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Capítulo 41

POV DIOGO

Eu ainda estava a processar tudo o que se passou dentro daquela sala, quando de repente tudo se descontrola à minha frente. Em apenas segundos vejo o caos instalar-se...

Flashback

A tia Marta estava histérica cá fora, só faltou atacar o pai e o avô da Madalena, bem na verdade só não voou para cima dele, porque o Tio Luís a segurou.

- A culpa foi dele, Luís. A minha irmã estava naquele carro por causa dele...ela...ela...foi para o tentar acalmar...e acabou por morrer...porque ele estava a conduzir que nem um louco. E aquele monstro sabe disso, ele tentou impedir o filho de conduzir naquele estado, ele sabia que o filho não estava bem...e agora acusa a Madalena...seu monstro, seu...seu...

- Marta, chega, por favor.

De repente enquanto a Tia Marta continua a querer atacar o pai da minha rainha e o Tio Luís tenta acalmá-la, um oficial entrega uma carta à Madalena, que desde que saímos da sala está abraçada a mim. Ficamos os dois meio sem entender, não pode ser nada a ver com o processo, pois o Juiz interrompeu o julgamento até amanhã.

Quando ela abre e lemos o que está escrito, ficamos acho que ambos em choque. Eu olho para o meu pai, que está meio afastado. Faço-lhe um sinal para se aproximar, e logo está junto de nós, passo-lhe a carta. E nesses segundos, entre o meu pai chegar e ler a carta, ouço um grito, um rugido alto: "PAI". Só tenho tempo de me virar e ver a Madalena com um olhar de ódio, de raiva. Contudo, ao mesmo tempo um olhar triste, cheio de dor. Foi um grito vindo do mais interno do seu corpo.

E naquela fracção de segundos entre o grito, a minha capacidade de reagir, vejo a minha rainha a correr até ao pai. Tento ir atrás, mas o meu pai impede-me.

- Deixa o Luís tratar disto...

- Pai, aquele homem quer separar a Madalena das irmãs!!! Ele quer a nossa Luz...- e com força consigo livrar-me do aperto do meu pai, e corro até à Madalena. O Tio Luís e a Tia Marta também já estavam perto, um a tentar acalmar a Madalena e o outro a tentar acalmar o avô da minha rainha, que estava já perto do filho.

- TU NÃO PODES FAZER ISTO. SÃO MINHAS IRMÃS...SÃO SANGUE DO MEU SANGUE...O QUE RAIO É QUE TU QUERES MAIS DE MIM? DEIXA-ME EM PAZ.

- POR TUA CAUSA O TEU PAI FICOU SEM A TUA MÃE. POR TUA CAUSA A EMÍLIA SAIU DE CASA E LEVOU OS MEUS NETOS. É A TUA VEZ DE FICARES SEM QUEM TU AMAS: AS TUAS IRMÃS E A TUA FILHA.

- NÃO A MINHA FILHA NÃO. NÃO ACHA QUE A MADALENA JÁ NÃO SOFREU POR UMA VIDA INTEIRA.- digo alto, porém, tentando manter-me calmo, mas ele apenas se ri

- EU NÃO TIVE CULPA...A MORTE DA MÃE NÃO É MINHA CULPA...FOI UM ACIDENTE...FOI...PAI, POR FAVOR DIZ ALGUMA COISA...PAI?!- grita a minha namorada.

- EU...EU...- algo se passa, parece que o pai da Madalena está a ser coagido...

- O TEU PAI ESTÁ MAL COM TODA ESTA SITUAÇÃO. PRIMEIRO A TUA MÃE, DEPOIS TU DESAPARECES, CINCO ANOS MADALENA? CINCO ANOS...

- Eu...eu não podia ficar. Tu ias obrigar-me a...tirá-la. E eu já a amava mais que tudo.

- E fugiste de novo por causa de uma gravidez que ninguém iria querer?

- Eu queria...

- NÃO. A CULPA DE TUDO ISTO É TUA. SE NÃO TIVESSES SAÍDO COM AQUELE RAPAZ.

- EU NÃO TIVE CULPA. Era o pai que estava no carro, foi um acidente...foi...eu não tive culpa...

-QUANTAS VEZES NÓS TE DISSEMOS QUE ELE NÃO PRESTAVA? MAS TU SAÍSTE COM ELE E ENGANASTE-NOS. TU QUASE MORRESTE NAQUELA NOITE. O TEU PAI ESTAVA A SOFRER, COM MEDO...

- NINGUÉM O MANDOU IR ATRÁS DO MIÚDO CARLO.- e agora é a Tia Marta que fala...- A DECISÃO FOI DO SEU FILHO. ELE ESTAVA NERVOSO DEMAIS, ATÉ O SENHOR O TENTOU IMPEDIR, E NÃO CONSEGUIU. MAS ELE SEMPRE FOSTE TEIMOSO, DE IDEIAS FIXAS.

- ELE TINHA...TINHA...AGREDIDO A MADALENA. QUERIA O QUÊ, QUE ELE FICASSE QUIETO??

- QUERIA QUE TIVESSE PENSADO NA FILHA EM PRIMEIRO LUGAR. QUERIA QUE PENSASSE QUE ELA IRIA ACORDAR E IRIA PRECISAR DELE E DA MARIA. MAS EM VEZ DISSO ACORDOU COM OS DOIS NUMA CAMA DE HOSPITAL SEM NEM SE LEMBRAR DO QUE LHE ACONTECEU.

- QUERIAS O QUÊ? QUE ELE DEIXASSE AQUELE MARGINAL FICAR IMPUNE?

- E TINHA QUE IR NAQUELA NOITE? PORQUE NÃO ESPEROU?- e virando-se para o pai da Madalena, que até aí continuava calado...- Porque é que não te acalmaste primeiro?- o Doutor Pedro continuava calado a olhar para o chão como um menino a apanhar uma reprimenda.- A DECISÃO DE SAIR DAQUELE HOSPITAL FOI TUA PEDRO. SABES TÃO BEM QUANTO EU, QUE A MINHA IRMÃ NUNCA TE IRIA DEIXAR SAIR DALI SOZINHO. ELA AMAVA-TE, E APESAR DE TER A FILHA NUMA CAMA DE HOSPITAL, FOI CONTIGO, PORQUE TU ESTAVAS NERVOSO...

- SE ELA NÃO TIVESSE SAÍDO DE CASA ÀS ESCONDIDAS COM AQUELE MARGINAL, NADA TERIA ACONTECIDO E A MARIA ESTARIA CONNOSCO...- ele continuava estranho. A Madalena chega-se perto dele, toca-lhe na face para que ele olhe para ela...

- Pai, por favor não me afastes as meninas de mim. Passei seis anos longe. Eu errei, talvez, mas eu não podia perde a Luz, ela era tudo o que eu tinha.- uma lágrima escorre-lhe na sua face...

- Então não te vai custar ficar mais alguns. Quero-te longe das três. E quero a minha neta comigo. Para mim...tu...morres...te.

- Não, pai. Por favor, não me fales isso. Eu amo-te, és o meu herói, sempre foste...por favor.

- Eu deixei de ser teu pai, no dia que fugiste há seis anos atrás.

- A mãe estaria decepcionada contigo. Ela nunca te perdoaria...- a Madalena fala baixo, mas consegue-se ouvir, e de repente o avô aproxima-se da Madalena e bate-lhe.

- Nunca mais desafies o teu pai, a im ou ao teu irmão. E nunca mais fales sobre a tua mãe.

Eu apenas abracei a Madalena, que com a força, acabou por cair no chão. E nessa altura, foi a vez da Tia Marta começar a bater e a insultar o avô da Madalena.

- OUVE O QUE TE VOU DIZER CARLOS, PORQUE EU SÓ TE VOU DIZER ISTO UMA VEZ: VAIS FICAR SEM NADA, PORQUE EU VOU PEDIR A GUARDA DAS MENINAS. E JURO PELA ALMA DA MARIA, QUE VOU MOVER CÉUS E TERRA, MAS AS MENINAS VÊM VIVER COMIGO.

- Boa sorte.- virou costas para seguir para a saída do tribunal, porém antes de descer o primeiro degrau das escadas que dariam acesso à porta de saída, tornou a virar-se...- Se não cumprires com o que está aí escrito, quem vai sofrer são elas. E Marta, se queres guerra, irás ter, só não te esqueças que quem vai sofrer são aquelas que tentas proteger. Até amanhã, estarei presente para ver o vosso fracasso.

Depois de dizer aquelas palavras, que nos deixaram a todos meio perdidos, desapareceu pelas escadas. A Madalena chorava agarrada a mim, a Tia Marta estava tão perplexa com tudo que nem reacção tinha. O meu pai, falava com o Tio Luís. Acho que todos ficámos em choque com o que se passou neste tribunal

- Leva-me para casa. Eu quero os meus filhos, eu preciso abraçá-los...por favor amor.

- Claro Rainha. Vamos para casa, pegamos nos meninos e vamos para o nosso quarto ver um filme com eles, ficar bem agarradinhos, o que achas?- a minha rainha apenas acena que sim.

Com a Madalena agarrada a mim, e a Tia Marta agarrada ao Tio Luís, partimos a caminho de casa. Amanhã seria um dia difícil, e muito importante. Estava em jogo o futuro da Madalena. Porém hoje, naquele momento, o mais importante era estarmos os quatro juntos, agarradinhos, sentindo-nos, sentindo que o nosso amor, a nossa família era mais importante que tudo o resto.

Ao chegar a casa, Luz correu até à mãe. Parecia que adivinhava que ela precisava dela, do seu abraço. A Madalena, assim que sentiu os bracinhos da nossa filha, chorou. Chorou o que acho que esteve preso dentro dela, desde o momento em que leu aquela maldita medida de restrição. O Lucas ao ver a mãe a chorar, correu também ele para ela e abraçou-a como pôde, já que a Luz não desgrudou da mãe.

- Ei! Que tal irmos os quatro ver um filme bem agarradinhos na cama do papá e da mamã?

- Com pipocas?- perguntou o Lucas.

- Porque não? O pai vai preparar tudo, que tal os três irem andando. Podem ajudar a mamã? ela precisa de um bom banho e de uma roupa limpinha? Podem ser hoje os ajudantes do papá a tratar da mamã?

- SIM...- gritaram os dois, animados, conseguindo até com a sua animação fazer a minha rainha sorrir, e lá foram os três para o nosso quarto.

- Diogo, o que é que se passou? Porque é que a Madalena estava naquele estado? Aliás, porque é que estão todos com essa cara?- pergunta a Mara, com a Mia ao colo, que dorme ignorando toda a tensão que existe nos ar.

- O QUE ACONTECEU, FOI AQUELE....

- Marta, queres por favor acalmar-te. Ficares nesse estado não te adianta, e vais assustar as crianças.

- Desculpem, mas, aquele...aquele...ouve que eu te digo Luís: se tu não conseguires a guarda das meninas para nós, o nosso casamento acaba aqui e agora.

- Podes pelo amor de Deus acalmar-te Marta.

- Acalmar-me, nós devíamos ter lutado por eles assim que a Maria morreu. Mas não, tu e o meu pai decidiram que eles tinha que ficar perto do pai, que a Madalena estaria melhor longe de Lisboa.

- O Pedro era o o pai, mesmo no hospital, mesmo em coma, eles eram filhos dele.

- E eram meus sobrinhos. Eram filhos da minha irmã...- neste momento a Tia Marta chorava sem se conseguir conter...- Eu fiquei sem a minha irmã....e sem os meus sobrinhos. Eu perdi tudo...até os meus pais...os fui perdendo aos poucos...

- Amor, tudo o que fizemos foi a pensar neles. A Madalena não podia ficar em Lisboa, tu sabes disso.

- Porquê? Porque vocês decidiram esconder-lhe o que se passou, porque tinha medo que ela se lembrasse de algo. Ela descobriu na mesma, e estava sozinha. Ela sofreu por anos a pensar que a culpa da morte da mãe era dela. Porque fez o que qualquer adolescente faz: sair com o namorado ás escondidas dos pais. Quantas vezes eu fiz o mesmo? Quantas vezes a Maria o fez?

- Marta.

- Não. Eu quero as meninas connosco. Chega de nos curvarmos perante aquele homem.- a Tia Marta diz e sai da sala indo para cima, talvez para o quarto que a Mara lhe arranjou enquanto cá estavam.

- Desculpem por toda esta confusão. Eu vou ver se a acalmo, desculpem.

- Diogo, podes explicar o que...

- O Avô da Madalena apareceu. Aliás o avô, o pai e o irmão.- saio da sala, sem dizer mais nada e vou para a cozinha para preparar as pipocas que prometi.

- Diogo...

- O que queres que te diga Mara. Que aquele que devia amar a Madalena acima de tudo simplesmente se calou, enquanto o pai dele apenas ofendeu a filha? Que foi a tribunal testemunhar contra a neta, que a humilhou perante o Juiz e perante aqueles "urubus"? Que no fim, para finalizar a sessão de humilhação lhe colocou uma medida de restrição de aproximação das irmãs? E que nos quer tirar a guarda da nossa filha?

- Não, Diogo...diz-me que o avô da Madalena não fez isso...Rui?

- Eu não consigo perceber Dulce. Como um avô consegue ser assim? Nunca vi ninguém com tanto rancor como aquele homem. Contra a própria neta, e o pior é que o pai não fez nada apenas ficou ali parado. Sei que a Madalena pode ter errado muito, mas um filho é sempre um filho. Um neto é sempre um neto. Deus sabe quantas vezes o Diogo errou, mas eu nunca lhe viraria as costas...- e olhando para mim...- Eu nunca te virei costas.

- Eu sei pai. Mesmo quando parecias frio, eu sei que era para meu bem. E se hoje eu sou o que sou devo-te a ti e à mãe.

- Diogo, o que é que a Madalena vai fazer agora? Quer dizer...- e antes que a Mara continuasse a falar alguém interrompe..

- Aquele homem não é o meu avô. Eu não conheço aquele homem. E eu vou lutar, eu vou ajudar a Tia Marta a ficar com as minhas irmãs. Não as vou deixar ficar perto daquele homem.

- Rainha...

- Estavas a demorar muito, os nossos filhos acabaram por adormecer...e decidi descer.

- Madalena, sabes que podes contar connosco...- diz-lhe a minha mãe.

- Eu sei.- percebi Mara a olhar da Madalena para o Martim.- E assim que tudo isto acabar seja qual for o resultado...quero ir para Lisboa.

- Madalena?!- Mara chama-a, mas ela continua a falar, enquanto se agarra a uma das cadeiras da sala onde todos estávamos.

- Quero a guarda das minhas irmãs, se ele quer guerra, então vai tê-la.- de repente vejo-a fazer uma cara de dor, como se estivesse com cólicas.

- Rainha, estás bem. Estás com dores?

- Está tudo bem.- Ela dá um meio sorriso...- Eu só preciso que alguém me leve ao hospital...- olho para ela sem perceber o porquê de querer ir para o hospital...- Eu acho que estou a perder o nosso bebé, precisamos de ir para o hospital agora.

- Espera...bebé...desde quando...como sabes?

- Diogo esta não é altura para tantas perguntas. Mãe, pai ficam com os meninos por favor. Martim, vamos carro agora. Diogo mexe-te vai com o Martim. Madalena?

- Eu estou bem...só com uma dores chatas...mas...acho que é o processo...de...

- Está tudo bem...vem vamos. Eu não te vou deixar sozinha, vem.

E assim seguimos para o carro. O Martim concentrado na estrada, a Mara atrás com a Madalena que para além das dores, chorava. Eu a olhar para tudo, ainda sem conseguir assimilar o que se estava a passar.

Assim que chegamos ao hospital, do outro lado da cidade, pois não queríamos ir ao universitário, a Madalena foi de imediato encaminhada para a sala de triagem. Eu ainda estava meio em choque, ela estava grávida de um bebé nosso, mas será que ela não sabia? Ou há quanto tempo ela sabia? Iria abandonar-me de novo? E estaria mesmo a perder-lo? Era tudo tão surreal, tudo tão repentino.

Ainda estava tão perdido em todas estas perguntas, que tudo o que fazia era no automático.

- Diogo. Diogo...DIOGO...- a Mara grita comigo...- Vê se te recompões, ela vai precisar de ti agora.

- Eu sei...eu sei...mas ainda estou meio...meio sem saber o que pensar. Eu nem sabia...e... será que ela me ia dizer desta vez? Será...

- Ei!! Nem penses isso, talvez a Madalena tenha sabido á pouco tempo tambem.

- É...talvez...é isso, ela só soube á pouco tempo...

- Mano, sei que está tudo muito confuso e está a ser difícil neste momento, mas para a Madalena, te garanto, está a ser mil vezes mais difícil.

- Compañero de Magdalena Fernandes? (Acompanhante de Madalena Fernandes?)

- Yo, soy yo (Eu, sou eu.)

- Sígame, por favor. (Acompanha-me por favor)

Sigo a enfermeira, que me leva até um quarto. Ela abre a porta e vejo a minha mulher deitada, encolhida como um bebé. O corpo dela treme, sei que ela está a chorar. A enfermeira olha para mim com um olhar triste e sorri, aqueles sorrisos de quem quer dizer "Sinto muito."

- Lamentablemente ya no pudimos hacer nada. Tu esposa perdió al bebé. Le dimos algo para las contracciones. En un ratito la llevaremos a la sala de partos. (Infelizmente já nada pudemos fazer. A sua esposa perdeu o bebé. Demos algo para as contracções. Daqui a pouco ja a levamos para a sala de partos.)

- Como? Sala de partos?

- Tu esposa tiene 13 semanas. Desafortunadamente, ya no es posible hacer nada . Tendrá que pasar por el parto. (A sua esposa está de 13 semanas. Infelizmente já não é possivel fazer nada. Terá que passar por um parto.)

- 13 semanas...

- Lo siento. Eres joven y pronto tendrás tu bebé arcoíris. (Sinto muito. São novos logo logo iram ter o vosso bebé arco-iris.)

Acenei com a cabeça, pois não conseguia dizer nada. Caminhei até à cama onde estava a minha mulher, o meu amor, a minha Rainha. Deitei-me por trás dela e abracei-a. Assim que ela me sentiu, o choro identificou-se. Logo os meus olhos também já a lacrimejarem.

- Desculpa...eu...eu

- Eu amo-te. Está tudo bem, estou aqui...

- Eu soube...há uma semana. Ia contar-te depois do julgamento...mas...

- Está tudo bem. Mas, tu não tiveste nada, quer dizer eu não percebi...

- Por isso só me apercebi á pouco tempo. Em conversa com a Marisol, apercebi-me que estava sem a menstruação há...

- Há semanas. Pelo que a enfermeira me disse ele ou ela foi feito na nossa primeira noite em Espanha.

- Eu devia ter-me cuidado melhor, devia ter-me apercebido que estava grávida. Sempre tive o ciclo bem regrado.

- Madalena foram meses cheios de turbulências...

- Eu já estava grávida quando o Rocco me agrediu, será que foi isso que...

- A minha pergunta é outra: como é que não descobriram a tua gravidez nessa altura?

De repente entra uma enfermeira e dois maqueiros. Estava na hora de ir para a sala de partos, e quando saissemos não seríamos os pais felizes com um bebé no colo, seria o oposto. Sairíamos sem ninguém ao colo, sem vida, sem luz.

Percebo um aperto forte na mão, e olho para aqueles olhos azuis, percebendo o medo e a tristeza neles. Pergunto como consigo se posso estar com a Madalena durante todo o processo,ao que apenas me dizem "Si, certo." Assim seguimos, nunca largando a mão da Madalena, passamos por todo o processo de um parto: as contrações, as dores, o nascimento...e o silêncio.

Um silêncio que nos cortava a alma. Não havia choro, não havia sorrisos. Era apenas um enserdecedor silêncio. Deixaram-nos ter o nosso bebé connosco, para nos despedirmos. Apesar de tão pequeno, o nosso amor por aquele ser era enorme.

Quando a Madalena chegou ao quarto, estava cansada, olhou para os meus olhos com grossas lágrimas a cair. Beijei cada uma delas, e aconcheguei-a no meu abraço. E ali durante não sei quanto tempo nos deixámos guiar pela dor e pela perda de um bebé que eu nem sabia da existência mas que foi amado durante o tempo que existiu.

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