Round 7
— Contragolpe? — Olhou para o treinador. — Vamos saber então quantos golpes você aguenta.
Ela cuspiu no chão fora do ringue. Tirou o gosto amargo de sangue da língua. E passou a luva nos lábios para limpá-los. Começou a esmurrar-lo em sequências de jabs e diretos. Cada pancada fazia a banha do rapaz tremelicar frenética. O desafiante não reagia para contra-atacar Yasmin outra vez. Ela finalmente parou. Ele berrou enfurecido, mas estava inconsciente. Rolou as cordas e caiu para fora do ringue.
— Timóteo. O do contra. Sei quem ele é. — Yasmin caminhou para o corner e lá repousou. — Ele não estava entre os mais promissores novatos dos pesos pesados? — Ela riu da cara emburrada do técnico. — Toma conta dele, ou não vai se recuperar até a próxima luta.
O treinador parecia furioso. Com o aluno. A vitória dela. E a proposta.
— Uma última luta! E eu te aceito na minha academia — Um garoto subiu no ringue. Bem distinto de Timóteo. Ele era magro e tinha o porte físico igual ao meu. Se equiparava ao de Yasmin.
— Não Henrique. Isso não. — Yasmin recuava com a oferta. Em corpo e tom de voz. — Além do mais estou exausta. Não posso lutar de novo.
— É a oferta. Recuse-a, e não treinará aqui nunca mais. — A voz melosa do anjo. De cabelos encaracolados, e platinados. Chegou a ser incisiva e medonha. — Perca para mim, e não treinará aqui nunca mais.
— Henrique. Eu não-.
Um soco. Tão veloz que meus olhos mal acompanharam. Como se tivesse se teletransportado para perto dela. Num outro piscar de olhos, ele estava de volta ao corner oposto. — Maldito! — Me subiu um ódio.
Yasmin armou a guarda. Mal encaixada. Estava exausta após a luta contra Timóteo. Não tinha como estar pronta. Felipe fez o mesmo truque uma segunda vez. Não era ilusão. Realmente se teletransportava no ringue. Desferiu socos no rosto dela. Três jabs e um gancho de esquerda.
Yasmin cedeu e se ajoelhou no chão. Mas os braços, ainda erguidos, queriam lutar. Ficou agarrada as cordas. As pernas tremiam na intenção de ficar de pé. — Dava para sentir a dor dela. O desespero almejava o sonho.
Como pude ser tão egoísta?
Não podia ser novamente.
O anjo se irritou. Detestava a tentativa dela se erguer. Direcionou um cruzado para derrubá-la por completo. Focado em acabar com Yasmin perdeu a visão do redor. Segurei o punho dele, e parei a atrocidade.
— Q-quando você? — O anjo se assustou. Teletransportou para o outro canto do ringue.
— É errado bater num adversário caído. — Agachei. Pus o braço de Yasmin ao redor do meu ombro. — Se não sabe disso. Então você não resxpeita o boxe.
— Você... — Yasmin me encarou, e eu retribuí.
— Volta para academia do Zeca. Eu tenho certeza que você é capaz de vencer o campeonato! — Nunca fui bom com palavras, mas queria deixar claro que iria apoiá-la. — Além do maisx, eu te comprei um milk-shake.
Yasmin se surpreendeu. Dava para admirar nos olhos. Sorriu logo em seguida. Juntos, descemos o ringue, e caminhamos para sair da academia.
— Você! Cabelo de sabotagem! — O anjo me chamou. — Está inscrito no campeonato amador, não é?
— Sim. Esteja avisado. — Apontei o dedo para ele. — Farei você pagar pelo que fezx com ela!
Ele se apoiou nas cordas. — Lhe aguardo. Na final.
Um peso saiu de nossas costas assim que atravessamos a porta. Os ombros relaxaram de alívio. Inclusive a postura. Encaramo-nos. Demos uma risada abobalhada e insegura. Por sorte, no momento, tínhamos um ao outro.
— Obrigada. Não precisava ter me ajudado. Eu era capaz de ganhar dele.
— Eu acredito. Teu boxe é incrível! Tão limpo e fluído! Poderoso! Você é a mina maisx forte que eu já vi na minha vida! — Falava apaixonado. Parei de elogiar. — De qualquer jeito, me senti culpado. Você tem tuasx batalhas, e eu deixei minhasx frustrações te atrapalharem. Você é capazx de ser campeã mundial se quiser! Eu só quero lhe apoiar, ao invésx de te travar.
Pude notar. As bochechas dela ficaram rosadas, mas logo retomou a compostura.
— O-obrigada!
— Eu vou acabar com o Henrique! E você vai ganhar o campeonato de novatosx! — Afirmei.
— Terá que treinar muito. Ele não é tão simples de derrubar.
— O conhece? — Não quis parecer curioso, mas era impossível.
— É meu irmão.
—Ah...tudo bem... — Não sabia onde enfiar a cara. Disse para garota que me interessei que queria meter a porrada no irmão dela. Era certo? Errado? Onde enfio minha cara?
— Cadê os milk-shakes? — Ela olhou para minhas mãos.
Imitei o movimento. Procurei como se tivesse os deixado no chão. Até olhar para dentro da academia. Vimos Timóteo, O do contra, tomar os dois que havia comprado. — Por que eu tinha de ser tão lesado? — Fiquei com a cara no chão. Yasmin riu de mim.
— Vamos — Ela puxou minha mão. — Vou comprar para nós!
Um sorriso dela. Um toque, e um milk-shake de graça.
Botafogo, eu te amo.
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