Capítulo 22
Pov Diogo
Quando desliguei o telemóvel, estava feliz. Foi mágico ouvir aquela vozinha linda do outro lado. O que mais queria neste momento era pegar no carro e ir conhecer a minha filha. Mas, sei que a Madalena tem razão. Temos que fazer tudo calmamente, embora Luz saiba da nossa história de amor, não sabe como é complicada, com segredos, enganos e erros. Muitos erros.
Sei que tudo o que a Madalena fez, foi para a proteger. E isso apenas mostra a mãe maravilhosa que ela é. Olho para ela, que tem lágrimas nos olhos. Abraço-a, bem forte. Sei que deve estar a pensar em tudo o que se passou no passado. No nosso namoro escondido, na imagem de Filipa quase nua comigo nu no sofá. Descobrir que estava grávida, e perceber que talvez o pai do bebé estivesse apenas a brincar com ela.
Não deve ter sido fácil para ela virar costas à família de novo. Virar as costas ao nosso amor, porque ambos sabemos o que nós sentíamos, e ainda sentimos, sempre esteve no nosso coração. Nunca conseguimos apagar, nem esquecer esse sentimento.
— Amor, por que é que estás a chorar?
— Porque sim. Não sei. Acho que ouvir-te a falar com a Luz, foi bom. Muito bom...
— Ela é tão doce. Queria tanto um abraço dela agora...— quando acabo de dizer isto, a Madalena chora ainda mais...— Madalena.
— Eu privei-te disso. Privei a nossa filha de crescer contigo...eu...fui...
— Para. Tu fizeste o que o teu coração achou melhor. A Luz ainda tem só quatro anos...
— Quase cinco. Ela está super empolgada por fazer uma mão cheia, diz que já pode até dar beijinhos ao Rafa, pois já vai ser uma menina crescida.
— O quê? A minha bebé não vai dar beijos a ninguem.
— Diogo, eles nem entendem o que é isso.
— Vês?! Ainda vou ficar com muitos cabelos brancos com ela. Não te preocupes.
— Mas, se eu tivesse falado contigo, se tivesse ouvido o que querias dizer...
— Amor, a vida não é feita de "ses". Está feito, é passado. Que tal vivermos o presente e esperar o futuro que sei vai ser maravilhoso.
— Eu amo-te. Nunca deixei de te amar, a Luz era a constante lembrança desse amor. Nunca consegui ficar com mais ninguém.
— Se há alguém aqui que podia estar com raiva, esse alguém és tu. Afinal tu esperaste por mim, e eu envolvi-me com a Filipa a sério. Apesar do Lucas ser o resultado de...
— De??
— A Filipa vive de aparências. O objectivo dela sempre foi crescer e tornar-se desembargadora. E um filho doente e um marido que não a podia acompanhar nos seus infinitos jantares de gala não era o que ela queria. Quando ela soube da gravidez, ela...
— Quis tirá-lo? Ela ia fazer um aborto?
— Sim. Mas eu não podia...eu...já amava aquele pequeno ser...
— A tua irmã disse-me que ela tentou tirar-te o Lucas, que ele não era teu mesmo, mas que fizeram o teste e..
— A minha família, excepto o meu pai, acha que o Lucas é meu. Fizemos os exames num laboratório que a Filipa escolheu. E quando o resultado veio positivo, eu fiquei feliz. Mas, o meu pai não acreditou. O Lucas não era nada parecido comigo, nem com a Filipa. Ele veio falar comigo, no início eu passei-me com ele. Não quis acreditar, até que ele me perguntou se ele algum dia vira a marca no pé do Lucas. Todos nós temos uma na...
—...na planta do pé, parece um semi-trevo.
— Como é que sabes?
— Porque a Luz tem uma igual. Exactamente na planta do pé...
— É não tenho dúvidas, ela é minha filha.
— Tens dúvidas?! Se quiseres podemos fazer...
— Nunca duvidaria de ti amor. Continuando, o meu pai decidiu fazer outro exame num laboratório renomeado. Pediu ao nosso advogado para conseguir um segundo exame, por dúvida de idoneidade do outro laboratório e conseguimos. O segundo teste deu negativo, com 99,9% de certeza de eu não ser o pai do Lucas.
— Então ele não é teu?!— aceno com a cabeça...— Mas ela sabe desse segundo teste?— encolho os ombros.
— Ela não precisava de saber na altura. Contudo, acredito que deve ter sido informada depois. Só não contei a ninguém, sabia que a Mara, ou mesmo a Rute, se soubessem não iriam ficar quietas. E o meu filho já passou por muito.
— Sabes quem é o pai?
— Sei. Ou desconfio. A Filipa andava a trair-me. Até acabei com ela, mas passado uns dias ela veio ter comigo e contou me da gravidez.
— E voltaste...
— O bebé não tinha culpa de nada, e viver com os pais separados, não era algo que eu quisesse para ele.
— Como achas que ele vai reagir, quer dizer a mim, à Luz.
— O Lucas é um menino muito carente. Mesmo com todo o mimo dos meus pais, das minhas irmãs e meu, ele sente a falta daquele mimo que só uma mãe dá.
— Eu só o vi há pouco. A Mara já me tinha falado dele, e já amo aquele pequeno. Quero muito poder ser a mãe que ele tanto quer.
— Eu sei que vais ser. E em relação à Luz, não te preocupes. Sei que talvez acha algum ciúme de parte a parte, e afinal é normal. Viveram até aqui como filhos únicos, mas sei que eles se vão entender.
E mais uma vez Madalena fica pensativa. Ela nem precisa de falar nada, eu conheço-a tão bem que sei sempre quando ela está preocupada com algo. Beijo o seu nariz, e ela sorri, depois damos um beijo com as mãos dadas, parece que temos medo de nos perder se nós largarmos.
— O que tanto essa cabeça está a pensar agora?
— Nada...
— Madalena. Queres mesmo enganar-me? A mim? Que te conheço bem melhor que o teu pai?
— Chato.— ela ri...— Eu estava a pensar como vai ser agora.— olho para ela, para que continue...— Eu tenho a minha vida aqui em Espanha, tenho no mínimo mais três anos de internato e mais uns outros tanto de especialização e tu tens a tua vida toda organizada em Coimbra.
— Neste momento amor, não tenho a resposta para essa dúvida, mas uma coisa te garanto sem ti e sem a Luz eu não fico.
— Diogo, não posso mudar-me para Coimbra. Eu estou com uma bolsa integral aqui. Se mudar para Coimbra, não sei como vou conseguir pagar o tempo de curso que ainda me falta.
— Já te disse, vamos pensar nisso mais tarde. Neste momento quero apenas conversar com o Lucas e com a Luz. Quero passar estes dias a brincar com os meus filhos, e quero amar-te muito. O resto, nós resolvemos mais tarde.
— Diogo, posso saber exactamente o que o Lucas tem, quer dizer a Mara ela contou-me por alto, mas..
— O Lucas tem um problema no coração. Foi operado quando pequeno, mas a única solução é um transplante. Está na lista, mas...
— Mas um coração compatível para uma criança é...
— Um milagre. É isso que me dizem.
— Ele vai conseguir, eu sei que sim. O NOSSO menino vai ter o coração dele.
— Nosso, é tão bom ouvir-te dizer isso.— beijo a Madalena, com amor, saudade, agradecimento, tudo.— É melhor irmos, ou a Mara entra aqui a achar que nos matámos os dois.
Não conseguimos sair logo, pois um beijo levou a outro, e a outro. Acabamos por ficar mais um pouco ali na nossa bolha, mas infelizmente teríamos que sair. Assim que abrimos a porta, puxo-a de novo para mais um beijo, e eis que de repente um pequeno bem travesso corre em nossa direcção. Para em frente da Madalena e fica a olhar...
— Ei! O que é que o pai já te disse de correres assim?
— Deculpa, max tava a espela de voxês...- Ele diz olhando para mim, mas logo subia o olhar para a a Madalena.
— De nós?!— pergunto-lhe, mas ele nem pisca, não tirando o olhar da Madalena.
— Xim. - ele responde e estica os bracinhos para pedir colo à Madalena, que sem hesitar o faz...- És muto bonita...- diz o meu filho dando festas na cara da Madalena que já tem lágrimas nos olhos...
— Obrigada Lucas, mas sabes que eu acho que bonito és tu.
— Ixo é poque xou bonito como o papá...— ele diz sorrindo, mas é muito convencido este meu pequeno.
— É acho que tens razão. Vocês são os dois lindos
— Poxo peguta-te uma coxa?— A Madalena acena com a cabeça...- Tu vas ser minha mamã?— Madalena olha para mim, procurando a resposta àquela pergunta que tem tanta inocencia nela, apenas sorriu para ela.
— Tu gostavas que eu fosse?— Lucas abre um sorriso que nunca o vi dar antes, e abana a cabeça a dizer que sim...— Sabes, eu adorava ser a tua mamã. Mas antes eu e o teu pai temos que te contar uma história. Pode ser?
— Xim. Eu adolo ouvi histólias...
— Tambaum queo Tio. dexa ouvil tambaum?- pergunta o Manuel que se senta junto a mim.
— Manuel. Esta história é só entre o Lucas e o Tio. Vamos á minha frente, ajudar a por a mesa, que ela não se põe sozinha...— diz Mara, que parece querer deixar-nos os três sozinhos, mas os meus sobrinhos têm o direito de saber de onde vem a Luz. De onde vem a Madalena, que ela não é alguém que apareceu do nada. Não, eles merecem saber que o tio também amou e muito.
— Mamã...tio, por favor!?— apela Matias.
— Deixa-os.— digo para Mara.— Eles também podem ouvir. Venham sentem-se os dois aqui à frente do Tio. Lucas, vem senta-te aqui ao pé do pai.— mas para meu espanto, Lucas nega. E pela primeira vez o meu colo é trocado por outro.
— Poxo fica no teu coio?— pergunta Lucas á Madalena. Ela olha para mim e sorri.
Depois de todos instalados, começo a contar a história do nosso namoro. Foi um amor que nasceu de uma brincadeira, que foi posta á prova milhares de vezes, e que teve os seus frutos. Um amor para a vida toda. Cheguei à parte da Luz, e fico a olhar para o meu filho. Os meus sobrinhos dão uma ajudazinha, já que eles já conhecem a prima.
— O Ucas tem uma nana?— pergunta o meu filho.
— Tens, mas tal como tu, ela ficou a saber de ti à pouco tempo.— diz a Madalena.
— Tu vais adorar a Luz, Lucas. Ela é linda e muito fofa.— diz o Matias sorrindo.
Como é que é? O que raio é que se está a passar aqui? O meu sobrinho a dar em cima da minha princesa? Nem por cima do meu cadáver. Vou já acabar com isto, o Matias que não se atreva a tocar na minha menina, envio-o para o primeiro mosteiro que encontrar.
— Posso saber que palavreado é esse Sr. Matias?!
— Não sejas obtuso Diogo.Não ligues Matias, o teu tio está com ciúmes. — diz a Mara.
— Mamã.— Lucas chama a Madalena, e eu arrepio-me. Lucas nunca chamou a Filipa de mãe, primeiro porque ela foi-se embora antes de ele começar a falar, e depois porque mesmo depois ela nunca o deixou fazer.
— Diz meu príncipe?
— O Ucas vai conhexer a nana qando?
— Eu e o papá temos que falar com a mana, os dois.— Lucas olha para a mim e depois para a Madalena...— Não fiques assim, prometo que amanhã depois do meu trabalho...
—Tu fazes o quê mamã?
— Eu sou médica, e trabalho no hospital onde a Tia Mara e o Tio Martim trabalham.
— O papá taumbém é xabias?— Madalena assente...— Eu naum goxto. Ele nunca tá com o eu. Taumbem naum vais binca com o eu...
— Lucas.
Sempre pensei estar a fazer o certo para o Lucas. Sempre pensei que mesmo trabalhando o mais que podia para lhe dar de tudo, recompensaria de todas as horas que não podia estar com ele. Depois eu sabia que o meu filho tinha os avós que lhe davam o mimo que eu não poderia dar por estar a trabalhar.
Porém, ouvir naquele momento o Lucas a dizer não gostava do meu trabalho, e a perguntar à Madalena se ela iria fazer igual, cortou-me o coração. E tudo aquilo que os meus pais, as minhas irmãs e até o meu irmão Miguel me dizia era verdade. Eu esqueci-me do meu filho...
— Lucas, olha para mim. Eu por agora vou sim ficar pouco tempo em casa, mas prometo que nos dias em que não tiver trabalho nós vamos passear muito e brincar muito.
— E o papá?— ele pergunta olhando para mim.
— O papá também. Eu já te disse que agora só vou trabalhar na clínica da Tia Leonor, então vou ter mais tempo para ficar contigo e com a Luz.
— Mamã. E...se ela naum gosta do Ucas? O Ucas fica xem ti?
— Ela? Ela quem Lucas?- pergunta o Diogo.
— Estás a falar da Luz?- pergunta-lhe Madalena, dando-lhe uma festa, ele faz que sim com a cabeça...- Ela amou saber que tem um irmão.
— É Lucas, não precisas de ter medo. A Luz é boazinha.
— E ela adorou ter mais tios e primos. Ter uma família maior...
— Maio!? O Ucas tem max titos e titas, e vovós e vovôs?
— Bem a minha família está em Coimbra...
— Os vovôs do Ucas, do Mati e do Manele tembém molam aí...
— Eu sei, eu conheço os teus avôs. Mas, quando vim morar para cá, eu "arranjei" uma família que me acolheu aqui em Espanha.
— Ah. Max..papá e nox vamox molal aqui, ou vamox vota pa caxa do vô e da vó?
— Nós ainda não pensámos nisso Lucas...- Lucas fica triste, e acho que o medo de perder de novo uma mãe é grande....
- Ei! Não te preocupes com isso agora, está bem? Eu e o pai vamos arranjar uma solução, sim?
- Xim. Mamã vax fica com o Ucas hoje?- a Madalena fica sem saber o que dizer e olha do Lucas para mim.
- Podias cá jantar.- diz a Mara e vejo o sorriso do meu filho a rasgar as suas bochecahas.
- Depois levo-te a casa.- digo-lhe
- Xim mamã po favo...
- Deixa-me só falar com a Marisol, ver como está a Luz. Se estiver tudo bem eu janto, mas depois de deitar este menino vou-me embora.
- Iupiiii....
Vamos os dois ao escritório ligamos para minha casa, e a Madalena falou com a Marisol. Pelo que percebi está optima e eufórica. Apenas pede que a Madalena volte antes da hora de dormir de Luz, pois ela já lhe disse que hoje não pode dormir antes de falar com a mamã.
Voltamos para a sala, e Lucas agarra-se à "Mãe" como lapa. A noite foi passando. Jantamos em grande alegria, e sinceramente nem sei quem está mais feliz: se eu, se a Madalena ou se o Lucas.
Quando chegou a hora de dormir, levámos o Lucas para o meu quarto, e com algum custo conseguimos e muitas promessas da Madalena que amanhã se viriam de novo, lá o conseguimos adormecer.
Assim que o "nosso" menino adormeceu, levei-a a casa. Confesso que a vontade de entrar naquela casa e ver a minha princesa foi grande. Mas como diz o meu amor, vamos dar um passo de cada vez. Hoje foi o Lucas...amanhã será a Luz. E até ao final da semana vamos ser uma família...a família que sempre quis.
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