Tenho observado os números e os movimentos. O que estamos para conquistar não é apenas o restante do mercado oriental, mas um domínio absoluto. Precisamos ser cautelosos e seguros. ─ Com os antebraços apoiados na mesa, Marco encarava os companheiros. Além de tudo que se sabia sobre o mercado, Marco detinha uma informação rica: em breve a China estaria infestada de peste suína e diminuiria a demanda por soja. Mais do que nunca, era preciso tomar o oriente. ─ Não deixarei que a Argentina ganhe campo.
─ Precisamos ganhar aqueles 42% que nos falta, Marco! ─ Lenon agitava-se. ─ Estamos produzindo mais e melhor! você precisa conseguir o mercado chinês inteiro para nós! Estamos prontos para...
─ Lenon. ─ O cenho contraído do Marco deixava muito claro quando alguém cruzava uma linha indevidamente. ─ Atenha-se às suas funções administrativas. Dos negócios, eu sei cuidar.
Lenon se retraiu, consciente de que fora além do que devia. Ali, cada um tinha o seu papel bem definido e jamais um deveria interferir no campo do outro. Era assim que tudo vinha dando certo.
Marco observou Francisco, um homem muito mais sereno e sábio. Era o mais velho dos três e um gênio em plantio e manufaturamento da soja.
─ E você, Chico... ─ O homem olhou diretamente para Marco. ─ Acha que estamos prontos para abocanhar o mercado chinês?
Francisco ajeitou-se na cadeira. Estava visivelmente cansado, após horas de uma reunião estafante. Duas vezes na semana eles se reuniam e as questões mais relevantes eram discutidas.
─ Hoje sim, Marco. Estamos tendo um índice de aproveitamento da lavoura de cerca de 90%, bem maior do que há dois anos. Nossa soja está mais forte, mais resistente. A mudança na forma de adubação elevou a qualidade do grão.
Marco assentiu, satisfeito. Com o aumento na produtividade, ele estava liberado para atacar os chineses, assim que a peste fosse sanada.
─ Muito bem. ─ Empertigou a coluna, aprumando-se. ─ Na próxima semana estarei em Hong Kong e farei meus contatos, em seguida, iremos à Punta del Este para comemorar.
O clima ganhou novos ares com a expectativa de estarem os três curtindo alguns dias em um cassino.
─ O outro assunto... ─ Lenon iniciou e via-se que era algo que o preocupava. ─ É sobre uma pesquisadora. Seu nome é Olívia Moniz e acaba de tornar-se doutora pela Federal. ─ Marco lembrava de algo que Lenon havia citado em uma das reuniões, mas deixou que o amigo prosseguisse: ─ Ela tem uma pesquisa grande, mas totalmente infundada e está fazendo barulho com isso.
Marco meneou a cabeça, curioso.
─ Lembro de ter nos contado que ela andava alarmando sobre o uso indevido de defensivos, algo assim.
─ Sim. Ela andou buscando recursos para aprofundar sua pesquisa, mas sabemos que não irá encontrar nada com a gente. Estamos dentro das normas mais rigorosas e, ao que me consta, tudo o que ela quer é fama e, talvez, tentar subordar um ou outro grupo produtor. Os Maggi estão avisados e entraram junto comigo no pedido de apoio à Associação. Uma notícia dessa, mesmo sendo falsa, pode trazer prejuízo a todos nós, porque a filha da mãe tem credibilidade no meio acadêmico.
─ E, se me permitem... ─ Finalmente Eliana, gerente de marketing, se pronunciou ─ Se a imprensa farejar, o sensacionalismo será inevitável, ainda mais se ela envolver o Grupo Futura, que é o maior e com mais visibilidade. Sabemos o que poderá acontecer se isso vazar para a imprensa internacional.
Marco e Francisco escutavam a tudo com atenção.
─ Isso não vai acontecer porque eu mesmo providenciei o bloqueio de todas as possíveis fontes financiadoras para ela. A associação, que é mantenedora da faculdade de biotecnologia, me alertou de que essa mulher vem cavando nesse buraco há nove anos! ─ Lenon debruçou-se sobre a mesa, raivoso, aproximando-se de Marco e Francisco. ─ Ela quer foder todo mundo, mas eu é que vou fodê-la antes! Não somos uma empresa de fundo de quintal! Somos o grupo Futura e ela sabe que a gente fica com o cu na mão, quando se fala em imprensa internacional!
Marco tinha a expressão dura, imutável, quando encarou Lenon.
─ Lenon, antes de tudo, reveja o seu vocabulário. Não creio que Eliana esteja aqui para ser constrangida. ─ De fato, a mulher havia ruborizado. Lenon aprumou as costas, diminuindo a agressividade. Odiava quando Marco lhe falava com autoridade frente aos demais, mas tentava relevar em nome da amizade e dos 35% pertencentes ao sócio ─ Segundo... Quero que me diga, agora, se essa mulher tem a possibilidade mais remota de conseguir colocar uma investigação no nosso pé. E mais... Se há possibilidade de encontrar algo.
─ Claro que não! ─ Lenon indignou-se. ─ Essa pu... ─ um olhar furtivo para Eliana o fez retroceder. ─ Essa mulher quer provar que estamos utilizando Bioinseticida Bt adulterado. Isso é completamente absurdo! Sabe quantos testes e formulários temos que atender mensalmente? A Anvisa está em nosso cangote dia e noite, doida para arrancar multas astronômicas do Futura! Não, Marco... Não há a mínima chance dessazinha provar merda alguma!
Ainda como uma estátua de pedra, Marco fitou Francisco. Este estava alheio e parecendo realmente muito cansado. Ainda aquela noite ele viajaria de volta ao Mato Grosso, onde ficava a maior parte das fazendas do Futura.
─ Se você já bloqueou os recursos, logo ela irá desistir. ─ disse Francisco, esfregando o rosto, exausto. ─ Melhor esquecermos isso.
Eliana começou a enumerar possíveis ações desastrosas da tal pesquisadora, bem como as possíveis saídas, enquanto Marco observava a cena à sua frente. A tensão pairava de forma estranha no ar e, talvez, Lenon não estivesse sendo honesto quanto ao tamanho da sua preocupação.
"Essa mulher poderia lançar uma mancha tão filha da puta sobre o Futura, que levaria anos para limpar nosso nome. Tantos anos para construir uma reputação, ganhar a confiança do mercado externo não iriam se perder assim", pensou Marco Antônio.
─ Quer que eu cuide disso, Lenon? ─ Marco perguntou, enquanto retirava do bolso do paletó a caneta de ônix.
─ Não. Eu já cuidei. ─ Enfim Lenon sentou, contrariado. ─ Ela não tem dinheiro para comprar sequer uma pipeta. Eu queria que vocês soubessem que tomei a liberdade de aportar um capital substancial em prol da Universidade. Eles precisavam de equipamentos caros e o Futura entrará como benfeitor. Em troca, receberemos incentivo fiscal e me prometeram que essa Olívia será destituída de vez do seu grupo de pesquisa e também perderá o cargo que indevidamente ocupa, de professora adjunta. Ela está acabada.
Marco analisava cada palavra e, não dava para negar, sentiu tanto raiva quanto curiosidade acerca dessa pesquisadora. Era muita audácia, tentar atacar um grupo como o Futura. Muita audácia.
Cuidadosamente, Marcos desenhou o nome "Olívia Moniz" em um bloco de anotações a sua frente, e então completou: "biotecnologia".
Findada a reunião, Marco enfiou o papel com suas anotações no bolso e despediu-se rapidamente a caminho do helicóptero. Teria pouco mais de 40 minutos de voo até sua casa, tempo exato para a chegada das suas convidadas. Intimamente, felicitou-se por ter solicitado à agência duas garotas, ao invés de uma. Com o estresse em que se encontrava, precisaria mesmo de uma dose dupla: de mulher e de uísque.
Olívia está em péssimos lençóis (por enquanto.rsrsrsrs). Você está com pena dela? Eu não estou não.rsrsrsrs
Obrigada pela cia! Se ainda não votou, vai lá e clica na estrelinha. Beijão!
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