Round 17
Sozinho, fui à academia. Baiano demoraria a chegar devido à fome pelo conhecimento. Em particular gostava de estar lá cedo. Yasmin só ia mais tarde. — Além de ver o Zeca beber num bar próximo. Podia treinar da maneira que bem entendesse. Sorri espontâneo só de lembrar a vitória contra o veterano.
Abri a porta da academia. Entrei de olhos fechados. — Um ritual quase instintivo. — Mas quando clareei a visão era preferível nunca ter feito. Fiquei travado. Como estátua, ou águia na caça de um rato. Meu queixo caiu sem o querer. Pinóquio, em cima do ringue, continuava travado, como se estivesse parado no tempo. Ele segurava uma perna com a mão estirada ao alto, mas por ser vigiado não queria finalizar o movimento.
— E-eu não sabia que você dançava. — Virei o rosto para o lado oposto. O aguardava perder a timidez e tirar a perna do lado da cabeça.
— Vo-vo-vo-vo-vo-vo-vo... — O choque o fez entrar em pânico. Mal conseguia concluir as palavras. — Você! — Gritou. — Não sa-sabia q-que che-chega-chegaria tão ce-cedo. — Pinóquio saiu do ringue. Parecia estar envergonhado. — Nã-não conta pa-para nin-nin-ninguém... — Pediu encarecido.
Assim que o vi dançar, estava a ponto de cair na gargalhada. Não por mal. Nunca imaginei que alguém usaria o ringue como palco. Porém, ao vê-lo tão constrangido, me senti má pessoa só em cogitar a possibilidade de rir.
— Dança bem. — Pontuei, sem mentiras. — Pratica há muito tempo?
— Há de-dez anos! — Ele saiu do ringue. Eufórico pelo meu elogio.
— Não se preocupe, eu gosxtei da dança. Você deve ser talentoso, ou se esforçado muito. Minha perna quebraria se a erguesse tão alto! — Ri de mim. — Não contarei a ninguém.
— Pro-pro-promete?
— No meu primeiro ano do ensino médio eu fui cagado para casa. O leite que tomei estava estragado e fui barrado pela professora de sair de sala. — Minhas palavras no início o espantaram. Até criarem uma risada gradual. — Pronto, agora você tem um segredo meu também.
Pinóquio assentiu, e foi para o vestiário. O horário dele era pouco mais cedo que o resto dos alunos. Após treinar pela manhã nos auxiliava nos exercícios da tarde. — No momento eu era o único.
O pensamento ficou tornou-se mentiroso. Ouvi a porta ser arrastada. Virei o corpo, e tive uma surpresa bem... Estranha. El Jubilado segurava o Zeca nos braços para que o bêbado não se estatelasse no chão e ficasse lá durante dias afinco. Ele ouviu o barulho do chuveiro e levou o treinador para lá. — Algo que fez o Pinóquio dar um grito fino de desespero.
Pouco tempo depois. Os dois lutadores passaram com o Zeca, apenas de cueca, nos braços. O jogaram dentro do quartinho separado. — Onde havia uma cama para ele repousar.
— El borracho não se levantará até a noite. — O veterano apertou minha mão.
Estava preocupado com o Zeca, mas caramba. Um boxeador que se aposentou nos ringues na minha frente. Meus nervos ficavam à flor da pele. — Dava certa dor de barriga também. — Me lembrei da luta. Levei em conta a atrocidade que fiz no olho dele. Logo abaixei o bestunto com vergonha de encará-lo.
— Desculpa pelos socos no lado esquerdo! Foi injusto!
— No lo sabías. Não te perdoaria se tivesse vindo para cima com pena.
Caramba! Tudo que ele dizia era tão... Insano de legal. O jeito que se portava. A estrutura do corpo. Parecia uma máquina de derrubar qualquer um. E eu fui o privilegiado de treinar com ele. Estava louco para saber as técnicas de sparing e boxe com sombra. Como ele aplicava um gancho sem abrir tanto a defesa? Ou como desferia cruzados tão intensos.
Estava lá pronto para estudar e me tornar um amador com técnicas de veterano. Meus olhos pegavam fogo, como se o calor do Rio não fosse capaz de acompanhar o fervor dentro de mim.
— Você vai treinar conosco?
— No. — Negou com a cabeça. — Apenas com o Zeca, mas vou te ajudar a treinar também. Só tem mais duas lutas e precisa estar preparado para honrar minha derrota.
Isso! Era isso que precisava ouvir! Absorver conhecimento e me tornar um Buda do boxe com paz interior e mete a porrada em todo mundo.
— Nós podemos começar agora! — corri para perto do ringue. — Vai querer uma luta, ou quer me ensinar uma técnica? Ou quer praticar musxculação!? — Minha euforia era sentida pelos quatro cantos. Nem evitava esboçar um sorriso animado.
Contudo, El Jubilado negou outra vez com a cabeça. Fiquei confuso. Talvez tivesse falado algo errado?
— Entrenaremos afuera!
Bem. Não sou nada bom com o castelhano, mas imagino que me chamou para treinar fora da academia. O que era maravilhoso! Faríamos uma corrida de rotina. Onde usaríamos coisas da rua para agilizar nossos movimentos. Ele devia bater em árvores para aumentar a força. — Farei o mesmo se pedir. Ou correr pela areia da praia para aumentar o ritmo com as pernas. — Vou correr de Copacabana até o Leblon sem hesitar!
Ele foi ao quarto onde Zeca dormia. Saiu de lá com uma muda de roupas. Elas estavam bem passadas e eram jeitosas. — Inclusive do meu tamanho.
— É para vestir? — Questionei-o, pois elas não tinham um tecido leve. Eram chiques demais para treino. Parecia que íamos para balada.
Quando sai do vestiário, me senti um palhaço. A camisa era branca de gola aberta com manga longa. Das que dançarinos de tango usam. Usava também uma ridícula calça preta Flare. — Mais conhecida como boca de sino.
El Jubilado foi novamente ao quarto e retornou com um pote de creme e uma rosa. Numa arrumação rápida — e desnecessária — ele foi capaz de colocar meus dreads — que não abaixavam nem no soco — para o lado.
Sim, ele conseguiu deixar meus dreads lambidos.
Por fim. A rosa ficou na boca, para que segurasse com os dentes de uma forma sedutora. Pelo pânico em minha em face, a sedução deixaria desejar.
— Ninõ! Boxear é como a luta pela conquista! — Abraçou-me num dos braços, e levou para a porta da academia.
— Conquista?
— Si! Conquistar a las mujeres!
Não gostava do caminho que a conversa tomava. Ela me dava muito medo.
— Ninõ! Vou te ensinar que para vencer o coração de um round, terá de vencer o coração de uma senhorita!
E lá se ia o próximo treino. Uma xaveca fuleira com um velho Dom Juan.
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