Recordo agora o início da história de meus avós. Vovó América  era a única que não desejava competir pelo coração do, na época, Príncipe Maxon . Por isso lhe propôs que fossem amigos, desenvolvendo uma "aliança" que beneficiaria os dois lados. É algo parecido com esse acordo que pretendo acertar com Nicholas.

Todavia, meus avós  se apaixonaram da forma mais linda e verdadeira que eu já tive o prazer de conhecer; e eu não vou permitir que isso aconteça conosco. Principalmente porque ele afirmou que já teve uma desilusão no passado. A relação de um casal em que ambos já  desacreditaram do amor jamais seria saudável. Certamente levaria tanto a nós mesmos como a todo o reino para a ruína.

- Se você estiver disposto a ficar no Castelo podemos fazer um trato.

- Como assim? Imaginei que, depois de tudo que acabo de dizer, se a senhorita me permitisse sair daqui com a cabeça em cima do pescoço eu estaria no lucro.

-Como pode ver, sou uma pessoa generosa. - falo com objetivo de aliviar um pouco o clima tenso entre nós. - Minha ideia é que você permaneça na Seleção, porém como um "espião" para auxiliar-me a discernir aqueles que realmente merecem a coroa daqueles que  apenas a querem. Entende?

-Vai confiar em mim para ajudá-la na escolha do próximo rei de Illéa?

-Do próximo Príncipe consorte você quer dizer? Na verdade, quero que você ajude-me a reduzir as opções.

-E se a senhorita se apaixonar pela "pior" das opções? - ele provoca erguendo as Sombracelhas e fazendo aspas com os dedos.

-Não pretendo me apaixonar!-uma nuvem de confusão corta seu olhar- Antes de conhecer bem os candidatos.

-Então essa será a Seleção mais longa da história. Vai demorar séculos para que a senhorita possa dizer que os conhece verdadeiramente.

-Por isso preciso de um "amigo" agindo como um "agente infiltrado". Uma vez que você demonstrou não ter nenhuma intenção de me conquistar, tive a certeza que é a pessoa ideal para o cargo.

-Dessa forma minha família continuaria ganhando o benefício financeiro que têm direito enquanto eu estiver aqui; e tem grandes chances da minha sorte com o mercado de trabalho mudar. Certo?

-Exatamente!

-Parece bem mais, literalmente, lucrativo para mim do que para vossa alteza. Acho que devo agradece-la pela  proposta.

-Isso quer dizer que você não aceita?-questiono erguendo as sobrancelhas de modo desafiador.

-Pelo contrário, quero dizer que por mim o trato está feito! - ele me estende a mão ao falar isso. -Ah, só para deixá-la livre de preocupações essa conversa permanecerá somente entre nós, ao menos no que depender de mim.

-Será um pequeno segredo nosso. Entrarei em contato com você assim que precisar de alguma informação.

Em seguida, selamos nosso acordo em um singelo aperto de mão.

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- Quero saber cada detalhe! - Luna me recebe com uma empolgação que mal cabe em seu sorriso largo. - Como foi?

-Foi...Normal. - tento ser convincente.

-Só isso? Nada interessante aconteceu? Qual filme vocês assistiram? Aposto que foi um romance!

-Nem me fale em apostas.-brinco na tentativa de desviar o assunto.- E, acredite, não houve nada que mereça destaque. Agora temos que pensar em como serão as próximas provas para definir com quem acontecerão os encontros individuais.

- Você não acha melhor escolher conforme forem surgindo afinidades entre você e os rapazes?

-Demoraria tempo demais para que eu notasse qualquer afinidade entre mim e algum dos garotos. Por outro lado não posso  deixar que a sorte escolha o futuro príncipe consorte de Illéa. Realizarei somente cinco desafios cujo prêmio será um encontro comigo.

-Daí em diante vai seguir seu coração?

-Digamos que sim. - minha resposta soa um pouco vaga, porém é exatamente o que pretendia dizer.

Na verdade vou seguir a vontade do meu povo, dizem que a voz do povo é a voz de Deus não é mesmo? Imagino que até o fim das provas eles já terão eleito seus favoritos. No meu modo de pensar o coração de um soberano deve estar em sintonia com o da população por ele governada; devem estar juntos na busca por justiça e por melhorias; bem como em todas as escolhas, inclusive nessa. Só assim  é possível constrir uma sociedade pacífica e agradável de se viver.

- Mantenha os ouvidos atentos para ouvir quando algumas batidas aceleradas sussurarem quem é a escolha certa. -luna fala com o sorriso meigo que revela o quão inocente ela ainda é nas questões referentes ao amor.

-Farei isso! - concordo sem questionar suas fantasias românticas.

-Ah, quase me esqueci de uma coisa, seus pais disseram que precisam falar com você. Estão no escritório.

Sinto um leve calafrio correr por meu corpo.

-Luna, a última vez que você deu-me um recado semelhante a esse; fui comunicada que precisaria iniciar uma Seleção. Tenho medo da notícia que virá . Até mesmo a eclosão da quinta Guerra mundial é uma possibilidade.

- Quanto pessimismo! Melhor você ir depressa porque daqui a pouco eu também ficarei preocupada.

Saio do quarto e caminho a passos largos até o escritório. Após bater na porta, que é aberta por um dos guardas, deparo-me com o rosto de meus pais um tanto sério.

- Kerttu tomamos uma decisão.- minha mãe anuncia e tenho certeza que não vou aprovar o que ela dirá na sequência.- Não vamos demonstrar que sabemos sobre o protesto que os rebeldes estão organizando. Mas tentaremos descobrir o máximo possível sobre essa ação; assim talvez consigamos prender algumas das lideranças do movimento e compreender melhor suas ideias para formularmos maneiras de combatê-las.

-Isso é muito arriscado! Vocês enlouqueceram? Vão permitir que elez tomem conta das ruas para tentar prendê-los em flagrante,  junto a um bando de pessoas inocentes que foram ludibriadas por suas ideias?

-Não há outra opção. -papai fala apreensivo .

-Portanto minha opinião foi completamente ignorada?

-E qual seria sua opinião?- mamãe pergunta e me lança um olhar cortante.

-Diriamos em rede nacional que sabemos de todos os seus planos e que se  alguém demonstrar simpatia pelos absurdos que eles propõem será imediatamente preso e julgado.

-Você acha que agindo assim resolveria alguma coisa? Os cidadãos só iriam desenvolver mais desafeto pela monarquia, querida -mamãe está furiosa, porém tenta ocultar isso diante dos ministros que ainda se fazem presentes no local.

-Mas então não vamos fazer nada?

-Primeiro ouviremos a opinião do povo; você concorda que devemos escutá-los não é mesmo? Eles merecem o direito e a liberdade de se manifestar.

-Só que, definitivamente, essa não é a forma correta.

Percebo que a decisão é realmente indiscutível e irrevogável. Por isso retiro-me do escritório antes mesmo que haja alguma resposta a minha última fala.

Extravasar todo meu descontentamento  ao bater a porta não foi muito sábio. Até os guardas no final do corredor me encaram bastante surpresos com minha repentina falta de modos.
Provavelmente serei reprimida por isso mais tarde.