Já faz muito tempo entre as palavras que falamos
Você vai estar lá para cima na costa, eu espero
Você quer saber por que é que eu vim para casa
Eu descobri onde eu pertenço

Long and Lost
╰─────────────➤✎Florence + The machine

E assim começamos a nos preparar para a jornada. No armazém dividimos os itens de forma igual nas mochilas e nos certificamos de que tínhamos pegado nossos pertences necessários. Só o fato de estarmos saindo daquele lugar já deixava o nosso humor visivelmente mais positivo.

– Todos arrumados e preparados? – Yan perguntou animado já na sala de jogos.

– Não é como se a gente tivesse muita coisa para guardar – Henry resmungou.

– Terminei... – Judy falou baixo – mas sinto que ainda tem alguma coisa faltando.

– Tenho certeza de que você tem tudo o que precisa, amor – Harry falou tranquilamente – De qualquer jeito, iremos continuar fazendo buscas pela cidade para pegarmos o que começar a faltar para todos.

Liam olhava a cena e se virou para mim, sorrindo. Fiquei paralisada ao sentir seus olhos cravando no meu rosto e senti um frio na barriga, da mesma maneira que eu sentiria ao descer de uma montanha russa.

– Eva, também está pronta para ir? – ele me perguntou. Sorri parecendo de repente sem jeito. Depois do meu resgate, a gente não tinha se falado muito e tive novamente a característica sensação de ser apenas uma adolescente boba e apaixonada – Precisa de mais tempo para fazer as malas? Podemos ir de volta até o quarto para eu te ajudar com isso.

– Eu acho que esqueci realmente alguma coisa lá – falei corando e antecipando a companhia de Liam, pois claramente minhas coisas estavam bem arrumadas.

– Eu sabia que você esqueceria alguma coisa – ele sorriu maliciosamente para mim – desastrada do jeito que é, seria impossível que fosse de outra maneira. Então vamos, irei garantir que você não se perca no caminho.

Ele me puxou de maneira brusca e escutei que Su ria me deixando desconfortável com a situação, mas deixei que ele me guiasse até seu quarto.

Ainda no corredor ele simplesmente me encostou em uma parede e me beijou, de maneira apaixonada e sedenta. Ele colocou a mão por dentro da minha camisa e senti sua mão quente sobre a minha pele e por um momento ele pareceu vacilante, senti um pequeno tremor vindo do seu corpo e quando ele pensou em sair de perto de mim, eu só o puxei de volta e me agarrei no seu pescoço, beijei perto da sua orelha e baixei uma das mãos sentindo todo o seu corpo...

Escutei quando ele tentou abafar um pequeno gemido e o beijei. Ele me sustentou pelas pernas e fomos assim pela última vez ao seu quarto.

Quando voltamos a sala estava agitada, mas ao mesmo tempo estava silenciosa. Liam se afastou me deixando sozinha com meus próprios pensamentos e foi para o outro lado parando na frente da janela. Sentia o nervosismo em cada um, mas ninguém falava e já que estávamos com tempo livre, decidi ir novamente falar com o Liam que aparentemente já havia se perdido em seus próprios pensamentos.

– Eva! – ele pareceu sobressaltado antes mesmo que eu chegasse perto dele – Você está realmente pronta? – ele me olhou com um misto de preocupação e medo tão nítidos que me perguntei o que havia passado em sua cabeça tão rápido para que ele mudasse assim de maneira tão repentina. Estávamos jutos e bem não fazia nem 5 minutos, que mudança brusca havia sido aquela?

– Sim, estou pronta – o olhei preocupada – Liam, tudo bem? Faltou pegar alguma coisa para você?

Ele pareceu despertar e de repente pareceu envergonhado da maneira que tinha agido.

– Liam, tudo bem?

– Eu estou bem, sinto muito – ele suavizou o rosto e deu um pequeno sorriso de lado – Faz tempo que eu estou pronto. Acha que vamos ter boas comidas daqui para frente? – ele parecia querer mudar de assunto e preferia seguir o rumo que ele tinha escolhido.

– Melhor não criar muitas expectativas – falei sorrindo – me diz você... você que vai pegar a comida normalmente, não? Tenho certeza de que qualquer coisa que você pegar vai ser melhor que a de qualquer um aqui – ele riu um pouco – Liam, não se preocupe, tudo vai ser melhor agora.

– Ah, antes que eu me esqueça. Você se lembra que você me deve, né?

– Nossa... – falei revirando o olho.

– Nem pense que você irá fugir disso, prepare-se para pegar um monte de comida gostosa para mim lá. Não se esqueça da carne... você vai levar uma vida inteira pagando essa dívida.

– Garanto que você irá comer de tudo lá – falei rindo – Eu ficaria grata só de chegarmos lá inteiros – resmunguei a última frase para mim mesma, mas ele ouviu.

– Não sei se essa é uma boa forma de pensar – ele bagunçou o meu cabelo e virou seu sorriu malicioso – Temos uma promessa para refazer, mas dessa vez, nada de burlar as regras, eu preciso escutar a palavra certa – ele segurou meu queixo com os dedos ainda com seu sorriso de lado – Me promete que vai ficar viva. Entendeu? E nada de fazer loucuras de novo. Me promete que se tiver com algum problema, irá me procurar e iremos resolver juntos... me promete isso.

Olhei para o fundo dos seus olhos e abri ainda mais o sorriso.

– Eu prometo.

Seu sorriso se abriu e pude ver o alívio tomando conta de seu corpo.

– Se quer mesmo sobreviver, você precisa dormir um pouco.

– Você também precisa – falei sentindo o corpo pedindo por descanso.

– Então vem – ele me puxou – vou dormir melhor se souber que você está do meu lado.

Revirei novamente os olhos e me deixei levar por ele, mas antes que chegássemos em um canto que reservamos para dormir, escutamos um barulho alto e nos viramos na direção do som.

– Ethan? Tudo bem? – perguntei olhando-o.

– Desculpa, foi só uma mochila que caiu.

Com um semblante sereno, Ethan pegou a mochila de volta. A mochila parecia tão pesada que achei que ela iria se partir a qualquer momento.

– Ah, eu vou dormir – Liam falou dando de ombros e saiu em disparada na minha frente.

– O que colocou aí dentro? – perguntei a Ethan – Parece bem pesada.

– Um rádio portátil. Luciel falou que é importante em uma emergência como esta. Encontramos quando estávamos vasculhando a sala de transmissão, então trouxe comigo. Não acho que alguém ainda transmita algo, mas sei que se acontecer alguma coisa, Luciel vai dar um jeito.

– Então, não empacotou comida alguma?

Ele colocou novamente a mochila no chão e olhou para mim sem dizer nada. Será que ele pensou que eu estava reclamando? Mas de repente seu rosto ficou triste.

– Como você aguentou tudo isso, Eva? Como consegue aguentar tudo o que aconteceu?

– O quê? – perguntei surpreendida com a pergunta.

– Quando te vi pela primeira vez, não achei que você forte desse jeito.

– Eu parecia fraca?

– Não, eu que estava errado. Você é forte. Muito mais forte do que todos aqui juntos – ele fez carinho no meu ombro e eu me senti estranha. Era como se o meu pequeno grupo esquisito: Ethan, Liam, John e Luciel fosse um time se preparando para uma partida importante – Eu estou contando de verdade com você amanhã quando formos embora.

– Sim, vamos dar o nosso melhor – "Com certeza iremos ter êxito nisso" pensei – Sei que o chato do Liam já deve estar no décimo quinto sono, mas quer vir junto para aquele canto? – apontei com a cabeça e ele acenou concordando.

Talvez por ter sido uma rara ocorrência, mas o sorriso do Ethan aparentemente fez o ar da sala ficar mais leve e juntos começamos a ir em direção ao Liam e me encostei na parede ali próximo. Ethan se sentou ao meu lado e não demorou muito para que John e Luciel se juntassem a nós. Minha cabeça estava inundada de pensamentos. Tantas coisas haviam acontecido ali... Era um alívio e tanto estar rodeada de pessoas tão incríveis. Eu queria sobreviver. Eu queria ser capaz de fazer a festa que prometi que faríamos quando ainda estava em cativeiro e queria que todos fossem capazes de sorrir verdadeiramente.

{Madrugada}

Incapaz de conciliar o sono, virei meus olhos pela sala de jogos e notei Henry quieto, pensativo em um canto e de um jeito brincalhão, saí silenciosamente do meu lugar e me escondi atrás dele e o assustei.

– Mas que?! – ele pulou da cadeira – Ei, Eva. Você me deu um susto!

– Foi mal – eu disse rindo.

– Nossa, hein! Você está igual o resto do pessoal me zoando desse jeito. Se está tentando ser como alguém, tenta ser como eu.

– Se acostume, é isso que irmãos fazem – eu ri um pouco mais.

Um rápido silêncio pairou entre nós, depois ele desviou o olhar.

– Enfim... você está mais calada do que de costume... Eu tento não pensar em tudo o que você passou ou pode ter passado, de verdade, mas não consigo... Eva?

– Sim?

– Você tem um sonho ou algo do tipo?

– Por que a pergunta sobre o sonho que eu tenho assim tão de repente?

– Fiquei pensando nisso, até agora você sabe dos meus, mas não sei nada dos seus, entende?

Parei deixando meus ombros caírem um pouco mais. Depois de tudo o que eu havia passado era difícil falar de sonhos. Eu estava tentando desesperadamente me manter sã e não demonstrar o quanto eu estava quebrada por dentro, então fiquei um tempo pensativa antes de responder.

– Meus sonhos não são nada especiais. Só uma vida bem chatinha. Só quero tentar viver da maneira mais normal possível. Além disso, desejo poder sair para comer com os amigos quando eu estiver estressada.

– Não me parece ser uma vida entediante.

– Você acha? – o assunto de repente ficou melancólico. Um conhecia o vazio do outro, mas nenhum de nós dois éramos capazes de irmos além disso.

– Sim, com certeza. Em um mundo como o nosso, querer continuar vivendo já é um sonho especial em si.

Ele tinha razão, o simples desejo de viver já era um sonho grande e tínhamos que nos agarrar a esse sonho a todo custo.

– Nós vamos ficar bem, Henry – sorri para ele tentando consolá-lo. Ele era o mais novo de todos nós, ele havia salvado a minha irmã e ele parecia ser o mais solitário naquele meio. Eu queria poder protegê-lo a todo custo, mas sabia que não podia fazer isso da maneira como estava, então tudo o que eu podia fazer era tentar dar um pouco de forças para ele.

– Você acha mesmo? – ele perguntou cabisbaixo.

– Claro. Vamos para um lugar onde poderemos ter muito mais comida e vamos poder descansar tranquilamente sempre.

– Quando chegarmos lá em segurança, eu...

– Vai fazer algo para mim? – perguntei tentando animar um pouco mais a conversa.

– Não... Deixa isso para lá. Não gosto de falar sobre esse tipo de coisa.

– Por que não? Eu gosto.

– De verdade?

– Sei que talvez ache isso bobo, mas essas coisas podem se tornar um motivo para sobreviver e eu darei o meu melhor para sobreviver.

– De todas as coisas que você já disse – ele suspirou – essa foi a segunda mais legal.

– A segunda? – perguntei rindo – Qual foi a primeira?

– Quando você me chamou de irmão – ele sorriu de maneira fraca – Eu prometo que quando chegarmos lá, eu irei fazer o possível para que nunca mais nada te aconteça. Obrigado por ser minha irmã... estou cansado, vou descansar agora – ele me deu um beijo no rosto e se afastou de mim. Pude escutar seus passos quase silenciosos indo para um canto da sala de jogos.

Resolvi refazer meu caminho para o canto onde eu deveria estar dormindo, mas vi que Zayn também estava tão pensativo quando Henry antes.

– Você está bem? – perguntei para ele. Nós não éramos exatamente amigos, mas eu notei o quanto ele seguia abatido e eu realmente considerava todos ali como minha família.

Ele segurava a cabeça perto das pernas e isso me deu um pouco de pena.

– Oh... Eva – ele virou seus olhos para mim – Devo ter te deixado preocupada. Sinto muito. Você é uma das únicas que eu não tenho o direito de preocupar. Eu estou bem, acho só que exagerei um pouco no esforço ultimamente.

– Por causa da nossa ida para o novo lugar?

– Sim, eu acho – ele não parecia ter certeza disso – Droga, não é só pela viagem, mas nem sabemos que tipo de lugar é esse na realidade, e se não for bom como aqui?

– Eu acho que tudo vai ficar bem – me sentei ao lado dele – Luciel que achou o lugar. Todos nós sabemos que ele não nos levaria para um lugar pior.

– Você acha? – todos faziam as mesmas perguntas, todos tinham as mesmas dúvidas.

– Claro que sim. Quando cheguei aqui foi assustador, mas não demorou muito para eu me sentir em casa. Não só pelo fato de aqui ser mais seguro do que lá fora, mas porque tinha vocês. Eu tenho muito a agradecer a cada um daqui. Como eu teria sobrevivido todo esse tempo se não tivesse conhecido uma das celebridades mais populares e aclamadas da sociedade? Isso seria impossível.

Zayn sorriu de forma bem branda.

– Obrigado. Ganhei o dia. Você tem razão... o importante é nos mantermos unidos, certo? Me sinto bem melhor agora.

– Que bom – suspirei aliviada.

– A propósito, posso te dizer uma coisa?

– Sim, vá em frente. O que é? – antecipei sem muito entusiasmo que ele falaria algo que me faria lembrar de coisas que eu queria manter guardadas.

– Na verdade nunca contei a ninguém aqui. Mas... estou mesmo muito feliz por você estar aqui conosco. Por ter sido tão forte por todos nós e por sempre pensar em todos. Obrigado. Também tenho que dizer que estou imensamente aliviado de que você esteja a salvo. Acho que esse grupo não sobreviveria sem você.

Zayn gentilmente fez carinho nas minhas costas.

– Acho melhor você ir para perto do Liam agora, ele parece estar te procurando.

Olhei para frente e notei que realmente Liam passava os olhos pelo local e quando me viu pareceu visivelmente mais aliviado.

– Tudo bem – falei para Zayn – Se precisar conversar, pode me chamar. Estamos juntos nisso tudo. Não se esqueça.

Me deitei ao lado de Liam, que pareceu realmente relaxar com o simples fato de eu estar ali perto. Vi como ele voltava a dormir tranquilamente e resolvi ficar ali, aconchegada nele.

E assim a última noite na escola tinha passado e na manhã seguinte nos levantamos para ir para o nosso próximo destino.