Capítulo 1
Pov Madalena
Traição...
Algo que parecia impossível de acontecer, algo que nunca imaginei ter que enfrentar, algo que me pegou de surpresa e justamente no momento em que eu estava disposta a viver o amor, o amor que achei que fosse para a vida toda, porém, tudo desmoronou.
Esta dor parece que nunca vai embora, que nunca vou conseguir falar dele sem derramar uma lágrima, que todas as noites antes de dormir, vou pensar em tudo o que ele fez, tentar entender aonde errei, em que momento ele me esqueceu.
Eu estava desprevenida, não pensava em ninguém, só nele, e para mim assim seria até o dia em que eu não respirasse mais. Seria eterno. O meu futuro, os meus planos, em tudo o que idealizava, era em NÓS que eu pensava. Não havia um futuro sem ser a Madalena e o Diogo. Era como se fossemos parte de uma equação matemática. Mas agora estou aqui sem sem saber o que fazer, com um futuro pela frente, mas congelada no tempo.
Fui traída pela pessoa que mais amava e ainda amo. Hoje estou só, e nesta solidão espero pelo dia que ele me encontre e eu possa dizer-lhe: Eu amo-te, tu és e sempre serás a minha vida.
Quanto maior a confiança, maior a traição. E a pior parte da traição é que ela vem justamente quando não esperamos e de quem nunca desconfiamos. Ao contrário do que pensava, o amor não machuca. O que machuca é a traição, a mentira, a decepção.
Não existe explicação, para a dor que sentimos ao sermos traídos. Trair é como deixar o vento levar todos os bons momentos arquitetados e todo o amor cultivado. Trair, acaba com os sonhos. Traição, é a morte do amor, o nascimento do ódio e a perpetuação da hostilidade entre um, que amava o outro.
Dizem que tudo passa. A dor passa, a tristeza passa, a alegria passa, o ódio passa, a traição passa, a felicidade passa, o prazer passa, o desejo passa, a vontade passa, a vitória passa, a derrota passa. Porém, há algo que nunca passa. A única coisa que NÃO PASSA é a MARCA das coisas e das pessoas que passaram na nossa vida. Se não marcaram, então simplesmente não contaram, não passaram. E quem passa é responsável pelas marcas que nos deixaram.
Aquele dia ainda está marcado em mim, não consigo simplesmente esquecer o que vi. Não consigo esquecer que naquele momento eu tive que tomar a decisão que mudou de novo a minha vida numa volta de 360º. De novo eu me vi num ponto de não conseguir enfrentar tudo e todos e a única coisa que me passou pela cabeça foi: fugir.
Fugir do amor que sentia pelo Diogo, mas que naquele momento me estava a magoar demais. Fugir do medo de ter que contar ao meu pai o que se estava a passar. Fugir dos olhares do meu avô, de decepção ou até mesmo de desprezo.
A única coisa que eu sabia, naquele dia e naquele momento, é que tinha que sair de Coimbra. Lisboa não era de todo uma hipótese, eu sabia que seria um dos lugares onde o meu pai me iria procurar, e também não queria arranjar problemas à minha Tia Marta.
Então olhando para uma folha que nos tinham entregue na escola, decidi que iria para longe, bem longe. Não desistiria do meu sonho de seguir medicina, apenas iria para longe, para o concretizar. Abri o computador, e procurei o site. Inscrevi-me, enviei os documentos que me pediam e apenas teria que esperar uma resposta, rezando para que tudo corresse bem e eles me aceitassem.
O Diogo tentou falar comigo durante as semanas seguintes, mas eu simplesmente não quis falar com ele. A Rute, a minha avó e até a Mila tentaram que eu o ouvisse. Sim a Mila também já sabia do Diogo. Ela apanhou-me a mim e à avó, um dia na cozinha a falar na surpresa que me tinha feito naquele dia, não se zangou nem nada, apenas disse que desde que não me prejudicasse ela não falaria nada.
Depois de uma semana a ver-me chorar pelos cantos, ela veio falar comigo. E como eu já não aguentava mais esconder tudo dentro de mim, abri-me com ela. Claro que não lhe contei "tudo", mas contei-lhe a parte da traição. Ainda assim, ela aconselhou-me a falar com o Diogo. Se o fiz? Não. A mágoa era muita, a dor era excruciante.
Os dias foram passando, e a resposta da faculdade não vinha. O tempo corria, e os primeiros sintomas já estavam a aparecer. Não podia esperar muito mais tempo, por isso em último caso eu iria para Lisboa, o que aliás foi o que eu disse ao meu pai há uma semana atrás. Claro que ele ficou furioso, mas tive uma ajuda da minha mais nova amiga e futura madrasta que conseguiu que pelo menos o meu pai ouvisse os meus argumentos.
"Assim que eu disse ao meu pai que tinha entrado na faculdade em Lisboa e que queria ir para lá, em vez de frequentar a mesma faculdade da minha mãe, parecia que a casa vinha abaixo com os gritos.
— Não. Eu não te quero longe de mim. Podes perfeitamente fazer faculdade em Coimbra...
— Pê, podes pelo menos ouvir a tua filha? Ela não está a dizer que vai para a China, ela vai para Lisboa, a duas horas daqui.
— Pai, eu não quero ser conhecida pela filha de...eu quero ter o meu mérito.
— E achas que em Lisboa vais ter? Lembras-te que a tua mãe era bem conhecida no meio médico de Lisboa.
— Se for pela fama da mãe, não há uma faculdade de medicina que não a conheça...
— Vês mais uma razão para ficares aqui...
— Pai...a mãe é conhecida como médica, mas não é conhecida como a melhor aluna da melhor faculdade do país. Como a aluna de mérito, onde todos os professores e médicos a conhecem ora porque forem professores dela ora porque foram colegas de curso.
— E isso é tão mau assim...
— É. Em Lisboa pelo menos na faculdade posso ser eu, posso ser a Madalena. E não a filha da Dra. Sá Fernandes...pai, por favor, eu prometo venho todos os fins de semana a casa.
— E porque raio queres ficar sozinha naquela casa? Madalena, aquela casa tem muitas recordações...muita dor...
— Tem mais coisas boas do que coisas más. E não vou ficar sozinha, ia convidar a Nono para ficar comigo. E estamos a 10 minutos a pé de casa dos tios.
— Pê.— A forma que a Mila fala com o meu pai, é o mesmo que a minha mãe lhe falava...— A Madalena tem 18 anos, está a minutos de casa da tia, vai estar com a prima. O que é que lhe vai acontecer de mal?
— Tudo bem, mas quero que me fales todos os dias, e quero uma videochamada pelo menos uma vez por semana.
— Tudo bem, nunca pensei ver-te assim tão piegas, só por algum dos teus rebentos estão a sair de casa.
— Madalena, ainda estou a tempo de desistir.
— Calma, eu só ia dizer que nem quero ver quando for para nos casarmos.
— Nenhum dos meus filhos se vai casar, serão sempre meus.
— Vai sonhando Pedro, todos um a um iram seguir o seu caminho. Vão casar, sair de casa e formar a sua família.
— Tu não estás a ajudar, sabias?"
Depois desta conversa era apenas rezar para que a resposta que eu queria viesse. Porém, chegou à minha última semana em Coimbra, teria que estar em Lisboa no início da semana seguinte e nada de email. Eu já estava a desesperar, ir para Lisboa significava ter que contar à Nono, e muito provavelmente aos meus Tios.
— Mada...— Quando eu estava a abrir pela milésima vez o meu email entra a minha irmã Clara pela porta adentro, ela estava com 8 anos e continuava a ser a nossa bebé...— O papá está a chamar ele tem uma coisa para nos contar.
— Tem que ser agora?— Clara apenas assente, e descemos as duas...— Já cá estou.— Quando chego à sala, vejo para além dos meus irmãos e de Mila, que praticamente morava cá em casa, os meus avós, os meus tios e os meus primos também...— Desta vez eu não fiz nada.
— Tem calma, desta vez a conversa não é sobre ti.— Diz o meu pai virando-se para mim...— Bem já todos sabem que eu e a Emília estamos juntos.— O meu pai diz, pegando na mão da "namorada"...— Nós resolvemos avançar mais um pouco na relação e...eu pedi a Mila em casamento.
— E eu aceitei...— Diz a Mila sorrindo.
Todos batemos palmas, todos abraçamos o meu pai e a nossa "Boadrasta", sim porque eu já a considerava uma amiga. Se eu estava feliz? Estava. O meu pai merece ser feliz, e sei que onde quer que a minha mãe esteja ela iria querer o mesmo. Apenas fico triste pois infelizmente eu não poderei estar presente no casamento dos dois. O meu telemóvel vibra e quando vou ver o que é sorrio. Finalmente o email que eu tanto esperava, aproveito que estão todos tão eufóricos e afasto-me sem que ninguém nem perceba. Abro o email...
"Exma. Sra. Madalena Sá Fernandes,
Vimos por este meio comunicar, e no seguimento da sua candidatura a uma vaga no curso de Medicina desta Faculdade, que esta foi aprovada. De forma a que a mesma seja validada deverá apenas clicar no link abaixo.
https://facultad.medicine.es
Caso necessita de algum esclarecimento poderá contactar-nos através dos números já fornecidos. Desejamos uma boa viajem e esperamos vê-la em breve.
Carmen El Pozzo
Directora do Departamento de Matrículas"
Eu nem podia acreditar que tinha conseguido. Agora vinha a segunda fase: comprar as passagens de comboio e de avião. O meu plano era simples, achava eu, ia de Coimbra para o Porto, e lá apanhava um avião até Barcelona. E uma nova fase da minha vida iria começar, bem longe de Portugal e da minha família.
Não sei como seria, não sei como ia fazer daqui a uns meses com tudo o que se iria passar na minha vida, mas eu estava feliz. Sim ia para longe da minha família, para longe do Diogo (que apesar de tudo eu não conseguia deixar de amar), porém, eu tinha algo pelo que lutar.
Sinto um misto de ansiedade boa, de muita expectativa e um pouco de medo. Ao colocar as mãos no meu ventre, sinto pela primeira vez, a magia da vida, do mundo, da criação. É um momento só meu e deste ser que cresce dentro de mim. Que ainda se aninha em mim, que ainda respira e se alimenta através de mim. O meu corpo irá transformar-se com a sua vida, enquanto meu mundo se embeleza de amor e esperança.
Planejar, esperar, imaginar como será, nada se compara com a sensação de saber que dentro de mim existe mais um coração a bater. São escassas as palavras, os sentimentos são limitados para descrever tudo o que senti, tudo o que sinto, desde o dia em que descobri a maior e mais maravilhosa felicidade do meu mundo: eu vou ser mãe!
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