{Cap. 61}
Eu sou uma garota Barbie, em um mundo Barbie
A vida em plástico, é fantástico
Você pode escovar meus cabelos
Me despir em todo lugar
Com imaginação, minha vida é sua criação
Barbie Girl
╰─────────────➤✎Aqua,
– Vim trazer o seu almoço hoje e você não estava. Aonde você foi? – Ray me perguntou ao se sentar próximo a mim enquanto deixava um buque de flores muito bem-preparado próximo. Eram orquídeas de uma beleza incomum, suas pétalas eram de um azul misturado com roxo que a fazia ser ainda mais fascinante.
– Fui até a biblioteca, um dos seus guardas me acompanhou junto com a Helena – não tirei meus olhos do livro que eu estava lendo.
– Entendo, pelo visto pegou bastante livros por lá – ele olhou a pilha de livros que havia ao meu lado – Sabe o que essas flores significam? – ele perguntou tirando apenas uma do buque e colocando em cima do livro que eu estava lendo.
– Não – tirei a flor com a ponta dos dedos e deixei de lado para poder tentar voltar a leitura.
– Essa flor tende a expressar a extensão do sentimento de uma pessoa para com a outra e por ela ser azul ainda pode estar relacionada com o ato de conquistar algo impossível, algo inatingível... nesse momento, esse algo para mim é você.
Ele me olhou um tempo e eu contive a vontade de olhar para ele também, ele de fato sabia como se expressar, sabia como chamar a atenção e ser romântico. Acho que jamais entenderei como alguém que se mostrava tão doce, podia ser tão cruel.
– Estou com um pouco de ciúmes – ele seguiu – eu estou aqui na sua frente e você não se digna a olhar para mim. Quando eu poderei ter seus olhos nos meus novamente? Eu não deixo de pensar em você enquanto trabalho ou faço outras coisas, mas você... você fica pensando na lixeira que você estava quando eu te salvei... isso dói. Por acaso não me vejo mais o suficiente atrativo para você?
– Você é bonito, Ray. Sempre foi. Se é isso que você quer ouvir, mas isso não muda o que você é.
– Entendo, você me odeia – ele falou parecendo realmente doído com isso – de qualquer jeito, você não está com tédio? Podíamos voltar para o jardim. Vamos ver um dia para passearmos por ali, podemos tomar chá só nós dois ou um suco de maracujá que você gosta tanto. Assim poderemos conversar melhor. Você ainda come chocolates? Posso trazer alguns que eu encontrei para você.
Olhei finalmente para Ray, isso era estranho. Eu o detestava, detestava tudo naquele lugar, mas de certo modo era também um alívio quando ele aparecia para conversar. Eu sabia que não podia esperar muito mais da vida depois que eu soube que meus amigos haviam decidido seguir com suas vidas, então resolvi tentar fazer com que minha estadia ali fosse o menos terrível possível.
– Tudo bem, Ray. Acho que seria uma boa ideia tomar um suco no jardim algum dia.
Ele sorriu parecendo uma criança que acabava de ganhar o melhor presente de Natal.
– Ah, isso me deixa tão feliz. Na verdade, o momento mais feliz do meu dia é quando eu posso falar com você. Agora eu preciso ir, recebemos um convidado aqui hoje. Sentirei sua falta pequena princesa. Voltarei para te ver quando termine com ele.
Senti um arrepio percorrer minhas costas com sua última frase e esperei no meu íntimo que aquilo fosse só uma maneira dele dizer que terminariam seus assuntos. Ele me deu novamente um beijo na mão fazendo uma reverência e saiu do meu quarto me deixando novamente sozinha com os meus pensamentos.
Liam e Luciel se movimentaram silenciosamente entre as ruas. Quanto mais longe iam, mais o nervosismo se instalava no interior de Liam e ele sentia como se cada passo que desse seu corpo ficasse mais pesado. Luciel vendo a tensão do companheiro e se sentindo responsável em partes pelo que estava acontecendo, deu dois tapinhas no ombro do colega, tentando dizer que ficaria tudo bem. Liam pareceu relaxar um pouco e forçou um sorriso. Liam podia até ser uma pessoa irritável e muitas vezes desagradável, mas sabia quando alguém tentava animá-lo e no fundo, sabia que Luciel não tinha culpa de nada. Eva sempre havia sido impulsiva e ela teria ido embora de qualquer jeito, mesmo sem a ajuda de Luciel.
Luciel olhou atentamente ao mapa em suas mãos e foram buscando em cada ponto que ele indicava que poderiam estar escondidos. Mercados, casas grandes, clubes... E então o olhar dele parou em uma área do mapa que mais parecia com um grande estádio de futebol se fosse comparado com o tamanho do local.
– Liam, você sabe que lugar é esse?
Liam olhou com cuidado para o mapa e assentiu com a cabeça.
– É a mansão que o gestor de fundos do meu pai vivia.
– E qual é o tamanho do lugar? – Luciel estava praticamente sem palavras com aquilo. Nem mesmo John havia vivido em um lugar tão grande assim. Na verdade, John era realmente podre de rico, mas morava em um penthouse e não em uma mansão que mais parecia um castelo.
– Não sei – Liam coçou a cabeça tentando lembrar – Deve ter entre 5 e 6 mil metros quadrados.
– Quantos metros tinha a sua casa? – Luciel arregalou os olhos.
– Eh? – Liam pareceu incomodado com a pergunta – Você quer saber exatamente? – vendo que Luciel olhava com uma certa expectativa para ele, ele suspirou antes de responder – 5249 metros quadrados.
– E por que você nunca deu a ideia de irmos viver na sua casa? – Luciel perguntou confuso.
– Não queria voltar para lá – Liam se irritou – Isso é importante agora?
– Não, não realmente, mas iremos investigar a casa do seu gestor de fundos, se você não se importar.
Luciel havia circulado a área com uma caneta vermelha assim que ele e Liam o encontraram. Os dois se esgueiraram por todos os pontos possíveis da mansão que mais parecia um castelo através de seus imensos muros, inicialmente parecia um lugar abandonado, mas preferiram investigarem melhor e notaram que havia bastante movimentação e concluíram que só poderia ser o esconderijo que estavam procurando.
– Você conhece a casa, Liam? – Luciel perguntou com certa expectativa.
– Conheço as áreas comuns. Eu costumava vir em festas aqui, mas não era costume entre nós deixar que os convidados conhecessem todas as partes da casa.
– Você realmente morava em um lugar como esse? – Luciel estava espantado com a novidade – Como conseguiu se adaptar tão bem a um quarto minúsculo de um internato?
– Não que isso tenha grande importância agora, não é? Modéstia parte, a casa em que eu morava era muito mais bonita que esse castelo medieval.
Luciel riu, mas notou que Liam não estava à vontade falando de seu passado e preferiu guardar silêncio sobre o assunto.
– Acho que seu conhecimento sobre a casa pode ser de alguma vantagem para nós afinal – Luciel concluiu e sorriu – Vamos voltar para o ponto de encontro antes que você realmente obedeça a seus instintos e corra para dentro da casa sem algum plano em mente.
– Eu realmente quero fazer isso – Liam disse parecendo frustrado – Mas prometi para aquele empresário de merda que eu iria fazer tudo de acordo com o plano.
– Eu sei que no fundo, vocês são bons amigos – Luciel deu de ombros – Vamos voltar, precisamos contar aos outros – terminou de falar e eles começaram a refazer o caminho para o local combinado.
Liam sabia que terem encontrado o lugar era definitivamente uma boa notícia, mas não conseguia ficar empolgado com isso. Ele fez o caminho praticamente todo em silêncio. A longa jornada era interrompida por alguns comentários soltos e pedidos para pegarem alguma coisa pelo caminho.
Quando eles chegaram, o local de encontro ainda estava vazio. Se acomodaram e esperaram pacientemente o retorno dos outros.
– Foi um longo dia – Luciel murmurou.
– Sim, acho melhor tentarmos descansar o máximo possível – Liam falou parecendo exausto–- Conversamos quando todos chegarem.
Não demorou muito para que John e Vi chegassem em um completo silêncio também. O olhar de Vi passou pelos dois homens sentados em um dos cantos, mas não falou palavra nenhuma ao chegar. Ele e John apenas se sentaram próximo a Liam e Luciel, no único lugar ainda iluminado pelo pôr do sol.
– Ei, o que aconteceu? – Luciel perguntou arregalando os olhos e correndo na direção de Henry e Ethan ao notar o estado deplorável que eles chegavam.
– O que aconteceu com vocês? – John perguntou controladamente enquanto estudava com o olhar um grande hematoma no rosto de Ethan.
Nenhum dos dois responderam. Ethan seguia em choque ao se lembrar uma e outra vez do Henry batendo no homem enquanto o sangue dele jorrava.
– Eu não queria – Henry desabou mais uma vez – Eu sinto muito... eu não queria.
Ethan trocou um olhar afiado com Liam quando notou que Liam falaria alguma coisa. Liam tinha um jeito grosso de falar qualquer coisa e naquele momento, Henry precisava de tudo, menos de um sermão. Liam entendeu o recado no olhar do amigo e apenas se calou.
– É tudo minha culpa – Henry seguia resmungando e chorando.
– Que droga! – Ethan gritou por fim parecendo sair do choque e praticamente chacoalhou o ombro de Henry fazendo todos se espantarem com a reação incomum de Ethan – Henry, me escuta. Você não tem culpa, entendeu? – Henry virou seus olhos praticamente apagados para os de Ethan – Se eu estou aqui é porque você me salvou, eu não fui forte e você precisou fazer essa escolha. Então não peça desculpas. A culpa não é sua, a culpa é deles... guarda o que você está sentindo para a hora de salvar a Eva, lembre-se que a Eva está com os mesmos homens que fizeram mal para aquele pai.
– O que aconteceu? – Liam resmungou baixo sentindo o desespero na voz de Ethan, algo que para ele era completamente novo.
Vi praticamente carregou Henry para uma das casas ali de perto e todos entraram juntos. A casa estava em um estado deplorável, mas serviria para passarem a noite. Henry ficou encostado em um canto e por conta de toda a tensão que abandonou seu corpo, ele dormiu rapidamente e quando Ethan notou que ele enfim estava tranquilo, narrou os acontecimentos recentes e o que tinha realmente acontecido.
– Ele iria me matar – Ethan concluiu praticamente em um sussurro – Mas aí... o Henry veio e me salvou. Ele parecia desesperado e fora de si.
Ele notou como o olhar de cada um parecia escurecer um pouco após o relato e preferiu não comentar mais nada.
– Vamos tentar descansar um pouco – Luciel foi o primeiro a romper o silêncio – Precisamos estar bem para entrar no esconderijo deles.
{NOITE}
O dia passou lentamente, uma hora parecia levar um dia inteiro e eu sabia que só estava terminando o terceiro dia ali.
– Boa noite minha pequena – Ray entrou sorridente pela porta.
– Já falei para você não me chamar assim – falei irritada.
– Eu não paro de pensar em você. Queria poder saber com o que você sonha ou o que você pensou enquanto caminhávamos pelo jardim. Eu queria poder programar a sua mente para que você não pudesse pensar em nada além de mim. Me sinto doente de ciúmes cada vez que imagino que você possa estar pensando em outra pessoa. Você não parece feliz do mesmo jeito que parecia quando estava lá na escola, mas se esse é o preço que tenho que pagar para que você fique ao meu lado, infelizmente terei de renunciar aos seus sorrisos.
Quis gritar, afinal quem estava pagando o preço era eu e não ele.
– É uma pena que você não enxergue as coisas do mesmo modo que eu – ele seguiu – o mundo precisa ser mudado, não podemos voltar a cometer os mesmos erros e temos que começar buscando a perfeição humana. Não quero te obrigar a isso Eva, mas se for necessário, pelo bem do futuro do planeta, eu te forçarei. Você deveria esquecer seus preconceitos. Para que o mundo seja melhor, algumas pessoas precisam sofrer e outras precisam deixar de existir. Eu estou salvando aqueles que ficarão e estou livrando a alma dos infelizes que não poderão se encaixar no mundo perfeito. Veja dessa maneira, estou salvando a todos, por isso precisamos livrar a terra daqueles lixos.
– Você disse que não faria nada com eles – falei sentindo a cor sumir do meu rosto.
– E por você eu irei cumprir essa promessa, até que eu consiga te mostrar a verdade e você aceite que para que tenhamos o mundo perfeito, eles não poderão seguir vivos. Você não vai querer que nossos filhos cresçam com alguém como o John a solta por aí, certo?
– Não fala mal dele! –gritei e me levantei pronta para bater nele, mas seu sorriso predador me fez cambalear e me sentar novamente.
– Me fala de você, não se sentia triste naquele lugar? Não sofria ou ficava ansiosa? Já conheceu o sentimento de não ter ninguém ao lado, sem importar o quanto esteja sofrendo ou o tanto de dor que sente? Solidão, agonia... Sei melhor do que ninguém como é sofrer essas coisas, senti isso quando você não me procurou. Eu te esperei, te vi chegar na minha porta, mas queria saber se você seguiria me buscando, então eu saí pelos fundos. Eu queria que você me procurasse, mas você desistiu de mim e virou toda a sua atenção para a Alana, como se só ela tivesse feito parte da sua vida. No mundo que eu vou criar, essas coisas não existirão, o abandono não vai existir. Vamos encontrar a felicidade e você será salva desse mundo terrível. Você verá como logo esquecerá esses dias tristes agora que você vive comigo. Depois da nossa cerimônia, vou plantar a semente de um mundo melhor no seu interior e quando essa semente crescer e passar pela seleção, essa pequena fruta se converterá na sua felicidade e se você estiver feliz, eu também estarei feliz. É incrível poder falar essas coisas com você, sabe? Ainda acho que estou sonhando quando te vejo. Preciso apressar a sua purificação.
– Nick, porque você esperou que eu te buscasse... eu sofri a sua perda – eu senti uma lágrima teimosa escorrer pelo meu rosto – O que te fez ficar tão egoísta a esse ponto? Você sempre soube que a Alana era importante para mim e isso nunca pareceu te afetar. Você também sempre foi importante para mim. Por que fez isso tudo?
– Não me chame de Nick, meu nome é Ray agora. Aquele menino medroso e medíocre não existe mais, a pessoa que aceitava te dividir morreu no dia em que você o abandonou, mas agora..., agora eu posso ser o único importante na sua vida – o sorriso dele se alargou e eu senti a dor perfurante de uma facada na alma.
Ele se levantou, eu estava sem fala... Ele havia mandado matar a Alana e eu jamais poderia perdoá-lo por isso.
– Você irá dormir agora? – ele me perguntou esticando mais o corpo.
– Acho que sim – respondi com um grande esforço.
– Não vá dormir tarde, você precisa descansar – ele se aproximou e pegou a minha mão – Que tenha uma boa noite minha preciosa.
Ele se agachou, me deu um beijo na mão e saiu do quarto. Pouco depois eu escutei a fechadura que me mantinha presa naquele lugar.
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