Capítulo 31
Sinto aos poucos que o meu coração se acalma, o ar volta, sinto-me bem, segura. Apesar do meu receio, vou aceitando o abraço do Diogo. Sinto algo picar-me, o Martim está ao lado do Diogo...de novo o meu coração começa a bater forte.
- Calma...o Martim apenas te deu algo para descansares...eu estou aqui. Eu não te vou deixar, nunca...nunca te vou deixar amor.- os meus olhos começam a pesar. Tenho que o avisar da mensagem...tenho que...os olhos pesam mais e mais...
- Diogo...telemóvel....mensagem....lê....- e adormeceu.
Pov Diogo
Quando finalmente a Madalena adormeceu, fui ver a tal mensagem que ela murmurou sobre, antes de dormir.
"Ca***", te juro que esto no se quedará así. ten cuidado cuando menos te lo esperes. Es mejor no soltar a esa niña pequeña... siempre puede pasar un accidente."
Eu não acredito que aquele filho da **** enviou está mensagem. Nem sei o que é pior: se a ameaça á Madalena se á minha filha.
Olho para o amor da minha vida que continua a dormir. E como não vai acordar tão cedo, decido descer e falar com os meus pais. Acho que talvez possamos usar esta mensagem como prova. E se conseguirmos, aquele animal está feito.
Vou até á Madalena, ajeito o cobertor, dou-lhe o último beijo e saio bem devagar do quarto.
Assim que chego á sala, vejo a Mara, com a pequena Miriam nos braços. Sento-me ao lado dela, e sem perguntar, encosto-me no seu ombro.
- O que se passou?- apenas suspiro, e como sempre não preciso de dizer mais nada, porque com a minha irmã não o preciso de fazer.
- Onde é que eles estão?
- O pai e a mãe saíram com eles. Foram comer um gelado...
- A esta hora?- eram apenas 11h00 da manhã, comerem um gelado a esta hora significava que o almoço ia ser difícil.
- Foi a única forma de conseguir acalmar o Lucas.
- E a Luz? Como é que ela estava?
- Igual ao pai dela, a tentar ser forte pr fora. Mas no fundo, estava tão assustada como o Lucas.- sorrio, Luz é sensível, mas tem a força e a coragem de uma leoa. E para defender quem ama, não há como a minha princesa.
- Mara, estava a pensar falar com a Leonor? Pedir que ela viesse...
- A Leonor prima da Madalena!?
- E nossa também.
- Por afinidade.
- Tudo bem, mas não deixa de ser a esposa do nosso primo Simão, logo nossa prima.
- Chato. Mas, por quê chamar a Nono? Ela não é psicóloga, nem...
- Porque eu acho que a Madalena precisa da família neste momento.- Mara olha para mim, como se me tivesse a dizer "tambem somos família "..m- Não me olhes assim, ela precisa de alguém mais...mais...sangue do seu sangue. Pensei na Nono, e talvez os tios.
- Não sei se a Madalena vai gostar. Lembra-te que ninguém, para além de nós, sabe da Luz.
- Eu sei, mas está no tempo da minha filha deixar de estar escondida. E acho mesmo que faria bem à Madalena a presença da Tia.
- Diogo, e tu? Como é que tu estás com tudo isto?
- Eu!?- olho para Miriam, que dorme depois de ter mamado.
Passo a minha mão devagar nos seus pezinhos descalços. Um anjo que veio parar a este mundo. Um mundo tantas vezes doido, tantas vezes cruel. Observando-a a dormir, percebo que a invejo. Miriam não tem preocupações, a não ser comer e dormir. Ela é completamente dependente dos pais, dos avós, dos tios, das pessoas que a amam. Tudo lhe é dado...nada lhe é pedido.
- Não te vou dizer que está a ser fácil Mara. Estaria a mentir-te. Gostava que tudo fosse simples como o é para esta princesa.
- Diogo...
- Pela Madalena, eu tenho e vou ser forte. Eu amo aquela menina-mulher que neste momento está a dormir lá em cima. E por ela, Mara, eu morro se for preciso.
- Eu sei que sim mano, ninguém te está a dizer para não estares ao lado dela. Porém, até tu tens o direito de chorar, de gritar, de deitar cá para fora o que te magoa.
- Se o fizer, nunca mais vou conseguir parar. E isso, neste momento não é uma hipótese. Preciso estar forte, pronto para a Madalena e para os nossos filhos.
- Mas...
- Para Mara...- digo e levanto-me...- Vou para o escritório falar à Leonor, se por acaso ela acordar...
- Podes ir, se a Madalena acordar eu vou lá. A Miriam não vê a madrinha há muito tempo, não é princesa?
- Ok. Obrigada. Por tudo.
- Eu só gostava que...
- Mara, por favor, já falámos sobre isso. Eu estou bem.- Beijo a sua testa e vou para o escritório.
Pego no meu telemóvel e procuro o número da minha chefe, "prima" e amiga. Ao longo dos anos, a Leonor transformou-se numa grande amiga. Principalmente depois da Filipa me ter deixado com um Lucas recém nascido, e com todos os problemas de saúde que tinha, ela foi alguém que me amparou.
Não foi fácil descobrir que o meu bebé tinha um problema grave no coração e que teria que ser operado imediatamente, para além da pequena mancha que descobriram nos pulmões.
Após a operação ao coração, que graças a Deus correu bem, o Lucas ficou isolado durante uma semana. Podia vê-lo, mas apenas através de uma pequena janela. Após uma semana os resultados da biopsia saíram, e o que mais temíamos confirmou-se: um tumor, e apesar de benigno, ameaçava o colapso dos pequenos pulmões.
O médico perguntou-nos se ele vivia no meio de fumadores, eu disse que o meu pai fumava mas sempre no jardim. Porém, a Filipa nunca deixou de fumar. Fumava quase dois maços por dia na altura da faculdade, era uma perfeita chaminé humana. Na altura da gravidez tentei que, pelo menos, abrandasse e deixasse de fumar tanto. Mas pelos vistos, mais uma vez ela mentiu, pois sempre me disse que tinha diminuído.
Quando o médico nos disse que provavelmente foi o tabagismo da mãe que teria provocado o problema, a Filipa surtou. Começou por dizer que não tinha culpa do Lucas ter nascido assim, que a culpa era com toda a certeza minha. Foram semanas e meses difíceis, com aquela que devia amar, proteger e alimentar aquele pequeno bebé, que lutava todos os dias para sobreviver, virou simplesmente costas e sumiu das nossas vidas.
Lucas conseguiu vencer muitas batalhas, mas a guerra ainda está a meio. Ele ainda tem ataques de asma fortes, a na maioria delas acabamos por ir parar ao hospital onde ele passa na melhor das hipóteses 48 horas a receber oxigénio e medicamentos. Porque para além da falta de ar, o coração dele com o esforço que ele faz ao tentar respirar começa a disparar. É sempre uma viagem para o hospital onde nós não sabemos se voltamos com ele, porque a possibilidade do coração dele não aguentar está lá.
Ouço o som do telemóvel a fazer a ligação e espero que ela me atenda. E faço uma oração para mim para que ela me atenda...
"- Estou, Diogo...!?"
- Leonor. Ainda bem que me atendeste...
"- Passa-se alguma coisa? É o Lucas?"
- Não. O Lucas está optimo, aliás nunca vi o meu filho tão feliz. Leonor...tenho que te contar uma coisa...e bem não sei como o fazer.
"- Bem, a minha mãe costuma dizer que devemos sempre começar pelo início."
- Pois, bem lembras-te que a minha irmã me convidou para vir, certo?
"- Sim. Não me digas que não vais..."- eu simplesmente ignorei a pergunta dela, porque caso contrário eu nunca mais iria conseguir falar.
- Bem quando cá cheguei eu encontrei-a...- como ela não me disse nada eu continuei...- Eu encontrei a Madalena.
"- A Madalena. Não. Diz que estás a brincar comigo? Como é que ela está? Onde estão? Eu posso falar com ela? Deixa-me falar com essa ingrata..."
- Leonor. Eu liguei-te porque preciso que fales com os teus pais e venham para cá. A Madalena está a precisar de vocês...
"- O que é que aconteceu com a minha prima? Diogo estás a assustar-me?"
- Bem, sabes o que aconteceu com a Madalena aí em Lisboa, com o tal de Ricardo? Houve um colega dela, um médico, que tentou...bem tu sabes. Felizmente o meu pai e o segurança do hospital encontraram-nos a tempo, mas o tipo bateu na Madalena e mais tarde tentou magoá-la de novo.
"- Eu vou falar com os meus pais, nós vamos já para aí. Como é que ela está de verdade?"
- Ela já está em casa, mas não sai do quarto, não suporta o toque, bem excepto dos miúdos, e de vez em quando consigo abraçá-la durante alguns minutos. Mas está a ser complicado explicar aos miúdos que a mãe não está bem...
"- Espera. Tu disseste mãe? Miúdos? O que é que ainda não me contaste Diogo."
- Bem, quando ela fugiu estava grávida. Estava à espera de um filho meu. Mas depois de ver aquela cena da Filipa, acabou por escolher esconder de todos e fugir.
"- Fugir? E então ela achou o quê? Que os meus pais a iam colocar na rua ao saber da gravidez?"
- Leonor, o teu pai "obrigou-a" a contar do nosso namoro ao teu tio. E sabemos bem como isso acabou. Achas mesmo que ele iria ficar feliz pela gravidez? E o teu pai, eu percebo a Madalena, ela ficou com medo, mas principalmente acho que ela não queria colocar os teus pais numa situação complicada.
"- Os meus pais iam ajudar...eu sei que sim..."
- Talvez. Mas ela fez o que achou melhor, ela veio para um país e uma cidade onde não conhecia ninguém, grávida e sem muito dinheiro. Conseguiu entrar na faculdade de medicina graças ao esforço dela e com uma bolsa integral. Ela foi a melhor do ano dela...- e as lágrimas que eu estava a conseguir conter começaram a cair sem parar...-...e agora por causa de um filho da p*** está neste momento fechada num quarto sem querer sair.
"- Diogo..."
- Nono, eu já não aguento mais vê-la a afundar-se. Ela quer ir para Portugal, mas não podemos sair daqui, não enquanto o processo está a decorrer...- respiro fundo...- e agora ele está a ameaça-la...eu não sei o que fazer...eu estou perdido.
"- Tem calma Diogo. Eu vou falar com os meus pais, vou tentar ir também. Dá-me só até amanhã para conseguir resolver tudo por aqui."
- Eu estou a ficar sem ideias para a tirar daquele estado depressivo que ela entrou. Eu...só pensei que talvez ela precisasse da tua mãe...talvez...
"- Eu percebo. Diogo, só não desistas da Nena, tu sabes que ela já sofreu."
- Eu nunca vou desistir dela. Eu perdi-a uma vez, nunca mais a vou perder. Aliás nunca mais as vou perder. Eu e o Lucas achámos a nossa família: nós os 4 contra tudo.
"- É uma menina?"
- Sim. A nossa Maria da Luz. Ela é linda, uma mistura maravilhosa minha com a Madalena. Uma espanholita.
"- Agora é que quero mesmo ir. Preciso conhecer essa princesa. E o Lucas? Como é que ele reagiu?"
- O Lucas amou a ideia de ter uma irmã.
"- E com a Madalena?"
- Ele é apaixonado pela "Mamã". Tu sabes como ele era agarrado a mim, e que sempre foi tímido e reservado com as figuras maternas.
"- Se sei, foi preciso um ano inteiro para conseguir fazer o teu filho dar-me um abraço."
- Com a Madalena foi instantâneo. Ele foi logo para o colo e não a largou mais. Acreditas que ele até mamou durante um tempo no peito?
"- Como assim? A Madalena tinha leite?"
- Quase nenhum. A Luz apesar de já não precisar às vezes pedia para mamar. O Lucas um dia simplesmente pediu para a mamã lhe dar leitinho, e pronto.
"- Ele nunca teve isso da Filipa. Fico feliz que ele tenha encontrado na minha prima uma mãe."
- Uma mãe que neste momento está mal e ele não consegue perceber porquê.
"- Tem calma, eu vou resolver tudo hoje com os meus pais e com a Tia Luísa.
- A Dra. Luísa? Vais falar com ela por quê?
"- Porque ela é minha chefe. E se vou tirar dias preciso falar com ela."
- Não lhe contes nada sobre a Madalena, por favor...
"- Podes ficar descansado, apesar de confiar na Tia Luísa, não lhe vou contar sobre a Nena. Amanhã ligo-te para te avisar do horário do voo."
- Ok. Vemo-nos amanhã.
"- E por favor manda me uma foto da princesa...quero conhecê-la nem que seja por foto."
- Vou te mandar por mensagem. Até amanhã. E obrigada nono, por tudo.
Desliguei a chamada, e rezo para que tenha tomado a decisão certa. Rezo para que a Madalena não fique muito chateada comigo. Mas rezo acima de tudo para que ela saia desta apatia e dor em que mergulhou.
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