O olhar de Carolina
Horas de levantar para ir para a Escola. A cabeça pesava mesmo. «Logo hoje vou ter matemática, que detesto. Maldito quem inventou aqueles números e contas!»
Mãe chata não parava de berrar para se despachar. O atraso na chegada à aula, eram uns pontos a menos. «Será que oiço trovoada? Sinto água no corpo que quase me afogo!». O Pai também entrou na dança da pressa. Aquela voz de tempestadade abafavam os gritos da Mãe, enquanto se banhava.
«Nunca mais vejo o mundo côr de rosa, com as bonecas a sorrirem na paz, com música a aconchegar o frio que está lá fora!»
Era assim que pensava no carro, enquanto a Mãe enviava-lhe recados, para ter atenção a isto, ou aquilo ou aqueloutro.«Que saco, isto da escola. Não entendo nada, não posso falar com a Bruninha, nem o Professor me liga quando pergunto algo.»
«Sim Mãe, não te preocupes hoje porto-me bem. Adeus. Beijinhos!»
Foi andando para a sala de aula, meio ensonada. Era muito gozada pelos colegas pela sua inocência. Dizia o que via e muitos coleguinhas troçavam dela. Na realidade não sabia mentir. Por isso quando na redacção, ou no desenho, o Professor dava um tema, tinha dificuldade em expôr a sua ideia. Sentia a contrariedade daquela imposição, que muitas vezes era coisa ruim ou de velho.
No meio da gritaria da aula, antes de chegar o Professor, este dia, sentia necessidade de ficar só e olhar para a janela, onde via ainda a luz do nascer do sol. Naquele contraste viu a sua boneca preferida a espreguiçar-se no jardim da escola e a dizer «adeus». O tom rosa do vestidinho contrastava com o verde da grama e o laranja do ceu fez-lhe abrir os olhos:
«Se tivesse a câmara de fotos do Pai!»
Acorda com o silêncio da chegada do Professor: «Carolina, Carolina, acorda e senta-te por favor. Vamos começar a aula!»
A Matemática hoje seria substituida por uma redacção de tema livre.
Do seu jeito, com os olhos temerosos pergunta baixinho ao Professor, se pode escrever o que vê. Toda a turma ri, mas o Professor acalma a gozação e responde logo afirmativamente.
«Livre é livre. Agora nada de disparates!»
Era seu dia de sorte. Olha bem para o quadro negro e vê-o branco, misturando-se com a parede. O Sol já raiava e inundava toda a sala fazendo sombras no chão castanho. Mas o fato negro do Professor constratava bem com o branco que já via. Tudo aquilo lhe fez lembrar um chapeu, para se proteger do sol, com tons de branco e negro.
Escrevia, escrevia que o Professor até notou. Com um sorriso envergonhado, e sempre com a insegurança do castigo, sente vontade de continuar. Nem parecia a mesma. Sossegada, silenciosa e concentrada.
Quando a Mãe a foi buscar quis ver a caderneta. Estava lá uma bolinha verde. Sinal que se tinha portado bem. Estava sempre com bolinha laranja e vermelha. A Mãe a felicitou e deu-lhe um grande abraço:
«Porque não és sempre assim, filha?»
A sua vergonha não a deixava falar. Apenas pediu um chocolate como recompensa.
Em casa mostrou ao Pai a caderneta. O Pai brincava.
«Foi sorte, enganaste o Professor.» E rui-se!
Nem os parabéns. Nem um abraço. O Pai às vezes era mau! Mas muitas vezes o via-como um Rei que sabia de tudo! E dava guloseimas às escondidas da Mãe.
Mas subitamente toca o celular da Mãe. Era o número do Professor.
«Não fiz nada Mãe, juro. Portei-me bem!»
O medo da criança alimentava a ansiedade da Mãe. O Pai fugiu porque preferia nem saber.
«Boa noite Carla. Hoje a Carolina escreveu uma das melhores redacções que li desde que sou Professor. Parabéns!»
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro