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Capítulo 15

— Fala se no Diabo..."Estou Feiosa?"

"— Oi Mano. Queria convidar te para vir cá durante uns dias. Tens férias para tirar certo?"

— Tenho...mas...Mara não se passou nem um mês e já queres que vá ter contigo? O que é que se passa?

"— Não é nada demais. Só preciso que venhas, e que tragas o Lucas."

— Como assim levar o Lucas? Mara o que se passa?

Pov Diogo

"— Já te disse não se passa nada, só acho que precisas de esquecer o trabalho, ou os trabalhos, e teres tempo com o teu filho."

— Andaste a falar com a mãe e com o pai. Fogo, até tu. Acreditas que hoje até da ratinha tive que ouvir um sermão.

"— Diogo, quando foi a ultima vez que deitaste o Lucas, que lhe deste um beijo de boa noite, que foste com ele ao jardim, bolas quando foi a ultima vez que tu te sentaste no chão a brincar com ele, sem precisares e estar de cinco em cinco minutos a olhar para o relógio."

— Eu tenho que trabalhar, estou sozinho...

"— Tu nunca estiveste sozinho e sabes bem disso. Por favor, vem passar nem que seja apenas uma semana connosco. O Lucas precisa desse tempo contigo."

— Tudo bem vou tentar uma semana no hospital, já que da clínica eu vou mesmo é sair.

"— Vais te despedir da clínica?"

— Sim. A verdade é que estava lá à espera que ela aparecesse. Ou pelo menos para ter alguma notícia, mas já lá vão quase 5 anos....e nada.

"— Acredito que quando menos esperares a vais a reencontrar."

— É tudo o que quero. Eu amo-a, e sempre a amarei, para sempre.

"— Então não desistas. E por favor, faz o que te peço vem passar uma semana connosco. Quem sabe não encontras aqui uma nova vida?"

— Sabes que se eu sair daqui a mãe vai enlouquecer? O Miguel já se instalou nos Estados Unidos, agora tu foste para Espanha. Se eu ficar aí ela agarra na Rute com marido e tudo e vai também.

"— Nem sei como é que ela não prende o Miguel à cama cada vez que ele vos vai ver."

— Porque sendo o Miguel ele arranjaria forma de fugir. Bem tenho que ir, a mãe já chamou para jantar e tenho um piolho aqui a dizer que está com muita fome.

"— Ok, estou à tua espera daqui a uma semana, e nem vale a pena disseres que precisas de mais tempo. Tens dois dias para aqui estares."

— Tu és louca Mara. Vou ver o que consigo fazer, beijos para os meninos.

Assim que desligo a chamada, tenho um pequeno agarrado às minhas pernas. Coloco o telemóvel no bolso das calças, e pego no meu pequeno ao colo. Sinto-me tão culpado por não estar mais tempo com ele. Ele já não tem a mãe com ele, e eu passo mais tempo no trabalho do que com ele. Abraço-o, e o cheirinho de bebé delicia-me. Acho que uma semana de férias com ele nos vai fazer bem. Uma semana só nós dois, sem clinica, sem hospital...só nós os dois.

— Ei! O que achas de irmos de férias só os dois?

— Félias!?

— Sim vamos viajar, só o papá e o Lucas. O que achas?

Xem tabalho!? O papá vai ficá com o Ucas...xempe?

— Sempre, todos os dias agarradinho ao meu pequeno. O que achas?

XIM. O Ucas qué. E a vovó? Vai ficá xem o Ucas? Vai ficá tiste...

— A avó vai perceber...e nós vamos trazer um presente para ela, que tal? Assim a avó não fica tão triste.

— E pa o Vovô taumbém...

— Sim, para o avô também. Agora vamos jantar, que tem uma barriga aqui cheia de fome...— e começo a fazer cócegas na sua barriguinha.

— Tem alguém feliz aqui.— diz a minha mãe, olhando para nós dois...— Anda Lucas, a avó já serviu o teu pratinho, e já não deve estar quente.

Ucas tá com fomi....muitão de fomi... axim ó...— e ele abre os braços até onde consegue. Claro que todos rimos.

O jantar correu bem, até o Lucas dizer em alto e bom som que ia de férias comigo, só ele e eu. Os meus pais ficaram a olhar para mim, como se eu tirar férias fosse algo incomum, bem e até era. Mas eu estava pronto para mudar a minha rotina. Trabalhar na clínica tinha sido a minha forma de tentar saber onde estava a Madalena, mas ao fim de cinco anos não tinha a mínima ideia de onde ela poderia estar. Então estava na hora de seguir a minha vida, de ter mais tempo com o meu filho, de o ver crescer, e estar presente nos momentos importantes dele.

— Como é que tu decides viajar assim do nada Diogo. E o trabalho? O hospital, a Clínica?

— Vou falar amanhã com o meu chefe no hospital, ver se consigo tirar uma semana, tenho horas a mais para gozar...e é uma semana. E a Clínica vou despedir-me...

— Como assim, despedires-te. Diogo...

— Mãe, já se passaram cinco anos, para quê continuar lá se nunca tive nem uma pista, nem uma notícia. Estou a perder o crescimento do meu filho por um amor que não faz sentido. O Lucas já não tem a mãe, mas ele tem um pai e eu não vou mais fugir dessa responsabilidade por algo que nem sei se vai acontecer.

— Então decidiste ir de férias com o teu filho para o compensares destes anos de...— pergunta o meu pai.

— Não. A verdade é que a Mara me convidou, ou melhor intimidou-me a ir vê-la. Ela acha que eu preciso de descansar e ter tempo com o Lucas. Só nós dois.

— Bem, a tua irmã não deixa de ter razão. Mas nem penses em ficar lá, porque eu vou-te buscar por uma orelha.— diz a minha mãe que já chora...

— EI! Não chores, eu prometo que volto. Até porque a minha vida é aqui, para além do trabalho, o Lucas tem as suas bases aqui. Ele tem-vos a vocês aqui, e não o vou afastar das pessoas que ele mais ama.

 — Qualquer dia prendo-vos a todos nesta casa...

— Mãe, os filhos crescem. Não nos podes prender...tens que nos deixar voar...— diz a Rute sorrindo.

— Quero te ver daqui a uns anos quando esse aí quiser sair de casa...depois digo-te a mesma coisa.

A noite foi passando e todos foram para casa. Fui deitar o meu pequeno que acabou por adormecer ao meu colo, bem agarrado a mim. Custou-me um pouco deitá-lo na caminha dele, sempre que o ia colocar, ele acordava a chorar e agarrava-se mais a mim. Ao fim de uma hora, finalmente consegui deitá-lo. Desci, para beber água antes de me deitar e de repente alguém me chama...

— Diogo.— a minha mãe. É impressionante como a Dona Dulce sempre sabe quando algum de nós ainda está acordado.— Está tudo bem? O Lucas adormeceu?

— Sim. Ao fim de uma hora consegui deitá-lo na cama dele. Acho que ele estava com medo de dormir e de eu sair deixando-o sozinho.

— Ele sente a tua falta. Eu não queria chatear-te hoje, mas a Filipa ligou hoje.

— O que é que aquela louca queria? Tu não a deixaste ver o Lucas, pois não?

— Não. Claro que não. O Lucas é nosso, e aquela coisinha nunca mais se aproxima do meu neto. Ela queria falar contigo, nem perguntou pelo Lucas.

— Falar comigo sobre o quê? Não tenho nada a falar com ela. Mãe por favor se ela voltar a ligar diz-lhe para o advogado dela falar com o meu e ameaça-a com a policia se for preciso.

— Ela...ela disse que irias receber um carta. O que será que ela está a aprontar? Filho, eu estou com medo, se ela...

— Não. Eu nunca vou permitir que ela chegue perto do Lucas, se for preciso eu fujo com ele. Mas a Filipa nunca mais lhe vai fazer mal.

— O Lucas perguntou-me outra vez se um dia iria ter uma mãe como os colegas. E foi perguntar ao teu pai, onde podia arranjar uma mãe.

— Eu não sei o que fazer mãe. Eu sei que ele sente falta de uma mãe, mas eu não me imagino com mais ninguém senão com ela, e eu nem sei onde ela está.

— Ó filho...

— A Madalena seria a mãe que o Lucas merecia ter, e tenho a certeza que mesmo não tendo saído dela, ela o iria amar.

— O Lucas iria ser o menino mais feliz do mundo.

— Eu sei. E eu também. Porque é que ela fugiu mãe? Eu...eu pensei que depois de ler a carta, ela voltaria. Mas...

— Cada vez estou mais convencida que ela não fugiu de ti.

— Como assim?

— Diogo, até percebo que o que ela viu possa ter magoado e muito a Madalena. Mas, ninguém me tira da cabeça que algo mais grave se passou.

— Algo mais grave? Como assim?

— Não sei. Mas é um pressentimento que eu tenho: ela não estava a fugir de ti, mas do pai e da avô.— fico a pensar durante segundos... será?— Tens a certeza que sair da clínica é o melhor? E se ela aparecer?

— Já se passaram cinco anos. Cinco longos, dolorosos e agonizantes anos. Não posso continuar à espera de algo que podem nunca acontecer.

— E vais mesmo ter com a tua irmã a Espanha?

— Vou, estou a precisar deste tempo com o Lucas. Vocês têm razão eu preciso de estar mais tempo com ele, ele precisa de mim. Hoje senti-me um péssimo pai por não saber que ele tinha largado a chucha, eu não posso nem quero perder mais nada.

— Diogo, não te cobres tanto. Nós sabemos que fazes tudo pelo Lucas, e ele também sabe mesmo que seja pequeno, ele percebe que tu tens que trabalhar.

— Mãe, uma coisa é trabalhar, mesmo com horários malucos do hospital, outra coisa é nunca estar em casa.

— E quando é que vais?

— Ainda tenho que ver com o hospital, e tenho que tratar da minha demissão com a clínica. Daqui a três dias se der.

— Embora vá morrer de saudades do meu neto, tenho a certeza que estas férias vos cai fazer bem aos dois.

— Eu também acho. E o Lucas vai amar estar com os primos de novo. Eles só se foram embora há umas semanas, e parecem anos.

— Bom vamos dormir. Amanhã é dia de trabalho para ti e de escola para o Lucas.— a minha mãe dá-me um beijo na testa, uma vez que eu estou sentado e eu fico a olhar para ela durante um segundo e percebo que se não fossem os meus pais, eu não saberia o que teria feito com o Lucas.

— Mãe.— ela olha para mim...— Obrigada. Por tudo o que tens feito por mim e principalmente pelo Lucas.

— Bem tu és meu filho...e eu amo-te. E o Lucas é meu neto, e não faço nada que não faça com todos os outros. Agora cama, que está tarde.

— Boa Noite mãe. Amo-te.

— Também te amo Diogo, até amanhã.

E assim nos despedimos e fomos dormir. Família, o que eu faria sem a minha. 

Na manhã seguinte, levantei-me cedo. Se era para ir de férias, então tinha que ir resolver esse assunto o mais depressa possível. Assim que cheguei ao hospital, dirigi-me aos recursos humanos, expus o que se passava tentando que eles percebessem que o meu filho precisava de um pai mais presente naquele momento. Eles foram até compreensivos, mas como era algo muito em cima do momento, preferiram deixar a decisão para a  direcção. Assim, teria que ficar a aguardar que esta se pronunciasse.

Como não tinha nada mais a fazer no hospital, uma vez que naquele dia apenas entraria no turno da tarde, fui até à clínica. Ali foi tudo mais fácil. E apesar de ter por dever, dar um aviso de 15 dias antes de sair, como tinha dias de férias, consegui sair sem pagar indemnização. Claro que o facto da Nono me conhecer ajudou. Ela sempre soube o porquê de eu estar ali. E eu sempre soube que mesmo ela podendo saber da Madalena, ela nunca mo iria contar se o meu amor não o permitisse.

Ao final do dia, depois de uma manhã e tarde passada a brincar com o meu filho, tive que ir para o hospital. Assim que cheguei tinha uma carta dos Recursos Humanos, abri e...

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