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Round 19

Não falei a vocês, mas separei na mochila uma muda de roupa. Para trocar assim que tivesse a oportunidade de tirar o traje ridículo. Ela surgiu. O salão de danças da terceira idade começou a fechar pelo horário máximo do estabelecimento. Entardeceu, e Copacabana tinha um mistério na paisagem. Parecia escurecer com mais acentuação que qualquer outro bairro carioca.

Do lado de fora esperei a saída de Juliana, além do veterano e o filho. Os ventos me sopravam contra o rosto. A proximidade do mar expelia o frio violento e salgado da praia. Conseguia sentir o cheiro da maré, mesmo a algumas ruas de distância. Poucos carros passavam na via, e por conta do silêncio era possível até ouvir algumas quebras de onda.

Incrível como as pessoas desta localidade tem o privilégio da paz natural. Só de ouvir algo bobo, ou sentir um cheiro palatável, meu corpo relaxou. Como se meus ombros despejassem um peso invisível pelo chão.

— Pensando em mim? — A voz feminina me tirou do transe. Além de deixar-me tímido e sem jeito.

— Y-Yasmin! — Dei uma risada de canto. Tentei disfarçar a timidez.

As vozes que me chamaram cortaram a conversa. Eram de senhoras que haviam dançado comigo pela tarde. Elas acenavam e sorriam enquanto — como tartarugas — iam embora do salão. Ao olhar para Yasmin a vi encarar o letreiro do salão como um grego petrificado pela medusa. Eu a encarava, e em seguida olhava o salão, repetidas vezes.

E sabia que ia demorar muito tempo para se explicar.

— Você é... Esquisito. — Ela custou me encarar.

Lá se ia mais uma oportunidade de conquista-la. Um ponto a menos despejado sobre os pés. Havia conquistado várias senhoras, mas a única moça que me encantava, agora tinha a crença que eu era um gigolô.

— Não é o que você está pensando! — Tentei me justificar.

— Quer ir caminhar na praia? — Ela me convidou. — Você me explica no caminho.

Boquiaberto e desacreditado, apenas aceitei e balancei a cabeça. Como se respondesse algo no automático. Todavia, mal compreendi que Yasmin me chamava para ficarmos a sós outra vez.

Nós fomos para a praia. Não fiz questão de esperar El Jubilado, pois não podia perder a oportunidade. Expliquei a história que me fez chegar lá, e cada frase que fechava era uma risada que tirava do rosto dela. Yasmin sempre me pareceu, além de se mostrar, uma mulher que dispensava elogios. — Talvez por ela conhecer o potencial. Conhece os próprios limites. — Mas sempre que a via sorrir dava vontade de contar o quão belo ficava a feição do rosto dela.

Minha mãe me disse que você não conquista uma mulher forte. Ela é como um gato, ou te escolhe, ou te arranha. — Também pode fazer os dois, mas escolher ou não era o mais relevante.

— No fim, conseguiu aprender alguma coisa? — Yasmin me perguntou. Quase me perdi devido aos ventos. Que alçavam a blusa dela e delineavam a beleza da barriga exercitada.

— Acho que nada. — Ri da situação. — Mas El Jubilado é uma boa pessoa. Ele pode te ajudar nas próximas lutas.

— Não foi ele que me prometeu um sparring. Foi você. — Ela sorriu para mim, e isso me deixou nas nuvens.

— Inclusive, como você esxtá? Chegou à semifinal. Deve se sentir animada. — Fiquei feliz por ela. Mas Yasmin não se mostrava contente por si. A pergunta fechou a cara dela como se recusasse a responder.

— Não tenho dúvidas que irei ganhar esta luta. — Acentuou — Mas a última chave...

— O que tem?

— Quem ganhar esta luta vai enfrentar Rita na final. — Ela parou de caminhar, e observou pensativa ao mar. — Uma final com duas mulheres. É algo tão prazeroso quanto uma porrada em meu estômago. Imaginei que estava numa luta sozinha. Como se todo um sistema estivesse contra mim e meus direitos. Fui tão egoísta que não percebi que outras garotas podiam se sentir assim. — Yasmin abaixou a cabeça, e vislumbrou o lixo jogado na orla. Ela o pegou, e levou até a caçamba. — Acho que não estou preparada para enfrentar uma mulher, só isso.

— Isso parece ser bastante... Confuso. — De fato. Pelo menos para mim. Não era algo fácil de entender. — Eu vou esxtar lá para te apoiar! Mesmo que não precise de apoio.

— Preciso sim, do teu eu preciso.

O coração palpitou numa pontada tão aguda que senti um pequeno infarto no momento. Nossos corpos se atraíam como imã. A lua brilhava contra o mar, e o silêncio do asfalto, faziam o momento ser único. Como se os corpos quisessem explodir ao contato. Minha coluna curvava ao ponto de alinhar nossos lábios. Nossos olhos se encaravam, mas fechavam aos poucos. Entregues a paixão.

Logo. O telefone tocou.

— Meu telefone! — Yasmin se afastou para atender. — Diogo! Eu acabei deixando a hora passar!

Diogo. O Ex-namorado dela. O cara não era só adversário de ringue como fazia questão de estragar os possíveis melhores momentos. Meu sangue fervia. Após a afronta contra o beijo. Queria acabar com ele no campeonato. — Ele me salvou um pouco. Faz tanto tempo que não beijo alguém. Tive medo de bater os dentes contra os dela. — O diálogo do telefone ficou distante e incompreensível, tão pouco fuxiquei para tentar entende-lo.

Mas ela estava atrasada para algo. Isso significava que nossa caminhada terminou. Assim que desligou, veio até mim.

— Era o Diogo. — Riu abobalhada. — Nós marcamos de maratonar de alguns filmes, acabei perdendo a hora, nossos amigos estão nos esperando.

— Não se preocupe. Esxtá tarde. Preciso voltar para academia também. — Sorri a ela. Tímido por conta da cena do beijo em minha cabeça que nunca se concretizou.

— Obrigada. — Ela falou antes de se despedir. — Nunca cheguei a agradecer. Se não tivesse ido atrás de mim no dia, talvez eu não voltasse a lutar e nem estivesse chegado tão longe.

— É o mínimo que eu podia fazer. — Avancei o punho fechado à frente e esperei o toque dela.

— Você continua esquisito. — Ela bateu o punho contra o meu, e assim se afastou. Numa despedida silenciosa e agradecida.

Ela se distanciou, enquanto continuei parado. Observei a ida dela. Quando não mais a enxergava, tive a vontade de rasgar o mar ao meio de tanta raiva acumulada. Maldito seja Diogo e a maratona de filmes!

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