Capítulo 18
Os meus pais decidiram ir connosco até ao aeroporto. Lucas adormeceu ao meu colo, e a dormir foi durante o voo. Esta semana de férias, pode muito bem ser a ultima semana de paz na minha vida, por isso pretendo aproveitá-la.
Pov Diogo
A viagem não era longa, mesmo sendo um espaço fechado, onde Lucas não podia correr ou brincar à vontade. Contudo, para minha sorte o meu filho era um menino bem calmo, quando estava sozinho.
Enquanto eu li um livro, Lucas foi a viagem a ver o filme dos "Incríveis", ele adorava este filme, e mesmo já o tendo visto umas dezenas de vezes era sempre esta a opção dele quando eu lhe perguntava que filme ele queria ver.
Ao fim de duas horas de voo, estávamos a chegar finalmente a Barcelona. Disse á Mara que não era preciso vir ter comigo ao aeroporto, que podia simplesmente apanhar um táxi e ir ter à casa dela. Mas acham mesmo que ela me ouviu? Óbvio que não. Então quando saímos da porta de embarque pudemos ouvir os gritos de dois pequenos a gritar pelo Lucas, que até àquele momento estava distraído com o movimento do aeroporto.
- Lucas. Lucas....
- Papá...são os pimos...são eles...- e olhando para mim com um expressão linda de felicidade...- Poxo...quelo dá ablaxos.
- Anda cá pequeno...- digo pegando nele ao colo, já que ele estava sentado em cima das malas, coloco-o no chão...- Vai lá.- E vejo-o a correr para os primos que o abraçam. Mara abaixa-se como pode com aquela barriga enorme, e abraça o meu filho com um amor de Tia, mas também de mãe.- Então e eu? Vou ficar com ciúmes, só o Lucas leva abraços e beijos...
- Tio...estávamos com saudades. A mamã diz que podemos jogar à bola lá no campo do condomínio. É muito fixe, fazemos equipas com os outros meninos, e enquanto nós rapazes jogamos as mães ficam a conversar e a cuidar das meninas.
- Uma jogatana com os espanhóis!? Parece-me muito bom. Vamos mostrar-lhes que não existe apenas um CR7 em Portugal.
- Meu Deus Diogo, nem sei quem é pior, se tu se os miúdos. Eles estão a falar de ti aos amigos há mais de uma semana.
- Tu é que nos pedistes para vir, agora aguenta-te. Vais ter cinco homens na mesma casa...então vai haver muita conversa sobre futebol, video-games...
- Deus! Miriam, minha princesa tu vais ser a salvação da mãe. A única menina da família...
- Max mamã, temox a Uz taumbém...- olho do Manuel para a Mara.
- É temos a Luz. Bem vamos embora, vocês devem estar cansados e estes meninos ainda têm que ir para a escola.
- Escola à tarde!?
- Eles têm período da manhã e da tarde. A maioria dos dias as tardes são actividades ditas lúdicas, tipo Clube de Teatro, Clube de Música, Clube de Desporto, etc.
- E deixa-me adivinhar, estes dois estão no desporto.
- Não. O Matias está em Teatro e o Manuel no Clube de Música.
- Tenho dois sobrinhos talentosos.- digo a sorrir. Chegámos ao carro e depois de arrumar as nossas malas e colocar os três pequenos nas suas cadeiras, entro no carro...- Mara, quem é a Luz que o Manuel falou?
- A Luz!? É só uma amiga que ele fez na escola nova.
- O Manuel fez um amiga? Estás a falar do nosso Manuel? O Manuel que é um verdadeiro bicho do mato, que saiu à nossa ratinha...
- Sim, do meu filho Manuel. E sim, sei que é difícil acreditar, mas ele e a Luz...eles...eles...olha nem eu sei como aconteceu. A verdade é que sim, começou por ser algo estranha a relação deles, mas ao fim de uns dias pareciam irmãos.
- Gostava de conhecer essa menina, deve ser especial para conseguir domar ali o teu filho.
- A Luz é...muito especial. Mesmo, ela é verdadeiramente a luz na vida de todos a que a rodeiam.
- Mara, quem te ouve parece que a história de vida dessa menina é horrível.
- Horrível? Não, pelo contrário. A vida dela e da mãe é verdadeiramente um livro de romance. Daqueles que ainda está a meio, e que quere mais que tudo que os pais se acertem, e vivam o felizes para sempre.
- E achas que eles vão viver esse felizes para sempre na realidade?
- Espero muito que sim. Porque todos merecem essa felicidade, principalmente a Luz e o irmão.
- Irmão!? Então são dois? Não me vais dizer que o irmão é amigo do Matias?
- Não. Para falar a verdade o irmão é da idade do Manuel, a Luz é mais velha que o Manuel.
- Cada vez mais estranho. O meu sobrinho a fazer amizades com crianças mais velhas e ainda por cima uma menina.
- Qual é o problema, será que nós mulheres não podemos ter amigos homens? Que eu saiba tu também tens uma melhor amiga, a Petra. A quem contas tudo. Aliás, contas-lhe mais a ela que ao André que conheces desde que nasceste.
- Porque vocês são mais sensíveis, e em certos temas são mais...vamos dizer que os vossos conselhos em alguns assuntos são melhores.
- Certo. Bem chegámos.- quando olhei era um prédio enorme.
Era um daqueles condomínios chiques. Tinha um gradeamento à volta de uns dois edifícios com cerca de uns 10 andares cada um, talvez mais. Mara seguiu para a garagem, porém antes apresentou-nos ao segurança, uma vez que poderíamos querer sair e se ele não nos conhecesse podia não nos deixar voltar a entrar. Saímos do carro e enquanto eu levei as duas malas, Mara deu a mão ao Lucas e ao Manuel, enquanto o Matias ia à frente para chamar o elevador.
O apartamento era outro luxo...
- Uau. Estou impressionado...- a casa era enorme...- Será que posso mudar para cá, adorei a casa.
- Bem, a casa foi-nos dada pelo hospital. Temos cerca de dois anos para nos estabelecer completamente, e isto porque como eu vim grávida, deram-nos mais seis meses do que é o habitual. Mas podemos pensar nisso, por uma quantia pela renda.- diz Mara com um ar muito sério e ao mesmo tempo sarcástico, mas que eu já conheço tão bem.
- Não posso acreditar que vais ter coragem de me cobrar uma renda? Ao teu irmão quase desempregado e com um filho para cuidar.
- Como diz o povo "Trabalho é trabalho. Conhaque é Conhaque..."- fico de boa aberta, mas sei perfeitamente que é tudo na brincadeira...- E que história é essa estares quase desempregado?
E agora já fui. Não queria que Mara soubesse desta história pois sei que ela vai passar-se com o que aconteceu. E grávida, não a queria fazer passar nervoso, mas neste momento conhecendo a irmã que tenho sei que não vou ter escapatória.
- Eu...eu fui despedido do hospital. E quase fiquei sem o trabalho da clínica também.
- Como assim? Por que é que o hospital de demitiu? Só porque lhes pediste férias? Sabes que isso é um direito constitucional? Eles não podem...
- Filipa.
- O QUÊ? O que é que essa...- olha de repente para os lados e percebe que os mais novos devem ter ido para o quarto brincar...- O que é que essa bexigosa fez?
- A única coisa que sei é que ela conseguiu que o hospital me despedisse, e que estava a fazer o mesmo com a Leonor quando lá fui pedir que me aceitasse de novo na clínica, uma vez que eu já tinha entregue a minha carta de demissão de manhã.
- Meu Deus! E conseguiste o emprego de volta. Ai! Estou a sentir-me mal, fui eu que te pedi para vires passar uns dias connosco...e agora...- Vou até ela e abraço-a...
- Calma. A Leonor conhece bem a víbora da Filipa. Não te esqueças que ela é mulher do nosso primo Simão. Para além de...
- Para além de...continua.
- Para além de ela ter uma secreta ilusão de me ver ainda junto da Madalena. O que eu acho impossível, pois ninguém sabe dela há cinco anos.
- Confesso, que eu acho que tu só serás feliz junto da Mada. E o Lucas nesse dia irá encontrar a mãe que sempre sonhou.
- Vocês as duas andam é a sonhar muito. A Madalena sumiu, e não vai voltar.- Afasto-me e vou até à varanda onde tem um pequeno terraço. De lá vejo que os meninos estão no pequeno parque infantil que ali há, contudo muito perto existe uma piscina...- Não há perigo eles ficarem ali fora sozinhos.
- Não.- Mara aproxima-se...- Estás a ver aquela moça ali perto deles?- aceno que sim. Era uma rapariga, com pouco mais de 20 anos, vestido com umas calças brancas e uma camiseta azul clara.- Ela trabalha aqui no condomínio, é Babá. São várias na verdade, três estão sempre por aqui pelo condomínio e quando veem alguma criança sozinha no parque vão para lá. Normalmente os pais avisam que vão deixar os miúdos sozinhos, mas aqueles três foram para lá sem os vermos.
- Ok. Eu dava tudo para que o Lucas tivesse uma mãe que não aquela...aquela...
- Bexigosa. Víbora. Rainha do Demo. Abécula. Déspota. Galdéria. Reles. Sebosa...
- Credo. Andaste a ler no dicionário os insultos todos para descrever a Filipa.
- Quase, e olha que ainda tenho uns tantos: bandida, esganiçada, pacóvia...
- Chega...- e rio, Mara tem este dom de mesmo quando me sinto em baixo, ela sempre me consegue fazer sorrir.- Por muito que vocês alimentem esse sonho, eu não posso. Pelo menos não mais. Não posso, nem quero ter esperança de um dia o Lucas ter uma mãe como a Madalena. Porque no dia que eu a tiver, vai ser o dia que o meu filho irá sofrer. Não por uma mãe que nunca o quis, mas por uma mãe que o podia amar como ele sempre quis, mas que nunca vai chegar.
- E se eu te dissesse que eu tenho a certeza que umal dia ela vai aparecer? E eu te garantisse que nesse dia, tu e o Lucas só têm que a amar, como ela vos ama.
- Mara o que é que tu sabes que eu não sei? Tu estiveste com ela? Sabes onde ela está?
- Digamos que eu conheço alguém que a conhece bem. E que vai tentar convencê-la a voltar.
- Estás a falar a sério? E...ela está sozinha? Quer dizer ela casou? Tem filhos?
- Diogo, a única coisa que tu tens que saber neste momento é que ela está viva. E que poderá voltar. A pergunta que eu te faço a ti é: se ela voltar o que vais fazer? Se a vida dela tiver dado uma volta de 360º e ela seja alguém diferente, não de caracter, mas de maturidade. Como a vais receber?
- Eu só preciso de saber o que aconteceu para ela ter fugido de mim. Só preciso saber o porquê de ela nem me ter dado a oportunidade de lhe explicar o que aconteceu naquele dia. Só preciso de saber se ela ainda me ama, porque eu nunca a deixei de amar.
- Então Diogo, não percas a esperança. Vive-a, porque ela vai aparecer de novo, mais depressa do que possas pensar.
E depois de dizer isto, Mara sai de perto de mim e vai para a cozinha, suponho para fazer o almoço. Eu vou até aos miúdos, e logo a rapariga olha para mim com um ar desconfiado. E é apenas quando o Matias lhe explica que eu sou Tio dele e pai do Lucas ela sai do papel dela de super guarda costas.
Fico ali, apenas a ver e ouvi-los a brincar. Lucas a falar o seu português mal falado, Manuel a juntar o português com o espanhol, e o Matias a tentar traduzir tudo para a babá. Ela apenas sorria e respondia ao Matias, pedindo que ele traduzisse para os mais novos.
Madalena. Será que vale a pena atiçar de novo este bichinho da esperança que sempre está no meu coração?
Será que vais voltar para mim? Será que ainda me amas?
São tantas as perguntas sem resposta.
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