Capítulo 10
POV Mara
A Madalena pede a Luz que vá brincar um pouco para o quarto, para podermos falar à vontade. Claro que sendo filha de quem é, a pequena tinha que tentar argumentar. Porém, devo admitir que apesar de tentar dar a volta à mãe, Luz sabe quando é que a corda está a esticar demasiado, e depressa obedece.
Antes de ir a pequena faz algo que me surepreende: dá-me um abraço e um beijo na minha barriga.
Depois entra no que penso ser o seu quarto, e ficamos as duas a olhar uma para a outra.
_ É impressionante em como é parecida com o Diogo. Até no mau feitio.
- Sim. Completamente o Diogo na questão do feitio. E tens que ver as covinhas...são iguais às do Diogo.
- Madalena, só quero saber uma coisa: quando é que vais contar a verdade aos dois?
Pov Mara
Madalena fica a olhar para mim, sem saber o que responder.
- Madalena, não estás à espera que eu saiba da existência da Luz e não diga nada ao Diogo? Eu não posso nem vou fazer isso.
- Mara...é complicado.
- O Diogo merece saber...a Luz merece conhecer o pai e os avós...e...
- A Luz sabe do pai. Ela sabe quem ele é, eu tenho fotografias e...
- E o Diogo? Ele tinha o direito de saber.- suspiro para me acalmar, por mim, pela minha bebé e para que esta conversa não saia do civismo necessário...- Quando tu "fugistes", tu sabias da gravidez, ou...
- Eu descobri no dia em que o vi com a outra...- nessa altura vejo as primeiras lágrimas a caírem da face da Madalena...- Eu estava feliz, com medo, mas feliz. Era um pedacinho nosso, meu e dele. Mas quando vi aquilo...perdi o chão naquele momento. Tudo o que imaginei durante aquelas horas, depois de confirmar a gravidez, foi-se em segundos.
- Madalena, aquilo foi tudo armação da Filipa. Não aconteceu nada, o Diogo foi...
- Eu sei.- olho para ela sem perceber...- O Diogo veio ter comigo à estação, no dia em que supostamente eu iria para Lisboa.
- Disso eu soube. O teu pai e o teu avô foram à casa dos meus pais. Acharam que estavas com ele.
- Não o meti em sarilhos, pois não?
- Não. Eles tentaram, contudo o Diogo tinha um bom alibi. Ele entrou de banco depois de te ver na estação.
- Ele veio tentar falar comigo, e eu juro que quis dizer-lhe, mas a mágoa era tão grande. Eu não consegui.
- Tu tens ideia do que ele sofreu!?
- Tenho. Porque eu sofri o mesmo, ou mais.- vejo a Madalena levantar se e começar a andar de um lado para o outro, nervosa...- O Diogo colocou uma carta no bolso do meu casaco. Eu só a li quando já estava longe. Ele colocou também o exame, mas eu não podia voltar para trás, não naquele momento. Eu tinha sido aceite para estudar aqui, na Universidade de Barcelona, com uma bolsa integral. Como é que eu ia aparecer de novo em minha casa? Ou na dos teus pais?
- Porque é que não escreveste ao Diogo, porque é que simplesmente desapareceste?
- Porque apesar de o amar, eu odiava-o também. Porque eu não podia simplesmente virar costas à bolsa que ganhei. Porque a certa altura eu tive que me concentrar em mim e na Luz. As nossas vidas correram risco, e eu não queria pensar em mais nada a não ser na minha filha.
— Como assim "correram risco"?
— Tensão alta, diabetes gestacional, perda de liquido amniotico, escolhe o que quiseres. Tudo o que podia correr mal, correu. A Luz nasceu prematura, o sistema respiratório muito imatura, o que fez o coração sofrer pelo esforço que estava a fazer para respirar.
— E...passaste por tudo isso sozinha? Madalena.
— Não estive sozinha. Se desejei ter o Diogo ao meu lado? Todos os dias. Tinha deixado o vosso contacto e uma carta para o Diogo, caso me acontecesse alguma coisa, Mama Consuelo sabia o que fazer.
— Mama Consuelo? Era aquela senhora onde a Luz estava?
— Sim. A Mama Consuelo, é mãe da Pilar, que foi minha obstetra. E que hoje é como se fosse minha irmã. A Mama Consuelo, é dona de um colégio, onde comecei a trabalhar. apesar da bolsa, eu tinha que ter dinheiro para o básico para a Luz.
Pensando em tudo o que acabara de ouvir, talvez eu tivesse feito o mesmo. Mas neste momento, o importante é fazer estes dois teimosos deixarem o orgulho de lado e assumirem que não podem viver um sem o outro.
- Mada, diz-me sinceramente, tu amas o meu irmão?
- Amo, com tudo o que há em mim.— a Madalena senta-se ao meu lado e suspira...— A verdade é que acho que nunca deixei de o amar. E mesmo que quisesse, tenho uma miniatura dele sempre perto de mim. Não há como esquecê-lo.
- Deixa-me falar com ele, deixa-me trazê-lo até vocês. Ele merece ser feliz depois de tudo o que sofreu, já para não falar do Lucas, que merece uma mãe bem melhor do que a que tem/teve.
- Lucas? Espera quem é o Lucas?
- O meu sobrinho...filho do Diogo...— estúpida, burra. Mas porque raio fui falar do Lucas agora?
- O Diogo tem um filho?- Apenas aceno...- Ele é filho dele com a tal Filipa?
- Sim, mas...
- Espera, estás a pedir-me que o deixe chegar perto da minha filha, depois de tudo o que aconteceu, sendo que ele pelos vistos seguiu em frente? Seguiu em frente com essa...essa...
— Madalena.
— Nem penses Mara, nunca a quis a Luz longe dele para sempre, mas com toda a certeza quero a minha filha longe dela...
- Podes por uma vez calar essa matraca e ouvir-me.- Grito...- Eles não estão juntos, nunca estiveram.
- Sei, e o teu sobrinho foi feito num frasco, queres ver!?
- Podes parar com o cinismo, não te fica bem sabias?- A Madalena revira-me os olhos, e é neste momento que percebo que apesar de jovem, porque tem apenas 22 anos (quase 23...), ela amadureceu muito, talvez porque a vida assim exigiu dela.- Eles nunca tiveram nada, porque o Diogo nunca quis, mas a Filipa era ardilosa e conseguiu enganar o Diogo uma vez, apenas uma vez...
- Quer dizer que ela engravidou nessa "única vez"?
- Não te podes queixar, pelos vistos tu também engravidastes da Luz, na tua primeira vez com o Diogo.- e sorrio com ela...- Apesar de ela ter jurado que o bebé era do Diogo, nós nunca acreditámos muito, alertámos-lo mas ele nunca quis fazer o teste de ADN.
- Então há hipótese do menino não ser filho do Diogo?- aceno...- Mas por que é que ele não o fez?
- Porque a Filipa o ameaçou, disse que se ele o fizesse afastaria o menino dele, sendo ou não filho do Diogo. E o Diogo não quis deixar o menino sem pai, e com uma mãe louca.
- Então ele assumiu o bebé?- de novo aceno a cabeça...- E ele é...
- Não. Soubemos disso há dois anos. A Filipa simplesmente sumiu de uma dia para o outro. Deixou o Lucas na escola de manhã e nesse dia não o foi buscar.
- Meu Deus...
- A escola telefonou ao meu irmão, que por estar em cirurgia não atendeu. Acabaram por falar com os meus pais. Quando ficámos a saber, o Diogo ficou furioso.
- Eu nem sei o que pensar...
- Ele tentou ligar a Filipa, mas nem sinal dela. Ligámos aos pais dela e nada. Eles sumiram simplesmente.
- E o Lucas?
- O Lucas tinha um ano, era pequeno. E a Filipa não era muito presente. Passado seis meses a Filipa reapareceu querendo o Lucas para ela.
- Depois de o deixar? Depois de desaparecer sem deixar rasto?
- Ela disse que estava com uma depressão, que precisava de se tratar. E que sabia que o Lucas estaria bem com o Diogo.
- Uma depressão?!
- Pois, a nossa reacção foi a mesma. Mesmo podendo estar com uma depressão pós parto, e sabendo que podia contar connosco...
- Mas ela estava mesmo...
- Não. Como o Diogo não permitiu que ela se aproximasse do Lucas, ela colocou uma acção no tribunal alegando que o meu irmão a estava a impedir de ver o filho, e que o mesmo nem era dele.
- Essa miúda é louca!?
- E foi apenas nessa altura que todos ficámos com a certeza que o Lucas não era do Diogo. O meu irmão ficou louco, arranjou um advogado e entrou na justiça, apesar de não ser o pai biológico ele amava o Lucas como filho.
- Pai não é o que faz, é o que cria e dá amor. Sempre ouvi a minha avó dizer isto.
- E ela tem razão. Não foi fácil, mas ele conseguiu a guarda provisória, mesmo não sendo o pai biológico. O processo ainda está a rolar, porque a Filipa não quer aceitar, tudo por dinheiro.
- E a tal depressão?
- Qual depressão, ela esteve com os pais na América a viver às custas do padrasto da mãe.
- E ela vê o Lucas, quer dizer ela tem algum vinculo com o menino?
- O tribunal deliberou dias específicos para ela o ver, porém começámos a perceber que o Lucas vinha estranho da mãe. E foi quando percebemos que ele ficava sem comer, sem tomar banho, entre outras coisas. Por isso as coisas estão em tribunal, o Diogo está a tentar a guarda total do Lucas.
- Por isso disseste que ele precisava...
- De uma "Mãe"? Sim, ele não sabe o que é um mimo de mãe. Teve me a mim, à minha mãe e até a doida da Rute, mas aquele mimo de mãe, nunca o teve.
- Se eu te disser que chames o Diogo, o que achas que vai acontecer? Eu não posso ficar sem a Luz, ela é tudo para mim.
- O Diogo nunca te tiraria a Luz. Madalena ao contrário daquela outra lá, tu és uma boa mãe, e tu não escondeste o Diogo da tua filha. E talvez o mais importante ele ama-te.
- Eu tenho medo. Sei que eles merecem esse encontro, a Luz adora que eu conte a nossa história, e o Diogo, merece conhecer o ser maravilhoso que ela é. Mas...
- Porque não começamos pelo principio? Primeiro eu quero ser apresentada à minha sobrinha, não como uma amiga da mãe, mas como tia. Depois logo vemos como resolver o "problema": como contar ao Diogo?
- Tudo bem. Mas podia ficar para outro dia, acho que hoje seria meio confuso para ela.
- Que tal no fim de semana? Vais lá a casa almoçar? Aproveitas conheces os teus sobrinhos e a Luz pode brincar com os primos.
- Sim pode ser.
Depois da longa conversa, fomos em direcção ao quartinho da Luz para me poder despedir dela. Quando recebi um abraço gigante dela, não pude deixar de sentir uma enorme emoção. Luz era uma menina que irradiava alegria e amor. E sem dúvida como disse a Madalena, era a cópia perfeita do Diogo, em versão feminina.
Quando finalmente cheguei a casa estava cansada. Os meninos já estavam em casa, hoje era a vez do Martim os ir buscar. Estavam os três no sofá a jogar alguma coisa na TV. Entrei e sentei-me ao colo do meu esposo...
- Mara.- Olhei para ele, com um olhar de pedinte...- Podias pelo menos avisar, estás a ficar pesada.
- Martim, por acaso estás a chamar-me de gorda?
- Não minha rainha, só estou a dizer que estás a pesar por duas.
- Não sei se fique agradecida pelo elogio ou zangada. Mas, estou muito cansada para pensar, então, que tal irmos jantar estou morta de fome.
- A mamã também come por duas, não é papá?
- Matias!? Viste o que fazes? O teu filho anda a aprender contigo.
- Mamã, o manel tem fomi taumbém.
- Pelo menos tenho alguém que me percebe. Vamos meu príncipe, vamos comer e não deixamos nada para o mano e para o papá.
- Xim, tudo nosso.
Fomos jantar no meio de muita brincadeira entra nós. Era bom estarmos os quatro juntos, sem plantões, sem ter tempo para estar com os nossos filhos. Claro que foi difícil a decisão de sair de Portugal, de deixar a minha família e principalmente deixar o Lucas que eu amava como se fosse um pouco meu também. Mas, eu e o Martim tivemos que pensar na nossa família.
Encontrar a Madalena, foi algo que nunca pensei que acontecesse, e saber que tenho uma sobrinha linda como a Maria da Luz foi como se tivesse encontrado a cereja para o topo do bolo. Sei que o Diogo vai ficar um pouco desiludido com ela no início, contudo, aquela boneca vai conseguir amolecer o coração do meu irmão. E o Lucas?! Vai ganhar uma irmã e uma mãe. Porque eu sei que a Madalena vai ser a mãe que o Lucas nunca teve e que ele merece.
Sim no final eu sei que tudo vai correr bem, porque afinal não há nada mais certo que o amor. E o caminho deste dois, apenas teve um pequeno desvio na estrada imensa que é a vida. Logo iram estar os dois juntos de novo a percorrer essa mesma estrada a caminho de serem felizes.
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