13. MADONNA
Contrariada com o almoço e um pouco sonolenta, fui para o café ainda que sem um pingo de vontade. Quase não fiquei na linha de ataque para não encontrar Cristofer acidentalmente, o que era impossível a essa altura, já que nós dois evitávamos veementemente este fato.
Mada notou alguma coisa, mas preferiu me deixar em paz, talvez. Percebi vez ou outra o olhar que me lançou como se tentasse dizer que entendia, e que não iria me importunar. Não sei quais olhares mandei de volta para ela, mas funcionou.
Pude permanecer quase que toda a noite em silêncio, a não ser pela parte em que meu fornecedor de morangos ligou dizendo que teria que reduzir minha entrega pela metade devido ao frio que estava fazendo, dificultando o cultivo dos morangos.
- Mas, morango adora frio! – falei irritada.
- Sim, mas não com essa intensidade. Sinto muito.
Nem isso me afetou. Talvez se o problema fosse com a banana ou o kiwi, talvez eu tivesse dado maior importância.
- Vamos? – escutei Mada enquanto entrava no escritório.
- Nossa, perdi a noção do tempo.
- Quase todo mundo já foi.
- Tudo bem, Mada, pode ir, eu fecho tudo.
- Tem certeza?
- Sim, sem problemas.
- Ok – se conformou e me mandou um beijo que eu respondi em seguida ao dela.
Não demorei muito para ir. Verifiquei se todas as janelas estavam fechadas, apaguei todas as luzes e finalmente tive coragem de voltar pra casa.
Senti medo de encontrar Cristofer durante todo o caminho, indo ou voltando do hospital, ou simplesmente caminhando por ali. Senti raiva por parecer tão infantil. Ainda mais pelo fato de não ter feito nada a ele. Mas a verdade é que eu não podia suportar a sensação de ter sido, de certa forma, desprezada por ele, ou talvez rejeitada, não sabia ao certo qual palavra usar. Não era a vaidade o maior problema da situação, ainda que ela fosse um fator de peso, mas a dor que estava me fazendo sentir.
O melhor seria eu não me aproximar dele novamente. Eu não queria que situações como aquela se repetissem mais uma vez o obrigando a fazer coisas das quais ele se arrependesse depois e, por conseqüência, me deixasse magoada.
Nas escadas, no nosso último lance, encontrei um envelope, e quando li o nome, nem fiquei surpresa, era de Cristofer. Presumi que ele deveria estar em casa, e que havia perdido a correspondência enquanto subia.
Levei comigo e deixei sobre a mesa, no dia seguinte colocaria debaixo de sua porta. Hoje não.
Tentei agir normalmente, como fazia antes de saber da existência de Cristofer, mas não consegui. Meus ouvidos pareciam estar sensíveis ao menor ruído. A todo instante eu esperava ouvir seus passos no apartamento ao lado, mas não escutei absolutamente nada. A noite foi de um silêncio como poucas vezes eu vi. Não parecia haver outra vida naquele andar que não fosse a minha, andando de um lado para o outro.
Vai ver ele também estivesse fazendo como eu, calculando todos os movimentos que fosse fazer para não emitir ruídos. Eu não queria que ele me ouvisse apesar de estar desesperada por qualquer barulho vindo de sua parede. Cheguei a ficar por minutos colada na parede, concentrada, de olhos fechados, tentando ouvir algo.
Entrei na cozinha, mas não queria nada lá dentro, estava agindo no modo automático. Abri a geladeira como todo mundo faz, como se ela fosse um oráculo que fosse dar alguma resposta. Então, meio minuto depois, sem resposta nenhuma, a fechei novamente.
A pia estava limpa, nem louça para lavar eu tinha para me distrair.
Foi um copo no escorredor que prendeu meu olhar. É engraçado como a gente repreende os nossos pensamentos quando está prestes a fazer alguma coisa estúpida, como se estivesse sendo vigiado por alguém. Ninguém podia me ver, e ainda assim, eu sentia vergonha do que estava prestes a fazer.
Peguei o copo e fui para a sala. Me posicionei rente a parede e depois o apoiei com sua boca virada na superfície lisa. Estava parada de frente para o copo pensando se daria continuidade ou não àquilo. Nem meio segundo se passou e eu estava com a orelha apoiada no copo frio.
Silêncio.
O velho truque do copo foi utilizado, mas não obtive resultados, aliás, não acreditei muito em sua eficácia.
Senti raiva de Cristofer outra vez. Nem barulho ele estava fazendo. Que ódio. Mas raiva é uma coisa que eu não consigo manter viva por muito tempo, assim como uma infinidade de flores e plantas. Com Cristofer não seria diferente. Bastava eu lembrar dos momentos em que ele parecia um ser humano normal, dos cabelos caindo nos olhos, dos olhos transparentes através das lentes dos óculos, das covinhas, das pintinhas...
Ah!
Já estava me traindo começando a esboçar um sorriso.
Minha mente está contaminada por ele.
Tentei ler um livro, mas cinco páginas se passaram e eu não saberia contar o que estava acontecendo porque não consegui absorver nada.
Tentei ligar para o Daniel. Nada. Não me atendeu. Devia estar ocupado, claro. Mandei duas mensagens para ele, perguntando como estava, ordenando que ele dormisse direito e descansasse.
Andei até a janela da sala e vi que todo mundo lá fora parecia dormir, menos eu. Então vi a manta que Cristofer tinha usado mais cedo jogada no sofá. Encarei por um tempo, como se ela tivesse culpa. Virei para a janela novamente um pouco raivosa. Ia lavá-la imediatamente! Ou enfiar num saco e jogar fora, disse para mim mesma vendo as arvores me julgando lá de fora, mas percebi que cena ridícula eu tava protagonizando. Me dei por vencida, mente e corpo. Rastejei até o sofá e bem lentamente me cobri com o pedaço de pano. Era ao mesmo tempo perturbador e reconfortante. Era ele em forma de cobertor. Me causava as mesmas sensações conflitantes. Parecia ter ficado com um pouco do cheiro do xampu dele. Ou talvez fosse só mais um truque da minha mente perturbada.
Olhei meu celular mais de dez vezes para ver se tinha notícias de Daniel. Nem minha mãe com um radar fantástico para essas coisas fez contato. Era como se o mundo tivesse acabado e só eu tivesse sobrado. E nem um cachorro eu tinha como acontece na maioria dos filmes.
Também não escutava nada no apartamento ao lado. Talvez ele tivesse ido pra casa de alguém, com alguém. Algum amigo, alguma... amiga.
Estava silêncio por fora, mas por dentro, minha cabeça gritava. Pensar nele com outra pessoa fez meu corpo ficar quente, cheguei a suar.
Para com isso!
Respirei fundo algumas vezes e mentalmente tentei trancar todos os pensamentos barulhentos num quarto e fechei a porta. Lentamente os pensamentos começaram a se misturar com coisas coloridas e pessoas que eu nunca tinha visto. Já estava sonhando. Em pouco tempo adormeci enrolada nos tentáculos da minha manta, a aliada de Cristofer.
Escutei o som dos carros voltando a passar pela rua lá embaixo e notei que já era manhã. O sol não invadia a sala como de costume, então já sabia que o dia estava nublado, e frio, muito frio.
Acordei toda dolorida.
Odeio dormir no sofá.
Quando me sentei no sofá, senti como se minha cabeça pesasse uma tonelada. Apoiei todo seu peso numa das mãos e gemi enquanto bufava. Tinha passado quase que a noite toda na mesma posição. Minha cabeça também estava dolorida. Que dia de glória eu teria pela frente.
Não me arrumei com muita vontade. Mesmo que minha mãe aparecesse num balãozinho com um olhar reprovador, comi apenas para tomar um analgésico. Peguei a correspondência de Cristofer que estava sobre a mesa e saí.
O ar gelado do corredor e o nervoso me fizeram arrepiar. Mas não me importei. Se ele aparecesse ali naquele momento, eu iria agir de forma indiferente, assim como ele costuma fazer comigo.
Parei de frente para a sua porta e me agachei logo. Sempre tenho mania de dar importância demais às coisas bobas. Só precisava enfiar a carta lá e sair. E foi o que fiz.
***
A manhã passou sem notícias, não só de Cristofer, mas também de Daniel. De um eu já esperava isso. Mas Daniel sumir era novidade para mim. Pensei em passar na casa dele para ver se estava tudo bem, mas então lembrei que os pais dele estavam por aqui. Era isso. Estava com os pais. Não estava me ignorando, estava ocupado.
O dia começou com movimento fraco, estava muito frio até para procurar onde se esquentar. Achei que seria assim por toda a tarde também, mas me enganei. Depois do almoço tivemos tanto movimento que eu precisei me desdobrar em duas para dar conta. Eu e Mada não tivemos tempo para conversar, mais uma vez. Estava virando rotina. Ainda bem.
Entre um pedido e outro, lá estava Cristofer se apoderando dos meus pensamentos, morando dentro do meu cérebro e se refletindo em minhas retinas a cada piscar de olhos que eu dava. Algumas vezes até bufava de raiva por não ter mais o controle dos meus próprios pensamentos. Ele tinha conseguido se espalhar como um câncer por todos os lados. Era questão de tempo até que ele caísse definitivamente na minha corrente sanguínea e se alojasse em meu coração, se é que já não tivesse feito isso.
O movimento ficou mais calmo apesar de quase não haver mesas disponíveis, e então eu pude respirar um pouco. Recuei pra trás do balcão e fiquei por lá até que precisassem de mim novamente, e não demoraria muito, por isso eu precisava aproveitar o momento.
Levou mais tempo do que eu esperei até que alguém recorresse a mim, e foi então, pelas janelas, que eu o vi. Enquanto eu preparava um café ele vinha contra o vento que bagunçava seus cabelos. Não estava de óculos e não carregava nenhum livro, apenas o cachecol o acompanhava dessa vez. Os braços cruzados e a expressão em seu rosto denunciavam o frio que deveria estar sentindo.
Comecei a ficar nervosa, mas me acalmei logo, já que ele não deveria estar vindo para o café, devia estar indo pro hospital.
Entreguei o café para o cliente e fiquei apreensiva.
Assim, o mantra "ele não vai entrar aqui" se repetiu em meus pensamentos até que ele empurrou a porta de vidro com as duas mãos e parou a entrada.
- Ai... – resmunguei.
Ele continuava parado enquanto varria o lugar com os olhos. Ao me ver parou. Parecia estar me procurando e veio diretamente a mim, pro meu desespero total.
Fiquei imóvel. Não movi nenhum músculo e agi naturalmente, ou pelo menos pensei que agi. Tanta coisa passou pela minha cabeça desde o primeiro passo até o último que ele deu em minha direção. A palavra pânico aparecia por extenso entre um piscar de olhos e outro que eu dava.
O ar entrava com dificuldade pelo meu nariz quando ele se debruçou no balcão e fez uma careta estranha recontorcendo a boca.
Não olhava para mim quando eu focalizei seu nariz que estava rosado por conta do frio. Mantinha o rosto virado para baixo, fechou os olhos e balançou a cabeça negativamente. Não emitiu um som sequer. Enquanto isso eu olhava para a cena sem entender muito do que se passava. Presumi que aquilo era a expressão de alguém arrependido.
- Certo – falou de repente enquanto eu ainda o olhava com uma das sobrancelhas arqueadas. – Me desculpe – continuou.
- Cristofer... – ele não me deixou continuar.
- Eu sou estranho. Esquisito, certo? Eu sei, não responda. A resposta é afirmativa, não tenho duvidas, mas eu peço que me desculpe. Não é por mal, acontece. Acontece sem que eu me dê conta. E eu sei que isso não justifica meu comportamento rude. Eu não sou assim, eu estou assim, então eu presumo que vá passar, e que eu vá voltar a ser normal como eu fui um dia.
- Mmmm... – resmunguei balançando a cabeça para assimilar todas as palavras que ele metralhou. – Quando você aprendeu tantas palavras? Calma.
Ele sorriu levemente.
- Eu não tenho sido legal com você, e você se dispôs a me ajudar prontamente. Não é justo.
Meu deus! Senti um misto de desespero e alívio, jurava que ele iria querer parar com essa historia de aulas também.
- Você não quer mais minhas aulas?
- Não! – se espantou. – Quer dizer, sim! Claro que quero, a não ser que você não queria mais me dar aulas, Sofia.
- Não, imagine. Podemos continuar. – Não sei se menti ou se falei a verdade, estava confusa.
- Então nesse caso não quero ser injusto. Vou firmar um trato com você. Prometo ser mais normal, menos rabugento. Aceita? – ele esticou a mão direita para eu firmar o trato. A mesma que ele me estendeu algum tempo atrás quando nos conhecemos.
- Você não é nada disso – agora sim menti, me negando a apertar a mão e firmar o tal trato.
Ao me ver estática, ele falou meu nome com tanto pesar na voz que eu senti pena.
- Sofia... – esticou mais seu braço em minha direção.
- Tudo bem, Cristofer – suspirei apertando sua mão quente.
O calor da mão dele se espalhou por todo meu corpo, principalmente paras as bochechas que provavelmente me denunciaram, mas nem me importei.
Ele parecia muito querer cumprir o que dizia, mesmo que eu sentisse que havia medo em suas palavras. Acabei ficando tocada com a confissão dele, não devia ser fácil admitir que estava sendo uma pessoa difícil de lidar. Fiquei orgulhosa por sua coragem e botei a perder meus planos de acabar com todo aquele circo. Mas, desta vez, eu iria manter uma distância segura.
- A próxima aula vai ser em casa, então.
- Sua casa?
- Isso. Algum problema?
- Não, de jeito nenhum. Na sua casa então – assenti.
- Obrigada, Sofia.
- Você agradece demais.
- Desculpa.
- E se desculpa também. – E finalmente consegui tirar um sorriso dele com essa última frase.
- Sei... – falou estampando as covinhas e baixando a cabeça envergonhado.
Fiquei olhando para ele enquanto expressava sua timidez por todos os poros de seu corpo e pelas linhas de seu rosto. Finalmente Cristofer deixava transparecer um sentimento. Quando eu fechava os olhos era como se ele ainda estive na minha frente. Se me perguntassem, eu poderia descrever com precisão cada pintinha de seu rosto, até a disposição delas eu daria, com exatidão.
Quando ele voltou os olhos que pareciam feitos de vidro esverdeado para mim, chegou até a doer.
- A propósito. Obrigada novamente.
Revirei os olhos.
- Por que dessa vez?
- Pela minha correspondência.
O frio na minha barriga foi imediato.
- Você me viu?
Pensar nele vendo a minha imagem toda confusa na porta dele me fez sentir vontade de chorar.
- Não vi, não.
- Então, como sabe que fui eu?
- Alguma coisa me diz... – parecia uma afirmação maliciosa. Mas ignorei, externamente, porque por dentro, eu já começava a entrar em ebulição.
- Fui eu sim. Estava caída na escada.
- Deve ter sido o sono.
- Já colocou ele em dia?
- Isso é possível? – sorriu. – Sono está sempre em atraso.
- É verdade... Já volto, Cristofer. Você me dá um minutinho? – falei tentando ser natural.
Me virei com as bochechas vermelhas, entrei no escritório, fechei a porta com pressa e me escorei nela mesmo. Minha respiração estava ofegante. Meu coração tomou conta de mim como sempre. Eu já era escrava dele nestas situações. Segurei a respiração e fui soltando o ar aos poucos pra que ele não saísse de uma vez do meu pulmão. Fechei meus olhos, mas o abri rapidamente quando Cristofer apareceu estampado em minhas pálpebras.
Olhei para frente sem piscar, para não correr riscos e, à duras penas, cheguei a uma conclusão que só quem tem atraso mental ainda não havia alcançado.
- Ai, meu Deus. To apaixonada por ele.
Dizer em voz alta é muito pior!
Mas tanto fazia. O fato é que eu estava completamente louca pelo meu vizinho louco. Olha só. Pelo menos a nossa loucura era algo que tínhamos em comum.
Como essa pessoa foi entrar assim na minha vida? Fiquei imaginando se alguma vez a gente já tinha se trombado e eu nem havia notado. Impossível não notar Cristofer. Se ele já havia passado por mim alguma vez antes do nosso encontro oficial, com certeza eu estava colocando colírio nos olhos bem na hora, ou espirrando, ou olhando pro outro lado.
Meus pensamentos estavam meio estranhos, como se eu tivesse com sono, mas era estranho, porque na verdade eu estava histérica.
Esperei todo meu tique nervoso terminar de se espalhar pelo corpo até que ficasse apenas nas mãos e nas pontas dos dedos que agora estavam meio dormentes e voltei para o balcão.
Cristofer inalava a fumacinha que saia da xícara de café. Xícara que por sinal apareceu magicamente sob seu nariz.
- Fui eu – sussurrou Mada voando por mim com uma bandeja cheia de copos e xícaras.
- Obrigada – sussurrei de volta enquanto me encaminhava para o balcão.
Ele já levantava os olhos em minha direção quando o olhei novamente. O pavor tentou voltar a me assombrar e, enquanto tentava evitar, voltei os olhos para a porta e vi a madame Delacroix. Que alívio. A senhora que está sempre carrancuda avidamente abriu um sorriso enorme para mim e eu a cumprimentei com uma empolgação inédita. Belo disfarce.
O motivo da alegria súbita da madame não foi algo que eu pude dar muita atenção, já que Cristofer ainda estava ali comigo, e eu na mira de seus olhos redondos. Se eu continuasse descompensada dessa forma, meu coração entraria em colapso novamente, e minha saúde estaria em risco. Minha vida social também. Respirei fundo e olhei para ele novamente.
- Não tem plantão hoje? – eu quis saber.
- Não. Hoje não, mas vou até o hospital mais tarde. Preciso resolver alguns assuntos.
- Quer mais alguma coisa? – perguntei ao ver sua xícara quase vazia.
- Uma Madonna? – ele respondeu com ar de dúvida, mesmo que fosse a única certeza em sua vida, comer esse sabor de cupcake.
- Só uma?
- Verdade. Duas.
- Tá na mão – respondi ao pegar os cupcakes na vitrine para ele.
- Hmmm – resmungou. – Isso ainda vai acabar comigo. Vou caber nas roupas do meu pai antes do que pensei – ele continuou enquanto devorava o bolinho sem piedade.
- Vou levar um para viagem.
- Já faço pra você.
Uma coisa era fato, pelo estômago eu já tinha pegado ele, pensei maliciosamente.
- Está aqui – entreguei o pacote com o valioso conteúdo para ele.
- Obrigado. Eu te ligo para combinarmos a próxima aula, pode ser?
- Tudo bem, sem problemas.
- Vou indo, então.
Levantei a mão apenas e acenei enquanto um sorriso gentil estampava meu rosto. Não emiti nenhum som enquanto ele se virava em direção à porta com seu saquinho para viagem em uma das mãos e a outra dentro do bolso.
Sorriu para a caixa quando ela recebeu o dinheiro. Olhou mais uma vez em minha direção com o sorriso que só ele era capaz de dar.
Quando sumiu das minhas vistas balancei a cabeça em desaprovação e respirei fundo, mas agora já era tarde. Tudo o que eu tinha prometido para mim mesma a respeito dele eu tinha fracassado em cumprir. Mais uma vez eu havia me rendido. Me trair estava virando rotina.
- Vocês estão bem? – Madalena quis saber.
- Ah, Mada... ele é estranho demais. Mas não consigo ficar longe.
- Bom, pelo que eu vejo, nem ele.
Fui pega desprevenida por seu comentário que acabou enchendo meu coração.
- Será?
- Isso é óbvio, Sofia – respondeu um pouco sem paciência como se eu tivesse fazendo uma pergunta muito óbvia.
O caso é que Madalena não sabia como ele me tratava com indiferença e como parecia fugir de mim o tempo todo.
- Se você diz... – dei de ombros. – Tanto faz, também. Eu vou sair mais cedo um pouco hoje, quero passar na casa do Daniel.
- Tudo bem.
Antes de sair, peguei alguns cupcakes, meu casaco e fui até a casa de Daniel. Quase dois dias tinham passado e eu ainda não tinha conseguido fazer contato com ele. Liguei e mandei mensagens outras vezes, mas não obtive resposta e comecei a me preocupar.
Estava preparada para dar um puxão de orelha nele pelo sumiço. Até ri sozinha imaginando a cena.
Faltavam poucos metros para eu chegar em sua casa quando escutei risadas e uma conversa vindo do lado contrário. Era ele. Mas não estava sozinho. Ele não me viu, então me escondi atrás de um muro. Andava abraçado com uma garota... Mulher. Parecia ser ruiva, pelo menos na luz da noite. Sorriam o tempo todo, nunca tinha visto tantos dentes ao mesmo tempo. Parei em choque.
- Mas o quê...? – balbuciei pra mim mesma.
Ciúmes?
Eu tava sentindo ciúmes por causa dele?
Os dois se encaminharam para porta e não se desgrudaram até que ele abrisse e os dois sumissem lá para dentro.
Continuei parada perto do muro, um pouco confusa.
Eu estava sentindo ciúmes sim, mas não ciúmes romântico. Daniel é meu melhor amigo e tinha ignorado minhas ligações. Eu fiquei preocupada! Achei que pudesse ter acontecido alguma coisa com ele, mas ele estava muito bem pelo que notei.
Voltei derrotada para casa. Confusa, magoada e com raiva. Talvez fosse a hora de comprar uma planta, já que eu tinha conseguido finalmente cultivar raiva, talvez agora conseguisse fazer isso com plantas também.
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