{Cap. 9}
Venha comigo, venha comigo
Nós viajaremos para o infinito
Gravity's Rainbow
╰─────────────➤✎Klaxons
– Ei, Eva – Vi me cumprimentou chegando próximo a janela – Tive uma ideia! Eu também sou das artes plásticas, mas gosto mais de pintar com tinta. Que tal se eu e você trabalhássemos juntos para a decoração do lugar? Podíamos colocar desenhos e pinturas em algumas paredes e tentar deixar o ambiente um pouco mais alegre. O que você acha?
– Vi, me sentiria honrada em trabalhar com você. Vi algumas pinturas suas em alguns lugares enquanto estudava, mas não me sinto a sua altura para isso – respondi.
– Oras, não seja boba. Seus desenhos são perfeitos, mal parecem serem feitos com lápis. Parecem fotos. De verdade você é genial.
Aceitei com prazer a proposta dele, sem contar o quanto fiquei feliz por estar sendo elogiada por uma artista plástico de renome como ele e passei a visitar todos os cantos da escola, pedia opiniões e logo o lugar foi ganhando mais vida com algumas artes ou até mesmo outros tipos de decorações.
Judy como sempre se manteve bem animada e chegou a dar dois pulinhos de felicidade quando soube no que consistia meu novo "trabalho" e como ele realmente havia começado.
– Tenho uma coisa para te contar também! – ela disse parecendo feliz.
– Uhm? – olhei para ela com um sorriso travesso tentando imaginar o que poderia ser.
– Eu e o Harry resolvemos "sair". Bom, não vamos "sair" porque é perigoso, mas bom, vamos ter um encontro.
– Judy! Isso é fantástico! Vocês realmente se parecem muito. Só me avisa com antecedência para que eu possa ficar com a Alana.
– Obrigada! Eu estava com um pouco de medo de te pedir, porque eu me comprometi a ficar com ela, mas...
– Não seja boba, você não precisa ficar com ela o dia todo. Foi um acordo, mas ela segue sendo a minha irmã e não é carga nenhuma ficar com ela – disse rindo da insegurança da Judy.
– Os dias ruins finalmente parecem ter acabado, né? – ela disse com um pequeno sorriso aliviado.
– É, acho que sim – disse tentando esconder que de fato eu não acreditava naquilo. Os bilhetes ainda me intrigavam muito, mas não podia contar isso para Judy e estragar seu merecido descanso.
– Ah, estou tão feliz! – ela se jogou na cama e nós duas rimos.
Após isso conversamos sobre algumas coisas que aconteceram e sobre o mistério que seguia sendo o incêndio.
Ficamos assim por um pouco mais de uma hora, até me chamarem na porta. Eu estava escalada para a patrulha da noite. Havia pedido para não me deixarem de fora, apesar de que Jéssica e Vi chegaram a dar essa ideia. Eu gostava de poder ser útil de outra maneira além dos desenhos.
– Eva? Está pronta? – a voz de Harry soou do outro lado da porta. Olhei para Judy com expressão divertida e notei seu rosto acender pela vergonha.
– Estou sim – disse abrindo a porta – Vou só pegar um agasalho, já que hoje iremos vasculhar o pátio. Não quer entrar?
– Eh... – ele pareceu um pouco sem graça com o convite – Está bem.
Ele entrou parecendo tão envergonhado quanto Judy. Dei uma desculpa qualquer para poder entrar no banheiro e dar 5 minutos para os dois. Cinco minutos foram o suficiente, já que quando abri a porta novamente os dois estavam rindo e conversando de uma maneira bem à vontade.
– Tenham cuidado, ok? – Judy disse se despedindo.
Harry sorriu ao me ver e saímos em direção ao pátio.
– Ei, Harry. Fiquem juntos, ok? – Ethan falou um pouco à frente do corredor após nos dar um punhado de caramelos – Talvez queiram um pouco de doces durante a busca.
– Obrigada – eu disse rindo um pouco – Meus preferidos sem dúvida.
Me sentia um pouco nervosa cada vez que tinha que sair, mesmo que fosse apenas no pátio, mas me obrigava a fazê-lo sem reclamar e sem deixar que notassem toda vez que era escalada para isso, principalmente porque eu havia pedido para participar.
Fomos até o pátio e começamos a procurar por qualquer coisa fora do normal. Algo que deveríamos arrumar, alguma falha nos muros etc. Harry se manteve próximo assim como Ethan pediu. Ele continuou todo o trajeto com o seu sorriso característico e esse sorriso era sempre um alívio.
A maioria das janelas do térreo do edifício estavam quebradas, mas como não utilizávamos muito a parte de baixo, estavam "arrumando" com sacos plásticos aos poucos, a prioridade era sempre partes de usos comuns ou partes que poderiam nos colocar em risco.
Enquanto buscava por alguma coisa fora de lugar, pude ver algo brilhando perto de uma pequena árvore e fui verificar. Era um molho de chaves, provavelmente das portas que seguiam trancadas.
– Olha só, que grande achado moça! – Harry falou animado.
Assim que nos asseguramos de que não havia nada com que nos preocupar, voltamos para dentro do edifício e fomos direto até a sala de reunião, onde provavelmente estariam nos esperando para saberem se havia ou não novidades.
Na sala havia poucas pessoas, mas como de costume Jéssica, John, Vi e Luciel estavam presentes. Aparte deles, Lúcio também estava e me deu uma calorosa boas-vindas.
– E então? Algo novo? – Jéssica perguntou sem nenhuma cerimônia, como era típico dela nesses casos.
Outros foram chegando da busca, mas todos sem novidades. O lugar parecia tranquilo e haviam feito um ótimo trabalho para mantê-lo.
– No pátio também tudo certo – Harry concluiu – Mas Eva encontrou um molho de chaves.
– Talvez possamos tentar abrir as outras portas – eu disse antes que falassem qualquer coisa.
– Não será fácil tentar abrir porta por porta – Lúcio disse.
– Mas acho que vale a pena tentar – Vi respondeu.
– Nossa, que genial. Mais trabalho – Henry resmungou. Ele seguia sendo sarcástico e reclamão. Me lembrava muito o Liam em certos momentos.
– Acho que podemos decidir amanhã como será feita a divisão para isso – Jessica disse anotando alguma coisa na sua prancheta – Eu mantenho uma lista dos ambientes da escola. Su, você irá comigo amanhã para podermos completar a lista com as portas fechadas?
– Claro – Su respondeu prontamente.
– Sério que vocês vão provar porta por porta? – Henry perguntou.
– Visto que você tem bastante tempo Henry, acho que você deveria nos ajudar – Jéssica falou sério o suficiente para que qualquer um acreditasse que ela estava falando a verdade.
– Quê? – ele perguntou incrédulo.
– Três pessoas fariam o trabalho mais rápido que duas.
– Ok, se eu não tiver muito cansado eu irei.
– Então, para que não estejamos cansados, acho que deveríamos ir dormir agora – John nos dispensou ao se levantar – Terminamos por aqui o dia.
– Bom trabalho pessoal – Vi disse também se levantando.
– Então, boa noite – eu me despedi de todos.
– Ei – John me chamou – espera um pouco, que eu irei te acompanhar. Afinal meu quarto fica na mesma direção.
Esperei que John arrumasse suas coisas e seguimos caminhos.
– Como andam as coisas para você? – ele perguntou com a sua voz solene.
– Tudo normal, acho – sorri e dei de ombros – E com você?
Ele sorriu e parou. Ficou olhando para mim durante um tempo e logo respondeu.
– Eu estou bem. A Jéssica me falou que você anda trabalhando mais do que o necessário. Não seria melhor você descansar um pouco? Passar um pouco mais de tempo com a sua família ou então aproveitar para ir ver um certo ruivo?
– John – falei tentando não esconder o embaraço – Até você!
Ele riu de maneira gostosa.
– Me sinto vendo um filme de comédia romântica as vezes – ele falou retomando o caminho – Mas tudo bem... Se precisar de alguma coisa pode me chamar.
– Eu sei que posso... quem mais eu chamaria se não meu amigo super chefe do lugar?
– Ah... então devo admitir que sua amizade é puramente interesse? – ele falou parecendo se divertir.
– O quê? – fiz uma pose exagerada – Nunca! Mas tenho que aproveitar caso eu queira uma promoção, certo?
– Acho que você está andando demais com o Liam, mocinha – ele sorriu enquanto parávamos na porta do meu quarto – Eu trouxe alguns dos livros que você me pediu da última vez. Amanhã eu te entrego.
– Obrigada – agradeci, o abracei e dei um beijo em seu rosto – Boa noite e até amanhã, John.
Tanto Alana quanto Judy já estavam dormindo. Dei um beijo na Alana e fui para a cama. Fechei os olhos e caí no sono no mesmo segundo. Jéssica estava certa, eu realmente estava precisando dormir mais e apesar de parecer que não, o dia foi bastante cheio, mas estava agradecida por ter um lugar em que podia compartilhar meus momentos com outras pessoas.
Acordei assim que o sol bateu na minha janela. Judy já estava acordada e estava trocando Alana.
– Bom dia Eva! Como foi o trabalho ontem à noite? – me perguntou animada demais para uma manhã.
– Tudo normal, acho que o único diferente é que eu encontrei um molho de chaves.
– Sério? Que legal! Acho que vamos poder finalmente ver se tem algo mais que possa nos servir aqui dentro. Quem sabe a chave não nos leva para um lugar cheio de tesouros!
– Esse lugar se chama biblioteca Judy – eu ri com a empolgação dela – Nenhum outro tesouro pode nos servir agora.
– Oras, seria fantástico encontrar uma sala cheia de pizzas!
– Mmm, isso só me deixou com mais fome Judy! Vamos para o café da manhã e para a nossa pequena reunião – disse me dirigindo até a porta.
Mas eu não consegui abri-la. Forcei-a. Judy tentou também, mas não importava o quanto forçássemos a porta, ela seguia trancada. Senti uma pequena pontada de medo e vi Judy voltando para junto de Alana, ela parecia assustada.
– Isso não está certo – murmurei para mim mesma.
Comecei a chamar por alguém e bater na porta, não desisti até que a porta finalmente se abriu.
– O que diabos aconteceu? – era Liam – Por que a porta de vocês estava trancada por fora?
Olhei para ele confusa, mas por fim consegui responder.
– Obrigada, eu não sei o que aconteceu – olhei para baixo e vi um pequeno pacote, olhei para Liam e perguntei – É seu?
– Claro que não! – ele respondeu bruscamente. Abri o pequeno pacote e vi uma pequena flor com um bilhete – Deve ser algum admirador seu – ele disse isso e saiu mal-humorado.
Junto com a flor havia um bilhete "Espero que essa flor seja do seu agrado. Você foi a minha escolhida. Logo estaremos juntos para sempre". A flor era de um azul incomum e realmente bonita, mas o bilhete era assustador. Juntei tudo com os outros bilhetes que eu já havia recebido e sai do quarto sem mencionar isso para ninguém.
Não vi nada suspeito pelo corredor, nada que pudesse me indicar quem havia deixado aquilo ali.
Fui com Judy e Alana para o corredor principal e logo para a sala de reuniões, Judy acomodou Alana próxima a janela como sempre fazíamos e ficou ao seu lado e eu fui para um canto isolado qualquer, não estava com ânimos para conversar com ninguém, eu estava assustada.
Fiquei olhando pela janela, esperando que todos estivessem presentes para que começasse a reunião e para o café da manhã. Minha fome havia passado, o nervosismo havia tomado conta do meu corpo assim que vi o bilhete e comecei a me sentir um pouco enjoada, mas sabia que minha fome voltaria assim que começasse a comer um pouco.
– Oi, você está bem? Está tão pensativa – Helena disse ao se aproximar. Helena e eu quase não conversávamos, ela tinha medo até da própria sombra, mas era uma moça agradável.
– Estou bem – respondi sem tirar os olhos da janela.
– Há um tempo, poderíamos ver muitas pessoas passando por essa rua. Eu conhecia algumas que viviam aqui perto – ela continuou para puxar assunto.
– Você morava aqui perto? – perguntei sem muitos ânimos.
– Sim, inclusive estudei aqui – ela falou sem nenhuma arrogância na voz – aqui era um lugar muito movimentado.
– Sim, eu imagino como era. No meu vilarejo não tinha uma escola como essa e nem um bairro tão bonito, mas acho que no fim, a frente de qualquer escola era movimentada, não? Sendo um internato ou não.
– Ei, por que vocês estão tão sentimentais? – olhei de relance e vi que Henry estava nos ouvindo também – Sabe, isso não vai nos ajudar em nada.
Ele chegou um pouco mais perto da janela e as fechou, fiquei um pouco surpresa com a reação dele. Não esperava por essa atitude.
– Acho que o caso não é ser sentimental, significa apenas que elas seguem sendo humanas – Yan disse com um sorriso trazendo por fim o café da manhã junto com Ethan.
No café da manhã tivemos frutas que foram colhidas pela última equipe que havia saído e suco. Também colocaram na mesa barras de chocolate que provavelmente já estavam vencidas, mesmo assim continuavam gostosas.
Nos sentamos nos bancos próximos para começarmos a reunião.
– Bom dia! Estão todos bem? – Vi nos saudou como de costume.
Alguns responderam, outros resmungaram, Sarah cochichou alguma coisa com Liam, Harry e Judy ficaram próximos de Alana. Nada fora do normal, apenas pelo fato de que eu seguia extremamente incômoda. Eu precisava confiar em alguém ali para contar o que estava acontecendo. Judy ficaria preocupada. Vi não me falaria mais nada e eu não sabia até que ponto eu realmente podia confiar nos demais, afinal, tudo indicava que era alguém de dentro da escola que estava me mandando esses bilhetes.
Todos pegaram algo para comer e esperaram para que Jéssica começasse a falar o que cada um faria.
– Hoje as buscas serão internas – ela começou
– E as chaves? – Su atropelou o que Jéssica estava falando e logo se encolheu envergonhada – Oh, me desculpe.
– Certo, obrigada Su – Jéssica não foi sarcástica, eu admirava isso nela, ela sabia ser profissional até em uma situação assim – Tanto Vi como John decidiram que a chave deverá permanecer com a Eva. Então a partir de hoje, quem for fazer as buscas com ela, deverá ajudar a ver as portas. Essa será a melhor maneira da chave não ser perdida por acidente.
– Está bem – eu respondi vagamente.
– Te passarei os locais a serem conferidos hoje mais tarde – ela me disse com um sorriso.
– Isso não é uma perda de tempo? – Lúcio resmungou. Eu não sabia o que havia com ele, mas algo não parecia bem. Ele não era mais o menino sorridente e travesso que eu havia conhecido. Claro que tínhamos motivos de sobra para isso, mas me doía ver uma mudança tão grande em alguém que um dia havia sido um grande amigo.
– Eu acho que poderíamos encontrar recursos úteis – Jéssica continuou – De qualquer jeito, isso será responsabilidade da Eva, então não se preocupe.
– Isso com certeza é melhor que fazer as buscas do lado de fora – Liam comentou sem indicar ninguém em específico. Mas logo se virou para mim – Então? Onde deveríamos provar essas chaves?
– Tem a sala dos professores e o quinto piso praticamente inteiro – Ethan disse.
– Poderíamos tentar a biblioteca – Sarah sugeriu para o meu espanto, eu não sabia que ela gostava de ler.
– O que vocês acham da academia? – Zayn sugeriu – Assim poderíamos colocar mais equipamentos aqui nesse andar.
– Oh, por favor, poderíamos tentar a sala de música – Henry parecia animado, o que era algo raro nele.
– Ok, todos esses lugares estão anotados e poderemos tentar dar prioridade para isso, mas não podemos esquecer que precisamos buscar por ferramentas também. Eu, Su e Luciel vamos fazer a rota que Eva seguirá a partir de amanhã e com quem ela irá a cada dia – Jéssica interrompeu a reunião animada. Estarmos animados era algo raro, mas era muito bom quando acontecia, principalmente quando isso aliviava o meu humor sombrio.
– Será que poderíamos provar a biblioteca hoje? – eu disse animada por livros novos, Sarah me olhou com algo de surpresa, mas logo desviou o olhar – Como vocês ainda farão as rotas eu poderia começar por lá.
– Muito bem então, pode começar pela biblioteca, mas como não escalei ninguém para isso vou preciso de um voluntário, de preferência alguém da equipe de busca externa, já que não haverá necessidade de sairmos hoje – Jéssica falou olhando para a sua prancheta.
Vi Henry levantar os braços de Liam e segurando um pouco o riso.
– Ei, o que você pensa que está fazendo? – Liam gritou com o garoto e soltou seu braço bruscamente.
– Que? – Henry disse ainda segurando um pouco o riso – Pensei que você queria acompanhá-la.
Imaginei Liam reclamando o tempo todo, mas não falei nada.
– Eu? Na biblioteca? Sério? – ele continuou ficando ainda mais irritado.
Henry notou a raiva de Liam e finalmente soltou a risada que havia segurado até então, ele parecia estar se divertindo, e a risada gostosa e inusitada dele acabou contagiando a sala e todos acabamos rindo junto. Nesse dia, eu pude notar que apesar de todas as pequenas intrigas, os dois eram realmente próximos. "Não é de se admirar que se pareçam", pensei ainda rindo.
– Acho que já está resolvido então – até Vi entrou na brincadeira – Eva e Liam vão verificar a biblioteca hoje. Agora vamos saber dos demais.
Liam continuou de cara fechada. Olhou para Vi uma e outra vez como se tentasse acreditar no que acabava de ouvir.
– Que se dane. Tanto faz – respondeu por fim.
Ir com ele não era exatamente o que eu tinha em mente, mas por outro lado, não sentia que seria algo tão ruim assim, no fundo, ele era só um homem amargurado como qualquer outra pessoa naquele lugar e ele já havia me provado algumas vezes que ele podia ser uma companhia agradável quando queria.
A reunião seguiu até que Jéssica terminasse de dar a todos seus respectivos deveres. Judy, como muitas vezes, estava dispensada para poder cuidar de Alana. Ficava feliz sempre que chegava nessa parte, pois podia notar que haviam aceitado, não só a mim e a Judy, mas também haviam aceitado Alana para o grupo.
Após todos terminarem de comer e já sabendo o que deveríamos fazer, saímos aos poucos.
– Vamos? – Liam perguntou em um tom áspero – Que cara é essa? Ah, já sei, prefere que outra pessoa te acompanhe, é isso?
– Na verdade eu gosto de desafios Liam, por isso prefiro que seja com você – falei de maneira sarcástica com ele. Com ele, ser sarcástica além de ser fácil, era algo que o fazia mostrar aquele sorriso malicioso que, por mais que eu não admitisse, eu gostava.
Dei um sorriso sem graça e comecei a caminhar do seu lado. Estávamos em silêncio, o silêncio nessas situações era incômodo e acabei fazendo a pergunta mais idiota possível.
– Então, você não gosta de ler? – me arrependi no mesmo momento em que perguntei.
– E o que tem de divertido nisso? Não gosto quando não tem o final que eu espero.
– Mas você parou para ouvir a história que eu li.
– Ainda assim não estava lendo, eu podia muito bem ter saído de lá.
– Suponho que isso é só questão de escolher o livro certo – segui falando – Poderia tentar pelo final, conheço... am... bom, conhecia algumas pessoas que faziam isso.
– Significa que elas eram mais práticas.
– Acho que depende do gosto, gosto de desfrutar os acontecimentos inesperados sem ter um spoiler.
– Não gosto de acontecimentos inesperados de qualquer maneira. Então, eu ainda optaria por aceitar a sua primeira opção.
Conversar com ele foi fácil, e como outras vezes, ele era muito agradável quando não estava resmungando.
Paramos de frente a uma porta larga e novamente acabei fazendo uma pergunta estúpida.
– Chegamos?
– Não sabe ler? – ele me perguntou revirando os olhos.
– Nossa, santa ignorância, eu só estava perguntando.
– Ah, então estou começando a te deixar nervosa? – ele perguntou dando aquele sorriso de lado que deixava minhas pernas bambas.
"Droga, que inferno, por que tem que ser tão bonito? Se ao menos fosse simpático", resmunguei uma e outra vez para mim mesma.
– Vamos começar a provar as chaves – eu disse tentando mudar de assunto. Eu estava irritada com o tom dele, mas também estava ansiosa e nervosa ao mesmo tempo.
– Ah, espero que tenha algumas revistas picantes aí.
– É uma biblioteca escolar, não seria apropriado.
– Eu acho que são revistas muito educativas, posso te mostrar se quiser... aprendi algumas coisas boas com elas – ao dizer isso, ele me encurralou na porta da biblioteca e eu virei para olhá-lo. Sentia meu rosto fervendo.
– Não seja ridículo – dei um empurrão nele e comecei a testar outras chaves, mas nenhuma abria.
– Que droga – ele resmungou logo atrás de mim.
– Suponho que estava ansioso pelas revistas, não?
– Estava ansioso para outra coisa – novamente ele usou aquele sorriso – mas, de qualquer maneira, você não escolheu a biblioteca na esperança de encontrar algo para ler? Pelo que pude ver, você já leu todos os que estão na enfermaria.
Fiquei surpresa quando soube que ele havia notado as minhas leituras.
– Tinha essa esperança – respondi por fim.
– Vamos sair logo daqui – ele se virou e começou a andar, eu o segui me sentindo um pouco frustrada.
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