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Round 24

Fim do espetáculo. O dia terminou para a maior parte do público. Não haverá outras lutas. — O mínimo que esperamos nesses casos é que elas se estendam, mas estava satisfeito com a vitória rápida da Yasmin. — Eu e os meninos queríamos parabenizar, mas alguns repórteres de esporte a cercavam. Isso impossibilitava nossa chegada. Decidimos sair do estádio, e esperarmos ela e o Zeca.

Do lado de fora a voz castelhana de um homem enraivecido soava alto na calçada. Ao vislumbrar o esquerdo do quarteirão de Copacabana vi Jubilado irritadiço. Enquanto o filho, de cabeça baixa, tentava controlar as lágrimas que rolavam pelas maçãs do rosto. A Juliana — mãe e vó na situação — se intrometeu em defesa ao neto. O olhar dela repreendia o pugilista.

— Agora chega! — Ela levou o menino para dentro do carro preto. Fechou a porta para conversarem em particular no lado de fora. — Teu filho veio expor um problema e você o trata com grosseria!

— Mira o problema que ele causou na escola mãe! Quer que eu seja-

— Pai! É isso que você tem que ser! — Dona Juliana. Com o estilo pomposo no galante vestido florido levou os óculos de sol ao rosto. E de nariz empinado se retirou para dentro do carro.

Jubilado ficou abatido. Os ombros arqueados pareciam despojar das ações precipitadas e a vergonha que teve pelos atos. Ao chegar próximo de nós, garotos, mal teve coragem de olhar em nossos olhos. Apenas continuou ali na espera de Yasmin.

— O que houve? — Meu coração sentia que ele tinha que falar.

— Argh! — Fez um barulho esquisito — El diablito deu uma surra no professor de sala. Maldita hora que fui ensiná-lo alguns golpes... — Bufou.

Fiquei surpreso. Tão pouco iria imaginar uma criança de seis anos dar uma surra num homem velho.

— E você o deu chance de se explicar?

El Jubilado me encarou com surpresa no olhar. Negou com o rosto abatido.

— He estado tão focado em ensiná-lo sobre respeito que acabei nem ouvi a explicação dele. — Jubilado deu um sorriso meia boca que não passava nada de felicidade. — Era isso que a madre queria me dizer. Que merda de pai eu sou.

— Vamos comemorar no Na Chapa, lá você esfria a cabeça.

Ele recusou.

— Seguiré mi camino. É meu filho Matheus, não existe luta mais importante que ele. — Tapeou meu ombro, e se despediu em silêncio.

Ele pegou um táxi que estava parado na esquina da rua, e partiu atrás da luta. Poderia parecer-me triste, mas não desistiu dos rounds que tinha com o primogênito. Era o toque de esperança que me fez sorrir.

— Matheus! — Um grito acalorado. O abraço nas minhas costas quase me fez cair no cimento quente do asfalto da tarde. Fios coloridos dela desciam em meu rosto e maleavam sobre o dread espetado. O encostar dos nossos corpos era tão apaziguador e felicito que esquecemos o arredor. Até que recordamos. Era a primeira vez que nos abraçamos com tanta veemência. Yasmin saltou para longe, com o rosto na coloração de tomate.

— O Na Chapa tem cerveja? — O soluço me puxou atenção.

— Tem. Saquê também. — Pontuei, e aticei o alcoolismo de um bêbado confesso.

O Na Chapa não era longe. Fomos até o restaurante para iniciarmos a comemoração da vitória da nossa pugilista. Devido ao nosso abraço, Yasmin ficou distante de mim. Do outro lado do Zeca. Como se nosso treinador fosse um muro. — Eu queria ter aproveitado mais o abraço.

Chegamos. O restaurante tinha pouco movimento. Aos fins de semana o pessoal gostava de parar no Na Chapa após pegar uma praia. Alguns iam alcoolizados. Zeca tinha familiaridade a locais assim. Mas os bancos altos do balcão sempre ficavam vazios. Meu lugar preferido.

Sentamo-nos ali. Observamos as costas da Darlene. Atrás da gordura do corpo e a brancura da roupa havia um celular deitado nos dedos dela. E fones de ouvido dentro das orelhas. Ela cantava baixo. Uma música irreconhecível. — Digo, menos para uma pessoa. — De repente, Pinóquio começou a cantar num tom maior. Fervoroso, balançava as mãos e requebrava o pescoço enquanto mantinha os olhos fechados.

Admirávamos a cena com certa surpresa. A própria Darlene ouviu a fonética distinta e virou o rosto com um sorriso de orelha a orelha. — Não acredito que você conhece o TPS!

— Conheço! É o melhor grupo Coreano que existe!

Darlene mal se conteve. Começou a dar atenção para o Pinóquio, e tirou os fones de ouvido para ficar de cantigas com ele do nosso lado. Ela ignorou a existência dos clientes. Eu e baiano sabíamos que havia sobrado para gente. Fomos para trás do balcão.

— O que vão querer? — Perguntei, enquanto o baiano foi dar um "oi" para o China.

Bebidas e comidas foram pedidas. Um rapaz que acabou de entrar no estabelecimento adicionou o pedido as minhas anotações. — Um X-tudo oriental kung-fu, por favor. — Apertei o bloquinho de papel com sutileza. Olhei o cartaz do X-tudo na parede. Fiquei emocionado. Faltava apenas duas luta para conseguir o lobo-guará, e ser campeão amador. Finalmente eu e o baiano podíamos experimentar o delicioso hambúrguer.

Após alguns minutos de conversas descontraídas e serviços destrambelhados. Servimos alguns Yakisobas e bebidas para nossos amigos. O clima do Na Chapa sempre dava prazer de trabalhar, mesmo que movimentado.

— Negão Darlene num é bago mole não — Me deu cotoveladas para olhar ela e o Pinóquio, como duas araras apaixonadas. — Pensei que ele fosse afetado.

Mais uma das gírias do baiano que me subia uma vergonha desesperadora. Tapeei leve no braço dele para que parasse de falar baboseiras. — Em particular. Pensei que Pinóquio fosse gay também.

— Yasmin! — Despejei os braços no balcão. Fiquei de frente a ela. O prato de Yakisoba era grande, e ela fez questão de girar o garfo para dar na minha boca. Mentira! Fiquei de olhos fechados por alguns segundos numa expectativa frustrante. Na verdade, ela fingiu que ia dar e comeu. Odiava dividir comida. Voltei a admirá-la — Você luta amanhã.

— Sim. Não sei porque a semifinal e a final são um dia após o outro, mas me sinto aquecida. — Ela apertou o próprio bíceps. O rosto abaixou após um sorriso animado. Encarava o molho shoyu do macarrão. — Amanhã é a luta de verdade. Duas mulheres, de igual para igual, sem olhares soberbos ou discriminações. — A mão tremeu. — Estou com medo... Pela primeira vez.

— Eu vou estar lá. — Roubei um camarão do prato.

— Só preciso do teu apoio. — O sorriso dela era o suficiente para saber que se sentia bem comigo, e que podia entrar com ela no ringue. Pela mente e pelo coração. — Meu camarão, desgraçado! — Levei um gancho surpresa que quase me jogou na cozinha.

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