Round 8
Passaram-se alguns dias desde que Yasmin voltou a treinar conosco na academia. Contudo, nunca mais lutamos. Zeca não permitia, pois, eu não mostrei aptidão suficiente para ajuda-la a prosseguir. Meu pensamento havia mudado desde nosso último treino. Mas entendia os motivos dele. Não era para menos. Faltavam dez dias para eu retornar ao ringue. Por conta da maldita inscrição do baiano.
Só que Yasmin ia lutar hoje. Ela economizava energia, mas os socos saíam limpos como sempre.
— Para de ficar à-toa. — Baiano suportava o saco de areia que eu socava. Estava ali o tempo todo, mas me assustei quando o ouvi.
— Não é nada, Baiano. Só esxtou preocupado com ela. — Voltei a dar sequências brutas. Sacodia o saco de areia.
Ele negou sarcástico. Até balançou a cabeça. Quase ria das minhas mentiras. Eu estava bobo demais por causa dela, e ele sabia. O horário das duas horas bateu no relógio da parede. Tínhamos que nos arrumar para irmos à Copacabana. A academia na frente do Na Chapa seria a sede do campeonato de novatos. Yasmin foi ao vestiário. Tomar um banho e aprontar os equipamentos. Enquanto nós esperávamos. Fedidos.
— Zeca você esxtá bêbado?
— E quando não estou? — Soluçou.
— A luta da Yasmin é hoje! — Resmunguei — Não pode ser técnico nesse estado!
Zeca pouco deu bola. Apenas saiu da academia para nos aguardar. Olhei para baiano. Ele viu minha irritação, mas não havia nada a ser feito. Após alguns minutos, Yasmin saiu do vestiário. Pronta. A postura passava a sensação de vitória. Um ar que gostei de sentir.
Nós encontramos Zeca. Fomos para Copacabana num ônibus. Nossa chegada não foi demorada. Os bairros são próximos. — Demais. — Caminhamos pela Avenida Nossa Senhora. No instante que avistamos o Na Chapa, também vimos o prédio do campeonato. Tinha o desenho em Neon de um cara musculoso. Parte da arte estava apagada. — Pensei que todo mundo na Zona Sul fosse rico. Talvez estivesse enganado.
Subimos para arquibancada. Separamo-nos de Zeca e Yasmin. Ela ainda faria a pesagem e preparação antes de entrar no ringue. Eu e Baiano ficamos sozinhos, e nos deleitamos com guloseimas.
— Bora arruma algo para ficar empaxado, negão!
Ele deu uma boa ideia. Morríamos de fome. Fomos comprar alguns doces na cantina próxima. Pegamos pacotes de pipoca, e cachorro-quente. Voltamos aos assentos para aguardar a luta da menina arco-íris.
— Negão são quantas brocas hoje?
— Só a da Yasmin, Baiano. — Respondi. — As lutasx dosx novatosx são apenasx uma por dia.
O barulho alto do microfone cortou a conversa. Poucas almas compunham a plateia. Não era para menos. Competição de calouros só possui público nas finais. O máximo que aparece agora é parente. Yasmin apareceu na entrada, junto a Zeca. Ela ergueu a mão para saudar a plateia. — No mesmo instante comecei a assobiar e dar aplausos. Os demais ficaram silenciosos. Meus atos se tornaram espalhafatosos. — Só eu havia feito barulho para ela.
A situação foi diferente quando o adversário apareceu no corredor. O pouco de pessoas que tinha aplaudiu o garoto. — Tudo se encaixou na minha cabeça. — Fiquei mal por deixa-la constrangida. Yasmin expressava imensa concentração. Capaz de causar temor — pelo menos a mim.
O adversário era um branquelo de nariz pontiagudo. Podia nomeá-lo como Pinóquio que não faria mal. Ele tinha a franja. Parecia um Emo que não aceitou o fim da onda em 2013.
Após os últimos preparos e as saídas dos auxiliares do ringue. O gongo soou. Yasmin saltitava e emanar a magia pelo corpo.
Em contraste. O Pinóquio se multiplicou.
Sim, você não leu errado.
O Emo fez três clones de si. — aparentava ser o máximo que conseguia. — Não considerei justo no regulamento de lutas. Mas agora eram magos-boxeadores. Tudo de novo era possível. Os clones cercaram Yasmin.
Ela golpeou um deles. Não o verdadeiro Pinóquio. O soco explodiu o clone. Em vão, pois ele se regenerou. Esmurrou os outros, mas todos fizeram a mesma coisa. Pinóquio riu da tentativa de Yasmin.
— Todosx são clones? — Fui retórico. Mal saiu som de minha boca por conta da pipoca.
— Estou febrento vou passar a porra nesse cambito! — Baiano fingiu estar furioso. O rosto lesado não condizia. — Isso é trapaça!
Os clones do Pinóquio atacaram. Batiam no tronco de Yasmin. Ela não conseguia se defender de tantas direções. Sempre que revidava era contra golpeada. Só era capaz de proteger o rosto. A plateia ria da luta. Pior. Ria dela.
Ouvi do alto da arquibancada algo que me subiu o sangue.
Engoli a pipoca a força. — Quase morri engasgado. — Me levantei do banco e puxei o ar dos pulmões.
— Mete a porrada nele, Yasmin! — Berrei.
Ela parou de se defender e começou a atacar os clones. Mais rápido. Usava de um cruzado sem equilíbrio do corpo para acertá-los. Ela girava no próprio eixo. Socava todos os clones. Até acertar em cheio o rosto magricela do Pinóquio. O cruzado poderoso o fez rodopiar para as cordas, e cair para fora do ringue.
O juiz interferiu, e o gongo soou. A plateia desacreditada começou a aplaudi-la com fervor. — Acabei abobalhado ao notar que Yasmin me olhava. Encontramo-nos no portão do prédio. Vi o sorriso dela. Tão belo quanto o toque do sol numa gota de orvalho.
— A primeira vitória! — Zeca soluçou feliz. — Vamos comemorar no, Na Chapa!
Ficamos de acordo. Caminhamos para o restaurante onde eu trabalhava. — Será que Zeca vai nos pagar o X-Tudo Ultra Oriental Kung-Fu? — A boca encheu d'água só de imaginar. Enquanto andávamos, notei que uma sombra ficava para trás. Virei-me.
Yasmin parou para conversar com um rapaz.
— Negão esse moleque estava com o rapaz que chutou tua moto.
Ele tinha razão. Era o tigre que saiu e me encarou torto. — Destino! Por favor! Não me diga que são namorados. — A conversa parecia séria. — Destino! Por favor! Faça-os terminarem o namoro. — Caso os pedidos fossem recusados pelo universo, não havia importância. Baiano frequentava um terreiro. Eu estava pronto para fazer macumba e conquistar Yasmin.
O tigre caminhou até mim. Estufei o peito. Imaginei que ele viria admitir a derrota. Preparado para oferecer comida a Yasmin. — Não sou bom em conquistar as garotas. Então sempre que posso as levo para comer. Na verdade. Só as levo para comer.
— Você está no torneio amador, não é? — A voz de burguês safado dele me irritava.
— Esxtou sim.
— Que bom! — Ele sorriu. Deu tapas no meu ombro e foi embora. — Nos vemos na final. Favelado.
Pronto. Era só o que faltava. Além de lutar contra o irmão da garota que eu gostava. Tinha, também, que mostrar minha capacidade para o ex-namorado dela. — Queria logo trabalhar uma macumba e acabar com isso.
Yasmin veio. De rosto fechado, mas ainda sorria sutil.
— Bandida! Você foi! — Mal pude terminar os elogios. Levei um soco forte no rosto.
— Não me faça passar vergonha no ringue! — Ela ultrapassou a mim e o baiano. — Além do mais... obrigada pelo apoio... — Corou.
Recuperei-me do soco. Ao olhar para baiano o vi rir da minha cara inchada.
— Ela está gamadinha
Baiano não sabe o que fala.
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