{Cap. 63}
Eu gostaria de poder voar
No céu,nas alturas
Como uma libélula
Voaria em cima das árvores
Sobre os mares em qualquer temperatura
Para qualquer lugar que quisesse
Eu quero me mandar
Eu quero voar para longe
Fly Away
╰─────────────➤✎Lenny Kravitz
– Antes de irmos – Luciel falou parecendo esgotado assim que encontraram uma casa que poderia servir de abrigo – Primeiro, vamos planejar a nossa rota de fuga e dividir os itens na mochila de forma igual para todos. Deixaremos aqui mesmo aquilo que não é necessário para o resgate e voltaremos aqui se possível para buscá-las.
– Beleza, claro – Liam apenas concordou.
– Claro – Ethan também concordou – Vamos ir de maneira segura. Esperaremos até que o Vi chegue com as possíveis rotas de fuga. Será melhor para a nossa segurança e para a segurança dela.
– Que bom – John suspirou parecendo um pouco mais esperançado – Temos um longo caminho à nossa frente agora. Vamos descansar o máximo possível até que ele volte. De qualquer jeito, acho que vai ser melhor revezarmos para que fiquemos de vigia. Os outros tentarão dormir enquanto isso.
Ethan acenou e todos os outros concordam com pequenos grunhidos.
{MANHÃ}
Me encolhi na cama tentando não pensar em nada, mas a dor emocional que eu sentia me impedia de manter a cabeça quieta... "Pessoal, eu sinto a falta de vocês. Se algum dia eu conseguir voltar, vamos fazer outra festa, tudo bem?". Conseguia imaginar todos no salão de bailes de novo. Imaginei Judy dando pulinhos de alegria enquanto recebia alguma boa notícia. "Se algum dia eu conseguir voltar de verdade, eu realmente quero fazer uma festa com todos vocês. Sei que faltará pessoas importantes, mas vamos tentar nos divertir. Ok?". Comecei a ficar mais calma e provavelmente estava esgotada mentalmente, já que caí no sono em um piscar de olhos.
{NOITE}
Quando recobrei a consciência já estava ficando escuro, mas não tinha ânimos para me levantar. Esse era o horário que provavelmente estaríamos fazendo a última reunião geral do dia.
"Já estou aqui há 4 dias, o medo e a ansiedade não me abandonam. O que será que todos estão fazendo agora? Será que estão bem? Será que chegaram bem em algum lugar seguro e longe dessa insanidade?"
Novamente escutei passos no corredor e a voz de Ray mandando alguém sair do caminho chegou com força aos meus ouvidos.
– Saia, se você estragar essas flores você pagará. São para alguém muito valiosa – houve uma pequena pausa antes que ele seguisse – Espera, acho que conheço você de algum lugar.
– Acredito que ainda não tive essa honra, senhor Ray, mas não tomarei mais o seu tempo, logo me apresentarei como é devido – uma voz extremamente conhecida chegou aos meus ouvidos e o mundo pareceu girar ao meu redor. Tentei me recompor o máximo possível quando escutei o trinco da porta.
Ele entrou com um buque de flores nas mãos.
– Olá minha princesa, te trouxe presentes. E tenho uma ótima notícia, hoje eu te levarei para passear no jardim. Espero que você possa ter ótimas recordações comigo – ele me olhou detidamente e seu sorriso vacilou por um momento – Você está bem? Parece um pouco pálida.
– Estou bem – falei tentando controlar o que eu sentia – estou me sentindo um pouco sufocada aqui, só isso.
– Então vamos, poderemos aproveitar um pouco o ar puro no jardim – ele me estendeu a mão e eu a aceitei.
Ray não me vendou, falou que estava preocupado com a minha saúde e que ele confiava em mim. No caminho para o jardim, pude ver restos de materiais de construção em alguns cantos, Ray reclamou da sujeira dizendo que os empregados não faziam nada direito, mas que eu não precisava me preocupar que logo tudo estaria limpo.
– Como você se sente? – me perguntou quando já havíamos chegado ao jardim – Se sente melhor?
– Sim.
– Apenas isso? – ele me olhou carinhosamente e eu quase consegui me sentir cômoda – Tem algo mais te incomodando, eu sei que tem.
Pensei um momento se responderia ou não, mas no fim, manter alguma conversa, até mesmo com ele, evitaria que eu entrasse em um colapso mental.
– Me sinto presa – respondi e me surpreendi com a naturalidade da minha própria voz.
– Se prometer ser uma de nós poderá ser mais livre, te prometo isso. Então por favor, me deixa entrar na sua vida. Nosso casamento é amanhã e você não me deu uma abertura somente. Não quero te tratar como os outros tratam as suas esposas. Quero que de fato você seja feliz. Prometo te visitar com mais frequência, não te deixarei sozinha e poderemos passear juntos sempre.
Não falei nada, eu me sentia incapaz de argumentar qualquer coisa sobre aquele assunto e ele pareceu se frustrar.
– Vamos, te levarei de volta para o seu quarto. Talvez hoje você precise descansar. Amanhã já teremos tempo juntos.
O segui sem resistência, eu sabia bem que era inútil.
– E então? – perguntei tentando controlar a ansiedade que sentia assim que Vi voltou para o nosso refúgio.
Já estávamos no final do quarto dia e finalmente entraríamos no esconderijo deles. Ele tirou a roupa que ocultava parte do seu rosto, tentando respirar com normalidade antes de falar.
– A área de atividade do local está muito limitada, não usam uma boa parte da mansão ainda. Consegui encontrar o quarto em que ela está, mas o quarto é bem vigiado por pelo menos 4 pessoas. Ray aparentemente a visita com frequência.
Fechei os punhos tentando controlar a raiva e a impotência que sentia, Eva devia estar sofrendo e eu não podia fazer nada para aliviar aquilo.
– Conseguiu memorizar o lugar para que possamos traçar um plano para resgatá-la? – John perguntou calmamente. Eu sabia que por trás daquela máscara ele sofria tanto quanto eu.
Eu havia aprendido a ler as expressões de John no decorrer do tempo em que havíamos passado juntos, nos olhos de John brilhavam uma raiva muito mais destrutiva do que a de qualquer outra pessoa ali e eu sabia que John, naquele momento, não pensaria duas vezes antes de matar a qualquer um que se colocasse em seu caminho.
– Parece que estão esperando para fazer essa tal purificação nela – Vi falou mantendo a voz baixa – tentei não parecer suspeito ao perguntar as coisas, por isso não sei dos detalhes.
– Eles já... – Henry virou os olhos para o lado tentando manter a coragem para seguir – já encostaram nela?
– Parece que esse tal Ray leva muito a sério essa parte da purificação – Vi respondeu enquanto o amargor da minha boca se intensificava – mas não tenho certeza do que Ray faz quando está com ela no quarto.
– Ela não deixaria isso acontecer – sussurrei respirando com dificuldade, mas eu sabia que era verdade – A Eva que eu conheço teria usado a seringa antes de permitir isso.
Ethan me olhou e acenou.
– Você tem razão, ela não permitiria.
Ethan estava muito mais silencioso que o normal, estava claro que a prioridade ali era Eva e que ninguém descansaria até que a tivessem salvado.
– Você conseguiu chegar próximo a ela alguma vez? – Henry voltou a perguntar.
– Se eu tentasse poderia colocá-la em perigo.
– Nós temos que resolver isso logo! – sem conseguir me conter, bati com os punhos no chão deixando que uma lágrima escapasse dos meus olhos – Cada dia que ela passa lá, é um sofrimento a mais.
– Tem mais uma coisa que vocês precisam saber – Vi falou sem olhar para ninguém em particular. Parece que todos seguraram a respiração esperando que ele continuasse – Quando entrarmos, só seremos capazes de salvar a Eva. Talvez uma ou duas pessoas a mais.
– Mas essa é a nossa prioridade, já era a nossa prioridade antes – falei forçando os dentes. Que merda era aquela que ele estava dizendo afinal?
– Você não entendeu, Liam – notei o quanto ele tentava se controlar para que a voz não lhe falhasse – Tem crianças lá dentro e mulheres presas em suas próprias camas.
Senti como se a alma estivesse deixando meu corpo. Havia crianças no local, como eu poderia fechar os olhos para aquilo? Seria impossível.
– Não podemos deixá-las! – fechei novamente o pulso sentindo a irritação em cada palavra que saía – São crianças Vi! As pessoas que estão lá não tem culpa disso tudo. E se a Helena ainda estiver lá? Não iremos salvá-la?
– Eu entendo a sua frustração, Liam! Acha que não estou assim? E na verdade, Helena é a nova "dama de companhia" da Eva, parece que a tratam como uma princesa. Nesse pouco tempo em que andei por lá, soube que ninguém tem autorização nem de falar o nome da Eva, até mesmo o nome dela não pode ser dito pelos outros sem consequências. Quando vão falar dela é sempre como "a noiva do senhor Ray". Quando eu vi a Helena entrar no quarto da Eva, eu tive vontade de chamá-la, tive vontade de tirá-la dali, mas se eu o fizesse, colocaria as duas em risco – Vi suspirou tentando se acalmar, mas sem conseguir se conter acabou gritando – Acha que eu não queria salvar todos eles? Mas olha para gente! – ele falou enquanto percorria o grupo com os olhos – Desde o início isso é uma missão praticamente suicida. Vamos ter sorte se conseguirmos salvar apenas uma pessoa, imagina sair de lá com pelo menos 20 crianças que mal passaram de um ano e com várias mulheres que mal conseguem andar pela fraqueza?!
Todos pareciam chocados com isso, eu mesmo não sabia nem o que pensar, já não havia espaço no meu corpo para mais angústia. Todos teriam que tentar digerir aquilo de alguma maneira assim como eu estava tentando, mas aparentemente Ethan se sentiu tão afetado que buscou algum lugar para apoiar antes de agachar e cobrir o rosto tentando reprimir o que sentia.
– Eva – escutei quando ele falou baixo e senti o nó na garganta apertar ainda mais – aonde você foi se meter.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro