{Cap. 54}
Eu achei que tinha sido machucado antes
Mas ninguém jamais me deixou tão dolorido
Suas palavras fizeram um corte mais fundo do que uma faca
...
Você observa enquanto eu sangro até parar de respirar
Estou tremendo, caindo de joelhos
E agora que estou sem seus beijos
Eu precisarei de pontos
Estou tropeçando pelos cantos
Estou dolorido, preciso da sua ajuda
Stitches
╰─────────────➤✎Shawn Mendes
Naquela noite, Eva me pediu que ficasse com ela. Ela estava estranha, parecia nervosa e sempre que eu a olhava ela sorria de uma maneira pouco natural. Algo me incomodava, mas não sabia como colocar aquilo em palavras.
– Eva, aí está você – Luciel chegou – será que nós podemos conversar sobre isso?
Luciel mostrou uma folha de papel dobrado para ela.
– Claro – ela respondeu prontamente.
– A sós – Luciel concluiu sem graça.
Os olhei com desconfiança e senti o pequeno monstro do ciúme me corroer. Olhei para Eva, que assentiu me pedindo que os deixasse, saí a contragosto, mas forcei minhas pernas a me obedecerem. Eu não gostava daquilo, estava com uma sensação estranha, era um mau pressentimento que me chegava a doer o estômago.
Eu os deixei a sós e fui em direção ao quarto, precisava usar o banheiro antes da reunião e aproveitaria para lavar o rosto e trocar a roupa molhada.
Quando estava voltando pelo corredor, notei que Eva e Luciel haviam encostado em um pequeno vão de uma das paredes e falavam baixo, mas Luciel parecia muito alterado.
Eu sabia que não deveria escutar a conversa, sabia que deveria confiar neles, mas não conseguia. Me encostei devagar em uma das paredes próximas sem que fosse notado e tentei aguçar os ouvidos.
– Não – Luciel falou irritado – Eu não vou fazer isso.
– Qual é, Luciel. Você é o único que pode me ajudar.
– Eu disse que não te impediria, isso não quer dizer que eu vá te ajudar com algo tão absurdo.
Luciel estava irritado, falava entre dentes e tinha o rosto levemente vermelho.
– Eu só estou te pedindo que faça a ronda hoje, não é nada demais.
– Sei, e como eu faria a ronda se não é meu turno?
– Por favor... – Eva sussurrou.
– Ei, vocês dois – John apareceu me fazendo sobressaltar – Só estamos esperando vocês. Cadê o Liam? Não ficou claro que não era para ninguém andar sozinho?
– Nós já estávamos indo – Luciel falou dando as costas para Eva.
– Luciel, por favor – ela segurou o braço do amigo e baixou a cabeça.
– Minha resposta segue a mesma.
Assim que eles saíram, saí do meu pequeno esconderijo como se estivesse voltando naquele momento. Cheguei perto da Eva que me olhou assustada, entreguei uma camiseta seca para ela, ela relaxou e logo em seguida me ofereceu novamente o mesmo sorriso que havia me dado uma e outra vez naquele dia.
A reunião passou rapidamente sem muitas novidades e foi servido chá para todos. Eva delicadamente recusou, disse que queria apenas um pouco de água, mas se ofereceu para ajudar a servir.
Todos tomaram seu chá devagar e em silêncio.
– Liam, vou falar com o John rapidinho e depois vamos para o quarto? – Eva cochichou em seu ouvido.
Liam assentiu sentindo o corpo cansado. Ela se levantou foi até John e se sentou ao seu lado. Eles conversaram por um tempo e depois disso ela o abraçou apertado, falou alguma coisa em um tom baixo para ele e voltou para o lado de Liam.
Quando chegaram no quarto, ela se trocou e se deitou na cama. Pediu para que ele deitasse a seu lado e se aconchegou junto de seu corpo.
– Me desculpa, Liam – ela falou apertando a mão dele como se não quisesse soltar – Por favor, sobreviva a isso tudo.
Ela repetiu o mesmo pedido que ele havia feito para ela e ele sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
– O que você fez? – ele perguntou sentindo seus olhos pesados sem conseguir conter o sono intenso que sentia.
Ela o beijou e ele sentiu uma lágrima escorrer do rosto dela para o seu.
Era turno de Jéssica e Zayn para fazerem a ronda, mas se sentiam extremamente cansados de uma maneira incontrolável. A tontura começou a ficar forte e eles agradeceram quando Luciel se ofereceu para fazer a ronda no lugar deles. Estavam tão cansados que nem se deram conta de que Luciel faria a ronda sozinho.
O semblante de Luciel parecia sombrio, mas Jéssica e Zayn não estranharam, todos estavam sofrendo.
Cada um foi para o seu quarto e dormiram rapidamente.
Quando Harry e Judy acordaram, eles estavam sentindo uma pequena dor de cabeça. Não sabiam exatamente a hora em que haviam dormido, só sabiam que nem haviam trocado de roupa.
Alguma coisa no chão próximo a porta chamou atenção do Harry, ele levantou com o corpo ainda um pouco pesado.
Era um envelope pardo, do tamanho de uma folha A4. Retirou a folha de dentro do pacote. Havia dois desenhos, um dele e Judy juntos, pareciam felizes. Judy estava sentada no chão, ele em uma cadeira. A cabeça de Judy descansava no colo de Harry e os dois riam de alguma coisa. No segundo desenho estava ele, Judy e Eva no refeitório, Judy estava no meio de uns pulinhos que ela sempre dava quando estava satisfeita ou feliz, Eva e Harry apenas riam.
Ele suspirou ao notar a dor que aqueles desenhos causavam a ele, e a dor que Judy sentiria ao vê-los.
Quando Henry acordou, tudo o que passava pela cabeça dele eram tristezas e dores.
Ele pegou o envelope destinado a ele. No desenho ele dançava com Alana, em um outro ele estava tocando piando enquanto Eva o assistia batendo palmas. Ele não se trocou, saiu do seu quarto sem se arrumar ou mesmo escovar os dentes.
Vi recebeu um desenho dele com John, conversando enquanto brindavam uma taça de vinho. No segundo desenho ele, Eva e John conversavam em uma paisagem completamente distinta ao da escola.
Su e Jéssica estavam lindas em seu desenho. As duas estavam em uma cafeteria felizes, cada uma com uma taça de café nas mãos. Em uma segunda foto, Su e Jéssica estavam de mãos dadas e Eva as abraçava pelo pescoço se colocando no meio das duas. O sorriso de todas elas pareciam sinceros.
Yan cozinhava enquanto cantarolava alguma canção junto de Zayn, os dois pareciam se divertir, pareciam estar fazendo algum bolo de festa. Em um segundo desenho estavam alguns dos membros do grupo, incluindo a Eva, em um restaurante e no menu podia-se ler o nome do Yan.
No desenho de Zayn, ele estava sorridente sendo iluminado pelo sol de uma janela, mostrando toda a beleza que havia encantado a tantas outras pessoas. Em um segundo desenho ele estava encenando em um palco de teatro e Eva segurava uma placa com a legenda "nós amamos você".
Ethan acordou se sentindo perdido, não se lembrava nem de ter voltado para o quarto, ele se levantou com um pouco de dificuldade e foi até o banheiro para lavar o rosto. O dia já estava claro e ficou com medo de ter perdido a reunião.
Voltou para perto da cama e começou a se arrumar. Enquanto vestia a camisa notou um envelope pardo que havia sido colocado por debaixo de sua porta. Ele foi calmamente até a porta, ficou alguns segundos olhando o envelope antes de decidir pegá-lo.
Ele havia recebido dois desenhos que claramente haviam sido feitos por Eva, ele já reconhecia os traços da amiga.
Em um dos desenhos ele estava em um jogo de basebol, ele estava segurando seu bastão com força e parecia pronto para rebater. Em um segundo desenho ele estava treinando boxe com Eva.
Ele ficou olhando os dois desenhos enquanto sentia o como sua vida afundava aos poucos.
Quando John acordou, seu primeiro pensamento o levou até Eva. Ela havia agido de maneira muito estranha na noite anterior, ele notou como várias das vezes ela fechou levemente um dos olhos.
Quando ela se aproximou dele, ela agradeceu por tudo o que ele havia feito por ela, disse que nunca esqueceria daquilo.
Ele se sentou e passou as mãos pela cabeça e não demorou muito para que ele notasse o envelope.
Sentindo as mãos tremulas ele tirou os desenhos. No primeiro desenho, John estava tomando vinho em um pub muito conhecido. Em um segundo desenho ele estava dançando com Eva.
Sentindo o coração quase parando, ele notou uma terceira folha, a letra de Eva era elegante, parecia uma obra de arte tanto quanto os seus desenhos. Ele respirou fundo umas três vezes ainda sentindo a dor que aquilo lhe estava causando.
"John,
Quando eu te encontrei pela primeira vez, eu não carregava comigo nenhuma esperança de ser feliz novamente e você me mostrou que eu estava errada, me mostrou que eu podia cultivar pequenas felicidades mesmo com toda a dificuldade que nos cerca. Apesar de ter sido um começo turbulento, você me acolheu. Você foi o meu primeiro amigo entre todos e esteve ao meu lado em todos os momentos difíceis que eu passei.
Você e sua paciência de ferro conseguiam ver através de mim e sei que ninguém aqui me conhece tão bem quanto você, nem mesmo a Judy que estava comigo há muito mais tempo. Você reconheceu as minhas dores e me deu o suporte necessário para seguir vivendo. Nunca tive ninguém como você ao lado antes, ninguém que realmente me enxergasse.
Você não me julgou, não duvidou... acreditou em mim mesmo quando eu mesma já não o fazia. Sei que o que eu estou escrevendo pode parecer estranho ou exagerado, mas eu jamais esquecerei que você me mostrou quem eu realmente sou e saiba que eu nunca esquecerei o quanto eu devo a você.
Eu não suportaria se alguma coisa te acontecesse. Então eu peço que me perdoe.
Por favor, continue vivendo e faça o possível para ser feliz.
Com amor,
Eva."
John agachou sentindo as pernas fraquejarem, não tentou impedir as lágrimas que brotavam dos olhos. Ele nunca quis que Eva se sacrificasse, ele só queria que ela ficasse bem e agora ela havia ido embora, talvez para sempre.
Ele sentiu como se a linha que o segurasse vivo se rompia. Ele a amava, a amava de uma maneira incondicional, não como Liam a amava, estava claro, apesar de suas aventuras com ela, ela era como alguém da família para ele..., para ele, ela era a única família que valia a pena ter ali, ela era a única pessoa que ele realmente queria proteger.
Sentindo a fraqueza aumentar ele se sentou no chão e encostou na parede. Imaginou o sofrimento que ela poderia estar passando, lembrou do como a encontraram caída na escada com a roupa rasgada e diversas marcas roxas pelo corpo.
Seu choro evoluiu para soluços espasmódicos e a dor que ele sentia no peito apertava de uma maneira quase sufocante. Ele que havia sido tão controlado durante toda a sua vida, já não conseguia segurar todo o sentimento ruim que se instalou nele. Ele havia perdido tudo, sua família perfeita, seu primeiro filho, e agora havia perdido o único foco de luz que o havia guiado no meio daquela escuridão.
Não, Liam não deixaria que ela ficasse lá e ele não podia deixar também. Falaria com Liam, com Ethan e Luciel. Ela estava com um rastreador na perna e eles iriam encontrá-la a todo custo.
Levantou cambaleando e precisou se apoiar na parede para seguir, respirou fundo algumas vezes antes de arrumar a postura e saiu do quarto tentando se manter firme.
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