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Capítulo 38

Pov Diogo

Depois de meses sem termos avanços positivos no processo, conseguimos ver alguns resultados depois do tio da Madalena com a ajuda do Simão.

Tal como desconfiávamos o advogado tinha sido "influenciado" pelo pai daquele doutorzinho para conseguir atrasar o caso, ficamos a saber ainda outras coisas que a me fez perder um pouco a esperança de conseguir no mínimo o diploma da Madalena.

Lembro-me ainda da reunião que tivemos, no mesmo dia em que eles chegaram. O homem ficou branco quando percebeu que agora tínhamos mais dois advogados no caso.

Flashback
"Quando o Dr. Walter Nunez chegou, encaminhei-o logo para o escritório. Era normal que assim fosse, e sendo assim ele não suspeitava do que iria acontecer.

Entrando no mesmo, encontrou não só o meu pai, mas também o meu primo Simão e o Tio Luís. Estranhando estarem duas pessoas novas na sala, olhou de mim para o meu pai esperando que um de nós o apresentasse.

- Dr. Nunez, estes são o Dr. Luís e o Dr. Simão, dois advogados vindos de Portugal - digo, vendo-o ainda não assustado mas algo surpreendido.

- Como estamos a ter poucos resultados, pensamos que talvez dois advogados portugueses pudessem ajudar um pouco. Afinal a minha nora é portuguesa.

- Nora? Pensei que não eram casados?

- Apenas um pormenor que ainda vamos resolver. Afinal temos uma filha em comum.- respondo colocando um ponto final naquele assunto

- Em relação ao facto de serem portugueses, eu sou meio português, a minha mãe é portuguesa. E digo-vos que estou a fazer tudo o que posso. Mas, têm ideia com quem estão a lutar?

- Dr. Nunez, certo?- o Tio Luís interrompe, o seu olhar está sério...- Bom, eu não conheço quem está do outro lado, porém pode ter a certeza de uma coisa: quando entro numa luta é para ganhar.

- O Doutor não vai conseguir ganhar. São pessoas muito influentes, ninguém vai contra eles. Nem os juízes.

- Vou dizer-lhe isto uma vez: se quiser continuar a trabalhar neste processo, não tenho nada contra, porém vai trabalhar comigo, seguindo as minhas instruções, sem medo e sem receber orientações do outro lado.

- Como assim? Orientações do outro lado? Estão a insinuar que eu...

- Não estou a insinuar nada, estou a afirmar. Então, o que decide?

- Eu...eu...peço desculpa, mas tudo o que pude eu fiz. Ninguém consegue ir contra a família Gonzalez. Eu peço desculpa....mas, eu não posso.

- Tudo bem. Então por favor, dê-me acesso ao processo todo, preciso estudar como prosseguir daqui para a frente.

- Não posso.

Como assim, não pode? Eu pouco percebia de leis, mas sempre ouvi o meu pai falar com colegas e até com o Miguel, que também seguiu direito, para grande orgulho do nosso pai. Porém, o pouco que sabia por os ouvir falar, sabia que se houvesse substituição de advogados, o que era destituído, teria obrigatoriamente de passar todas as informações sobre o mesmo ao colega que assumiria o processo.

- Como assim? Só pode estar a brincar. O Doutor vai passar todo o processo ao Dr. Luís.- o meu pai diz irritado.

- Não posso, porque não há processo nenhum. Acha que eu ou outro qualquer advogado de Espanha iria processar contra o Dr. Juan Gonzalez Sénior.

- Mas...mas você disse... você falou num acordo feito...- eu estava confuso. Porque haviam acordos em cima da mesa, que nós nunca aceitamos.

- Sim, um acordo entre as partes, nunca foi apresentado nada em tribunal. O acordo de que falei foi o único que consegui, mas directamente com o Dr. Juan Gonzalez. Ou a Doutora ficava e continuava o internato ou...

- Ou?- pergunta o Tio Luís.

- Ou, ela aceitava casar-se com o Juan.

- Casar?! Com aquele filho de uma...com quem lhe fez mal? Eu mato aquele filho...

- Diogo. Tem calma, ninguém aqui vai matar ninguém. Até porque nós já temos o que queríamos. Doutor, a partir deste momento pode considerar-se desligado deste processo.

- Não ouviu o que lhe disse, não há processo, não há nada.

- Não havia...- vejo o advogadozinho olhar espantado para o Tio Luís...- Acha mesmo que eu vinha para esta reunião sem estar preparado? Eu já sabia que não havia processo, hoje de manhã aqui o Simão foi ao tribunal e descobriu tudo. Ligou-me e demos entrada do processo hoje á tarde. Fiquei perplexo, em ver como tudo se resolve neste país com uma pequena luva.

- Vocês vão perder. Vão perder tudo, acreditem. Ninguém se mete com...

- Com o seu Tio?- o Simão diz e sorri.

- Pode ir a correr dizer ao seu tio que agora a minha sobrinha tem alguém para a defender.

- Sobrinha?

- Diga-lhe que ele pode pagar a quem quiser, se for preciso eu pago mais. Que se ele quiser acabar com tudo isto, é muito fácil: um diploma e uma carta de recomendação do hospital para que a minha sobrinha possa continuar com o internato bem longe de todos vocês.

- Ele nunca lhe vai dar isso. O meu primo está obcecado por ela. Ele quer a Doutora para ele.

- Eu...eu...vou...- sou agarrado pelo Simão...

- Diogo... Simão tira o teu primo daqui."

Fim do Flashback

E assim depois de toda esta conversa, de onde eu fui retirado à força pelo Simão, acabámos por entrar com um processo não contra o hospital em si, mas contra a direcção do hospital. Por má conduta e encobrimento de um crime de violência.

Se foi difícil? Não sei responder. Quer o Luís quer o Simão, enquanto cá esteve, estiveram o tempo todo super calmos e confiantes. E eu estava uma pilha de nervos constante.

A Madalena com a estadia da Nono e da Tia Marta estava a conseguir sair daquele estado de depressão em que se encontrava. E claro que os nossos pequenos amaram voltar a ter a mãe com eles. A minha noiva estava a voltar ao que era.

Sim, a minha noiva, aproveitei a estadia dos tios, da Leonor e do Simão para a pedir em casamento. Foi mágico, tive a ajuda da minha irmã e inclui os nossos filhos no pedido. Ainda me lembro do brilho no seu olhar. E á noite tivemos uma noite como não tínhamos há cinco anos. Amamos nos devagar, saboreando tudo o que cada um tinha para dar.

Começamos também a ponderar para onde iríamos após o processo concluído. Coimbra ou Lisboa? Estas eram as duas opções, e nenhuma delas era boa para nós. Cada uma delas tinha uma lembrança ruim para os dois.

— Eu só não sei se consigo enfrentar o meu pai e muito menos o meu avô. Ir para Coimbra é um risco para nós encontrarmos.

— Sabes que eu faço o que preferires. Se queres ir para Lisboa...

— Mas tu tens a tua vida em Coimbra. Os teus pais vivem lá, a Rute e a Mara. Já para não falar do teu trabalho no hospital.

— Em relação à minha família, sim, vai ser um pouco estranho, mas nada que não viesse a acontecer um dia.

— Mas tens o hospital?

— Já não tenho.— a Madalena fica a olhar para mim, nunca lhe cheguei a contar sobre o que a Filipa fez.— A Filipa conseguiu que o hospital me demitisse.

— O quê? Mas como?

— Isso eu já não sei, tentou fazer o mesmo na clínica, sem nem saber que eu já tinha me demitido, para ficar a tempo inteiro no hospital.

— Então, estás sem trabalho?

— Graças à tua prima, continuo a ter emprego.- digo e sorriu..- Ou continuava, porque se formos para Lisboa...

— Ficas sem trabalho de novo?

— Talvez sim, talvez não. Posso tentar falar com a tua prima. Ou melhor ainda, posso falar com uma das donas que por acaso é minha noiva.

— A clínica não é só minha, os meus irmãos são tão donos como eu.

— Estou a ver que a tua tia não te contou tudo...

— Contar o quê? A clínica já não é nossa? O meu pai não tinha coragem? Ele não ia vender...ele...

— Acho que foi o teu avô que o convenceu. A tua Tia Luísa tentou comprar a parte da tua mãe, mas o teu avô não quis. Ele queria alguém de fora.

— Alguém que não tivesse qualquer vínculo com a minha mãe.

— Sim. Mas o teu Tio Luís e o teu Tio Vasco conseguiram um testa de ferro. Hoje a clínica está dividida em três partes: a Dra. Luísa tem um 50% como sempre teve, a Leonor tem 25% e tu tens os outros 25%. Porém a tua parte está em nome da tua Tia Marta.

— E as minhas irmãs? Elas têm direito a...

— E continuam a ter, todas elas concordaram que 30% dos lucros da clínica ficariam guardado para as tuas irmãs.— a Madalena suspira...

— Eu queria tanto ver as minhas irmãs. Tenho tantas saudades delas.

— Podemos sempre ir a Coimbra, tentar vê-las com a ajuda de alguém.

— A minha Tia diz que elas são mais vigiadas que o primeiro-ministro. Não sei se conseguiríamos.

— Podemos tentar, deixamos os meninos na minha mãe e vamos os dois.

— Era uma ideia, mas duvido que a Luz e o Lucas queiram ficar com a tua mãe.

— Não é a primeira vez que o nosso  Lucas fica, e a Luz, falamos com ela.

— Amor, o Lucas depois daquela crise respiratória não me deixa nem ir à casa de banho sozinha, e tu estás querer que fique se mim durante dois ou três dias?

— Ele tem que ultrapassar isso, não pode estar tão agarrado, não é normal.

— Normal ou não, não sei. Mas, não vou negar o mimo de mãe que ele nunca teve com aquela coisa. E nem me peças o contrário.

— Nunca te pediria. No entanto, preocupa-me o facto de ele estar tão dependente de ti. Mesmo, o facto de querer mamar, não me podes dizer que é normal?

— Tendo em conta que ele nunca teve esse contacto com a outra lá, acho até normal. E depois a Luz mamou até quase aos 5 anos. O Lucas tem quatro, e se o faz é apenas porque precisa de sentir o contacto de pele com pele.

— Contacto pele com pele? Madalena isso é quando eles são bebés, para que nos vão reconhecendo. Na idade do Lucas, esse contacto não faz sentido.

— Faz todo o sentido, pois ele não o teve em bebé. Diogo, nem penses que me vais negar a proporcionar ao nosso filho o que ele quer. Já te disse, nem te passe por essa cabeça que vou negar.

— Ok, já percebi. Nada de proibir o Lucas de mamar.— a Madalena continua a fixar os meus olhos com um olhar assustador.— Nem de estar ao teu colo.

— Isso mesmo.— diz com um sorriso lindo. — Em relação a irmos a Coimbra, podemos ver isso mais tarde. Primeiro quero organizar a nossa vida em Lisboa. Ver uma escola para os meninos, e falar com a Tia Luísa sobre o teu trabalho.

— Então: Lisboa aí vamos nós.— ela apenas sorri com esta minha empolgação, parecendo uma criança, mas têm sido dias tão estressantes com a aproximação do julgamento, que começa já amanhã, que qualquer sorriso que lhe arranque é uma vitória para mim.

— Falei com o meu tio hoje.— não interrompi, apenas olhei para os seus olhos...— Sobre o julgamento.

— Estás com medo de depor?!

— Sim. Não. Não sei, acho que nem é bem medo, é mais...vergonha. Não te sei explicar. É como se tivesse que estar ali perante pessoas que não conheço e as mesmas me vissem "nua", como se de repente todos pudessem ver o que vai dentro de mim.

— Não vais estar sozinha. Eu vou lá estar, o meu pai, o teu tio e a tua tia e a minha mãe.

— Eu sei, mas sei lá. Estou com um pressentimento que algo se vai passar e que eu não vou gostar.

— Madalena, o meu pai vai testemunhar, o segurança também, a Marisol. Até a chefe de obstetrícia vai testemunhar a teu favor. Já para não falar da gravação que temos daquele doutorzinho.

— Eu sei, mas, não sei explicar, só sinto aqui...— ela diz colocando a sua mão sobre o peito...— que algo vai acontecer.

— Que tal dormirmos? Amanhã o dia vai ser longo.

— O meu tio diz que eu não preciso ir amanhã. Mas que seria bom para mostrar que estamos unidos e fortes. Eu só não sei se vou conseguir olhar para ele.

— Eu não te vou deixar, prometo. Já falei com o meu pai, e nunca vais ficar sozinha com ele, nem na mesma sala. Foi um dos pedidos que o teu tio fez ao tribunal.

— E eles aceitaram? Quer dizer, não se provou nada ainda.

— Tivemos sorte, apanhamos uma juíza. E sendo mulher percebeu o teu receio, e concordou.

— Então, achas que temos hipóteses? Sendo uma juíza, será mais condescendente com o que eu passei?

— O que está em causa aqui não é a questão da agressão, porque isso seria a tua palavra contra a dele, e a do meu pai e do segurança, que afirmou no primeiro depoimento que não conseguiu ver bem o que se passava. Então aqui o que queremos é apenas que o hospital nos dê o teu diploma e os papéis para poderes fazer o internato em Portugal.

— Então nao lhe vai acontecer nada?

— Tivemos que prescindir dessa parte, porque a verdade, segundo o teu tio, é que não havia testemunhas credíveis para a acusação 

— Eu...eu...pensei que o testemunho do teu pai pudesse ajudar. E há o da Cecília, ela também ficou machucada.

— A Cecília acabou por decidir não...

— Ela está com medo.

— Não por ela, mas pela filha. A miúda acabou de começar a trabalhar lá... não lhe quer criar problemas.

— Percebi. Mas não aceito. O Juan vai voltar a fazer tudo de novo...

— Sei que é difícil. Se eu pudesse, ele já estaria nos quintos dos infernos. Mas temos que pensar em ti  e no teu futuro. E como diz o teu tio: o golo é tirar-te de Espanha com o que trabalhaste tanto para conseguir, e voltares para o teu lugar: para junto da tua família.

— Apesar de tudo vou ter saudades de Espanha. Da família que conheci e me abriu as suas portas. Foi aqui que a Luz nasceu, foi aqui que ela passou os primeiros anos.

— Eu sei que vais ter saudades da Dona Consuelo, da Pilar, mas nós vamos ser felizes, nós os quatro, juntos. E quem sabe daqui a um ano ou dois, podemos pensar em ter mais um ou dois bebés, e aumentar a família.

— Quem sabe...— ela diz sorrindo, abraça-me e  fecha os olhos. — Eu amo-te.

— Eu também, dorme bem minha Rainha da Noite.

E assim adormecemos. Abraçados e bem juntinhos como eu sempre sonhei. E sim nós vamos ser felizes. Nós os quatro. E que sabe no futuro bem próximo nós os cinco...

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